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Capítulo Um

Os Manus, os Administradores do Universo

Em primeiro lugar, peço permissão para oferecer respeitosas reverên­cias aos pés de lótus de meu mestre espiritual, Sua Divina Graça Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Prabhupāda. Certa vez, no ano de 1935, quando Sua Divina Graça se encontrava no Rādhā-kuṇḍa, parti de Bombaim e fui vê-lo. Naquele ensejo, ele me concedeu importantes instruções a respeito da construção de templos e da publicação de livros. Ele próprio me disse que publicar livros é mais importante do que construir templos. Essas mesmas instru­ções permaneceram bem claras em minha mente por muitos anos. Em 1944, comecei a publicar minha revista Volta ao Supremo e, em 1958, quando me retirei da vida familiar, passei a publicar o Śrīmad-Bhāgavatam, em Déli. Quando três volumes do Śrīmad­-Bhāgavatam haviam sido publicados na Índia, em 13 de agosto de 1965, parti para os Estados Unidos da América.

Estou continuamente me esforçando para publicar livros, con­forme recomendação de meu mestre espiritual. Agora, neste ano de 1976, completei o sétimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, e já se publicou um resumo do décimo canto, escrito sob a forma da trilogia Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Falta, ainda, publicar o oitavo canto, o nono canto, o décimo canto, o dé­cimo primeiro canto e o décimo segundo canto. Nesta ocasião, portanto, oro ao meu mestre espiritual que me dê forças para con­cluir este trabalho. Não sou um grande erudito nem um grande de­voto; sou um simples e humilde servo de meu mestre espiritual e, com a cooperação dos meus discípulos americanos, estou fazendo tudo o que posso, tentando satisfazê-lo com a publicação destes livros. Felizmente, os eruditos em todo o mundo estão apreciando estas publicações. Uniremos, então, nossas forças e publicaremos mais e mais volumes do Śrīmad-Bhāgavatam apenas para satisfazer Sua Divina Graça Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura.

Em resumo, este primeiro capítulo do oitavo canto pode ser apresentado como uma descrição dos quatro Manus, a saber, Svāyambhuva, Svārociṣa, Uttama e Tāmasa. Após ouvir até o fim do sétimo canto as descrições da dinastia de Svāyambhuva Manu, Mahārāja Parīkṣit quis saber sobre outros Manus. Ele desejou en­tender como a Suprema Personalidade de Deus desce – não apenas no passado, mas também no presente e no futuro –, e como Ele, sob a forma de Manu, age em vários passatempos. Como Parīkṣit Mahārāja estava ansioso por saber tudo isso, Śukadeva Gosvāmī, começando com os seis Manus que já haviam aparecido, gradual­mente descreveu todos os Manus.

O primeiro Manu foi Svāyambhuva Manu. Suas duas filhas, chamadas Ākūti e Devahūti, deram à luz dois filhos, chamados Yajña e Kapila, respectivamente. Visto que já havia descrito no terceiro canto as atividades de Kapila, Śukadeva Gosvāmī descreve agora as atividades de Yajña. O Manu original, acompanhado de sua esposa, Śatarūpā, adentrou-se na floresta e, às margens do rio Sunandā, foi praticar austeridades. Durante cem anos, eles fizeram austeridades, e, depois, Manu, em transe, compôs orações para a Suprema Personalidade de Deus. Então, os Rākṣasas e os asuras tentaram devorá-lo, mas Yajña, juntamente com Seus filhos, os Yāmas, e com os semideuses, matou-os. Em seguida, o próprio Yajña assumiu o posto de Indra, o rei dos planetas celestiais.

O segundo Manu, cujo nome era Svārociṣa, era filho de Agni, e seus filhos eram encabeçados por Dyumat, Suṣeṇa e Rociṣmat. Na era deste Manu, Rocana se tornou Indra, o governante dos pla­netas celestiais, e houve muitos semideuses, os quais eram liderados por Tuṣita. Houve, também, muitas pessoas santas, tais como Ūrja e Stambha, e, entre elas, estava Vedaśirā, cuja esposa, Tuṣitā, deu à luz Vibhu. Vibhu instruiu oitenta e oito mil dṛḍha-vratas, ou pessoas santas, no autocontrole e austeridades.

