VERSO 8
evaṁ bahv abaddham api bhāṣamāṇaṁ nara-devābhimānaṁ rajasā tamasānuviddhena madena tiraskṛtāśeṣa-bhagavat-priya-niketaṁ paṇḍita-māninaṁ sa bhagavān brāhmaṇo brahma-bhūta-sarva-bhūta-suhṛd-ātmā yogeśvara-caryāyāṁ nāti-vyutpanna-matiṁ smayamāna iva vigata-smaya idam āha.
evam — dessa maneira; bahu — muito; abaddham — despropositada; api — embora; bhāṣamāṇam — fala; nara-deva-abhimānam — rei Rahūgaṇa, que se julgava o soberano; rajasā — pelo modo material da paixão; tamasā — bem como pelo modo da ignorância; anuviddhena — sendo aumentados; madena — pela loucura; tiraskṛta — que repreendeu; aśeṣa — inúmeros; bhagavat-priya-niketam — devotos do Senhor; paṇḍita-māninam — considerando-se um estudioso muito erudito; saḥ — esse; bhagavān — espiritualmente poderosíssimo (Jaḍa Bharata); brāhmaṇaḥ — um brāhmaṇa plenamente qualificado; brahma-bhūta — inteiramente autorrealizado; sarva-bhūta-suḥrt-ātmā — que era, portanto, amigo de todas as entidades vivas; yoga-īśvara — dos yogīs místicos mais avançados; caryāyām — no comportamento; na ativyutpanna-matim — ao rei Rahūgaṇa, que era desprovido de verdadeira experiência; smayamānaḥ — sorrindo com discrição; iva — como; vigata-smayaḥ — que estava livre de todo o orgulho material; idam — isto; āha — falou.
Julgando-se um monarca, o rei Rahūgaṇa estava situado no conceito corpóreo e deixava-se influenciar pelos modos materiais de paixão e ignorância. Devido à loucura, ele castigou Jaḍa Bharata com palavras descabidas e contraditórias. Jaḍa Bharata era um devoto elevadíssimo e a querida morada da Suprema Personalidade de Deus. Embora se considerasse muito erudito, o rei ignorava a posição de um devoto avançado e fixo em serviço devocional; tampouco conhecia as suas características. Jaḍa Bharata era a residência da Suprema Personalidade de Deus e sempre levava dentro do seu coração a forma do Senhor. Ele era o querido amigo de todos os seres vivos, e não alimentava qualquer concepção corpórea. Portanto, com um sorriso nos lábios, falou as seguintes palavras.
SIGNIFICADO—A distinção entre uma pessoa no conceito corpóreo e uma pessoa situada além do conceito corpóreo é apresentada neste verso. No conceito corpóreo, o rei Rahūgaṇa julgava-se um monarca e castigou Jaḍa Bharata de muitas maneiras inadequadas. Sendo autorrealizado, Jaḍa Bharata, que estava plenamente situado na plataforma transcendental, não ficou nem um pouco irado; ao contrário, ele sorriu e começou a dar seus ensinamentos ao rei Rahūgaṇa. Um devoto vaiṣṇava altamente avançado é amigo de todas as entidades vivas e, por conseguinte, também é amigo de seus inimigos. De fato, ele não considera ninguém como inimigo. Suhṛdaḥ sarva-dehinām. (Śrīmad-Bhāgavatam 3.25.21) Às vezes, o vaiṣṇava fica aparentemente irado contra um não-devoto, mas isso é para o bem do não-devoto. Temos diversos exemplos disso na literatura védica. Certa vez, Nārada ficou irado contra os dois filhos de Kuvera, Nalakūvara e Maṇigrīva, e castigou-os transformando-os em árvores. O resultado foi que, mais tarde, eles foram liberados pelo Senhor Śrī Kṛṣṇa. O devoto está situado na plataforma absoluta, e não faz diferença entre ele estar irado ou satisfeito, pois, em qualquer um dos casos, ele concede suas bênçãos.