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CAPÍTULO CINCO

Os Ensinamentos do Senhor Ṛṣabhadeva aos Seus Filhos

Neste capítulo, descreve-se bhāgavata-dharma, os princípios religiosos em serviço devocional que transcendem os princípios religiosos que visam à liberação e à mitigação do sofrimento material. Nele, afirma-se que, ao contrário de cães e porcos, o ser humano não deve trabalhar arduamente, na tentativa de obter gozo dos sentidos. A vida humana destina-se especialmente a que possamos reviver nossa relação com o Senhor Supremo, e, para esse fim, devemos aceitar toda espécie de austeridades e penitências. Através de atividades austeras, podemos tirar de nossos corações a contaminação material e, em consequência disso, situarmo-nos na plataforma espiritual. Para atingir essa perfeição, devemos refugiar-nos em um devoto e servi-lo. Então, a porta da liberação se abrirá. Aqueles que são materialmente apegados a mulheres e ao gozo dos sentidos aos poucos vão-se enredando em consciência material e continuam a sofrer as dores ligadas a nascimento, velhice, doença e morte. Aqueles que se ocupam no bem-estar geral e que não estão apegados aos filhos e à família chamam-se mahātmās. Aqueles que estão ocupados em gozo dos sentidos, que agem piedosa ou impiamente, não podem entender o propósito da alma. Portanto, devem aproximar-se de um devoto altamente elevado e aceitá-lo como mestre espiritual. Associando-se com semelhante mestre espiritual, serão capazes de entender o propósito da vida. Sob as suas instruções, podem alcançar o serviço devocional ao Senhor, desapegar-se das coisas materiais e tolerar a dor e a aflição materiais. Então, poderão ver com equanimidade todas as entidades vivas e desejarão conhecer temas transcendentais com grande avidez. Esforçando-se persistentemente em satisfazer Kṛṣṇa, desapegam-se de esposas, filhos e lares. Eles perdem o interesse em desperdiçar seu tempo. Dessa maneira, tornam-se autorrealizados. A pessoa que é avançada em conhecimento espiritual não ocupa ninguém em atividades materiais. E aquele que não consegue transmitir o serviço devocional e, então, libertar outrem, não deve tornar-se mestre espiritual, pai, mãe, semideus ou esposo. Ao instruir seus cem filhos, o Senhor Ṛṣabhadeva os aconselhou a aceitarem seu irmão mais velho, Bharata, como seu guia e senhor e, portanto, servi-lo. Entre todas as entidades vivas, os brāhmaṇas são os melhores, e, acima dos brāhmaṇas, os vaiṣṇavas se situam em uma posição ainda melhor. Servir a um vaiṣṇava significa servir à Suprema Personalidade de Deus. Assim, para instruir a população em geral, Śukadeva Gosvāmī descreve as características de Mahārāja Bharata e a cerimônia sacrificatória executada pelo Senhor Ṛṣabhadeva.

VERSO 1: O Senhor Ṛṣabhadeva disse aos Seus filhos: Meus queridos rapazes, entre todas as entidades vivas que aceitaram corpos materiais neste mundo, aquele que recebeu esta forma humana não deve trabalhar arduamente dia e noite com o simples propósito de satisfazer seus sentidos, pois isso se encontra disponível inclusive para os cães e porcos, meros comedores de excremento. A pessoa deve ocupar-se em penitências e austeridades para alcançar a posição divina do serviço devocional. Através dessa atividade, seu coração purifica-se e, ao situar-se nessa posição, obtém uma vida bem-aventurada e eterna, que transcende a felicidade material e continua para sempre.

