No edit permissions for Português

CAPÍTULO TREZE

O Comportamento da Pessoa Perfeita

O décimo terceiro capítulo descreve os princípios reguladores que os sannyāsīs devem seguir e também narra a história de um avadhūta. Em sua conclusão, explica-se como o estudante deve comportar-se para poder alcançar a perfeição no avanço espiritual.

Śrī Nārada Muni já descreveu as características dos vários āśramas e varṇas. Agora, neste capítulo, ele apresenta especificamente os princípios reguladores a serem seguidos pelos sannyāsīs. Após se retirar da vida familiar, deve-se aceitar a fase de vānaprastha, na qual o indivíduo formalmente se prontifica a aceitar o corpo como seu meio de subsistência, mas, aos poucos, começa a prescindir das necessidades corpóreas. Após a vida de vānaprastha, tendo deixado o lar e sendo um sannyāsī, ele deve viajar para diferentes lugares. Sem confortos físicos e sem precisar recorrer a alguém que lhe satisfaça as necessidades corpóreas, ele deve viajar por toda parte vestindo quase nada ou mesmo caminhando inteiramente despido. Não se dando à companhia da sociedade humana comum, ele deve mendigar e estar sempre satisfeito consigo mesmo. Ele deve ser amigo de todas as entidades vivas e deve ser pacífico em consciência de Kṛṣṇa. O sannyāsī deve viajar sozinho dessa maneira, não se importando com a vida ou a morte, esperando o momento em que deixará seu corpo material. Ele não deve ler livros desnecessários nem adotar profissões desnecessárias, tais como a astrologia, tampouco deve tentar ser um grande orador. Ele também deve abandonar o caminho da argumentação desnecessária e, em nenhuma circunstância, convém que ele dependa de alguém. Ele não deve tentar atrair as pessoas para se tornarem seus discípulos com o simples propósito de aumentar o número de discípulos. Ele deve abandonar o processo de procurar seu meio de subsistência através da leitura de muitos livros, e não deve tentar aumentar o número de templos e maṭhas, ou monastérios. Quando, então, ele se torna completamente independente, pacífico e equânime, o sannyāsī pode escolher qual o destino que deseja após a morte e seguir os princípios através dos quais conseguirá alcançar esse destino. Embora plenamente erudito, ele deve sempre permanecer silencioso tal qual um mudo, e deve viajar como uma criança inquieta.

Com relação a isso, Nārada Muni descreve um encontro entre Prahlāda e um santo que passara a viver como um píton. Foi então que ele delineou as características de um paramahaṁsa. A pessoa que alcançou a fase de paramahaṁsa conhece muito bem a diferença entre matéria e espírito. Ela não está nem um pouco interessada em satisfazer os sentidos materiais, pois sempre está obtendo prazer no serviço devocional ao Senhor. Ela não está muito ansiosa por proteger o seu corpo material. Satisfazendo-se com o que o Senhor lhe reservou, ela é completamente independente da felicidade e aflição materiais, sendo, portanto, transcendental a todos os princípios reguladores. Algumas vezes, ela aceita rigorosas austeridades e, outras vezes, aceita a opulência material. Sua única preocupação é satisfazer Kṛṣṇa e, com esse propósito, ela se prontifica a tomar qualquer atitude, sem se importar com os princípios reguladores. Ela nunca deve ser comparada aos homens materialistas, tampouco está sujeita ao julgamento que esses homens possam fazer.

VERSO 1: Śrī Nārada Muni disse: A pessoa que é capaz de cultivar o conhecimento espiritual deve renunciar a todas as ligações materiais e, meramente mantendo o corpo habitável, deve viajar de um lugar a outro, passando somente uma noite em cada vila. Dessa maneira, sem se curvar às necessidades do corpo, o sannyāsī deve viajar mundo afora.

VERSO 2: A pessoa na ordem de vida renunciada talvez prefira até mesmo evitar uma veste para se cobrir. Se ela tiver que vestir algo, que use apenas uma tanga, e quando não houver necessidade, o sannyāsī não deve sequer aceitar uma daṇḍa. O sannyāsī deve procurar carregar apenas a daṇḍa e o kamaṇḍalu.

