VERSO 10
kalpayitvātmanā yāvad
ābhāsam idam īśvaraḥ
dvaitaṁ tāvan na viramet
tato hy asya viparyayaḥ
kalpayitvā — avaliando positivamente; ātmanā — através da autorrealização; yāvat — enquanto; ābhāsam — reflexo (do corpo e sentidos originais); idam — isto (o corpo e os sentidos); īśvaraḥ — completamente independente da ilusão; dvaitam — dualidade; tāvat — enquanto persistir; na — não; viramet — vê; tataḥ — através dessa dualidade; hi — na verdade; asya — da pessoa; viparyayaḥ — neutralização.
Enquanto não for inteiramente autorrealizado – enquanto não se tornar independente do falso conceito que o induz a se identificar com o corpo, o qual não passa de um reflexo do corpo e sentidos originais –, o ser vivo não se libertará do conceito de dualidade, o qual é sintetizado pela dualidade entre homem e mulher. Portanto, porque sua inteligência se confunde, há toda a possibilidade de que ele venha a cair.
SIGNIFICADO—Eis outro aviso importante de que o homem deve libertar-se da atração feminina. Até que a pessoa se torne autorrealizada e plenamente independente do conceito ilusório relacionado com o corpo material, a dualidade entre homem e mulher decerto continuará, mas, quando alguém é de fato autorrealizado, essa distinção cessa.
vidyā-vinaya-sampanne
brāhmaṇe gavi hastini
śuni caiva śvapāke ca
paṇḍitāḥ sama-darśinaḥ
“Os sábios humildes, em virtude do conhecimento verdadeiro, veem com uma visão equânime o brāhmaṇa erudito e cortês, a vaca, o elefante, o cachorro e o comedor de cachorro [pária].” (Bhagavad-gītā 5.18) Na plataforma espiritual, a pessoa erudita não apenas abandona a dualidade que faz distinção entre homem e mulher, mas também abandona a dualidade que separa o homem do animal. Esse é o teste da autorrealização. Deve-se compreender perfeitamente que o ser vivo é uma alma espiritual, mas está experimentando diferentes classes de corpos materiais. Alguém pode compreender isso na teoria, mas, ao adquirir uma compreensão prática, ele se torna um paṇḍita de verdade, um douto. Enquanto não chegar a esse ponto, a dualidade persistirá, e o conceito de homem e mulher também continuará. Nesta fase, deve-se ponderar com muito cuidado a associação com mulheres. Ninguém deve se considerar perfeito e esquecer a instrução do śāstra de que a pessoa deve ser muito cautelosa ao se associar mesmo com sua filha, mãe ou irmã, ficando muito mais atenta quando estiver na presença de outras mulheres. A esse respeito, Śrīla Madhvācārya cita os seguintes ślokas.
bahutvenaiva vastūnāṁ
yathārtha-jñānam ucyate
advaita-jñānam ity etad
dvaita-jñānaṁ tad-anyathā
yathā jñānaṁ tathā vastu
yathā vastus tathā matiḥ
naiva jñānārthayor bhedas
tata ekatva-vedanam
Unidade na variedade é conhecimento verdadeiro, de modo que abandonar a variedade artificialmente não implica que o monismo seja conhecimento perfeito. De acordo com a filosofia acintya-bhedābheda exposta por Śrī Caitanya Mahāprabhu, há variedades, todas as quais constituem uma unidade. Ter semelhante conhecimento é captar a unidade perfeita.