VERSO 69
ahaṁ purābhavaṁ kaścid
gandharva upabarhaṇaḥ
nāmnātīte mahā-kalpe
gandharvāṇāṁ susammataḥ
aham — eu próprio; purā — outrora; abhavam — existia como; kaścit gandharvaḥ — um dos cidadãos de Gandharvaloka; upabarhaṇaḥ — Upabarhaṇa; nāmnā — chamado; atīte — há uma época muitíssimo remota; mahā-kalpe — em uma vida de Brahmā, que é conhecida como um mahā-kalpa; gandharvāṇām — entre os Gandharvas; su-sammataḥ — uma pessoa muito respeitável.
Muitíssimo tempo atrás, em outro mahā-kalpa [milênio de Brahmā], eu existia como o Gandharva conhecido como Upabarhaṇa. Eu era muito respeitado pelos outros Gandharvas.
SIGNIFICADO—Śrīla Nārada Muni está descrevendo sua vida passada para que dela todos possam extrair um exemplo prático. Outrora, durante a vida anterior do senhor Brahmā, Nārada Muni foi um dos cidadãos de Gandharvaloka, mas, infelizmente, como será explicado, ele caiu da excelsa posição que detinha em Gandharvaloka, onde os habitantes são extremamente belos e hábeis em cantar, e se tornou um śūdra. Entretanto, devido à sua associação com os devotos, ele acabou sendo mais afortunado do que o era em Gandharvaloka. Muito embora os prajāpatis o houvessem amaldiçoado a tornar-se um śūdra, logo depois ele nasceu como filho do senhor Brahmā.
A palavra mahā-kalpe é descrita por Śrīla Madhvācārya como atīta-brahma-kalpe. Brahmā morre após uma vida de muitos milhões de anos. O dia de Brahmā é descrito na Bhagavad-gītā (8.17):
sahasra-yuga-paryantam
ahar yad brahmaṇo viduḥ
rātriṁ yuga-sahasrāntāṁ
te ’ho-rātra-vido janāḥ
“Pelo cálculo humano, quando se soma um total de mil eras, obtém-se a duração de um dia de Brahmā. E essa é também a duração de sua noite.” Bhagavān Śrī Kṛṣṇa pode lembrar-Se dos episódios transcorridos há milhões de anos. Do mesmo modo, um devoto puro como Nārada Muni também pode lembrar-se de incidentes ocorridos em uma vida passada que se deu há milhões e milhões de anos.