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VERSO 35

naivaṁ-vidhaḥ puruṣa-kāra urukramasya
puṁsāṁ tad-aṅghri-rajasā jita-ṣaḍ-guṇānām
citraṁ vidūra-vigataḥ sakṛd ādadīta
yan-nāmadheyam adhunā sa jahāti bandham

na — não; evam-vidhaḥ — assim; puruṣa-kāraḥ — influência pessoal; uru-kramasya — da Suprema Personalidade de Deus; puṁsām — dos devotos; tat-aṅghri — de Seus pés de lótus; rajasā — pela poeira; jita-ṣaṭ-guṇānām — que conquistou a influência das seis espécies de açoites materiais; citram — maravilhoso; vidūra-vigataḥ — a pessoa de quinta classe, ou o intocável; sakṛt — uma única vez; ādadīta — caso pronun­cie; yat — cujo; nāmadheyam — santo nome; adhunā — imediatamente; saḥ — ele; jahāti — abandona; bandham — cativeiro material.

Meu querido rei, um devoto que tenha se refugiado na poeira dos pés de lótus do Senhor pode transcender a influência dos seis açoites materiais – a saber, fome, sede, lamentação, ilusão, velhice e morte – e pode conquistar a mente e os cinco sentidos. Contudo, para um devoto puro do Senhor, isso não é tão maravilhoso assim, pois, mesmo uma pessoa fora da jurisdição das quatro castas – em outras palavras, um intocável – livra-se imediatamente do cati­veiro da existência material caso pronuncie, mesmo uma só vez, o santo nome do Senhor.

SIGNIFICADO—Śukadeva Gosvāmī falava a Mahārāja Parīkṣit sobre as atividades do rei Priyavrata, e, já que o rei podia ter dúvidas sobre essas atividades maravilhosas e incomuns, Śukadeva Gosvāmī lhe garantiu: “Meu querido rei”, disse ele, “não duvides das maravilhosas ativi­dades de Priyavrata. Para um devoto da Suprema Personalidade de Deus, tudo é possível porque o Senhor também é conhecido como Urukrama.” Urukrama é um dos nomes do Senhor Vāmanadeva, que fez o prodígio de ocupar os três mundos com três de Seus passos. O Senhor Vāmanadeva solicitou três passos de terra a Mahārāja Bali, e, tendo este concordado em cedê-los, o Senhor imediatamente abrangeu o mundo inteiro com dois de Seus passos. Com o terceiro passo, Ele colocou Seu pé sobre a cabeça de Bali Mahārāja. Śrī Jayadeva Gosvāmī diz:

chalayasi vikramaṇe balim adbhuta-vāmana
pada-nakha-nīra-janita-jana-pāvana
keśava dhṛta-vāmana-rūpa jaya jagadīśa hare

“Todas as glórias ao Senhor Keśava, que assumiu a forma de um anão. Ó Senhor do universo, Vós afastais tudo o que é inauspicioso para os devotos! Ó maravilhoso Vāmanadeva, enganastes o grande demônio Bali Mahārāja com Vossos passos. Sob a forma do rio Ganges, a água que tocou as unhas de Vossos pés de lótus, quando ultrapassastes a cobertura do universo, purifica todas as entidades vivas.”

Sendo todo-poderoso, o Senhor Supremo pode fazer coisas que parecem maravilhosas aos olhos do homem comum. Da mesma maneira, um devoto que tenha se refugiado aos pés de lótus do Senhor também pode fazer prodígios, os quais o homem comum mal pode imaginar, pela graça da poeira daqueles pés de lótus. Caitanya Mahā­prabhu, portanto, ensina-nos a refugiarmo-nos aos pés de lótus do Senhor:

ayi nanda-tanuja kiṅkaraṁ
patitaṁ māṁ viṣame bhavāṁbudhau
kṛpayā tava pāda-paṅkaja-
sthita-dhūlī-sadṛśaṁ vicintaya

“Ó filho de Nanda Mahārāja, sou Teu servo eterno, mas, de alguma forma, caí no oceano de nascimentos e mortes. Por favor, tira-me deste oceano de morte e coloca-me como um dos átomos aos Teus pés de lótus.” O Senhor Caitanya nos ensina a entrar em contato com a poeira dos pés de lótus do Senhor, visto que assim teremos todo o sucesso, indubitavelmente.

Em razão do corpo material, toda entidade viva na existência material é sempre perturbada por ṣaḍ-guṇa, os seis açoites – fome, sede, lamentação, ilusão, invalidez e morte. Além disso, outro ṣaḍ-guṇa é o conjunto da mente e os cinco órgãos dos sentidos. Se mesmo o caṇḍāla, o pária ou intocável, livra-se imediatamente do cativeiro material caso pronuncie, mesmo uma só vez, o santo nome do Senhor, o que dizer, então, do devoto santo? Às vezes, os brāhmaṇas de casta argumentam que, a menos que alguém troque de corpo, não pode ser aceito como brāhmaṇa, pois, como o corpo atual é obtido como resultado de ações passadas, alguém que no passado agiu como brāhmaṇa nasce em família de brāhmaṇas. Portanto, argumentam eles, sem um corpo bramânico, ninguém pode ser aceito como brāhmaṇa. Nesta passagem se diz, contudo, que mesmo o vidūra-vigata, o caṇḍāla – um intocável de quinta classe – liberta-se caso pronuncie, mesmo uma única vez, o santo nome. Libertar-se signi­fica dizer que a pessoa muda de corpo imediatamente. Sanātana Gosvāmī confirma isso:

yathā kāñcanatāṁ yāti
kāṁsyaṁ rasa-vidhānataḥ
tathā dīkṣā-vidhānena
dvijatvaṁ jāyate nṛṇām

Quando alguém, muito embora seja caṇḍāla, é iniciado por um de­voto puro no cantar do santo nome do Senhor, seu corpo se modifica na medida em que ele segue as instruções do mestre espiritual. Em­bora não possamos ver como ocorre essa mudança, devemos aceitar, com base nas afirmações autorizadas dos śāstras, que ele muda de corpo. Devemos compreender isso sem precisar recorrer a argumen­tos. Este verso diz claramente que sa jahāti bandham: “Ele abandona seu cativeiro material.” O corpo é uma representação simbólica do cativeiro material, de acordo com o karma de cada um. Embora, às vezes, não possamos ver o corpo grosseiro modificar-se, o cantar do santo nome do Senhor Supremo modifica de imediato o corpo sutil, e, como o corpo sutil se modifica, a entidade viva se liberta prontamente do cativeiro material. Além do mais, as transformações pelas quais o corpo grosseiro passa são conduzidas pelo corpo sutil. Após a destruição do corpo grosseiro, o corpo sutil leva a entidade viva de seu presente corpo grosseiro para outro. No corpo sutil, é a mente quem predomina, de modo que, se a mente de alguém está sempre absorta em lembrar-se das atividades ou dos pés de lótus do Senhor, subentende-se que essa pessoa já modificou seu corpo atual e se purificou. Portanto, é irrefutável que um caṇḍāla, ou qualquer pessoa caída ou de nascimento baixo, pode tornar-se um brāhmaṇa por meio do simples método da iniciação genuína.

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