VERSO 3: O sannyāsī, inteiramente satisfeito no eu, deve viver de esmolas pedidas de porta em porta. Jamais precisando depender de alguém ou de algum lugar, ele sempre deve ser um amigo benquerente de todos os seres vivos e um imaculado e pacífico devoto de Nārāyaṇa. Dessa maneira, ele deve mover-se de um lugar a outro.

VERSO 4: O sannyāsī sempre deve tentar ver que o Supremo é onipenetrante e deve ver que todas as coisas, incluindo este universo, repousam no Supremo.

VERSO 5: Durante o estado de consciência e inconsciência, e entre os dois, ele deve tentar entender o eu e se situar plenamente no eu. Dessa maneira, deve compreender que as fases de vida condicionada e liberada são apenas ilusórias, e não acontecimentos reais. Munido dessa compreensão superior, ele deve ver apenas a onipenetrante Verdade Absoluta.

VERSO 6: Uma vez que o corpo material com certeza será exterminado e a duração da vida da pessoa não é fixa, nem a morte nem a vida devem ser louvadas. Ao contrário, deve-se observar o eterno fator tempo, no qual a entidade viva se manifesta e desaparece.

VERSO 7: A literatura que é um desperdício de tempo – em outras palavras, a literatura que não produz benefício espiritual – deve ser rejeitada. Ninguém deve adotar a profissão de professor apenas para subsistir dela, nem deve alguém se absorver em argumentos e contra-argumentos. Tampouco deve alguém se refugiar em alguma causa ou facção.

VERSO 8: O sannyāsī não deve propor benefícios materiais apenas para obter muitos discípulos, nem deve ler desnecessariamente muitos livros ou dar conferências para sobreviver. Ele jamais deve tentar aumentar sem necessidade as opulências materiais.

VERSO 9: Uma pessoa pacífica e equânime, que realmente é avançada em consciência espiritual, não precisa aceitar os símbolos do sannyāsī, tais como a tridaṇḍa e o kamaṇḍalu. De acordo com a necessidade, ora ela pode aceitar esses símbolos, ora pode rejeitá-los.

VERSO 10: Embora uma pessoa santa prefira não se expor à visão da sociedade humana, o seu propósito acaba sendo revelado através do seu comportamento. À sociedade humana, ela deve apresentar-se como uma criança inquieta e, embora seja o orador mais ponderado e magnífico, deve apresentar-se como um homem mudo.

VERSO 11: Como exemplo histórico disso, os sábios eruditos recitam a história de um antigo diálogo ocorrido entre Prahlāda Mahārāja e um grande santo que se alimentava como um píton.

VERSOS 12-13: Prahlāda Mahārāja, o mais querido servo da Suprema Personalidade de Deus, certa vez viajava pelo universo com alguns de seus companheiros confidenciais simplesmente para estudar a natureza das pessoas santas. Então, ele chegou às margens do Kāverī, onde havia uma montanha conhecida como Sahya. Ali, encontrou uma grande pessoa santa, que estava deitada no chão, coberta com areia e pó, mas possuía profundo avanço espiritual.

VERSO 14: Nem através das atividades daquela pessoa santa, de seus aspectos físicos ou de suas palavras, nem pelas características que definiam sua situação no varṇāśrama – as pessoas não conseguiam entender se ele era a mesma pessoa que haviam conhecido.

VERSO 15: O avançado devoto Prahlāda Mahārāja adorou a pessoa santa que passara a sobreviver como um píton e ofereceu ao santo as devidas reverências. Após prestar essa adoração à pessoa santa e tocar com sua própria cabeça os pés de lótus do santo, Prahlāda Mahārāja, a fim de compreendê-lo, fez-lhe as seguintes perguntas com grande submissão.

VERSOS 16-17: Vendo que a pessoa santa era bastante gorda, Prahlāda Mahārāja disse: Meu querido senhor, embora não realizes nenhum esforço para sobreviver, tens um corpo vigoroso, exatamente como o de um desfrutador materialista. Sei que se alguém é muito rico e nada tem a fazer, torna-se extremamente gordo, comendo, dormindo e não executando trabalho algum.

VERSO 18: Ó brāhmaṇa, conhecendo plenamente a transcendência, nada tens a fazer, de modo que estás deitado. Também é fácil deduzir que não tens dinheiro para o gozo dos sentidos. Então, como foi que teu corpo obteve tanto sobrepeso? Nessas circunstâncias, se não achares que minhas perguntas são inoportunas, por favor, explica-me como isso aconteceu.

