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VERSO 22

manur api pareṇaivaṁ pratisandhita-manorathaḥ surarṣi-varānumatenātmajam akhila-dharā-maṇḍala-sthiti-guptaya āsthāpya svayam ati-viṣama-viṣaya-viṣa-jalāśayāśāyā upararāma.

manuḥ — Svāyambhuva Manu; api — também; pareṇa — pelo senhor Brahmā; evam — assim; pratisandhita — satisfez; manaḥ-rathaḥ — sua aspiração mental; sura-ṛṣi-vara — do grande sábio Nārada; anumatena — com a permissão; ātma-jam — seu filho; akhila — de todo o universo; dharā-maṇḍala — dos planetas; sthiti — manutenção; guptaye — para a proteção; āsthāpya — estabelecendo; svayam — pessoalmente; ati-viṣama — perigosíssimos; viṣaya — assuntos materiais; viṣa — do ve­neno; jala-āśaya — oceano; āśāyāḥ — de desejos; upararāma — livrou-se.

Svāyambhuva Manu, com a assistência do senhor Brahmā, realizou assim os seus desejos. Com a permissão do grande sábio Nārada, ele delegou a seu filho a responsabilidade governamental de manter e proteger todos os planetas do universo. Dessa maneira, livrou-se do perigosíssimo e venenoso oceano de desejos materiais.

SIGNIFICADO—Svāyambhuva Manu estava praticamente desesperançado, pois uma personalidade da magnitude de Nārada Muni estava instruindo seu filho Priyavrata a que não aceitasse a vida familiar. Por isso, ficou muito satisfeito com a interferência do senhor Brahmā, que induziu seu filho a aceitar a responsabilidade de liderar o governo do universo. A Bhagavad-gītā informa-nos que Vaivasvata Manu era filho do deus do Sol e que seu filho, Mahārāja lkṣvāku, governou este planeta Terra. Contudo, Svāyambhuva Manu, ao que parece, estava encarregado de todo o universo, e ele confiou a seu filho, Mahārāja Priyavrata, a responsabilidade de manter e proteger todos os sistemas planetários. Dharā-maṇḍala significa “planeta”. Esta Terra, por exemplo, chama-se dharā-mandala. Akhila, contudo, significa “todo” ou “universal”. Portanto, é difícil entender como Mahārāja Priyavrata estava situado, haja vista que, de acordo com esta lite­ratura, não restam dúvidas de que sua posição parece superior à de Vaivasvata Manu, dado que lhe foi confiada a administração de todos os sistemas planetários de todo o universo.

Outra afirmação significativa é que Svāyambhuva Manu sentiu grande satisfação ao aliviar-se da responsabilidade de governar todos os sistemas planetários do universo. Hoje em dia, os políticos anseiam apossar-se da liderança governamental, e mandam seus homens fazerem campanha de porta em porta em busca de votos, de maneira a garantirem a presidência ou um setor de igual estatura. Diferente disso, contudo, vemos aqui que foi preciso o senhor Brahmā persuadir o rei Priyavrata para que esse aceitasse o posto de imperador de todo o universo. Do mesmo modo, seu pai, Svāyambhuva Manu, sentiu-se aliviado ao confiar o governo uni­versal a Priyavrata. Isso prova que os reis e líderes executivos do governo na era védica nunca aceitavam suas posições visando ao gozo dos sentidos. Esses grandes reis, que eram conhecidos como rājarṣis, governavam apenas para manter e proteger o reino, preocupados com o bem-estar dos cidadãos. A história de Priyavrata e Svāyam­bhuva Manu descreve-os como monarcas responsáveis e exemplares, cumpridores dos deveres do governo sem interesses egoístas, e se mantendo sempre à parte da contaminação do apego material.

Compara-se aqui os assuntos materiais a um oceano de veneno. Descrição semelhante encontramos em uma das canções de Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura:

saṁsāra-viṣānale, divā-niśi hiyā jvale,
juḍāite nā kainu upāya

“Embora meu coração esteja sempre ardendo no fogo da existência material, eu não tomei providências para escapar dele.”

golokera prema-dhana, hari-nāma-saṅkīrtana,
rati nā janmila kene tāya

“O único remédio é hari-nāma-saṅkīrtana, o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, que é importado do mundo espiritual, Goloka Vṛndā­vana. Quão desventurado eu sou por não sentir nenhuma atração por isso.” Manu queria refugiar-se aos pés de lótus do Senhor, e por isso, quando o seu filho Priyavrata se encarregou de seus afazeres mundanos, Manu se sentiu muito aliviado. Assim funciona a civili­zação védica. No final da vida, a pessoa deve despojar-se dos afazeres mundanos e ocupar-se plenamente em servir ao Senhor.

A palavra surarṣi-vara-anumatena também é significativa. Manu confiou o governo ao seu filho com a permissão do grande santo Nārada. Menciona-se esse detalhe específico porque, embora Nāra­da quisesse que Priyavrata se libertasse de todos os assuntos mate­riais, quando Priyavrata se encarregou do universo a pedido do senhor Brahmā e de Manu, Nārada também ficou muito satisfeito.

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