No edit permissions for Português

CAPÍTULO UM

As Atividades de Mahārāja Priyavrata

Este capítulo descreve como o rei Priyavrata gozou de opulência e soberania reais e depois voltou ao pleno conhecimento. O rei Priyavrata era desapegado das opulências mundanas, mas depois apegou-se a seu reino e, afinal, novamente se desapegou do gozo material, alcançando, assim, a liberação. Ao ouvir acerca disso, o rei Parīkṣit ficou maravilhado, mas estava um tanto confuso a respeito de como um devoto sem nenhum apego ao gozo material pudesse, depois disso, voltar a ter apego a ele. Portanto, abismado, ele questionou Śukadeva Gosvāmī quanto a isso.

Em resposta às perguntas do rei, Śukadeva Gosvāmī disse que nenhuma influência material pode desvirtuar o serviço devocional, que é transcendental. Priyavrata recebera conhecimento transcendental através das instruções de Nārada, em razão do que não queria entregar-se a uma vida material e ao gozo de um reino. Contudo, ele aceitou o reino a pedido de semideuses superiores, tais como o senhor Brahmā e o senhor Indra, o rei dos céus.

Tudo está sob o controle da Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo, e todos devem agir em conformidade com isso. Assim como um touro é controlado por uma corda amarrada a seu focinho, todas as almas condicionadas são forçadas a trabalhar sob os encantos dos modos da natureza. Logo, um homem civilizado trabalha de acordo com a instituição de varṇa e āśrama. Mesmo na vida materialista, entretanto, a pessoa não pode agir livremente. Todos são obrigados a aceitar um tipo de corpo, oferecido pelo Senhor Supremo, e assim recebem diferentes graus de felicidade e aflição. Portanto, mesmo que alguém levianamente deixe o lar e vá para a floresta, ele se apegará novamente à vida materialista. A vida familiar é comparada a uma fortaleza destinada à prática do controle dos sentidos. Quem mantém os sentidos controlados pode viver em casa ou na floresta; não faz diferença.

Quando Mahārāja Priyavrata, seguindo a instrução do senhor Brahmā, aceitou o trono real, Manu, seu pai, deixou o lar e dirigiu-se à floresta. Mahārāja Priyavrata, então, casou-se com Barhiṣmatī, filha de Viśvakarmā. No ventre de Barhiṣmatī, ele gerou dez filhos, chamados Āgnīdhra, Idhmajihva, Yajñabāhu, Mahāvīra, Hiraṇyaretā, Ghṛtapṛṣṭha, Savana, Medhātithi, Vītihotra e Kavi. Gerou, também, uma filha, cujo nome era Ūrjasvatī. Mahārāja Priyavrata viveu com a esposa e a família por muitos milhares de anos. As impressões dos aros das rodas da quadriga de Mahārāja Priyavrata criaram sete oceanos e sete ilhas. Dos dez filhos de Priyavrata, três, chamados Kavi, Mahāvīra e Savana, aceitaram sannyāsa, a quarta ordem da vida, e os sete filhos restantes tornaram-se os governantes das sete ilhas. Mahārāja Priyavrata também teve uma segunda esposa, com a qual teve três filhos, chamados Uttama, Raivata e Tāmasa. Todos eles foram elevados ao posto de Manu. Śukadeva Gosvāmī descreve, então, como Mahārāja Priyavrata alcançou a liberação.

VERSO 1: O rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Ó grande sábio, por que o rei Priyavrata, que era um grande devoto autorrealizado do Senhor, permaneceu na vida familiar, que é a causa fundamental do cativeiro do karma [atividades fruitivas] e que faz fracassar a missão da vida humana?

VERSO 2: Por certo que os devotos são pessoas liberadas. Portanto, ó maior dos brāhmaṇas, não há possibilidade de eles se deixarem absorver nos assuntos familiares.

VERSO 3: Os grandes mahātmās que se refugiaram aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus satisfazem-se plenamente por estarem à sombra desses pés de lótus. Não há possibilidade de que a consciência deles se apegue aos membros familiares.

VERSO 4: O rei prosseguiu: Ó grande brāhmaṇa, esta é a minha grande dú­vida. Como foi possível a uma pessoa como o rei Priyavrata, que era tão apegado a esposa, filhos e lar, alcançar a perfeição máxima e infalível em consciência de Kṛṣṇa?

