VERSO 37
tasmai bhavān haya-śiras tanuvaṁ hi bibhrad
veda-druhāv atibalau madhu-kaiṭabhākhyau
hatvānayac chruti-gaṇāṁś ca rajas tamaś ca
sattvaṁ tava priyatamāṁ tanum āmananti
tasmai — para o senhor Brahmā; bhavān — Vossa Onipotência; haya-śiraḥ — tendo cabeça e pescoço de cavalo; tanuvam — a encarnação; hi — na verdade; bibhrat — aceitando; veda-druhau — dois demônios que se contrapunham aos princípios védicos; ati-balau — extremamente poderosos; madhu-kaiṭabha-ākhyau — conhecidos como Madhu e Kaiṭabha; hatvā — matando; anayat — entregastes; śruti-gaṇān — todos os diferentes Vedas (Sāma, Yajur, Ṛg e Atharva); ca — e; rajaḥ tamaḥ ca — representando os modos da paixão e ignorância; sattvam — bondade transcendental pura; tava — Vossa; priya-tamām — queridíssima; tanum — forma (de Hayagrīva); āmananti — eles glorificam.
Meu querido Senhor, quando aparecestes como Hayagrīva, ou seja, com a cabeça de cavalo, matastes dois demônios conhecidos como Madhu e Kaiṭabha, que estavam repletos dos modos da paixão e da ignorância. Então, entregastes o conhecimento védico para o senhor Brahmā. Por essa razão, todos os grandes santos aceitam Vossas formas como transcendentais, sem o estigma das qualidades materiais.
SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus, sob Sua forma transcendental, está sempre pronto para proteger Seus devotos. Como se menciona nesta passagem, o Senhor, sob a forma de Hayagrīva, matou dois demônios chamados Madhu e Kaiṭabha, que haviam atacado o senhor Brahmā. Os demônios modernos pensam que não havia vida no começo da criação, mas, através do Śrīmad-Bhāgavatam, tomamos conhecimento de que o primeiro ser vivo criado pela Suprema Personalidade de Deus foi o senhor Brahmā, que é pleno de compreensão védica. Infelizmente, aqueles que estão encarregados de distribuir o conhecimento védico, tais como os devotos ocupados em espalhar a consciência de Kṛṣṇa, podem ser hostilizados pelos demônios algumas vezes, mas devem ter plena certeza de que os ataques demoníacos não conseguirão perturbá-los, pois o Senhor está sempre preparado para protegê-los. Os Vedas apresentam o conhecimento através do qual podemos entender a Suprema Personalidade de Deus (vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ). Os devotos do Senhor sempre estão dispostos a divulgar o conhecimento mediante o qual é possível entender o Senhor através da consciência de Kṛṣṇa, mas os demônios, incapazes de entender o Senhor Supremo, estão cheios de ignorância e paixão. Assim, o Senhor, cuja forma é transcendental, sempre está pronto para matar os demônios. Cultivando o modo da bondade, pode-se entender a posição do Senhor transcendental e como Ele está sempre preparado para remover todos os obstáculos encontrados no caminho que nos leva a compreendê-lo.
Em suma, sempre que encarna, o Senhor aparece sob Sua forma transcendental original. Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (4.7):
yadā yadā hi dharmasya
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham
“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – aí então Eu próprio desço.” É mera tolice pensar que o Senhor é originalmente impessoal, mas aceita um corpo material ao aparecer como uma encarnação pessoal. Sempre que aparece, o Senhor apresenta-Se sob Sua forma transcendental original, que é espiritual e bem-aventurada. Mas os homens sem inteligência, tais como os māyāvādīs, não podem entender a forma transcendental do Senhor, daí o Senhor os castigar dizendo que avajānanti māṁ mūḍhā mānuṣīṁ tanum āśritam: “Os tolos zombam de Mim quando faço Meu advento na forma humana.” Sempre que o Senhor aparece, seja como peixe, tartaruga, javali ou qualquer outra forma, deve-se entender que Ele mantém Sua posição transcendental e que Sua única atividade, como se afirma aqui, é hatvā – matar os demônios. O Senhor aparece para proteger os devotos e matar os demônios (paritrāṇāya sādhūnāṁ vināśāya ca duṣkṛtām). Como estão sempre dispostos a se opor à civilização védica, os demônios certamente serão mortos pela forma transcendental do Senhor.