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VERSO 11

yaṁ paśyati na paśyantaṁ
cakṣur yasya na riṣyati
taṁ bhūta-nilayaṁ devaṁ
suparṇam upadhāvata

yam — aquele que; paśyati — a entidade viva vê; na — não; paśyan­tam — embora sempre vendo; cakṣuḥ — olho; yasya — cujo; na — jamais; riṣyati — diminui; tam — a Ele; bhūta-nilayam — a fonte da qual se originam todas as entidades vivas; devam — a Suprema Personalidade de Deus; suparṇam — que acompanha a entidade viva como um amigo; upadhāvata — todos devem adorar.

Embora a Suprema Personalidade de Deus observe constantemen­te as atividades do mundo, ninguém O vê. Entretanto, a pessoa não deve pensar que, porque ela não O vê, Ele não vê, pois Sua capacidade de ver jamais diminui. Portanto, todos devem adorar a Superalma, que sempre permanece um amigo da alma individual.

SIGNIFICADO—Ao oferecer orações a Kṛṣṇa, Śrīmatī Kuntīdevī, a mãe dos Pāṇḍavas, disse que alakṣyaṁ sarva-bhūtānām antar bahir avasthitam: “Kṛṣṇa, residis tanto dentro quanto fora de tudo, mas as almas condicionadas ininteligentes não Vos conseguem ver.” Na Bhagavad-gītā, afirma-se que é possível ver a Suprema Personalidade de Deus através de jñāna-cakuṣaḥ, os olhos do conheci­mento. Aquele que abre nossos olhos do conhecimento é chamado de mestre espiritual. Portanto, ao oferecermos nossas orações ao mestre espiritual, recitamos o seguinte śloka:

om ajñāna-timirāndhasya
jñānāñjana-śalākayā
cakṣur unmīlitaṁ yena
tasmai śrī-gurave namaḥ

“Ofereço minhas respeitosas reverências ao meu mestre espiritual, que, com o archote do conhecimento, abriu meus olhos, que estavam cegos devido à escuridão da ignorância.” (Gautamīya Tantra) A tarefa do guru é abrir os olhos do discípulo, proporcionando-lhe conhecimento. Ao sair da ignorância que o afasta do conhecimento, o discípulo pode ver a Suprema Personalidade de Deus em toda parte, pois o Senhor realmente está em toda parte. Aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham. O Senhor reside neste universo, reside no coração de todas as entidades vivas e reside até mesmo no átomo. Porque não temos conhecimento perfeito, não podemos ver Deus, mas um pouco de reflexão pode ajudar-nos a ver Deus em toda parte. Isso requer treinamento. Com um pouco de reflexão, mesmo a pessoa mais degradada pode perceber a pre­sença de Deus. Se quisermos saber a quem pertence o vasto oceano, a quem pertence a vasta terra, como existe o céu, como as incontáveis estrelas e planetas estão firmados no céu, quem fez este universo e a quem ele pertence, chegaremos à conclusão de que existe alguém que é o proprietário de tudo. Quando, quer individualmente, quer em nome de nossa família ou nação, apresentamo-nos como proprietários de um certo pedaço de terra, também devemos considerar como nos tornamos proprie­tários disso. A terra existia antes do nosso nascimento, antes de chegarmos a ela. Então, como foi que ela se tornou uma propriedade nossa? Essa análise nos ajudará a entender que existe um proprietário supremo de tudo – a Suprema Personalidade de Deus.

A Divindade Suprema está sempre desperta. No estado condicio­nado, esquecemos as coisas porque mudamos de corpos, mas, como a Suprema Personalidade de Deus não muda de corpo, a Suprema Personalidade de Deus lembra­-Se do passado, do presente e conhece o futuro. Na Bhagavad-gītā (4.1), Kṛṣṇa diz que imaṁ vivasvate yogaṁ proktavān aham avyayam: “Eu falei esta ciência de Deus – a Bhagavad-gītā – ao deus do Sol há pelo menos quarenta milhões de anos.” Quando Arjuna perguntou a Kṛṣṇa como Ele podia lembrar-Se de episódios ocorridos há tanto tempo, o Senhor respondeu que Arjuna também estava presente naquela ocasião. Porque Arjuna é amigo de Kṛṣṇa, aonde quer que Kṛṣṇa vá, Arjuna vai também. A diferença é que Kṛṣṇa lembra-Se de tudo, ao passo que, tal qual Arjuna, a entidade viva, sendo uma partícula diminuta do Senhor Supremo, experimenta o esquecimento. Por­tanto, afirma-se que a vigilância do Senhor é infalível. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (15.15), sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca: Em Seu aspecto Paramātmā, a Suprema Personalidade de Deus está sempre presente no coração de todas as entidades vivas, e é dEle que vêm a memó­ria, o conhecimento e o esquecimento. Isso também é indicado neste verso através da palavra suparṇam, que significa “amigo”. Portanto, na Śvetāśvatara Upaniṣad (4.6), declara-se que dvā suparṇa-sayujā sakhāyā samānaṁ vṛkṣaṁ pariṣasvajāte: dois pássaros estão pousados na mesma árvore como amigos. Um pássaro está comen­do os frutos da árvore, e o outro está apenas observando. Esse pássaro observador é sempre um amigo do pássaro que come e faz com que ele se lembre das coisas que desejou fazer. Logo, se incluirmos a Suprema Personalidade de Deus em nossos afazeres diários, poderemos vê-lO ou, pelo menos, perceber Sua presença em toda parte.

As palavras cakṣur yasya na riṣyati significam que, embora não possamos vê-lO, isso não implica que Ele não nos pode ver. Tam­pouco Ele morre quando a manifestação cósmica é aniquilada. A esse respeito, cita-se o exemplo de que o brilho solar está presente quando o Sol está presente, mas, quando o Sol não está presente, ou quando não podemos vê-lo, isso não significa que o Sol deixou de existir. Embora não possamos vê-lo, o Sol existe. Igualmente, embora em nossa presente escuridão, em nossa falta de conhecimento, não possamos ver a Suprema Personalidade de Deus, Ele está sempre presente, vendo nossas atividades. Como Paramātmā, Ele é testemunha e conselheiro (upadraṣṭā e anumantā). Portanto, seguindo as instruções do mestre espiritual e estudando os textos autoriza­dos, todos podemos entender que Deus está presente diante de nós, vendo tudo, apesar de não termos os olhos com os quais pos­samos vê-lO.

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