VERSO 10
na hy asyāsti priyaḥ kaścin
nāpriyaḥ svaḥ paro ’pi vā
ekaḥ sarva-dhiyāṁ draṣṭā
kartṝṇāṁ guṇa-doṣayoḥ
na — não; hi — na verdade; asya — à entidade viva; asti — existe; priyaḥ — querido; kaścit — alguém; na — não; apriyaḥ — não querido; svaḥ — próprio; paraḥ — outrem; api — também; vā — ou; ekaḥ — aquela; sarva-dhiyām — das variedades de inteligência; draṣṭā — que observa; kartṝṇām — dos autores; guṇa-doṣayoḥ — das atividades certas e erradas.
A essa entidade viva, ninguém é querido, e ninguém é desfavorável. Ela não faz distinção alguma entre aquilo que é propriedade sua e aquilo que pertence a outrem. Ela não tem rivais; em outras palavras, não se deixa afetar nem por amigos nem por inimigos, benquerentes ou malfeitores. Tudo o que ela faz é observar, testemunhar as diferentes atividades dos homens.
SIGNIFICADO—Como se explica no verso anterior, a entidade viva tem as mesmas qualidades da Suprema Personalidade de Deus, mas em quantidades diminutas, porque é uma mera partícula (sūkṣma), ao passo que o Senhor Supremo é onipenetrante e grandioso. Para o Senhor Supremo, não existem amigos, inimigos ou parentes, pois Ele está inteiramente livre de todos os defeitos que caracterizam as almas condicionadas que vivem na ignorância. Por outro lado, Ele é extremamente bondoso para com Seus devotos e Se mostra favorável a eles, e não fica nada satisfeito com pessoas que invejam Seus devotos. Como o próprio Senhor confirma na Bhagavad-gītā (9.29):
samo ’haṁ sarva-bhūteṣu
na me dveṣyo ’sti na priyaḥ
ye bhajanti tu māṁ bhaktyā
mayi te teṣu cāpy aham
“Não invejo ninguém, tampouco sou parcial com alguém. Sou igual para com todos. Porém, todo aquele que Me presta serviço com devoção é um amigo, e está em Mim, e Eu também sou seu amigo.” O Senhor Supremo não tem inimigo ou amigo, mas Se sente inclinado a um devoto que está sempre ocupado em Seu serviço devocional. Do mesmo modo, em outra passagem da Gītā (16.19), o Senhor diz:
tān ahaṁ dviṣataḥ krūrān
saṁsāreṣu narādhamān
kṣipāmy ajasram aśubhān
āsurīṣv eva yoniṣu
“Aqueles que são invejosos e mesquinhos, que são os mais baixos dos homens, são arrojados por Mim no oceano da existência material, onde permanecem em várias espécies de vida demoníaca.” O Senhor é extremamente antagônico àqueles que invejam Seus devotos. Para proteger Seus devotos, às vezes o Senhor tem que matar os inimigos deles. Por exemplo, para proteger Prahlāda Mahārāja, o Senhor teve que matar o inimigo Hiraṇyakaśipu, embora Hiraṇyakaśipu tenha alcançado a salvação em decorrência de ter sido morto pelo Senhor. Como é a testemunha das atividades de todos, o Senhor presencia as ações dos inimigos de Seus devotos e tem a propensão a puni-los. Em outras circunstâncias, entretanto, Ele simplesmente testemunha o que as entidades vivas fazem e lhes confere os resultados de suas ações piedosas ou pecaminosas.