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VERSO 41

viṣama-matir na yatra nṛṇāṁ
tvam aham iti mama taveti ca yad anyatra
viṣama-dhiyā racito yaḥ
sa hy aviśuddhaḥ kṣayiṣṇur adharma-bahulaḥ

viṣama — desigual (tua religião, minha religião; tua crença, minha crença); matiḥ — consciência; na — não; yatra — na qual; nṛṇām — da sociedade humana; tvam — tu; aham — eu; iti — assim; mama — meu; tava — teu; iti — assim; ca — também; yat — a qual; anyatra — em outra parte (nos sistemas religiosos diferentes do bhāgavata-dharma); viṣama-dhiyā — por essa inteligência desigual; racitaḥ — feito; yaḥ — aquilo que; saḥ — esse sistema de religião; hi — na verdade; aviśud­dhaḥ — impuro; kṣayiṣṇuḥ — temporário; adharma-bahulaḥ — cheio de irreligião.

Por estarem cheias de contradições, todas as formas de religião, com exceção do bhāgavata-dharma, atuam sob concepções de resultados fruitivos e de distinções de “tu e eu” e “teu e meu”. Os seguidores do Śrīmad-Bhāgavatam não adquiriram semelhante consciência. Todos eles são conscientes de Kṛṣṇa, e sabem que são de Kṛṣṇa e que Kṛṣṇa é deles. Existem outros sistemas religiosos que, sendo de classe inferior, são praticados por pessoas que desejam exterminar seus inimigos ou buscam poderes místicos, mas esses sis­temas religiosos, estando cheios de paixão e inveja, são impuros e temporários. Porque estão cheios de inveja, prolifera neles a irreli­gião.

SIGNIFICADO—O bhāgavata-dharma não tem contradições. Os conceitos de “tua religião” e “minha religião” estão completamente ausentes do bhāgavata-dharma. Bhāgavata-dharma significa seguir as ordens que o Senhor Supremo, Bhagavān, expôs na Bhagavad-gītā: sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja. Só existe um Deus, e Ele existe para todos. Portanto, todos devem render-se a Deus. Esse conceito de religião é puro. Tudo o que Deus ordena constitui religião (dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam). No bhāgavata-­dharma, está fora de cogitação dizer: “Em que acreditas”­ e “Em que acredito”. Todos devem crer no Senhor Supremo e cumprir Suas ordens. Ānukūlyena kṛṣṇānuśīlanam: tudo o que Kṛṣṇa diz – tudo o que Deus afirma – deve ser diretamente executado. Isso é dharma, religião.

Se alguém realmente é consciente de Kṛṣṇa, não pode ter inimi­gos. Como sua única ocupação é induzir os outros a se renderem a Kṛṣṇa, ou Deus, como ele pode ter inimigos? Se alguém promove a religião hindu, a religião muçulmana, a religião cristã, esta religião ou aquela religião, haverá conflitos. A história mostra que os seguidores dos sistemas religiosos sem uma clara concepção acerca de Deus têm lutado uns com os outros. Na história humana, podem-­se mencionar muitos desses exemplos, mas os sistemas de religião que não se concentram no serviço ao Supremo são temporários e não podem durar muito tempo, pois estão cheios de inveja. Exis­tem muitas atividades dirigidas contra esses sistemas religiosos, de modo que se deve abandonar a ideia de “minha crença” e “tua crença”. Todos devem crer em Deus e se render a Ele. Isso é bhāgavata­-dharma.

Bhāgavata-dharma não é uma crença sectária inventada, pois requer pesquisas para saber como é que tudo está relacionado com Kṛṣṇa (īśāvāsyam idaṁ sarvam). De acordo com os preceitos védi­cos, sarvaṁ khalv idaṁ brahma: o Brahman, o Supremo, está presente em tudo. O bhāgavata-dharma manifesta essa presença do Supremo. Bhāgavata-dharma não considera que tudo o que existe no mundo é falso. Porque tudo emana do Supremo, nada pode ser falso; tudo tem alguma utilidade no serviço ao Supremo. Por exemplo, agora estamos ditando em um microfone e gravando em um ditafone e, assim, estamos comprovando como a máquina pode vincular-se ao Brahman Supremo. Como estamos usando esta máquina a serviço do Senhor, ela é Brahman. Esse é o significado de sarvaṁ khalv idaṁ brahma. Tudo é Brahman porque tudo pode ser usado a serviço do Senhor Supremo. Nada é mithyā, falso; tudo tem substancialidade.

O bhāgavata-dharma se chama sarvotkṛṣṭa, o melhor de todos os sistemas religiosos, porque aqueles que seguem o bhāgavata-dharma não invejam ninguém. Os bhāgavatas de verdade, os devotos puros, sendo destituídos de inveja, convidam todos a se unirem ao movimento da consciência de Kṛṣṇa. Portanto, o devoto é tal qual a Suprema Personalidade de Deus. Suhṛdaṁ sarva-bhūtānām: é amigo de todas as entidades vivas. Por conseguinte, esse é o melhor de todos os siste­mas religiosos. Enquanto as assim chamadas religiões se restringem a um determinado tipo de pessoa que tem uma crença em particular, essa discriminação não encontra respaldo na consciência de Kṛṣṇa, ou no bhāgavata-dharma. Se esmiuçarmos os sistemas religiosos através dos quais se adoram os semideuses ou outrem que não a Suprema Personalidade de Deus, verificaremos que estão cheios de inveja e que, portanto, são impuros.

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