VERSO 5: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: O que disseste é correto. As glórias da Suprema Personalidade de Deus – que é louvado com eloquentes versos transcendentais, compostos por personalidades elevadas, como Brahmā – são muito agradáveis para os grandes devotos e para as pessoas liberadas. Quem é apegado ao mel nectáreo dos pés de lótus do Senhor, e cuja mente está sempre absorta em Suas glórias, talvez tenha seu progresso estorvado algumas vezes por algum obstáculo, mas, de qualquer modo, jamais abandona a posição sublime que alcançou.

VERSO 6: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Meu querido rei, o príncipe Priya­vrata era um grande devoto, pois refugiou-se aos pés de lótus de Nārada, seu mestre espiritual, alcançando, assim, a perfeição máxima em conhecimento transcendental. Munido de conhecimento avan­çado, ele discutia temas espirituais sem cessar e não dispersava sua atenção com coisa alguma. Então, o pai do príncipe pediu-lhe que se encarregasse de governar o mundo. Ele tentou convencer Priyavrata de que aquele era seu dever, segundo indicavam as escri­turas reveladas. O príncipe Priyavrata, contudo, seguiu praticando bhakti-yoga todo o tempo, lembrando-se sempre da Suprema Per­sonalidade de Deus e, assim, ocupando todos os seus sentidos a ser­viço do Senhor. Portanto, embora não pudesse rejeitar a ordem de seu pai, o príncipe não a acolheu com alegria. Então, muito cuidadosamente, ele questionou se deveria de fato desviar-se do serviço devocional, aceitando a responsabilidade de governar o mundo.

VERSO 7: Śrī Śukadeva Gosvāmī continuou: Neste universo, a primeira cria­tura e o mais poderoso semideus é o senhor Brahmā, que é sempre responsável pelo desenvolvimento dos assuntos universais. Nascido diretamente da Suprema Personalidade de Deus, ele dedica suas atividades ao bem-estar de todo o universo, pois conhece o propósito da criação universal. Esse poderosíssimo senhor Brahmā, acompa­nhado de seus associados e dos Vedas personificados, deixou sua própria morada, situada no mais elevado sistema planetário deste universo, e desceu ao lugar onde meditava o príncipe Priyavrata.

VERSO 8: Conforme Brahmā descia, montado no grande cisne, seu veículo, todos os habitantes dos planetas chamados Siddhaloka, Gandharvaloka, Sādhyaloka e Cāraṇaloka, bem como grandes sábios e semideuses que voam em seus diversos aeroplanos, reuniram-se no firmamento celeste para recebê-lo e adorá-lo. Enquanto recebia o respeito e a adoração dos habitantes de vários planetas, o senhor Brahmā parecia a lua cheia rodeada de estrelas luminosas. Então, o grande cisne do senhor Brahmā chegou ao sopé da colina Gandha­mādana e aproximou-se do príncipe Priyavrata, que se encontrava sentado ali.

VERSO 9: O senhor Brahmā, o pai de Nārada Muni, é a pessoa suprema dentro deste universo. Tão logo viu o grande cisne, Nārada pôde compreender que o senhor Brahmā havia chegado. Portanto, ele se levantou de imediato, juntamente com Svāyambhuva Manu e seu filho Priyavrata, com quem Nārada estava compartilhando suas instruções. Então, eles ficaram de mãos postas e começaram a adorar o senhor Brahmā com todo o respeito.

VERSO 10: Meu querido rei Parīkṣit, como o senhor Brahmā finalmente des­cera de Satyaloka a Bhūloka, Nārada Muni, o príncipe Priyavrata e Svāyambhuva Manu adiantaram-se para oferecer-lhe os artigos de adoração e louvá-lo em termos altamente elogiosos, de acordo com a etiqueta védica. Nesse momento, o senhor Brahmā, a pessoa original deste universo, sentiu compaixão de Priyavrata e, olhando para ele com o rosto sorridente, disse-lhe o seguinte.

VERSO 11: O senhor Brahmā, a pessoa suprema dentro deste universo, disse: Meu querido Priyavrata, por favor, ouve atentamente o que tenho a dizer-te. Não invejes o Senhor Supremo, que está além de nossos cálculos experimentais. Todos nós, inclusive o senhor Śiva, teu pai e o grande sábio Mahāṛṣi Nārada, temos obrigação de cumprir a ordem do Supremo. Não podemos desviar-nos de Sua ordem.