VERSO 2: Somente consegue alcançar o caminho que o liberta do cativeiro material aquele que presta serviço a pessoas espirituais avançadíssimas. Essas pessoas são ou impersonalistas ou devotos. Caso alguém deseje mergulhar na existência do Senhor, ou caso deseje associar-se com a Personalidade de Deus, deve prestar serviço aos mahātmās. Para aqueles que não estão interessados nessas atividades, que se associam com pessoas ávidas por mulheres e sexo, o caminho do inferno está de portas abertas. Os mahātmās são equânimes. Eles não veem diferença alguma entre as entidades vivas. São muito pacíficos e ocupam-se plenamente em serviço devocional. Não ficam irados e trabalham para o benefício de todos. Não se comportam de maneiras abomináveis e são conhecidos como mahātmās.

VERSO 3: Aqueles que estão interessados em reviver a consciência de Kṛṣṇa e em intensificar seu amor por Deus não gostam de fazer nada que não esteja relacionado com Kṛṣṇa. Eles não estão interessados em associar-se com pessoas ocupadas em manter seus corpos, comer, dormir, acasalar-se e defender-se. Eles não estão apegados a seus lares, mesmo que sejam pais de família. Tampouco estão apegados a esposa, filhos, amigos ou riquezas. Ao mesmo tempo, não são indiferentes à execução de seus deveres. Semelhantes pessoas estão interessadas em coletar apenas o dinheiro suficiente para a manutenção de suas vidas.

VERSO 4: Ao considerar que o gozo dos sentidos é a meta da vida, é certo que a pessoa deseja loucamente uma vida materialista e ocupa-se em toda espécie de atividades pecaminosas. Ela não sabe que, devido a seus erros passados, já recebeu um corpo que, embora temporário, é a causa de seu sofrimento. Na verdade, a entidade viva não precisaria receber nenhum corpo material, mas, para poder satisfazer seus sentidos, ela recebe um corpo material. Portanto, acho que não é digno de um homem inteligente envolver-se de novo em atividades de gozo dos sentidos, visto que, em razão disso, continuará perpetuamente recebendo corpos materiais, um após o outro.

VERSO 5: Enquanto alguém não indagar sobre os valores espirituais da vida, ele é derrotado e se sujeita aos sofrimentos que surgem da ignorância. Seja pecaminoso ou piedoso, o karma cobra seus resultados. Se a pessoa se envolve com qualquer espécie de karma, sua mente se chama karmātmaka, colorida com atividades fruitivas. Enquanto a mente for impura, a consciência será turva, e, enquanto a pessoa estiver absorta em atividades fruitivas, terá de aceitar corpos materiais.

VERSO 6: Quando a entidade viva está coberta pelo modo da ignorância, ela não entende o ser vivo individual e o ser vivo supremo, e sua mente é subjugada por atividades fruitivas. Portanto, enquanto alguém não adquirir amor pelo Senhor Vāsudeva, que não é outrem senão Eu mesmo, por certo que ele não deixará de aceitar repetidos corpos materiais.

VERSO 7: Muito embora alguém possa ser muito sábio e erudito, trata-se de alguém insano caso não entenda que o esforço em satisfazer seus sentidos é um inútil desperdício de tempo. Estando esquecido de seu interesse próprio, ele tenta ser feliz no mundo material, centralizando seus interesses no seu lar, que tem por base o ato sexual e que o assedia com toda espécie de sofrimentos materiais. Dessa maneira, ele não passa de um animal muito tolo.

VERSO 8: A atração entre macho e fêmea é o princípio básico da existência material. Com base nessa concepção errônea, que amarra os corações do homem e da mulher, a pessoa se sente atraída por seu corpo, lar, propriedades, filhos, parentes e riquezas. Dessa maneira, sua vida se enche de ilusões e ela pensa em termos de “eu e meu”.

VERSO 9: Quando se afrouxa o forte nó no coração de uma pessoa que, devido aos resultados de ações passadas, está imiscuída em uma vida material, ela dá as costas ao seu apego ao lar, à esposa e aos filhos. Desta maneira, ela abandona o princípio básico da ilusão [eu e meu] e se liberta. Assim, ela vai para o mundo transcendental.

