VERSO 51
tatheti guru-putroktam
anujñāyedam abravīt
dharmo hy asyopadeṣṭavyo
rājñāṁ yo gṛha-medhinām
tathā — dessa maneira; iti — assim; guru-putra-uktam — aconselhado por Ṣaṇḍa e Amarka, os filhos de Śukrācārya; anujñāya — aceitando; idam — isto; abravīt — disse; dharmaḥ — o dever; hi — na verdade; asya — a Prahlāda; upadeṣṭavyaḥ — para ser instruído; rājñām — dos reis; yaḥ — o qual; gṛha-medhinām — que estão interessados em vida familiar.
Após ouvir estas instruções de Ṣaṇḍa e Amarka, os filhos de seu mestre espiritual, Hiraṇyakaśipu aquiesceu e lhes pediu que instruíssem Prahlāda no sistema de dever ocupacional seguido pelos chefes de família que compõem a realeza.
SIGNIFICADO—Hiraṇyakaśipu queria que Prahlāda Mahārāja fosse treinado para administrar o reino, o país ou o mundo como um rei diplomático, mas rejeitava a ideia de que seu filho fosse aconselhado a seguir a renúncia ou a ordem de vida renunciada. Neste verso, a palavra dharma não se refere a alguma fé religiosa. Afirma-se claramente que dharmo hy asyopadeṣṭavyo rājñāṁ yo gṛha-medhinām. Há duas categorias de famílias reais – uma delas é constituída de membros que estão simplesmente apegados à vida familiar, e a outra consiste em rājarṣis, reis que governam com poder administrativo, mas que estão no mesmo nível dos grandes santos. Prahlāda Mahārāja queria tornar-se um rājarṣi, ao passo que Hiraṇyakaśipu preferia que ele se tornasse um rei apegado ao gozo dos sentidos (gṛha-medhinām). Portanto, no sistema ariano, existe o varṇāśrama-dharma, através do qual todos devem ser educados de acordo com sua posição na divisão social de varṇa (brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra) e āśrama (brahmacarya, gṛhastha, vānaprastha e sannyāsa).
Um devoto purificado pelo serviço devocional está sempre na posição transcendental, a qual está acima das qualidades mundanas. Logo, a diferença entre Prahlāda Mahārāja e Hiraṇyakaśipu era que Hiraṇyakaśipu queria manter Prahlāda dedicado ao apego mundano, ao passo que Prahlāda estava situado acima dos modos da natureza material. Enquanto alguém estiver sob o controle da natureza material, seu dever ocupacional será diferente do dever da pessoa que não está sob tal controle. O Śrīmad-Bhāgavatam descreve o verdadeiro dharma, ou dever ocupacional (dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam). Como Dharmarāja, ou Yamarāja, descreve a seus mensageiros, o ser vivo é uma identidade espiritual, de modo que seu dever ocupacional também é espiritual. O verdadeiro dharma é aquele apresentado na Bhagavad-gītā: sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja. Devem-se abandonar todos os deveres ocupacionais materiais, assim como se deve abandonar o corpo material. Qualquer que seja o dever ocupacional, mesmo que ele esteja de acordo com o sistema varṇāśrama, a pessoa deve abandoná-lo e se ocupar em sua função espiritual. Śrī Caitanya Mahāprabhu explica o verdadeiro dharma, ou dever ocupacional. Jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: todo ser vivo é servo eterno de Kṛṣṇa. Esse é o verdadeiro dever ocupacional de todos.