Uttama, filho de Priyavrata, foi o terceiro Manu. Entre seus filhos, incluíam-se Pavana, Sṛñjaya e Yajñahotra. Durante o reina­do deste Manu, os filhos de Vasiṣṭha, encabeçados por Pramada, tornaram-se as sete pessoas santas. Os Satyas, os Devaśrutas e os Bhadras se tornaram os semideuses, e Satyajit se tornou Indra. Do ventre de Sunṛtā, a esposa de Dharma, o Senhor apareceu como Satyasena, e matou todos os Yakṣas e Rākṣasas que lutavam com Satyajit.

Tāmasa, o irmão do terceiro Manu, foi o quarto Manu, e teve dez filhos, incluindo Pṛthu, Khyāti, Nara e Ketu. Durante seu rei­nado, os Satyakas, os Haris, os Vīras e outros foram semideuses, os sete grandes santos foram liderados por Jyotirdhāma, e Triśikha se tornou Indra. No ventre de sua esposa Hariṇī, Harimedhā gerou um filho chamado Hari. Esse Hari, uma encarnação de Deus, salvou o devoto Gajendra. Esse incidente é descrito como gajendra-mokṣaṇa. No final deste capítulo, Parīkṣit Mahārāja pergunta especifica­mente sobre esse episódio.

VERSO 1: O rei Parīkṣit disse: Ó meu senhor, meu mestre espiritual, acabo de ouvir tudo o que Vossa Graça descreveu a respeito da dinastia de Svāyambhuva Manu. Contudo, também existem outros Manus, e desejo ouvir sobre as suas dinastias. Por favor, descreve-as para nós.

VERSO 2: Ó brāhmaṇa erudito, Śukadeva Gosvāmī, os grandes eruditos, que têm muita inteligência, descrevem as atividades e o aparecimento que a Suprema Personalidade de Deus manifesta durante os vários manvantaras. Estamos ansiosíssimos por ouvir sobre essas narrações. Por favor, descreve-as.

VERSO 3: Ó brāhmaṇa erudito, por favor, descreve-nos todas as atividades que a Suprema Personalidade de Deus, o qual criou esta manifes­tação cósmica, realizou nos manvantaras passados, está realizando no momento presente e realizará nos futuros manvantaras.

VERSO 4: Śukadeva Gosvāmī disse: Pelo presente kalpa, já passaram seis Manus. Já te descrevi Svāyambhuva Manu e o aparecimento de muitos semideuses. Neste kalpa de Brahmā, Svāyambhuva é o pri­meiro Manu.

VERSO 5: Svāyambhuva Manu tinha duas filhas, chamadas Ākūti e Devahūti, de cujos ventres a Suprema Personalidade de Deus apareceu como dois filhos chamados Yajñamūrti e Kapila, respectivamente. Esses filhos ficaram encarregados de pregar religião e conhecimento.

VERSO 6: Ó melhor dos Kurus, já descrevi [no terceiro canto] as atividades de Kapila, o filho de Devahūti. Agora, descreverei as atividades de Yajñapati, o filho de Ākūti.

VERSO 7: Svāyambhuva Manu, o esposo de Śatarūpā, por natureza não era nem um pouco apegado ao gozo dos sentidos. Assim, abando­nou seu reino de gozo dos sentidos e, com sua esposa, adentrou a floresta para praticar austeridades.

VERSO 8: Ó descendente de Bharata, após ter entrado na floresta com sua esposa, Svāyambhuva Manu se colocou à margem do rio Sunan­dā, ficou apoiado em apenas uma de suas pernas e, nessa posição, com apenas uma perna em contato com a terra, ele realizou grandes austeridades durante cem anos. Enquanto realizava essas austerida­des, ele falou as seguintes palavras.