VERSOS 10-13: Ó Meus filhos, deveis aceitar um paramahaṁsa altamente elevado, um mestre espiritual avançado espiritualmente. Dessa maneira, deveis depositar vossa fé e amor em Mim, a Suprema Personalidade de Deus. Deveis detestar o gozo dos sentidos e tolerar a dualidade de prazer e dor, que se comporta como as mudanças sazonais de verão e inverno. Procurai compreender a condição de sofrimento das entidades vivas, dolorosa mesmo nos sistemas planetários superiores. Fazei indagações filosóficas sobre a verdade e, então, a bem do serviço devocional, submetei-vos a toda espécie de austeridades e penitências. Evitai o esforço com objetivo a satisfazer os sentidos e ocupai-vos no serviço ao Senhor. Escutai as instruções sobre a Suprema Personalidade de Deus, e associai-vos sempre com os devotos. Celebrai e glorificai o Senhor Supremo e, com uma visão espiritual, enxergai a todos com igualdade. Não cultiveis inimizade e subjugai a ira e a lamentação. Não identifiqueis o eu como sendo o corpo e o lar, e lede as escrituras reveladas. Vivei num lugar recluso e praticai o processo de controlar por completo vosso ar vital, mente e sentidos. Tende plena fé nas escrituras reveladas, os textos védicos, e observai sempre o celibato. Executai vossos deveres prescritos e evitai conversas desnecessárias. Pensando sempre na Suprema Personalidade de Deus, obtende o conhecimento na fonte correta. Assim, praticando bhakti-yoga, paciente e entusiasticamente sereis elevados em conhecimento e sereis capazes de abandonar o falso ego.

VERSO 14: Deveis agir, Meus queridos filhos, como vos aconselhei. Sede muito cuidadosos. Através desse processo, Eu vos libertarei da ignorância que produz o desejo de atividades fruitivas, e no coração se romperá por completo o nó do cativeiro. Para continuardes avançando, deveis também abandonar os meios. Isto é, não deveis ficar apegados ao próprio processo de liberação.

VERSO 15: Se alguém é sério quanto a voltar ao lar, voltar ao Supremo, deve considerar a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus como o summum bonum e a meta principal da vida. Se ele for um pai instruindo seus filhos, um mestre espiritual instruindo seus discípulos ou um rei instruindo seus cidadãos, deve instruí-los como acabo de fazer. Sem irar-se, ele deve continuar dando instruções, mesmo que seu discípulo, filho ou cidadão às vezes seja incapaz de seguir suas ordens. Deve-se fazer uso de todos os recursos para que as pessoas ignorantes que praticam atividades piedosas ou ímpias se ocupem em serviço devocional. Elas devem evitar sempre as atividades fruitivas. Se alguém põe no cativeiro de atividades cármicas seu discípulo, filho ou cidadão destituídos de visão transcendental, o que ele terá a ganhar? Seria como guiar um cego para um poço escuro e fazê-lo cair ali dentro.

VERSO 16: Devido à ignorância, a pessoa materialista nada sabe sobre seu verdadeiro interesse pessoal, o caminho da vida auspiciosa. Por causa dos desejos luxuriosos, ela está simplesmente atada ao gozo material, e todos os seus planos são feitos para esse fim. Em busca do gozo temporário dos sentidos, semelhante pessoa cria uma sociedade em que prolifera a inveja e, devido à sua mentalidade, ela se afunda no oceano de sofrimento. Tal homem tolo sequer consegue compreender isso.

VERSO 17: Se alguém é ignorante e se entregou ao caminho do saṁsāra, como uma pessoa realmente erudita, misericordiosa e avançada em conhecimento espiritual poderia ocupá-lo em atividades fruitivas e, dessa maneira, enredá-lo ainda mais na existência material? Se um cego avança pelo caminho errado, como um cavalheiro deixaria que ele continuasse nesse caminho perigoso? Como aprovaria esse método? Nenhum homem sábio ou bondoso pode permitir isso.

