VERSO 36
yas tv iha vā āḍhyābhimatir ahaṅkṛtis tiryak-prekṣaṇaḥ sarvato ’bhiviśaṅkī artha-vyaya-nāśa-cintayā pariśuṣyamāṇa-hṛdaya-vadano nirvṛtim anavagato graha ivārtham abhirakṣati sa cāpi pretya tad-utpādanotkarṣaṇa-saṁrakṣaṇa-śamala-grahaḥ sūcīmukhe narake nipatati yatra ha vitta-grahaṁ pāpa-puruṣaṁ dharmarāja-puruṣā vāyakā iva sarvato ’ṅgeṣu sūtraiḥ parivayanti.
yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — neste mundo; vā — ou; āḍhya-abhimatiḥ — orgulhosa devido à riqueza; ahaṅkṛtiḥ — egoísta; tiryak-prekṣaṇaḥ — cuja visão é deformada; sarvataḥ abhiviśaṅkī — sempre temendo ser enganado por outros, inclusive pelos superiores; artha-vyaya-nāśa-cintayā — só de pensar em desperdiçar e perder; pariśuṣyamāṇa — amofinado; hṛdaya-vadanaḥ — seu coração e seu rosto; nirvṛtim — felicidade; anavagataḥ — não obtendo; grahaḥ — um fantasma; iva — como; artham — riqueza; abhirakṣati — protege; saḥ — ela; ca — também; api — na verdade; pretya — após morrer; tat — daquelas riquezas; utpādana — do ganho; utkarṣaṇa — aumentando; saṁrakṣaṇa — protegendo; śamala-grahaḥ — aceitando as atividades pecaminosas; sūcīmukhe — chamado Sūcīmukha; narake — no inferno; nipatati — cai; yatra — onde; ha — na verdade; vitta-graham — como um fantasma que se apodera de dinheiro; pāpa-puruṣam — homem muito pecaminoso; dharmarāja-puruṣāḥ — os agentes de Yamarāja; vāyakāḥ iva — como tecelões hábeis; sarvataḥ — inteiramente; aṅgeṣu — os membros do corpo; sūtraiḥ — com linhas; parivayanti — costuram.
Aquele que, neste mundo ou nesta vida, tem muito orgulho de sua riqueza, costuma pensar: “Eu sou tão rico! Quem pode igualar-se a mim?” Sua visão é distorcida, e ele está sempre com medo de que alguém o prive de sua riqueza. Na verdade, ele suspeita inclusive de seus superiores. Seu rosto e seu coração se abadem diante do mero pensamento de perder sua riqueza, e, em razão disso, ele sempre parece um demônio desprezível. Ele, de modo algum, consegue obter verdadeira felicidade, e não tem conhecimento de como se vive sem ansiedade. Devido aos pecados que comete para conseguir dinheiro, aumentar sua riqueza e protegê-la, ele é posto no inferno chamado Sūcīmukha, onde os agentes de Yamarāja o punem costurando todo o seu corpo assim como fazem os tecelões que fabricam roupas.
SIGNIFICADO—Quando alguém possui mais riqueza do que o necessário, decerto se torna muito orgulhoso. Essa é a situação dos homens na civilização moderna. De acordo com a cultura védica, os brāhmaṇas nada possuem, ao passo que os kṣatriyas possuem riquezas, mas somente para executar sacrifícios e outras atividades nobres prescritas nos preceitos védicos. O vaiśya também ganha dinheiro honestamente, através da agricultura, proteção às vacas e alguma atividade comercial. Contudo, se um śūdra ganha dinheiro, ele o esbanja sem discriminação, ou simplesmente o acumula sem propósito algum. Porque não há brāhmaṇas, kṣatriyas ou vaiśyas qualificados nesta era, quase todos são śūdras (kalau śūdra-sambhavaḥ). Portanto, a mentalidade de śūdra está causando grande dano à civilização moderna. O śūdra não sabe como usar o dinheiro para prestar transcendental serviço amoroso ao Senhor. O dinheiro também é chamado de lakṣmī, e Lakṣmī está sempre ocupada a serviço de Nārāyaṇa. Onde quer que haja dinheiro, deve-se usá-lo a serviço do Senhor Nārāyaṇa. Todos devem usar seu dinheiro para espalhar o grande e transcendental movimento da consciência de Kṛṣṇa. Se alguém não aplica o dinheiro com esse propósito, mas acumula mais do que o necessário, é certo que ficará orgulhoso do dinheiro que conseguiu ilegalmente. Na verdade, o dinheiro pertence a Kṛṣṇa, quem, na Bhagavad-gītā (5.29), diz que bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram: “Eu sou o verdadeiro desfrutador dos sacrifícios e penitências, e sou o proprietário de todos os planetas.” Portanto, tudo pertence a Kṛṣṇa. Aquele que possui mais dinheiro do que o necessário deve gastá-lo para Kṛṣṇa. Quem não assume essa atitude ficará envaidecido por suas falsas posses e, portanto, receberá a punição aqui descrita na próxima vida.