VERSO 9: O senhor Manu disse: O ser vivo supremo criou este mundo material animado, e ninguém deve concluir que Ele tenha sido criado por este mundo material. Quando tudo está silencioso, o Ser Supremo permanece desperto como uma testemunha. A entidade viva não O conhece, mas Ele conhece tudo.

VERSO 10: Dentro deste universo, a Suprema Personalidade de Deus, sob Sua forma de Superalma, está presente em toda parte – isto é, onde quer que haja seres móveis ou imóveis. Portanto, a pessoa deve aceitar apenas sua cota; ninguém deve dese­jar apossar-se do pertence alheio.

VERSO 11: Embora a Suprema Personalidade de Deus observe constantemen­te as atividades do mundo, ninguém O vê. Entretanto, a pessoa não deve pensar que, porque ela não O vê, Ele não vê, pois Sua capacidade de ver jamais diminui. Portanto, todos devem adorar a Superalma, que sempre permanece um amigo da alma individual.

VERSO 12: A Suprema Personalidade de Deus não tem começo, fim ou meio. Tampouco Ele pertence a alguma pessoa ou nação específica. Ele não tem interior ou exterior. Nenhuma das dualidades encontradas neste mundo material, tais como começo e fim, meu e alheio, está presente na personalidade do Senhor Supremo. O universo, o qual emana dEle, também é um aspecto do Senhor. Portanto, o Senhor Supremo é a verdade definitiva, e Sua grandeza é completa.

VERSO 13: Toda a manifestação cósmica é o corpo da Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta, que tem milhões de nomes e potências ilimitadas. Ele produz forte refulgência e Ele é não­ nascido e imutável. Ele é o começo de tudo, mas Ele não tem começo. Visto que, através de Sua energia externa, Ele criou esta manifestação cósmica, o universo parece ser criado, mantido e aniquilado por Ele. Entretanto, Ele permanece inativo em Sua ener­gia espiritual e não é atingido pelas atividades da energia material.

VERSO 14: Portanto, a fim de capacitar as pessoas para alcançarem a etapa de atividades que não são estigmatizadas pelos resultados fruitivos, grandes santos primeiramente as ocupam em atividades fruitivas, pois, a menos que alguém comece a realizar as atividades recomen­dadas nos śāstras, não poderá alcançar a fase de liberação em que as atividades não produzem reações.

VERSO 15: A Suprema Personalidade de Deus é plena de opulências por Seu próprio mérito, e Ele age como o criador, mantenedor e aniquilador deste mundo material. Apesar dessa atitu­de, Ele nunca Se enreda. A partir disso, conclui-se que os devotos que seguem Seus passos jamais se enredam, tal qual o Senhor.

VERSO 16: Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, age exatamente como um ser humano comum, mas Ele não deseja gozar dos frutos do trabalho. Ele é pleno de conhecimento, livre de desejos e distra­ções materiais e tem completa independência. Como o supremo preceptor da sociedade humana, Ele ensina Seu próprio método de atividades e, dessa maneira, estabelece o verdadeiro caminho da reli­gião. Solicito a todos que O sigam.

VERSO 17: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Svāyambhuva Manu estava, então, em um transe, cantando os mantras de instrução védica co­nhecidos como as Upaniṣads. Ao verem-no, os Rākṣasas e os asuras, estando famintos, quiseram devorá-lo. Portanto, perseguiram-no com grande velocidade.

VERSO 18: O Senhor Supremo, Viṣṇu, que está situado no coração de todos, apareceu como Yajñapati e percebeu que os Rākṣasas e demônios estavam decididos a devorar Svāyambhuva Manu. Então, o Senhor, acompanhado de Seus filhos chamados Yāmas e de todos os outros semideuses, matou os demônios e os Rākṣasas. Em seguida, assumiu o posto de Indra e passou a governar o reino celestial.