VERSO 12: Ninguém é capaz de evitar as ordens da Suprema Personali­dade de Deus, nem mesmo por força de rigorosas austeridades, de uma excelsa educação védica, ou do poder do yoga místico, proezas físicas ou atividades intelectuais. Tampouco pode alguém usar seu poder de religião, sua opulência material ou qualquer outro meio, seja por si próprio, seja com o auxílio de outros, para desafiar as ordens do Senhor Supremo. Nenhum ser vivo, seja ele Brahmā ou uma simples formiga, tem esse poder.

VERSO 13: Meu querido Priyavrata, por ordem da Suprema Personalidade de Deus, todas as entidades vivas aceitam diferentes espécies de corpos, sujeitando-se, assim, ao nascimento, à morte, às atividades, à lamentação, à ilusão, ao medo de perigos futuros, à felicidade e à aflição.

VERSO 14: Meu querido jovem, estamos todos atados pelos preceitos védicos concernentes às divisões do varṇāśrama, segundo nossas qualidades e nosso trabalho. É difícil evitar essas divisões porque existe um arranjo científico para elas. Devemos, portanto, cumprir nossos deveres de varṇāśrama-dharma, assim como se obriga os touros a moverem-se de acordo com a orientação de um condutor que puxa as cordas amarradas aos seus focinhos.

VERSO 15: Meu querido Priyavrata, dependendo do contato que estabelece­mos com diferentes modos da natureza material, a Suprema Personalidade de Deus fornece-nos corpos especiais e a felicidade e infelicidade que merecemos. É nosso dever, portanto, respeitar nossa posição, estabelecida por guṇa e karma, e deixar-nos conduzir pela Suprema Personalidade de Deus, exatamente como um cego é guiado por alguém que tem o dom da visão.

VERSO 16: Até a pessoa liberada é obrigada a aceitar o corpo decorrente de seu karma passado. Sem concepções errôneas, contudo, ela percebe seu gozo e sofrimento decorrentes desse karma da mesma maneira que, ao despertar, uma pessoa percebe o sonho que teve enquanto dormia. Assim, ela permanece fixa, sem jamais agir de maneira a obter outro corpo material sob a influência dos três modos da natureza material.

VERSO 17: Mesmo que vá de floresta em floresta, quem não tem autocontrole sempre teme o cativeiro material, pois anda na companhia de seis co-esposas: a mente e os sentidos de adquirir conhecimento. A vida familiar, contudo, não pode prejudicar um homem eru­dito e autossatisfeito que conquistou os sentidos.

VERSO 18: Quem é casado e, de maneira sistemática, conquista a mente e os cinco órgãos dos sentidos, é como um rei, de cuja fortaleza conquista seus poderosos inimigos. Depois de ser treinada na vida fami­liar e de ver reduzirem-se os seus desejos luxuriosos, a pessoa pode ir a qualquer parte, sem perigo.

VERSO 19: O senhor Brahmā prosseguiu: Meu querido Priyavrata, refugia-te dentro do verticilo do lótus dos pés do Senhor, cujo umbigo também é como um lótus. Deste modo, conquista os seis órgãos dos sentidos [a mente e os sentidos de adquirir conhecimento]. Aceita o gozo material porque o Senhor, extraordinariamente, ordenou que fizesses isso. Dessa maneira, estarás sempre livre do contato com a matéria e conseguirás cumprir as ordens do Senhor em tua posição constitucional.

VERSO 20: Śrī Śukadeva Gosvāmī continuou: Assim, depois de ser perfeitamente instruído pelo senhor Brahmā, que é o mestre espiritual dos três mundos, Priyavrata, cuja posição era de um inferior, prestou-lhe reverências, aceitou a ordem e executou a mesma com muito respeito.

VERSO 21: Então, o senhor Brahmā foi adorado por Manu, que, com todo o respeito, o agradou da melhor maneira que pôde. Priyavrata e Nārada também contemplaram Brahmā sem nenhum resquício de ressentimento. Tendo levado Priyavrata a aceitar o pedido de seu pai, o senhor Brahmā regressou à sua morada, Satyaloka, que o esforço mental ou palavras mundanas são incapazes de descrever.

VERSO 22: Svāyambhuva Manu, com a assistência do senhor Brahmā, realizou assim os seus desejos. Com a permissão do grande sábio Nārada, ele delegou a seu filho a responsabilidade governamental de manter e proteger todos os planetas do universo. Dessa maneira, livrou-se do perigosíssimo e venenoso oceano de desejos materiais.

