VERSOS 20-21
svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam
dvādaśaite vijānīmo
dharmaṁ bhāgavataṁ bhaṭāḥ
guhyaṁ viśuddhaṁ durbodhaṁ
yaṁ jñātvāmṛtam aśnute
svayambhūḥ — senhor Brahmā; nāradaḥ — o grande santo Nārada; śambhuḥ — senhor Śiva; kumāraḥ — os quatro Kumāras; kapilaḥ — Senhor Kapila; manuḥ — Svāyambhuva Manu; prahlādaḥ — Prahlāda Mahārāja; janakaḥ — Janaka Mahārāja; bhīṣmaḥ — avô Bhīṣma; baliḥ — Bali Mahārāja; vaiyāsakiḥ — Śukadeva, o filho de Vyāsadeva; vayam — nós; dvādaśa — doze; ete — esses; vijānīmaḥ — conhecemos; dharmam — verdadeiros princípios religiosos; bhāgavatam — que ensinam a pessoa a amar a Suprema Personalidade de Deus; bhaṭāḥ — ó meus queridos servos; guhyam — muito confidenciais; viśuddham — transcendentais, não contaminados pelos modos materiais da natureza; durbodham — não facilmente compreendidos; yam — os quais; jñātvā — quem compreende; amṛtam — vida eterna; aśnute — desfruta de.
O senhor Brahmā, Bhagavān Nārada, o senhor Śiva, os quatro Kumāras, o Senhor Kapila [o filho de Devahūti], Svāyambhuva Manu, Prahlāda Mahārāja, Janaka Mahārāja, o avô Bhīṣma, Bali Mahārāja, Śukadeva Gosvāmī e eu próprio conhecemos o verdadeiro princípio religioso. Meus queridos servos, este princípio religioso transcendental, conhecido como bhāgavata-dharma, ou rendição ao Senhor Supremo e amor a Ele, não é contaminado pelos modos materiais da natureza. Ele é muito confidencial e difícil de ser entendido pelos seres humanos comuns, mas se, por acaso, alguém tem a boa fortuna de compreendê-lo, liberta-se de imediato e, assim, retorna ao lar, retorna ao Supremo.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā, o Senhor Kṛṣṇa refere-Se ao bhāgavata-dharma como o princípio religioso mais confidencial (sarva-guhyatamam, guhyād guhyataram). Kṛṣṇa diz a Arjuna: “Porque és Meu amigo muito querido, estou te explicando a religião mais confidencial.” Sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona todos os outros deveres e rende-te a Mim.” Talvez alguém pergunte: “Se esse princípio é compreendido muito raramente, qual a sua utilidade?” Em resposta, Yamarāja afirma nesta passagem que esse princípio religioso é compreensível quando alguém segue o sistema paramparā do senhor Brahmā, do senhor Śiva, dos quatro Kumāras e das outras autoridades paradigmais. Existem quatro linhas de sucessão discipular: uma proveniente do senhor Brahmā; outra, do senhor Śiva; uma terceira, de Lakṣmī, a deusa da fortuna, e a quarta, dos Kumāras. A sucessão discipular do senhor Brahmā se chama Brahma-sampradāya, a do senhor Śiva (Śambhu) tem o nome de Rudra-sampradāya, a da deusa da fortuna Lakṣmījī se chama Śrī-sampradāya, e a dos Kumāras se nomeia Kumāra-sampradāya. A fim de entender o sistema religioso mais confidencial, a pessoa deve refugiar-se em um desses quatro sampradāyas. O Padma Purāṇa afirma que sampradāya-vihīnā ye mantrās te niṣphalā matāḥ: se alguém não segue uma das quatro sucessões discipulares reconhecidas, seu mantra ou sua iniciação não têm utilidade. Nos dias atuais, existem muitos apasampradāyas, ou sampradāyas que não são genuínos, que não têm ligação com autoridades como o senhor Brahmā, o senhor Śiva, os Kumāras ou Lakṣmī. As pessoas são desencaminhadas por esses sampradāyas. Os śāstras dizem que ser iniciado em um desses tipos de sampradāyas é um inútil desperdício de tempo, pois eles jamais darão a alguém a possibilidade de compreender os verdadeiros princípios religiosos.