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VERSO 1

sa hovāca
sa eṣa dehātma-mānināṁ sattvādi-guṇa-viśeṣa-vikalpita-kuśalāku-śala-samavahāra-vinirmita-vividha-dehāvalibhir viyoga-saṁyogādy-anādi-saṁsārānubhavasya dvāra-bhūtena ṣaḍ-indriya-vargeṇa tasmin durgādhvavad asugame ’dhvany āpatita īśvarasya bhagavato viṣṇor vaśa-vartinyā māyayā jīva-loko ’yaṁ yathā vaṇik-sārtho ’rtha-paraḥ sva-deha-niṣpādita-karmānubhavaḥ śmaśānavad aśivatamāyāṁ saṁsārāṭavyāṁ gato nādyāpi viphala-bahu-pratiyogehas tat-tāpopaśamanīṁ hari-guru-caraṇāravinda-madhukarānupadavīm avarundhe.

saḥ — o devoto autorrealizado (Śrī Śukadeva Gosvāmī); ha — na verdade; uvāca — falou; saḥ — ela (a alma condicionada); eṣaḥ — esta; deha-ātma-māninām — daqueles que tolamente aceitam o corpo como o eu; sattva-ādi — de sattva, rajaḥ e tamaḥ; guṇa — pelos modos; viśeṣa — específicos; vikalpita — falsamente constituída; kuśala — às vezes, por ações favoráveis; akuśala — às vezes, por ações muito desfavoráveis; samavahāra — por uma mistura de ambas; vinirmita — obtidas; vividha — várias categorias; deha-āvalibhiḥ — pelas séries de corpos; viyoga-saṁyoga-ādi — caracterizados pelo abandono de uma espécie de corpo (viyoga) e aceitação de outra (saṁyoga); anādi-saṁsāra-anubhavasya — da percepção do processo da transmigração, o qual não tem começo; dvāra-bhūtena — existindo como as vias de acesso; ṣaṭ-indriya-vargeṇa — por esses seis sentidos (a mente e os cinco sentidos com os quais se adquire conhecimento, a saber, os olhos, ouvidos, língua, nariz e pele); tasmin — nesse; durga-adhva-vat — como um caminho que é muito difícil de percorrer; asugame — sendo difícil de transpor; adhvani — em um caminho da floresta; āpatitaḥ — aconteceu; īśvarasya — do controlador; bhagavataḥ — a Suprema Personalidade de Deus; viṣṇoḥ — do Senhor Viṣṇu; vaśa-vartinyā — agindo sob o controle; māyayā — pela energia material; jīva-lokaḥ — a entidade viva condicionada; ayam — isto; yathā — exatamente como; vaṇik — um mercador; sa-arthaḥ — tendo um objeto; artha-paraḥ — que é muito apegada a dinheiro; sva-deha-niṣpādita — realizadas por seu próprio corpo; karma — os frutos das atividades; anubhavaḥ — que experimenta; śmaśna-vat aśivatamāyām — como um inauspicioso cemitério ou lugar onde se enterra; saṁsāra-aṭavyām — na floresta da vida material; gataḥ — tendo entrado; na — não; adya api — até agora; viphala — sem sucesso; bahu-pratiyoga — abarrotada de tantas dificuldades e variedades de condições dolorosas; īhaḥ — cujas atividades aqui neste mundo material; tat-tāpa-upaśa-manīm — que apazigua os sofrimentos da floresta da vida material; hari-guru-caraṇa-aravinda — aos pés de lótus do Senhor e Seu devoto; madhukara-anupadavīm — o trajeto percorrido em busca dos devotos, que são apegados como abelhas; avarundhe — ganho.

Quando o rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī qual o significado exato da floresta material, Śukadeva Gosvāmī respondeu da seguinte maneira: Meu querido rei, um homem que pertence à comunidade mercantil [vaṇik] está sempre interessado em ganhar dinheiro. Às vezes, ele entra na floresta para adquirir artigos baratos, tais como madeira e areia, a fim de vendê-los na cidade a bons preços. Do mesmo modo, a alma condicionada, cobiçosa, entra neste mundo material em busca de algum lucro material. Pouco a pouco, ela se embrenha na floresta, não sabendo realmente como sair dali. Tendo entrado no mundo material, a alma pura se condiciona à atmosfera material, criada pela energia externa, sob o controle do Senhor Viṣṇu. Assim, a entidade viva se submete ao controle da energia externa, daivī māyā. Vivendo de maneira independente e perdida na floresta, não obtém a associação dos devotos que estão sempre ocupados em servir ao Senhor. Estando na concepção corpórea, a entidade viva obtém diferentes classes de corpos, um após o outro, sob a influência da energia material e impelida pelos modos da natureza material [sattva-guṇa, rajo-guṇa e tamo-guṇa]. Dessa maneira, a alma condicionada ora procede aos planetas celestiais, ora aos planetas terrestres, ora aos planetas inferiores e espécies inferiores. Assim, em virtude das diferentes espécies de corpos, ela sofrer continuamente. Esses sofrimentos e dores às vezes variam. Ora são muito severos, ora são brandos. Essas condições corpóreas são adquiridas devido à especulação mental da alma condicionada. Para adquirir conhecimento, ela usa sua mente e os cinco sentidos, e estes lhe acarretam corpos variados e diversas condições. Ao usar seus sentidos quando está sob o controle da energia externa, māyā, a entidade viva sofre as condições dolorosas da existência material. Na verdade, ela busca alívio, mas, em geral, ela se frustra, embora, algumas vezes, sinta-se aliviada após muitas dificuldades. Estando, então, absorta nessa sua luta pela existência, escapa-lhe a oportunidade de obter o refúgio dos devotos puros, que são coma abelhas e que estão ocupados a serviço dos pés de lótus do Senhos Viṣṇu.

