VERSO 18
bhṛśam amarṣa-roṣāveśa-rabhasa-vilasita-bhru-kuṭi-viṭapa-kuṭila-daṁṣṭrāruṇekṣaṇāṭopāti-bhayānaka-vadanā hantu-kāmevedaṁ mahāṭṭa-hāsam ati-saṁrambheṇa vimuñcantī tata utpatya pāpīyasāṁ duṣṭānāṁ tenaivāsinā vivṛkṇa-śīrṣṇāṁ galāt sravantam asṛg-āsavam atyuṣṇaṁ saha gaṇena nipīyāti-pāna-mada-vihvaloccaistarāṁ sva-pārṣadaiḥ saha jagau nanarta ca vijahāra ca śiraḥ-kanduka-līlayā.
bhṛśam — muito altamente; amarṣa — com intolerância com as ofensas; roṣa — com ira; āveśa — de sua concentração; rabhasa-vilasita — expandida pela força; bhru-kuṭi — de suas sobrancelhas; viṭapa — as linhas; kuṭila — curvos; daṁṣṭra — dentes; aruṇa-īkṣaṇa — de olhos avermelhados; āṭopa — devido à agitação; ati — muitíssimo; bhayānaka — amedrontadora; vadanā — tendo um rosto; hantu-kāmā — desejoso de destruir; iva — como se; idam — este universo; mahā-aṭṭa-hāsam — uma risada muito assustadora; ati — intensa; saṁrambheṇa — devido à ira; vimuñcantī — escapando; tataḥ — daquele altar; utpatya — adiantando-se; pāpīyasām — de todos os pecaminosos; duṣṭānām — grandes ofensores; tena eva asinā — com aquele mesmíssimo cutelo; vivṛkṇa — separou; śīrṣṇām — cujas cabeças; galāt — dos pescoços; sravantam — esvaindo-se; asṛk-āsavam — o sangue, comparado a uma bebida embriagadora; ati-uṣṇam — muito quente; saha — com; gaṇena — suas associadas; nipīya — bebendo; ati-pāna — de tanto beber; mada — pela embriaguez; vihvalā — dominadas; uccaiḥ-tarām — bem alto; sva-pārṣadaiḥ — suas próprias associadas; saha — com; jagau — cantava; nanarta — dançava; ca — também; vijahāra — divertia-se; ca — também; śiraḥ-kanduka — usando as cabeças como bolas; līlayā — por diversão.
Não conseguindo tolerar as ofensas cometidas, a enfurecida deusa Kālī lançou chamas pelos olhos e exibiu seus ferozes dentes curvos. Seus olhos vermelhos brilhavam, e ela apresentou suas feições amedrontadoras. Ela assumiu um corpo assustador, como se estivesse pronta para destruir toda a criação. Pulando violentamente do altar, ela decapitou de imediato todos os ladrões e canalhas com a mesma espada com que eles haviam intencionado matar Jaḍa Bharata. Então, ela começou a beber o sangue quente que escorria do pescoço dos ladrões e patifes decapitados, como se esse sangue fosse uma bebida alcóolica. Na verdade, ela bebia esse líquido embriagador com suas associadas, que eram bruxas e demônias. Intoxicadas com o sangue, todas elas passaram a cantar bem alto e a dançar como se estivessem preparadas para aniquilar todo o universo. Ao mesmo tempo, elas começaram a divertir-se com as cabeças dos ladrões e assaltantes, jogando-as como se fossem bolas.
SIGNIFICADO—Fica bastante evidente neste verso que os devotos da deusa Kālī não são nem um pouco favorecidos por ela. Cabe-lhe punir e matar os demônios. A deusa Kālī (Durgā) ocupa-se em decapitar demônios, salteadores e muitos outros elementos nocivos à sociedade. Negligenciando a consciência de Kṛṣṇa, pessoas tolas tentam satisfazer a deusa oferecendo-lhe muitas coisas abomináveis, mas, no final, quando se detecta uma pequena falha nessa adoração, a deusa pune o adorador tirando-lhe a vida. Em busca de algum benefício material, pessoas demoníacas adoram a deusa Kālī, mas não recebem perdão pelos pecados cometidos em nome da adoração. Sacrificar um homem ou um animal diante da deidade é expressamente proibido.