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VERSOS 10-13

haṁse gurau mayi bhaktyānuvṛtyā
vitṛṣṇayā dvandva-titikṣayā ca
sarvatra jantor vyasanāvagatyā
jijñāsayā tapasehā-nivṛttyā

mat-karmabhir mat-kathayā ca nityaṁ
mad-deva-saṅgād guṇa-kīrtanān me
nirvaira-sāmyopaśamena putrā
jihāsayā deha-gehātma-buddheḥ

adhyātma-yogena vivikta-sevayā
prāṇendriyātmābhijayena sadhryak
sac-chraddhayā brahmacaryeṇa śaśvad
asampramādena yamena vācām

sarvatra mad-bhāva-vicakṣaṇena
jñānena vijñāna-virājitena
yogena dhṛty-udyama-sattva-yukto
liṅgaṁ vyapohet kuśalo ’ham-ākhyam

haṁse — que é um paramahaṁsa, ou a mais elevada pessoa espiritualmente avançada; gurau — ao mestre espiritual; mayi — a Mim, a Suprema Personalidade de Deus; bhaktyā — pelo serviço devocional; anuvṛtyā — seguindo; vitṛṣṇayā — pelo desapego do gozo dos sentidos; dvandva — das dualidades do mundo material; titikṣayā — pela tolerância; ca — também; sarvatra — em toda parte; jantoḥ — da entidade viva; vyasana — a condição de vida dolorosa; avagatyā — compreendendo; jijñāsayā — perguntando sobre a verdade; tapasā — praticando austeridades e penitências; īhā-nivṛttyā — abandonando o esforço de satisfazer os sentidos; mat-karmabhiḥ — trabalhando para Mim; mat-kathayā — ouvindo tópicos sobre Mim; ca — também; nityam — sempre; mat-deva-saṅgāt — pela associação com Meus devotos; guṇa-kīrtanāt me — cantando e glorificando Minhas qualidades transcendentais; nirvaira — não tendo inimizade; sāmya — através da compreensão espiritual, onde todos são vistos no mesmo nível de igualdade; upaśamena — subjugando a ira, a lamentação e assim por diante; putrāḥ — ó filhos; jihāsayā — desejando abandonar; deha — com o corpo; geha — com o lar; ātma-buddheḥ — identificação do eu; adhyātma-yogena — pelo estudo das escrituras reveladas; vivikta-sevayā — vivendo em um lugar solitário; prāṇa — o ar vital; indriya — os sentidos; ātma — a mente; abhijayena — controlando; sadhryak — por completo; sat-śraddhayā — desenvolvendo fé nas escrituras; brahmacaryeṇa — praticando o celibato; śaśvat — sempre; asampramādena — não se deixando confundir; yamena — pela restrição; vācām — de palavras; sarvatra — em toda parte; mat-bhāva — pensando em Mim; vicakṣaṇena — por observar; jñānena — pelo desenvolvimento do conhecimento; vijñāna — pela aplicação prática do conhecimento; virājitena — iluminado; yogena — pela prática de bhakti-yoga; dhṛti — paciência; udyama — entusiasmo; sattva — discrição; yuktaḥ — dotado com; liṅgam — a causa do cativeiro material; vyapohet — pode-se abandonar; kuśalaḥ — em plena prosperidade; aham-ākhyam — falso ego, falsa identificação com o mundo material.

Ó Meus filhos, deveis aceitar um paramahaṁsa altamente elevado, um mestre espiritual avançado espiritualmente. Dessa maneira, deveis depositar vossa fé e amor em Mim, a Suprema Personalidade de Deus. Deveis detestar o gozo dos sentidos e tolerar a dualidade de prazer e dor, que se comporta como as mudanças sazonais de verão e inverno. Procurai compreender a condição de sofrimento das entidades vivas, dolorosa mesmo nos sistemas planetários superiores. Fazei indagações filosóficas sobre a verdade e, então, a bem do serviço devocional, submetei-vos a toda espécie de austeridades e penitências. Evitai o esforço com objetivo a satisfazer os sentidos e ocupai-vos no serviço ao Senhor. Escutai as instruções sobre a Suprema Personalidade de Deus, e associai-vos sempre com os devotos. Celebrai e glorificai o Senhor Supremo e, com uma visão espiritual, enxergai a todos com igualdade. Não cultiveis inimizade e subjugai a ira e a lamentação. Não identifiqueis o eu como sendo o corpo e o lar, e lede as escrituras reveladas. Vivei num lugar recluso e praticai o processo de controlar por completo vosso ar vital, mente e sentidos. Tende plena fé nas escrituras reveladas, os textos védicos, e observai sempre o celibato. Executai vossos deveres prescritos e evitai conversas desnecessárias. Pensando sempre na Suprema Personalidade de Deus, obtende o conhecimento na fonte correta. Assim, praticando bhakti-yoga, paciente e entusiasticamente sereis elevados em conhecimento e sereis capazes de abandonar o falso ego.