SIGNIFICADO—A informação mais importante transmitida neste verso é: hari-guru-caraṇa-aravinda-madhukara-anupadavīm. Neste mundo material, as almas condicionadas se frustram em suas atividades e, às vezes, sentem alívio após enfrentar muitos transtornos. De um modo geral, a alma condicionada nunca é feliz. Ela simplesmente luta pela existência. Na verdade, seu único dever é aceitar o mestre espiritual, o guru, e, através dele, aceitar os pés de lótus do Senhor. Śrī Caitanya Mahāprabhu explica isso com as seguintes palavras: guru-kṛṣṇa-prasāde pāya bhakti-latā-bīja. As pessoas que, nas florestas ou cidades do mundo material, lutam pela existência, não estão realmente gozando a vida. Elas simplesmente estão sofrendo diferentes dores e prazeres, mas, na grande maioria das vezes, dores que são sempre inauspiciosas. Elas tentam aliviar-se dessas dores, mas, em razão da ignorância, não atingem seu intento. É a elas que os Vedas se referem ao afirmar que tad-vijñānārthaṁ sa gurum evābhigacchet. Quando, na luta pela existência, a entidade viva está perdida na floresta do mundo material, seu primeiro dever é encontrar um guru fidedigno que esteja sempre ocupado aos pés de lótus de Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus. Afinal, se ela estiver realmente ansiosa por se livrar da luta pela existência, deve encontrar um guru autêntico e receber instruções dos seus pés de lótus. Dessa maneira, ela pode escapar dessa luta.

Visto que, nesta passagem, compara-se o mundo material a uma floresta, seria possível apresentar o argumento de que, em Kali-yuga, a civilização moderna concentra-se principalmente nas cidades. Uma grande cidade, contudo, é como uma grande selva. Na verdade, a vida na cidade é mais perigosa do que a vida na floresta. Se alguém, sem amigo ou refúgio, entra em uma cidade desconhecida, viver nessa cidade lhe será mais difícil do que viver em uma floresta. Existem muitas metrópoles em toda a superfície do globo, e, para onde quer que olhemos, vemos que a luta pela existência acontece vinte e quatro horas por dia. As pessoas correm em seus carros a uma velocidade de cem ou cento e trinta quilômetros por hora, constantemente indo e vindo, e isso compõe o cenário da grande luta pela existência. A pessoa tem que se levantar de manhã bem cedo, entrar nesse carro e viajar a uma velocidade muito arriscada. Sempre há perigo de acidentes, e a pessoa precisa ter muito cuidado. Em seu automóvel, a entidade viva está cheia de ansiedades, e sua luta não é nada auspiciosa. Além dos seres humanos, outras espécies, tais como os gatos e os cachorros, também estão dia e noite lutando muito arduamente pela existência. Assim, a luta pela existência não para, e a alma condicionada muda de uma posição para outra. Por algum tempo, ela é uma criança, mas terá que se tornar um menino. De menino, terá de mudar para rapaz e, de rapaz, para adulto e, depois, idoso. Enfim, quando o corpo já não funciona mais, ela tem que aceitar um novo corpo em uma espécie diferente. Abandonar o corpo se chama morte, e aceitar outro corpo se chama nascimento. Na forma humana, existe a oportunidade de refugiar-se no mestre espiritual fidedigno e, através dele, no Senhor Supremo. Introduziu-se este movimento para a consciência de Kṛṣṇa a fim de proporcionar uma oportunidade a todos os membros da sociedade humana, os quais os líderes tolos estão desorientando. Sem aceitar um devoto puro do Senhor, ninguém pode escapar dessa luta pela existência, que é cheia de sofrimentos. A tentativa material muda de uma posição para outra, e ninguém consegue realmente se livrar da luta pela existência. O único recurso são os pés de lótus do mestre espiritual fidedigno e, através deste, os pés de lótus do Senhor.

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