VERSO 19: O filho de Agni chamado Svārociṣa se tornou o segundo Manu. Seus diversos filhos eram encabeçados por Dyumat, Suṣeṇa e Ro­ciṣmat.

VERSO 20: Durante o reinado de Svārociṣa, o posto de Indra foi assumido por Rocana, o filho de Yajña. Tuṣita e outros se tornaram os principais semideuses, e Ūrja, Stambha e outros se tornaram os sete santos. Todos eles eram fiéis devotos do Senhor.

VERSO 21: Vedaśirā era um ṛṣi muito célebre. No ventre de sua esposa, cujo nome era Tuṣitā, surgiu o avatāra chamado Vibhu.

VERSO 22: Vibhu permaneceu brahmacārī e jamais se casou em toda a sua vida. Outros oitenta e oito mil santos receberam dele lições sobre autocontrole, austeridade e comportamento dentro dessa mesma linha.

VERSO 23: Ó rei, o terceiro Manu, Uttama, era filho do rei Priyavrata. Entre os filhos deste Manu, estavam Pavana, Sṛñjaya e Yajñahotra.

VERSO 24: Durante o reinado do terceiro Manu, Pramada e outros filhos de Vasiṣṭha se tornaram os sete sábios. Os Satyas, os Vedaśrutas e os Bhadras se tornaram semideuses, e Satyajit foi escolhido para ser Indra, o rei dos céus.

VERSO 25: Neste manvantara, a Suprema Personalidade de Deus apareceu do ventre de Sūnṛtā, que era a esposa de Dharma, o semideus encarregado da religião. O Senhor, que era celebrado como Satyasena, apareceu com outros semideuses, conhecidos como Satyavratas.

VERSO 26: Satyasena, juntamente com Seu amigo Satyajit, que era o rei dos céus, Indra, matou todos os mentirosos, ímpios e malcomportados Yakṣas, Rākṣasas e entidades vivas fantasmagóricas, os quais infligiam dores aos outros seres vivos.

VERSO 27: O irmão do terceiro Manu, Uttama, era denominado Tāmasa, e se tornou o quarto Manu. Tāmasa teve dez filhos, encabeçados por Pṛthu, Khyāti, Nara e Ketu.

VERSO 28: Durante o reinado de Tāmasa Manu, entre os semideuses, incluíam-se Satyakas, Haris e Vīras. O rei celestial, Indra, era Triśikha. Os sábios em saptarṣi-dhāma eram encabeçados por Jyo­tirdhāma.

VERSO 29: Ó rei, no manvantara de nome Tāmasa, os filhos de Vidhṛti, que eram conhecidos como Vaidhṛtis, também se tornaram semideuses. Uma vez que, no decorrer do tempo, a autoridade védica foi prete­rida, esses semideuses, mediante seus próprios poderes, protegeram a autoridade védica.

VERSO 30: Também neste manvantara, o Senhor Supremo, Viṣṇu, nasceu do ventre de Hariṇī, a esposa de Harimedhā, e era conhecido como Hari. Hari salvou da boca de um crocodilo o Seu devoto Gajendra, o rei dos elefantes.

VERSO 31: O rei Parīkṣit disse: Meu senhor, Bādarāyaṇi, desejamos que nos contes minuciosamente como o rei dos elefantes, tendo sido atacado por um crocodilo, foi liberto por Hari.

VERSO 32: Toda literatura ou narração que descreve e glorifica a Supre­ma Personalidade de Deus, Uttamaśloka, decerto é notável, pura, ilustre, auspiciosa e inteiramente sublime.

VERSO 33: Śrī Sūta Gosvāmī disse: Ó brāhmaṇas, quando Parīkṣit Mahārāja, que aguardava a morte iminente, pediu a Śukadeva Gosvāmī que falasse, Śukadeva Gosvāmī, sentindo-se animado com as palavras do rei, ofereceu respeitos ao rei e, com grande prazer, falou na assembleia de sábios, os quais desejavam ouvi-lo.

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