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VERSO 10

ātmāvāsyam idaṁ viśvaṁ
yat kiñcij jagatyāṁ jagat
tena tyaktena bhuñjīthā
mā gṛdhaḥ kasya svid dhanam

ātma — a Superalma; āvāsyam — vivendo em toda parte; idam — este universo; viśvam — todos os universos, todos os lugares; yat — tudo o que; kiñcit — tudo o que existe; jagatyām — neste mundo, em toda parte; jagat — tudo, animado e inanimado; tena — por Ele; tyaktena — designado; bhuñjīthāḥ — podes desfrutar; — não; gṛdhaḥ — aceites; kasya svit — de outrem; dhanam — a propriedade.

Dentro deste universo, a Suprema Personalidade de Deus, sob Sua forma de Superalma, está presente em toda parte – isto é, onde quer que haja seres móveis ou imóveis. Portanto, a pessoa deve aceitar apenas sua cota; ninguém deve dese­jar apossar-se do pertence alheio.

SIGNIFICADO—Tendo definido como transcendental a situação da Suprema Per­sonalidade de Deus, Svāyambhuva Manu, para a instrução dos filhos e netos de sua dinastia, está agora descrevendo que tudo o que existe no universo pertence à Suprema Personalidade de Deus. As instruções de Manu não são apenas para seus próprios filhos e netos, senão que se destinam a toda a sociedade humana. A pa­lavra “homem” – ou, em sânscrito, manuṣya – origina-se do substantivo Manu, pois todos os membros da sociedade humana são descendentes do Manu original. Manu também é mencionado na Bhagavad-gītā (4.1), onde o Senhor diz:

imaṁ vivasvate yogaṁ
proktavān aham avyayam
vivasvān manave prāha
manur ikṣvākave ’bravīt

“Ensinei esta imperecível ciência do yoga ao deus do Sol, Vivasvān, e Vivasvān ensinou-a a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, ensinou-a a Ikṣvāku.” Svāyambhuva Manu e Vaivasvata Manu têm deveres semelhantes. O filho de Vaivasvata Manu, tendo este nascido de Vivasvān, o deus do Sol, foi Ikṣvāku, o rei da Terra. Uma vez que Manu é tido como o pai original da huma­nidade, a sociedade humana deve seguir suas instruções.

Svāyambhuva Manu ensina que tudo o que existe, não apenas no mundo espiritual, mas inclusive dentro deste mundo material, é propriedade da Suprema Personalidade de Deus, que está presen­te em toda parte como a Superconsciência. Como se confirma na Bhagavad-gītā (13.3), kṣetra-jñam cāpi māṁ viddhi sarva-kṣetreṣu bhārata: em todo campo – em outras palavras, em todo corpo –, o Senhor Supremo existe como a Superalma. A alma individual recebe um corpo no qual vive e age de acordo com as instruções da Pessoa Suprema, daí a Pessoa Suprema também existir em todo corpo. Não devemos pensar que somos independentes; ao contrário, devemos entender que temos direito a uma certa porção da propriedade total da Suprema Personalidade de Deus.

Essa compreensão levará a um comunismo perfeito. Os comu­nistas pensam em termos de suas próprias nações, mas o comunis­mo espiritual ensinado aqui não é apenas nacional, mas universal. Nada é propriedade exclusiva de alguma nação ou de alguma pessoa; tudo pertence à Suprema Personalidade de Deus. Esse é o signifi­cado deste verso. Ātmāvāsyam idaṁ viśvam: Tudo o que existe dentro deste universo é propriedade da Suprema Personalidade de Deus. A moderna teoria comunista, e também a ideia das Nações Unidas, podem ser reformuladas – na verdade, retificadas – através da compreensão de que tudo pertence à Suprema Personalidade de Deus. O Senhor não é uma criação de nossa inteligência; ao contrário, foi Ele quem nos criou. Ātmāvāsyam idaṁ viśvam. Īśāvāsyam idaṁ sarvam. Esse comunismo universal pode resolver todos os proble­mas do mundo.

Todos devem aprender com a literatura védica que o próprio corpo também não é propriedade da alma individual, mas lhe é dado de acordo com o seu karma. Karmaṇā daiva-netreṇa jantur dehopapattaye. As 8.400.000 diferentes formas corpóreas são máquinas dadas à alma individual. Confirma isso a Bhagavad-gītā (18.61):

īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ
hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati
bhrāmayan sarva-bhūtāni
yantrārūḍhāni māyayā

“O Senhor Supremo está situado no coração de todos, ó Arjuna, e está dirigindo as andanças de todas as entidades vivas, que estão sentadas num tipo de máquina feita de energia material.” Como a Superalma, o Senhor acomoda-Se no coração de todos e observa os vários desejos da alma individual. O Senhor é tão mise­ricordioso que concede à entidade viva a oportunidade de desfrutar de vários desejos em corpos adequados, que não passam de máqui­nas (yantrārūḍhāni māyayā). Essas máquinas são construídas por intermédio dos ingredientes materiais fornecidos pela energia exter­na, e, dessa maneira, a entidade viva desfruta ou sofre de acordo com seus desejos. Quem propicia essa oportunidade é a Superalma.

