VERSO 27
tadānīm api pārśva-vartinam ātmajam ivānuśocantam abhivīkṣamāṇo mṛga evābhiniveśita-manā visṛjya lokam imaṁ saha mṛgeṇa kalevaraṁ mṛtam anu na mṛta-janmānusmṛtir itaravan mṛga-śarīram avāpa.
tadānīm — naquele momento; api — na verdade; pārśva-vartinam — ao lado de seu leito de morte; ātma-jam — seu próprio filho; iva — como; anuśocantam — lamentando; abhivīkṣamānaḥ — vendo; mṛge — no veado; eva — decerto; abhiniveśita-manāḥ — sua mente estava absorta; visṛjya — abandonando; lokam — mundo; imam — este; saha — com; mṛgeṇa — o veado; kalevaram — seu corpo; mṛtam — morreu; anu — depois disso; na — não; mṛta — destruída; janma-anusmṛtiḥ — lembrança do incidente antes de sua morte; itara-vat — como os outros; mṛga-śarīram — um corpo de veado; avāpa — obteve.
No momento da morte, o rei viu que, exatamente como seu próprio filho, o veadinho estava sentado ao seu lado, e lamentava a sua morte. Na verdade, a mente do rei estava absorta no corpo do veadinho e, consequentemente – como aqueles que são desprovidos de consciência de Kṛṣṇa –, ele deixou o mundo, o veado e seu corpo material e ganhou um corpo de veado. Contudo, houve uma vantagem. Embora tivesse perdido seu corpo humano e recebido um corpo de veado, ele não se esqueceu dos incidentes de sua vida passada.
SIGNIFICADO—Existe uma diferença entre este episódio onde Bharata Mahārāja adquire um corpo de veado e aqueles eventos em que outras pessoas ganham corpos de acordo com sua condição mental na hora da morte. Depois da morte, os outros se esquecem de tudo o que lhes aconteceu em vidas passadas, mas Bharata Mahārāja não se esqueceu. De acordo com a Bhagavad-gītā (8.6):
yaṁ yaṁ vāpi smaran bhāvaṁ
tyajaty ante kalevaram
taṁ tam evaiti kaunteya
sadā tad-bhāva-bhāvitaḥ
“Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar o corpo, ó filho de Kuntī, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente.”
Após abandonar seu corpo, a pessoa obtém outro corpo de acordo com sua condição mental na hora da morte. No momento da morte, todos pensam sempre no assunto ao qual dedicaram suas vidas. De acordo com essa lei, como estava sempre pensando no veado e se esqueceu de adorar o Senhor Supremo, Bharata Mahārāja obteve um corpo de veado. Contudo, em razão de ter-se elevado à plataforma máxima de serviço devocional, ele não se esqueceu das circunstâncias de sua vida passada. Essa bênção especial o poupou de uma degradação maior. Por causa de suas atividades passadas em que realizara serviço devocional, ele, embora estivesse em um corpo de veado, determinou-se a concluir seu serviço devocional. Neste verso, portanto, declara-se que mṛtam, embora ele tivesse morrido, anu, depois disso, na mṛta janmānusmṛtir itaravat, ele, diferentemente dos outros, não se esqueceu dos pormenores de sua vida pretérita. Como afirma a Brahma-saṁhitā (5.54): karmāṇi nirdahati kintu ca bhakti-bhājām. Prova-se nesta passagem que, devido à graça do Senhor Supremo, o devoto nunca perece. Em virtude de sua negligência obstinada no serviço devocional, o devoto pode ser punido por um curto espaço de tempo, mas se reintegra ao seu serviço devocional e volta ao lar, volta ao Supremo.