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VERSO 3

śrī-rājovāca
indrasyānirvṛter hetuṁ
śrotum icchāmi bho mune
yenāsan sukhino devā
harer duḥkhaṁ kuto ’bhavat

śrī-rājā uvāca — o rei Parīkṣit perguntou; indrasya — do rei Indra; anirvṛteḥ — da tristeza; hetum — a razão; śrotum — ouvir; icchāmi — desejo; bhoḥ — ó meu senhor; mune — ó grande sábio, Śukadeva Gosvāmī; yena — pela qual; āsan — estavam; sukhinaḥ — muito felizes; devāḥ — todos os semideuses; hareḥ — de Indra; duḥkham — tristeza; kutaḥ — de onde; abhavat — era.

Mahārāja Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Ó grande sábio, qual era a razão da infelicidade de Indra? Desejo ouvir a res­peito disso. Quando ele matou Vṛtrāsura, todos os semideuses fica­ram extremamente agradados. Por que, então, o próprio Indra se sentia infeliz?

SIGNIFICADO—Esta, é claro, é uma pergunta muito inteligente. Quando um demônio é morto, decerto todos os semideuses ficam felizes. Con­tudo, neste caso, quando todos os semideuses ficaram felizes devido ao fato de Vṛtrāsura ter sido morto, Indra estava infeliz. Por quê? Pode-se sugerir que Indra estava infeliz porque sabia que matara um grande devoto brāhmaṇa. Externamente, Vṛtrāsura parecia um demônio, mas, internamente, era um grande devoto e, portanto, um grande brāhmaṇa.

Nesta passagem, indica-se claramente que alguém que absolutamente não é demoníaco, tal como Prahlāda Mahārāja e Bali Mahā­rāja, pode ser um demônio externamente ou nascer em família de demônios. Portanto, em termos de verdadeira cultura, ninguém deve ser considerado semideus ou demônio simplesmente de acordo com o nascimento. Em seu comportamento, enquanto lutava com Indra, Vṛtrāsura provou ser um grande devoto da Suprema Personalidade de Deus. Mais ainda, logo que terminou de lutar com Indra e, aparentemente, foi morto, Vṛtrāsura entrou em Vaikuṇṭhaloka para se tornar um associado de Saṅkarṣaṇa. Indra sabia disso e, portanto, estava triste porque matara esse demônio, que, de fato, era um vaiṣṇava ou brāhmaṇa.

O vaiṣṇava já é um brāhmaṇa, embora o brāhmaṇa não seja necessariamente um vaiṣṇava. O Padma Purāṇa diz:

ṣaṭ-karma-nipuṇo vipro
mantra-tantra-viśāradaḥ
avaiṣṇavo gurur na syād
vaiṣṇavaḥ śva-paco guruḥ

Alguém pode ser um brāhmaṇa em termos de sua cultura e família e pode ser entendido em conhecimento védico (mantra-tantra-viśāradaḥ), mas, se ele não for um vaiṣṇava, não poderá ser um guru. Isso quer dizer que um brāhmaṇa hábil não é necessariamente um vaiṣṇava, mas um vaiṣṇava já é um brāhmaṇa. Um milionário pode possuir muito facilmente centenas e milhares de dólares, mas uma pessoa com cente­nas e milhares de dólares não é necessariamente um milionário. Vṛtrāsura era um vaiṣṇava perfeito e, portanto, também era um brāhmaṇa.

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