VERSO 18: Quem não pode libertar do caminho de repetidos nascimentos e mortes os seus dependentes, jamais deve tornar-se mestre espiritual, pai, esposo, mãe ou semideus adorável.

VERSO 19: Meu corpo transcendental [sac-cid-ānanda-vigraha] tem a mesmíssima forma humana, mas ele não é um corpo humano material. Ele é inconcebível. A natureza não Me força a aceitar um determinado tipo de corpo; Eu aceito um corpo de acordo com Meu próprio desejo. Meu coração também é espiritual, e Eu sempre penso no bem-estar dos Meus devotos. Portanto, dentro de Meu coração pode ser encontrado o processo do serviço devocional, que se destina aos devotos. Afastei para bem longe do Meu coração a irreligião [adharma] e as atividades não-devocionais. Elas não Me atraem. Devido a todas essas qualidades transcendentais, geralmente as pessoas oram a Mim como Ṛṣabhadeva, a Suprema Personalidade de Deus, a melhor de todas as entidades vivas.

VERSO 20: Meus queridos rapazes, todos vós nascestes do Meu coração, que é a sede de todas as qualidades espirituais. Portanto, não deveis ser como homens materialistas e invejosos. Deveis aceitar vosso irmão mais velho, Bharata, que é avançado em serviço devocional. Se vos ocupardes em servir a Bharata, em vosso serviço a ele estará incluído o serviço a Mim e governareis naturalmente os cidadãos.

VERSOS 21-22: Dentre as duas energias manifestas [espírito e matéria bruta], os seres que possuem força vital [vegetais, gramíneas, arbustos e árvores] são superiores à matéria bruta [pedra, terra etc.]. Superiores às plantas e vegetais inertes, são os vermes e as serpentes, que podem mover-se. Superiores aos vermes e às serpentes, são os animais que desenvolveram inteligência. Superiores aos animais, são os seres humanos, e, superiores a esses, são os fantasmas, pois eles não têm corpos materiais. Superiores aos fantasmas são os Gandharvas, e, superiores a esses, são os Siddhas. Superiores aos Siddhas são os Kinnaras, e, superiores a esses, são os asuras. Superiores aos asuras, são os semideuses, e, dentre os semideuses, Indra, o rei dos céus, é o supremo. Superiores a Indra são os filhos diretos do senhor Brahmā, filhos tais como o rei Dakṣa, e supremo entre os filhos de Brahmā é o senhor Śiva. Como o senhor Śiva é filho do senhor Brahmā, Brahmā é considerado superior, mas Brahmā também está subordinado a Mim, a Suprema Personalidade de Deus. Porque sou favorável aos brāhmaṇas, os brāhmaṇas são os melhores de todos.

VERSO 23: Ó brāhmaṇas respeitáveis, até onde vai a Minha estimativa, neste mundo, ninguém é igual ou superior aos brāhmaṇas. Não vejo ninguém comparável a eles. Quando, após executarem rituais de acordo com os princípios védicos, as pessoas conhecem Minha intenção, elas Me oferecem, com fé e amor, alimento através da boca de um brāhmaṇa. Quando o alimento Me é oferecido deste modo, Eu o como com plena satisfação. Na verdade, Eu sinto mais prazer com o alimento oferecido dessa maneira do que com o alimento oferecido no fogo de sacrifício.

VERSO 24: Os Vedas são Minha eterna encarnação sonora transcendental. Portanto, os Vedas são śabda-brahma. Neste mundo, os brāhmaṇas fazem um estudo exaustivo de todos os Vedas e, porque assimilam as conclusões védicas, também devem ser considerados os Vedas personificados. Os brāhmaṇas estão situados em sattva-guna, o modo da natureza supremamente transcendental. Devido a isso, eles desenvolveram controle da mente [śama], controle dos sentidos [dama] e veracidade [satya]. Eles descrevem o significado autêntico dos Vedas e, por misericórdia [anugraha], eles pregam a todas as almas condicionadas o propósito dos Vedas. Eles praticam penitência [tapasya] e tolerância [titikṣā], e compreendem a posição da entidade viva e do Senhor [anubhava]. Estas são as oito qualificações dos brāhmaṇas. Portanto, dentre todas as entidades vivas, ninguém é superior aos brāhmaṇas.

