VERSO 6
aho kaṣṭaṁ bhrātar vyaktam uru-pariśrānto dīrgham adhvānam eka eva ūhivān suciraṁ nāti-pīvā na saṁhananāṅgo jarasā copadruto bhavān sakhe no evāpara ete saṅghaṭṭina iti bahu-vipralabdho ’py avidyayā racita-dravya-guṇa-karmāśaya-sva-carama-kalevare ’vastuni saṁsthāna-viśeṣe ’haṁ mamety anadhyāropita-mithyā-pratyayo brahma-bhūtas tūṣṇīṁ śibikāṁ pūrvavad uvāha.
aho — ai de mim; kaṣṭam — quão trabalhoso é isso; bhrātaḥ — meu querido irmão; vyaktam — visivelmente; uru — muitíssimo; pariśrāntaḥ — fatigado; dīrgham — um longo; adhvānam — caminho; ekaḥ — sozinho; eva — com certeza; ūhivān — carregaste; su-ciram — por um longo tempo; na — não; ati-pīvā — muito forte e vigoroso; na — não; saṁhanana-aṅgaḥ — tendo um corpo firme e ágil; jarasā — pela velhice; ca — também; upadrutaḥ — perturbado; bhavān — tu; sakhe — meu amigo; no eva — certamente não; apare — o outro; ete — todos esses; saṅghaṭṭinaḥ — colegas de trabalho; iti — assim; bahu — muitíssimo; vipralabdhaḥ —criticado sarcasticamente; api — embora; avidyayā — por ignorância; racita — manufaturado; dravya-guṇa-karma-āśaya — em uma combinação de elementos materiais, qualidades materiais e os resultados das atividades e desejos prévios; sva-carama-kalevare — no corpo, que é impulsionado por elementos sutis (mente, inteligência e ego); avastuni — nessas coisas físicas; saṁsthāna-viśeṣe — tendo uma disposição específica; aham mama — eu e meu; iti — dessa maneira; anadhyāropita — não interposta; mithyā — falsa; pratyayaḥ — crença; brahma-bhūtaḥ — que era autorrealizado, situado na plataforma Brahman; tūṣṇīm — estando silencioso; śibikām — o palanquim; pūrva-vat — como antes; uvāha — carregou.
O rei Rahūgaṇa disse a Jaḍa Bharata: “Quão trabalhoso é isso, meu querido irmão. Certamente pareces muito fatigado porque, sem ajuda, carregaste sozinho este palanquim durante muito tempo e por uma longa distância. Além disso, devido à tua idade avançada, enfrentaste grandes obstáculos. Meu querido amigo, vejo que não és muito firme, nem muito forte e vigoroso. Será que teus colegas carregadores não cooperam contigo?”
Dessa maneira, valendo-se de palavras sarcásticas, o rei criticou Jaḍa Bharata, quem, apesar de ter recebido semelhante crítica, não se envolvia com os conceitos corpóreos da situação. Sabia que não era o corpo, pois alcançara sua identidade espiritual. Ele não era gordo nem magro, nem franzino, tampouco tinha algo a ver com um monte de matéria, uma mera combinação de cinco elementos grosseiros e três elementos sutis. Ele não tinha qualquer conexão com o corpo material e suas duas mãos e pernas. Em outras palavras, ele havia compreendido na íntegra a sua identidade espiritual [ahaṁ brahmāsmi]. Portanto, ele não se sentia afetado pelas críticas sarcásticas do rei. Sem dizer nada, continuou a carregar o palanquim como antes.
SIGNIFICADO—Jaḍa Bharata era perfeitamente liberado. Ele nem mesmo se preocupou quando os assaltantes tentaram matar o seu corpo; ele sabia, com absoluta certeza, que não era o corpo. Mesmo que lhe tivessem matado o corpo, ele não teria se importado, pois estava inteiramente convicto da proposição encontrada na Bhagavad-gītā (2.20): na hanyate hanyamāne śarīre. Sabia que não poderia ser morto, mesmo que seu corpo fosse morto. Embora ele não protestasse, a Suprema Personalidade de Deus, por intermédio de Seu agente, não podia tolerar a injustiça perpetrada pelos assaltantes; portanto, ele foi salvo pela misericórdia de Kṛṣṇa, e os salteadores foram mortos. Aqui também, enquanto carregava o palanquim, ele sabia que não era o corpo. Seu corpo era muito forte e vigoroso, em boas condições e bem apto para carregar o palanquim. Como estava livre do conceito corpóreo, as palavras sarcásticas do rei não o ofenderam em absoluto. O corpo é criado de acordo com o karma individual, e a natureza material fornece os ingredientes necessários ao desenvolvimento de uma determinada espécie de corpo. A alma que o corpo reveste é diferente da estrutura corpórea; portanto, qualquer coisa favorável ou prejudicial visando ao corpo não afeta a alma espiritual. O preceito védico é que asaṅgo hy ayaṁ puruṣaḥ: a alma espiritual jamais é afetada por arranjos materiais.