VERSO 23: Seguindo a ordem da Suprema Personalidade de Deus, Mahārāja Priyavrata se ocupou plenamente em afazeres mundanos, mas sempre pensava nos pés de lótus do Senhor, que fazem com que nos libertemos de todo apego material. Embora Priyavrata Mahārāja estivesse completamente livre de toda a contaminação material, ele governou o mundo material apenas para acatar as ordens de seus superiores.

VERSO 24: Depois disso, Mahārāja Priyavrata se casou com Barhiṣmatī, a filha do prajāpati chamado Viśvakarmā. Com ela, ele teve dez filhos iguais a ele em beleza, caráter, magnanimidade e outras boas quali­dades. Ele também gerou uma filha, a caçula, chamada Ūrjasvatī.

VERSO 25: Os dez filhos de Mahārāja Priyavrata se chamavam Āgnīdhra, ldhmajihva, Yajñabāhu, Mahāvīra, Hiraṇyaretā, Ghṛtapṛṣṭha, Sava­na, Medhātithi, Vītihotra e Kavi. Esses também são nomes de Agni, o deus do fogo.

VERSO 26: Três entre esses dez – a saber, Kavi, Mahāvīra e Savana – viveram em perfeito celibato. Treinados assim na vida de brahmacārī desde o início de sua infância, eles eram muito versados na perfeição máxima, conhecida como paramahaṁsa-āśrama.

VERSO 27: Situados assim na ordem renunciada desde o início de suas vidas, todos os três mantiveram perfeito controle das atividades de seus sentidos, tornando-se, portanto, grandes santos. Eles sempre concentravam a mente nos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, que é o lugar de repouso da totalidade das entidades vivas e que, por isso, é famoso como Vāsudeva. O Senhor Vāsudeva é o único refúgio daqueles que realmente temem a existência material. Pensando constantemente em Seus pés de lótus, esses três filhos de Mahārāja Priyavrata avançaram em serviço devocional puro. Pela potência de seu serviço devocional, puderam perceber direta­mente a Suprema Personalidade de Deus, que Se encontra no cora­ção de todos como a Superalma, e puderam compreender que, em termos qualitativos, não havia nenhuma diferença entre eles próprios e Ele.

VERSO 28: Com sua outra esposa, Mahārāja Priyavrata teve três filhos, chamados Uttama, Tāmasa e Raivata. Mais tarde, todos eles se encarregaram de milênios manvantaras.

VERSO 29: Depois de Kavi, Mahāvīra e Savana terem se tornado perfeitamen­te treinados na fase de vida paramahaṁsa, Mahārāja Priyavrata governou o universo durante onze arbudas de anos. Sempre que ele decidia fixar sua flecha no arco com seus dois braços poderosos, todos os oponentes dos princípios reguladores da vida religiosa fugiam de sua presença, com medo da inigualável bravura por ele demonstrada enquanto governava o universo. Ele tinha muito amor por sua esposa Barhiṣmatī, e, com o passar dos dias, a troca de amor nupcial entre eles se intensificava. Pelas maneiras femininas com que se vestia, caminhava, levantava, sorria e olhava, a rainha Barhiṣmatī aumentava a energia do rei. Assim, embora ele fosse uma grande alma, parecia seduzido pela conduta feminina de sua esposa. Comportava-se com ela assim como um homem comum, mas, na verdade, era uma grande alma.

VERSO 30: Enquanto governava o universo de modo tão excelente, o rei Priya­vrata certa vez ficou insatisfeito com a maneira como o poderosís­simo deus do Sol fazia sua volta. Circundando a colina Sumeru montado em sua quadriga, o deus do Sol ilumina todos os sistemas planetários circunjacentes. Contudo, quando o Sol se encontra­ no lado setentrional da colina, o sul recebe menos luz, e, quando o Sol encontra-se no sul, o norte recebe menos luz. Desagradado com essa situação, o rei Priyavrata decidiu iluminar a parte do universo onde era noite. Montado em uma brilhante quadriga, ele seguiu a órbita do deus do Sol e, assim, satisfez seu desejo. Ele era capaz de realizar atividades muito maravilhosas devido ao poder que obtivera adorando a Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 31: Enquanto Priyavrata conduzia sua quadriga atrás do Sol, os aros das rodas dessa quadriga criaram sulcos que mais tarde transformaram-se em sete oceanos, dividindo o sistema planetário conhecido como Bhū-maṇḍala em sete ilhas.

