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VERSO 1

śrī-parīkṣid uvāca
nivṛtti-mārgaḥ kathita
ādau bhagavatā yathā
krama-yogopalabdhena
brahmaṇā yad asaṁsṛtiḥ

śrī-parīkṣit uvāca — Mahārāja Parīkṣit disse; nivṛtti-mārgaḥ — o caminho da liberação; kathitaḥ — descrito; ādau — no início; bhagavatā — por Vossa Santidade; yathā — devidamente; karma — aos poucos; yoga-upalabdhena — obtido através do processo de yoga; brahmaṇā — juntamente com o senhor Brahmā (após alcançar Brahmaloka); yat — o caminho pelo qual; asaṁsṛtiḥ — cessação da repetição de nas­cimentos e mortes.

Mahārāja Parīkṣit disse: Ó meu senhor, ó Śukadeva Gosvāmī, já descreveste [no segundo canto] o caminho da liberação [nivṛtti­-mārga]. Quem segue este caminho decerto se eleva gradualmente ao sistema planetário mais elevado, Brahmaloka, do qual, juntamente com o senhor Brahmā, é promovido ao mundo espiritual. Assim, ele não volta a se submeter a repetidos nascimentos e mortes do mundo material.

SIGNIFICADO—Como Mahārāja Parīkṣit era um vaiṣṇava, ao ouvir, no final do quinto canto, as descrições das diferentes condições de vida infer­nal, ficou muito interessado em como poderia libertar das garras de māyā as almas condicionadas e levá-las de volta ao lar, de volta ao Supremo. Portanto, lembrou a seu mestre espiritual, Śukadeva Gosvāmī, o nivṛtti-mārga, ou o caminho da liberação, o qual este descrevera no segundo canto. Mahārāja Parīkṣit, que na hora da morte teve a boa fortuna de se encontrar com Śukadeva Gosvāmī, indagou-lhe, então, sobre o caminho da liberação. Śukadeva Gosvāmī apreciou muitíssimo a pergunta e se congratulou com ele, dizendo:

varīyān eṣa te praśnaḥ
kṛto loka-hitaṁ nṛpa
ātmavit-sammataḥ puṁsāṁ
śrotavyādiṣu yaḥ paraḥ

“Meu querido rei, tua pergunta é gloriosa, pois beneficia muito todas as classes de pessoas. A resposta a essa pergunta é o principal tema que deve ser ouvido, e é aprovada por todos os transcendentalistas.” (Śrīmad-Bhāgavatam 2.1.1)

Parīkṣit Mahārāja estava espantado diante do fato de que, no estado condi­cionado, as entidades vivas rejeitam o caminho da liberação, o serviço devocional, preferindo sofrer em tantas condições infernais. Isso caracteriza o vaiṣṇava. Vāñchā-kalpa-tarubhyaś ca kṛpā-sindhubhya eva ca: o vaiṣṇava é um oceano de misericórdia. Para-duḥkha-duḥkhī: ele fica infeliz ao ver a infelicidade alheia. Por­tanto, Parīkṣit Mahārāja, tendo compaixão de todas as almas condicionadas que sofrem uma vida infernal, sugeriu que Śukadeva Gosvāmī continuasse descrevendo o caminho da liberação, o qual ele expuse­ra já no início do Śrīmad-Bhāgavatam. Quanto a isso, a palavra asaṁsṛti é muito importante. Saṁsṛti se refere à persistência do ca­minho de nascimentos e mortes. Asaṁsṛti, ao contrário, refere-se a nivṛtti-mārga, ou o caminho da liberação, através do qual se deixa de nascer e morrer e, aos poucos, progride-se rumo a Brahmaloka. Todavia, caso se trate de um devoto puro, que não se importa de ir aos sistemas planetários superiores, poderá imediatamente retornar ao lar, retornar ao Supremo, executando serviço devocional (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti). Portanto, Parīkṣit Mahārāja estava muito ansioso por ouvir Śukadeva Gosvāmī falar sobre o caminho através do qual a alma condicionada alcança a liberação.

De acordo com a opinião dos ācāryas, a palavra karma-yogopa­labdhena indica que, praticando primeiramente karma-yoga e depois jñāna-yoga e chegando, por fim, à plataforma de bhakti-yoga, qualquer pessoa pode alcançar a liberação. Bhakti-yoga, entretanto, é algo tão poderoso que independe de karma-yoga ou jñāna-yoga. Por si só, o bhakti-yoga é tão poderoso que mesmo um homem ímpio e sem os recursos de karma-yoga ou iletrado e sem os recursos de jñāna­-yoga pode, sem dúvida, elevar-se ao mundo espiritual simplesmente adotando o bhakti-yoga. Mām evaiṣyasy asaṁśayaḥ. Na Bhagavad-gītā (8.7), Kṛṣṇa diz que, mediante o processo de bhakti-yoga, qualquer pessoa pode indubitavelmente voltar ao Supremo, voltar ao lar no mundo espiritual. Os yogīs, entretanto, em vez de irem diretamente ao mundo espiritual, às vezes querem conhecer outros sistemas planetários, de modo que, como se indica aqui através da pa­lavra brahmaṇā, eles se elevam ao sistema planetário onde vive o senhor Brahmā. No momento da dissolução, o senhor Brahmā, juntamente com todos os habitantes de Brahmaloka, vai diretamente para o mundo espiritual. Os Vedas confirmam isso da seguinte maneira:

brahmaṇā saha te sarve
samprāpte pratisañcare
parasyānte kṛtātmānaḥ
praviśanti paraṁ padam

“Devido à sua elevada posição, aqueles que na hora da dissolução estão em Brahmaloka voltam diretamente ao lar, diretamente ao Supremo, junto do senhor Brahmā.”

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