VERSO 25: Eu sou plenamente opulento, onipotente e superior ao senhor Brahmā e Indra, o rei dos planetas celestiais. Também sou o outorgador de toda a felicidade obtida no reino celestial e através da liberação. Entretanto, os brāhmaṇas não Me buscam em troca de confortos materiais. Eles são muito puros e não desejam possuir nada. Eles simplesmente se ocupam em Meu serviço devocional. Qual a necessidade de pedirem benefícios materiais a alguma outra pessoa?

VERSO 26: Meus queridos filhos, não deveis invejar nenhuma entidade viva – seja móvel, seja inerte. Sabendo que estou situado nelas, deveis a todo instante oferecer respeito a todas elas. Dessa maneira, ofereceis respeitos a Mim.

VERSO 27: A verdadeira atividade dos órgãos dos sentidos – mente, visão, palavras e os sentidos com que se obtém conhecimento e os sentidos funcionais – é ocupar-se plenamente a Meu serviço. A menos que seus sentidos estejam assim ocupados, uma entidade viva não pode cogitar escapar deste grande enredamento da existência material, que é exatamente como a corda constringente de Yamarāja.

VERSO 28: Śukadeva Gosvāmī disse: Assim, o grande benquerente de todos, o Supremo Senhor Ṛṣabhadeva, instruiu Seus próprios filhos. Embora eles fossem perfeitamente educados e cultos, Ele os instruiu apenas para estabelecer um exemplo de como, antes de retirar-se da vida familiar, o pai deve instruir seus filhos. Os sannyāsīs, que já não estão atados às atividades fruitivas e que, após eliminarem todos os seus desejos materiais, adotaram o serviço devocional, também aprendem através dessas instruções. O Senhor Ṛṣabhadeva instruiu Seus cem filhos, dentre os quais, o mais velho, Bharata, era um devoto muito avançado e seguidor dos vaiṣṇavas. Para governar o mundo inteiro, o Senhor instalou no trono real o Seu filho mais velho. Depois disso, embora ainda permanecesse no lar, o Senhor Ṛṣabhadeva viveu tal qual um louco, nu e com o cabelo desgrenhado. Então, o Senhor interiorizou em Si o fogo do sacrifício e deixou Brahmāvarta para viajar pelo mundo inteiro.

VERSO 29: Após aceitar as características de avadhūta, uma grandiosa pessoa santa sem preocupações materiais, o Senhor Ṛṣabhadeva viveu na sociedade humana como se fosse um cego, um surdo-mudo, uma pedra inútil, um fantasma ou um louco. Embora as pessoas se dirigissem a Ele com esses tratamentos, Ele permanecia silencioso e não falava com ninguém.

VERSO 30: Ṛṣabhadeva começou a viajar por cidades, vilas, minas, campos, vales, jardins, campos militares, currais de vacas, lares de vaqueiros, hospedarias de peregrinos, colinas, florestas e eremitérios. Por onde quer que Ele viajasse, todos os maus elementos rodeavam-nO, assim como as moscas cercam o corpo de um elefante que vem da floresta. As pessoas sempre O hostilizavam, batiam nEle, urinavam sobre Ele e cuspiam nEle. Às vezes, atiravam-Lhe pedras, excremento e areia, e, outras vezes, soltavam gases diante dEle. Assim, as pessoas falavam muitas palavras de baixo calão para Ele e causavam-Lhe grandes vexames, mas Ele não Se importava com isso, pois entendia que o corpo se destina simplesmente a esse fim. Ele estava situado na plataforma espiritual e, em Sua glória espiritual, não Se importava com todos esses insultos materiais. Em outras palavras, Ele entendia na íntegra que a matéria e o espírito são distintos, e não tinha nenhum conceito corpóreo. Assim, sem irar-se contra ninguém, Ele caminhava sozinho pelo mundo inteiro.