Tudo pertence ao Supremo, de modo que ninguém deve usurpar a propriedade alheia. Temos a tendência a inventar muitas coisas. Especialmente hoje em dia, estamos construindo arranha-céus e desenvolvendo outras condições materiais vantajosas. Devemos saber, entretanto, que os ingredientes dos arranha-céus e máquinas só podem ser fabricados pela Suprema Personalidade de Deus. O mundo inteiro se limita a uma combinação dos cinco elementos materiais (tejo-vāri-mṛdāṁ yathā vinimayaḥ). Um arranha-céu é uma transformação dos elementos terra, água e fogo. A terra e a água são misturadas e, pela ação do fogo, transformam-se em tijo­los, e um arranha-céu é essencialmente uma enorme construção feita de tijolos. Embora seja capaz de fabricar os tijolos, o homem não pode fabricar os ingredientes que os constituem. É claro que, como um fabricante, o homem pode aceitar um salário da Suprema Personalidade de Deus. Isso é afirmado aqui: tena tyaktena bhuñjīthāḥ. O indivíduo pode construir um grande arranha-céu, mas nem o construtor, vendedor ou o operário podem alegar que são os proprietários. A propriedade é de quem investiu suas posses na construção. A Suprema Personalidade de Deus criou a água, a terra, o ar, o fogo e o céu, e todos podem utilizá-los e receber um salário (tena tyaktena bhuñjīthāh). Entretanto, ninguém pode arrogar-se o direito de propriedade. Eis o comunismo perfeito. Nossa ten­dência a construir grandes edifícios deve ser usada somente para construirmos grandes e valiosos templos nos quais se instale a Dei­dade da Suprema Personalidade de Deus. Somente então é que nosso de­sejo de construir será satisfeito.

Como toda a propriedade pertence à Suprema Personalidade de Deus, tudo deve ser oferecido ao Senhor, e devemos aceitar apenas prasāda (tena tyaktena bhuñjīthāh). Não devemos engalfi­nhar-nos para recebermos mais do que necessitamos. Como Nārada disse a Mahārāja Yudhiṣṭhira:

yāvad bhriyeta jaṭharaṁ
tāvat svatvaṁ hi dehinām
adhikaṁ yo ’bhimanyeta
sa steno daṇḍam arhati

“Todos devem declarar propriedade apenas sobre aquela riqueza que necessitem para se manterem vivos, mas, se alguém desejar possuir mais do que isso, deve ser considerado um ladrão, e mere­ce ser punido pelas leis da natureza.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.14.8) Decerto que, para nos mantermos, precisamos comer, dormir, acasalar-nos e de­fender-nos (āhāra-nidra-bhaya-maithuna), mas já que o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, provê os pássaros e as abelhas com essas necessidades da vida, por que deixaria de fazer isso pela humanidade? Não há necessidade de desenvolvimento eco­nômico; tudo é provido. Portanto, deve-se entender que tudo pertence a Kṛṣṇa, e, munidos dessa ideia, todos podem aceitar prasāda. No entanto, quem se apodera daquilo que foi reservado a outrem é um ladrão. Não devemos aceitar mais do que real­mente precisamos. Portanto, se por acaso obtivermos dinheiro em abundância, deveremos sempre considerar que ele pertence à Suprema Personalidade de Deus. Na consciência de Kṛṣṇa, ganha­mos dinheiro o bastante, mas jamais podemos pensar que o dinheiro nos pertence, pois ele é da Suprema Personalidade de Deus e deve ser distribuído igualmente entre os trabalhadores, os devotos. Nenhum devoto deve alegar que algum dinheiro ou propriedade lhe pertence. Se alguém pensa que alguma região deste enorme universo pertence a determinado indivíduo, ele deve ser considerado um ladrão e ficará passível de punição por parte das leis da natureza. Daivī hy eṣā guṇa-mayī mama māyā duratyayā: ninguém é capaz de superar a vigilância da natureza material ou enganar a natureza material. Se a sociedade humana ilegalmente se arrogar proprietária do universo, seja parcial, seja totalmente, e determinar que ele pertence à humanidade, toda a sociedade humana será amaldiçoada como uma so­ciedade de ladrões e será punida pelas leis da natureza.

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