VERSO 32: Os nomes das ilhas são Jambū, Plakṣa, Śālmali, Kuśa, Krauñca, Śāka e Puṣkara. Cada ilha é duas vezes maior do que a precedente, e cada uma delas está rodeada por um elemento líquido, além do qual se encontra a ilha seguinte.

VERSO 33: Os sete oceanos contêm, respectivamente, água salgada, caldo-de-cana, bebida alcóolica, manteiga clarificada, leite, iogurte emulsificado e água doce potável. Todas as ilhas estão completamente cercadas por esses oceanos, e cada oceano equivale em largura à ilha que o cerca. Mahā­rāja Priyavrata, o esposo da rainha Barhiṣmatī, delegou a sobera­nia sobre essas ilhas aos seus respectivos filhos, a saber, Āgnīdhra, Idhmajihva, Yajñabāhu, Hiraṇyaretā, Ghṛtapṛṣṭha, Medhātithi e Vītihotra. Assim, todos eles se tornaram reis por ordem de seu pai.

VERSO 34: Então, o rei Priyavrata deu a mão de sua filha, Ūrjasvatī, a Śukrā­cārya, que com ela teve uma filha chamada Devayānī.

VERSO 35: Meu querido rei, um devoto que tenha se refugiado na poeira dos pés de lótus do Senhor pode transcender a influência dos seis açoites materiais – a saber, fome, sede, lamentação, ilusão, velhice e morte – e pode conquistar a mente e os cinco sentidos. Contudo, para um devoto puro do Senhor, isso não é tão maravilhoso assim, pois, mesmo uma pessoa fora da jurisdição das quatro castas – em outras palavras, um intocável – livra-se imediatamente do cati­veiro da existência material caso pronuncie, mesmo uma só vez, o santo nome do Senhor.

VERSO 36: Enquanto desfrutava de suas opulências materiais com força e in­fluência plenas, Mahārāja Priyavrata certa vez se colocou a considerar que, apesar de ter-se rendido plenamente ao grande santo Nārada e de estar de fato trilhando o caminho da consciência de Kṛṣṇa, ele, de alguma forma, havia se enredado novamente em atividades ma­teriais. Isso deixou sua mente inquieta, e, movido por um espírito de renúncia, ele começou a falar.

VERSO 37: O rei, então, colocou-se a criticar-se: Ai de mim! Quão condenado me tornei devido ao gozo dos sentidos! Agora estou caído no gozo material, que é exatamente como um poço camuflado. Agora basta! Não desfrutarei mais. Vede só como me tornei um macaco dan­çarino nas mãos de minha esposa. Em razão disso, estou condenado.

VERSO 38: Pela graça da Suprema Personalidade de Deus, Mahārāja Priyavrata voltou à razão. Ele dividiu todas as suas posses mundanas entre seus filhos obedientes. Abandonou tudo, incluindo sua esposa, com a qual desfrutara tanto, e seu grande e opulento reino, e renunciou completamente a todo apego. Seu coração, uma vez purificado, tornou-­se um lugar de passatempos para a Suprema Personalidade de Deus. Assim, ele conseguiu retomar o caminho da consciência de Kṛṣṇa, da vida espiritual, e reassumiu a posição atingida pela graça do grande santo Nārada.

VERSO 39: Existem muitos versos famosos a respeito das atividades de Mahā­rāja Priyavrata: “Ninguém senão a Suprema Personalidade de Deus poderia fazer o que Mahārāja Priyavrata fez. Mahārāja Priyavrata dissipou a es­curidão da noite e, com os aros de sua imensa quadriga, escavou sete oceanos.”

VERSO 40: “A fim de parar as brigas entre diferentes povos, Mahārāja Priyavrata estabeleceu limites nos rios e nos sopés das montanhas e das florestas, de modo que ninguém ultrapassasse a propriedade alheia.”

VERSO 41: “Como grande seguidor e devoto do sábio Nārada, Mahārāja Priyavrata considerava infernais as opulências que obtivera devido às atividades fruitivas e ao poder místico, quer nos sistemas planetá­rios inferiores, quer nos celestiais, quer na sociedade humana.”

Next »