SIGNIFICADO—Nestes quatro versos, Ṛṣabhadeva diz a Seus filhos como eles podem livrar-se da identificação falsa produzida pelo falso ego e pela vida materialmente condicionada. Quem pratica o que se mencionou acima liberta-se pouco a pouco. Todos esses métodos aqui prescritos capacitam a pessoa a abandonar o corpo material (liṅgaṁ vyapohet) e situar-se em seu corpo espiritual original. Em primeiro lugar, devemos aceitar um mestre espiritual fidedigno. Advoga isso Śrīla Rūpa Gosvāmī em seu Bhakti-rasāmṛta-sindhu: śrī-guru-pādāśrayaḥ. Para libertarmo-nos do cativeiro do mundo material, devemos nos aproximar do mestre espiritual. Tad-vijñānārthaṁ sa gurum evābhigacchet. Fazendo perguntas ao mestre espiritual e servindo-o, a pessoa pode avançar na vida espiritual. Quem se ocupa em serviço devocional naturalmente se desinteressa do conforto pessoal – comer, dormir e vestir-se. A associação com um devoto garante o padrão espiritual. A palavra mad-deva-saṅgāt é muito importante. Existem muitas ditas religiões devotadas a adorar vários semideuses, mas, aqui, a boa associação significa associar-se com alguém que simplesmente aceita Kṛṣṇa como sua Deidade adorável.

Outro item importante é dvandva-titikṣā. Enquanto a pessoa estiver situada no mundo material, haverá prazer e dor decorrentes do corpo material. Como Kṛṣṇa aconselha na Bhagavad-gītā, tāṁs titikṣasva bhārata. Devemos aprender como tolerar as dores e os prazeres temporários deste mundo material. A pessoa deve também desapegar-se de sua família e praticar o celibato. O sexo com a esposa, realizado de acordo com os preceitos das escrituras, também é aceito como brahmacarya (celibato), mas o sexo ilícito vai de encontro aos princípios religiosos e impede o avanço em consciência espiritual. Outra palavra importante é vijñāna-virājita. Tudo deve ser feito muito científica e conscientemente. Deve-se procurar ser uma alma realizada. Dessa maneira, pode-se abandonar o enredamento do cativeiro material.

Como Śrī Madhvācārya assinala, a essência desses quatro ślokas é que a pessoa deve deixar de agir motivada por desejos de satisfazer os sentidos e, ao contrário disso, deve ocupar-se sempre em serviço amoroso ao Senhor. Em outras palavras, bhakti-yoga é o inquestionável caminho da liberação. Śrīla Madhvācārya menciona o Adhyātma:

ātmano ’vihitaṁ karma
varjayitvānya-karmaṇaḥ
kāmasya ca parityāgo
nirīhety āhur uttamāḥ

Devemos realizar atividades para o exclusivo benefício da alma; qualquer outra atividade deve ser abandonada. Quando alguém se estabelece nessa plataforma, afirma-se que ele não tem desejos. Na verdade, a entidade viva não pode ficar totalmente sem desejos, mas, quando ela deseja apenas o benefício da alma, afirma-se que ela não tem desejos.

O conhecimento espiritual é jñāna-vijñāna-samanvitam. Quem está plenamente equipado com jñāna e vijñāna é perfeito. Jñāna significa que alguém entende que a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, é o Ser Supremo. Vijñāna refere-se às atividades que nos libertam da ignorância consequente à existência material. Como afirma o Śrīmad-Bhāgavatam (2.9.31), jñānaṁ parama-guhyaṁ me yad vijñāna-samanvitam. Conhecer o Senhor Supremo é algo muito confidencial, e o conhecimento supremo mediante o qual passamos a compreendê-lO favorece a liberação de todas as entidades vivas. Esse conhecimento é vijñāna. Como confirma a Bhagavad-gītā (4.9):

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.”

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