VERSO 25
yadṛcchayā lokam imaṁ
prāpitaḥ karmabhir bhraman
svargāpavargayor dvāraṁ
tiraścāṁ punar asya ca
yadṛcchayā — carregado pelas ondas da natureza material; lokam — forma humana; imam — esta; prāpitaḥ — alcançada; karmabhiḥ — pela influência das diferentes atividades fruitivas; bhraman — vagando de uma forma de vida para outra; svarga — aos planetas celestiais; apavargayoḥ — à liberação; dvāram — o portão; tiraścām — espécies de vida inferior; punaḥ — novamente; asya — dos seres humanos; ca — e.
No transcurso do processo evolutivo, o qual decorre das atividades fruitivas através das quais se procura obter o indesejável gozo dos sentidos materiais, recebi esta forma de vida humana, que pode levar aos planetas celestiais, à liberação, às espécies inferiores ou ao renascimento entre os seres humanos.
SIGNIFICADO—De acordo com as leis da natureza, todas as entidades vivas deste mundo material estão se submetendo ao ciclo de nascimentos e mortes. Esta luta na qual um ser nasce e morre em diferentes espécies pode ser chamada de processo evolutivo, o que, no mundo ocidental, costuma ser explicado erroneamente. A teoria através da qual Darwin menciona que o animal evolui até se tornar um homem é incompleta porque ela não apresenta a condição reversa, isto é, o homem se tornar um animal. Neste verso, entretanto, a evolução é muito bem explicada com base na autoridade védica. A vida humana, que é obtida no decorrer do processo evolutivo, pode propiciar elevação (svargāpavarga) ou produzir retrocesso (tiraścām punar asya ca). Usando devidamente a forma de vida humana, a pessoa poderá elevar-se aos sistemas planetários superiores, onde a felicidade material é muitos milhares de vezes superior à felicidade deste planeta, ou então poderá cultivar o conhecimento através do qual se libertará do processo evolutivo e voltará a se estabelecer em sua vida espiritual original. Isso se chama apavarga, ou liberação.
A vida material se chama pavarga porque aqui estamos sujeitos a cinco diferentes estados de sofrimento, representados pelas letras pa, pha, ba, bha e ma. Pa significa pariśrama, trabalho muito árduo. Pha significa phena, ou espuma na boca. Por exemplo, às vezes vemos que, ao trabalhar muito arduamente, um cavalo fica espumando pela boca. Ba quer dizer byarthatā, desapontamento. Apesar de tanto trabalho árduo, no fim só há desapontamento. Bha significa bhaya, ou medo. Na vida material, todos vivem no ardente fogo do medo, pois ninguém sabe o que o futuro reserva. Enfim, ma significa mṛtyu, ou morte. Quando alguém tenta anular esses cinco diferentes estados de vida – pa, pha, ba, bha e ma –, ele alcança apavarga, ou se liberta da punição que a existência material inflige.
A palavra tiraścām se refere à vida degradada. A vida humana, evidentemente, oferece a oportunidade de melhores condições de vida. Como pensa o povo ocidental, a partir dos macacos surgiram os seres humanos, que estão em uma situação mais confortável. Entretanto, se alguém não procura utilizar sua vida humana para, através dela, promover-se a svarga ou apavarga, ele recai na degradada vida animal dos cães e porcos. Portanto, o ser humano sensato deve ponderar se prefere elevar-se aos planetas superiores, preparar-se para ficar livre do processo evolutivo ou continuar viajando no processo evolutivo, assumindo espécies de vida superior e inferior. Se alguém trabalha piedosamente, pode elevar-se aos sistemas planetários superiores ou alcançar a liberação e retornar ao lar, retornar ao Supremo; caso contrário, pode degradar-se a uma vida de cão, porco e assim por diante. Como se explica na Bhagavad-gītā (9.25), yānti deva-vratā devān. Aqueles que estão interessados em se elevar aos sistemas planetários superiores (Devaloka ou Svargaloka) devem conduzir-se de maneira tal que possam alcançar esse objetivo. Igualmente, se alguém quiser a liberação e desejar retornar ao lar, retornar ao Supremo, deverá tomar as devidas providências para que possa atingir esse propósito.
Portanto, nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa é o movimento que propicia a maior bênção para a sociedade humana porque este movimento está ensinando as pessoas a como voltar ao lar, como voltar ao Supremo. A Bhagavad-gītā (13.22) afirma claramente que diferentes espécies de vida são obtidas através da associação com os três modos da natureza material (kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya sad-asad-yoni-janmasu). De acordo com a associação que a pessoa mantém nesta vida com as qualidades materiais de bondade, paixão e ignorância, ela receberá um corpo correspondente em sua próxima vida. A civilização moderna não sabe que, devido às variadas associações com a natureza material, a entidade viva, embora eterna, é posta em diferentes condições doentias conhecidas como as muitas espécies de vida. A civilização moderna desconhece as leis da natureza.
prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate
“Confusa, a alma espiritual que está sob a influência do falso ego julga-se a autora das atividades que, de fato, são executadas pelos três modos da natureza material.” (Bhagavad-gītā 3.27) Toda entidade viva está sob pleno controle das estritas leis da natureza material, mas os patifes pensam que são independentes. Na verdade, entretanto, não podem ser independentes. É tolice alguém pensar que é independente. Uma civilização tola oferece sérios riscos, e, portanto, o movimento da consciência de Kṛṣṇa está tentando mostrar às pessoas a sua verdadeira condição, ou seja, que elas são plenamente dependentes e estão sob as estritas leis da natureza, e, dessa maneira, está tentando impedir que sejam vitimadas por māyā, a forte energia externa de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa, o Senhor Supremo, controla as leis materiais (mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sacarācaram). Portanto, se alguém se rende a Kṛṣṇa (mām eva ye prapadyante māyām etāṁ taranti te), pode imediatamente se livrar do controle a ele imposto pela natureza externa (sa guṇān samatītyaitān brahma-bhūyāya kalpate). Essa deve ser a meta da vida.