VERSO 31: As mãos, os pés e o peito do Senhor Ṛṣabhadeva eram muito longos. Seus ombros, rosto e membros eram todos muito delicados e simetricamente proporcionais. Sua boca era belamente decorada com Seu sorriso natural, e Ele parecia ainda mais amável com Seus longos olhos avermelhados semelhantes a pétalas de uma flor de lótus que acaba de desabrochar e está coberta com o orvalho da madrugada. As íris de Seus olhos eram tão agradáveis que eliminavam os problemas de todos aqueles que O viam. Sua testa, orelhas, pescoço, nariz e todas as Suas outras características eram muito belas. Seu sorriso cortês sempre tornava encantador o Seu rosto – tão intensamente que Ele atraía até mesmo o coração das mulheres casadas. Era como se elas tivessem sido trespassadas pelas flechas do Cupido. Em torno de Sua cabeça, havia uma abundância de cabelos castanhos, encaracolados e ondulados. Seu cabelo se mantinha desgrenhado porque Seu corpo estava sujo e negligenciado. Ele Se parecia com um homem assombrado por um fantasma.

VERSO 32: Ao ver que a população em geral mostrava-se muito hostil à Sua execução de yoga místico, o Senhor Ṛṣabhadeva, a fim de contra-atacar essa oposição, adotou o comportamento de um píton. Assim, Ele permanecia em um só lugar, deitado. Enquanto estava deitado, Ele comia e bebia, e também defecava, urinava e rolava sobre os excrementos. Na verdade, Ele untava todo o Seu corpo com Suas próprias fezes e urina para que as pessoas hostis não viessem perturbá-lo.

VERSO 33: Porque o Senhor Ṛṣabhadeva permanecia nessa condição, o público não O perturbava, mas nenhum odor desagradável emanava de Seu excremento e urina. Em vez disso, Seu excremento e Sua urina eram tão perfumados que, em uma extensão de cento e trinta quilômetros na zona rural, deixavam um aroma agradável.

VERSO 34: Dessa maneira, o Senhor Ṛṣabhadeva seguia o comportamento das vacas, veados e corvos. Ora Ele Se movia ou caminhava, ora Se ficava sentado em um só lugar. Às vezes, Ele Se deitava comportando-Se exatamente como as vacas, veados e corvos. Desse modo, Ele comia, bebia, defecava e urinava e, com essa conduta, enganava as pessoas.

VERSO 35: Ó rei Parīkṣit, com o simples propósito de mostrar a todos os yogīs o processo místico, o Senhor Ṛṣabhadeva, a expansão parcial do Senhor Kṛṣṇa, executou atividades maravilhosas. Na verdade, Ele era o mestre da liberação e estava plenamente absorto em bem-aventurança transcendental, a qual aumentava milhares de vezes. O Senhor Kṛṣṇa, Vāsudeva, o filho de Vasudeva, é a fonte original do Senhor Ṛṣabhadeva. Não há diferença alguma na constituição dEles, e, desse modo, o Senhor Ṛṣabhadeva manifestou os sintomas amorosos de choro, riso e tremor. Ele estava sempre absorto em amor transcendental. Devido a isso, todos os poderes místicos automaticamente foram ao Seu encontro, tais como a habilidade de viajar pelo espaço sideral à velocidade da mente, de aparecer e desaparecer, de entrar nos corpos alheios e de ver as coisas a uma longa distância. Embora pudesse fazer tudo isso, Ele não Se valia desses poderes.

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