VERSO 19: Vossa Senhoria parece erudito, hábil e inteligente em todos os sentidos. Trazes belas mensagens, dizendo frases que agradam ao coração. Embora vejas que a população em geral está ocupada em atividades fruitivas, permaneces aqui, deitado e inativo.

VERSO 20: Nārada Muni prosseguiu: Ao ouvir as perguntas que Prahlāda Mahārāja, o rei dos Daityas, endereçara-lhe, a pessoa santa ficou cativada com essa chuva de palavras nectáreas e, com um sorriso nos lábios, respondeu à curiosidade de Prahlāda Mahārāja.

VERSO 21: O brāhmaṇa santo disse: Ó melhor dos asuras, Prahlāda Mahārāja, que és reconhecido pelos homens avançados e civilizados, estás a par das diferentes fases da vida porque teus olhos são intrinsecamente transcendentais e, com eles, podes ver o caráter de um homem e assim conhecer, com toda a clareza, os verdadeiros resultados de se aceitar e rejeitar as coisas.

VERSO 22: Nārāyaṇa, a Suprema Personalidade de Deus, que é pleno de todas as opulências, é predominante no âmago de teu coração porque és um devoto puro. Ele sempre afasta toda a escuridão e ignorância, assim como o Sol dissipa a escuridão do universo.

VERSO 23: Meu querido rei, embora saibas tudo, formulaste algumas perguntas, as quais tentarei responder de acordo com o que aprendi ouvindo o que me ensinaram as autoridades. Não posso manter-me silencioso neste ensejo, pois aquele que deseja purificar-se não deve desperdiçar a oportunidade de dialogar com uma personalidade igual a ti.

VERSO 24: Devido aos insaciáveis desejos materiais, eu estava sendo arrastado pelas ondas das leis da natureza material e, portanto, eu me ocupava em diferentes atividades, lutando pela existência em várias formas de vida.

VERSO 25: No transcurso do processo evolutivo, o qual decorre das atividades fruitivas através das quais se procura obter o indesejável gozo dos sentidos materiais, recebi esta forma de vida humana, que pode levar aos planetas celestiais, à liberação, às espécies inferiores ou ao renascimento entre os seres humanos.

VERSO 26: Nesta forma de vida humana, o homem e a mulher se unem para tentar obter prazer sexual, mas, através da verdadeira experiência, observamos que nenhum deles é feliz. Portanto, vendo ocorrerem os resultados contrários, deixei de participar das atividades materialistas.

VERSO 27: Para as entidades vivas, a verdadeira forma de vida é aquela em que há felicidade espiritual, que é a felicidade real. Essa felicidade pode ser alcançada apenas por alguém que abandonou todas as atividades materiais. O gozo dos sentidos materiais é simples imaginação. Portanto, ponderando este assunto, encerrei todas as atividades materiais e estou deitado aqui.

VERSO 28: Dessa maneira, a alma condicionada vivendo dentro do corpo se esquece de seu próprio interesse porque se identifica com o corpo. Porque o corpo é material, sua tendência natural é deixar-se atrair pelas muitas variedades encontradas no mundo material. Então, a entidade viva se submete aos sofrimentos da existência material.

VERSO 29: Assim como um veado, devido à ignorância, não pode ver a água que está dentro de um poço coberto de grama e procura água em outra parte, a entidade viva, coberta pelo corpo material, não vê a felicidade dentro de si mesma, senão que corre em busca da felicidade no mundo material.

VERSO 30: A entidade viva tenta alcançar a felicidade e se livrar das causas da aflição, mas, como os vários corpos das entidades vivas estão sob o completo controle da natureza material, todos os seus planos em diferentes corpos, enfim, malogram-se, um após o outro.

VERSO 31: As atividades materialistas sempre estão acompanhadas de três classes de condições dolorosas – adhyātmika, adhidaivika e adhibhautika. Portanto, mesmo que alguém alcance algum sucesso executando essas atividades, de que adiantará esse sucesso? Mesmo assim, ele estará sujeito a nascimento, morte, velhice, doença e às reações de suas atividades fruitivas.

VERSO 32: O brāhmaṇa prosseguiu: Vejo de fato que um homem rico, o qual é vítima dos seus sentidos, é muito ávido por acumular riquezas e, portanto, sofre de insônia devido ao temor que o aflige de todos os lados, apesar de sua riqueza e opulências.

VERSO 33: Aqueles que são considerados materialmente poderosos e ricos estão sempre cheios de ansiedades por causa das leis governamentais, dos ladrões e assaltantes, dos inimigos, dos membros familiares, dos animais, dos pássaros, das pessoas que buscam caridade, do inevitável fator tempo e, inclusive, por causa deles mesmos. Assim, eles invariavelmente estão com medo.

VERSO 34: Aqueles membros da sociedade humana que são inteligentes devem abandonar a causa original da lamentação, ilusão, medo, ira, apego, pobreza e trabalho desnecessário. A causa original de todas essas aflições é o desejo de prestígio e dinheiro desnecessários.

VERSO 35: A abelha e o píton são dois excelentes mestres espirituais que nos dão instruções exemplares acerca de como alguém pode satisfazer-se coletando apenas um pouco e como pode permanecer no mesmo lugar, prescindindo de mudanças.

VERSO 36: Com a abelha, aprendi a ser indiferente ao acúmulo de dinheiro, pois, embora o dinheiro seja tão bom como o mel, qualquer pessoa pode matar alguém que o possua e depois pegar o dinheiro.

VERSO 37: Não me esforço por obter nada, senão que estou satisfeito com o que quer que seja conseguido espontaneamente. Se não obtenho nada, permaneço paciente e inabalável como o píton e fico aqui deitado por muitos dias.

VERSO 38: Às vezes, eu como uma pouquíssima quantidade e, outras vezes, uma grande quantidade. Às vezes, o alimento é muito saboroso e, outras vezes, está estragado. Às vezes, a prasāda é oferecida com muito respeito, mas outras vezes o alimento é dado com negligência. Às vezes, como durante o dia e, às vezes, à noite. Dessa forma, eu como o que estiver facilmente disponível.

VERSO 39: Para cobrir meu corpo, uso aquilo que estiver disponível, seja linho, seda, algodão, casca de árvore ou pele de veado, de acordo com o meu destino, e fico completamente satisfeito e inabalável.

VERSO 40: Ora me deito na superfície da terra, ora me deito sobre folhas, grama ou pedra, ora me deito sobre um monte de cinzas, ora, pelo desejo de outros, eu me deito em um palácio, onde me é oferecida uma excelente cama com travesseiros.

VERSO 41: Algumas vezes, ó meu senhor, banho-me muito bem, unto todo o meu corpo com polpa de sândalo, uso uma guirlanda de flores e me visto com trajes e ornamentos finíssimos. Então, montado no dorso de um elefante ou em uma quadriga ou em um cavalo, viajo como se fosse um rei. Às vezes, todavia, viajo despido, como uma pessoa perseguida por fantasmas.

VERSO 42: Diferentes pessoas têm diferentes mentalidades. Portanto, não me cabe louvá-las ou blasfemá-las. Só desejo o bem-estar delas, esperando que elas concordem em se tornarem unas com a Superalma, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa.

VERSO 43: A invenção mental em que alguém discrimina entre bondade e maldade deve ser aceita como uma unidade e, então, deve ser investida na mente, a qual, por sua vez, deve ser investida no falso ego. O falso ego deve ser investido na totalidade da energia material. Esse é o processo para ele combater a falsa discriminação.

VERSO 44: A pessoa erudita e introspectiva deve perceber que a existência material é uma ilusão. Isso só se faz possível através da autorrealização. A pessoa autorrealizada, que realmente viu a verdade, deve afastar-se de todas as atividades materiais, situando-se na autorrealização.

VERSO 45: Prahlāda Mahārāja, decerto és uma alma autorrealizada e um devoto do Senhor Supremo. Não te importas com a opinião pública ou com as pretensas escrituras. Foi por essa razão que não hesitei em descrever-te a história de minha autorrealização.

VERSO 46: Nārada Muni continuou: Após ouvir essas instruções transmitidas pelo santo, Prahlāda Mahārāja, o rei dos demônios, compreendeu os deveres ocupacionais da pessoa perfeita [paramahaṁsa]. Assim, tendo prestado ao santo a devida adoração, recebeu permissão deste e, então, partiu para o seu próprio lar.

« Previous Next »