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VERSO 14

athāgre ṛṣayaḥ karmāṇ-
īhante ’karma-hetave
īhamāno hi puruṣaḥ
prāyo ’nīhāṁ prapadyate

atha — portanto; agre — no começo; ṛṣayaḥ — todos os ṛṣis ou santos eruditos; karmāṇi — atividades fruitivas; īhante — executam; akarma — ficar livre dos resultados fruitivos; hetave — com o propó­sito de; īhamānaḥ — ocupando nessas atividades; hi — na verdade; puruṣaḥ — uma pessoa; prāyaḥ — quase sempre; anīhām — livrar-se do karma; prapadyate — consegue.

Portanto, a fim de capacitar as pessoas para alcançarem a etapa de atividades que não são estigmatizadas pelos resultados fruitivos, grandes santos primeiramente as ocupam em atividades fruitivas, pois, a menos que alguém comece a realizar as atividades recomen­dadas nos śāstras, não poderá alcançar a fase de liberação em que as atividades não produzem reações.

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (3.9), o Senhor Kṛṣṇa aconselha que yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: “Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material.” De uma ma­neira geral, todos se sentem atraídos a trabalhar arduamente para se tornarem felizes neste mundo material, mas, embora no mundo inteiro várias atividades sejam exercidas na tentativa de se obter felicidade, essas atividades fruitivas criam apenas problemas. Portanto, aconselha-se que as pessoas ativas se ocupem em ativida­des da consciência de Kṛṣṇa, que são chamadas de yajña, porque, então, elas aos poucos chegarão à plataforma do serviço devocio­nal. Yajña significa Senhor Viṣṇu, o yajña-puruṣa, o desfrutador de todos os sacrifícios (bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram). A Suprema Personalidade de Deus é o verdadeiro desfrutador, de modo que, caso passemos a executar nossas atividades para satisfazê-lO, pouco a pouco deixaremos de sentir gosto por atividades materiais.

Sūta Gosvāmī declarou à grande assembleia de sábios de Naimi­ṣāraṇya:

ataḥ pumbhir dvija-śreṣṭhā
varṇāśrama-vibhāgaśaḥ
svanuṣṭhitasya dharmasya
saṁsiddhir hari-toṣaṇam

“Ó melhor entre os duas vezes nascidos, conclui-se que a perfeição máxima que alguém pode atingir através do processo de executar os seus deveres prescritos [dharma] de acordo com as divisões de castas e ordens de vida consiste em satisfazer o Senhor Hari.” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.13) Com base nos princípios védicos, todos devem agir conforme a sua classificação como brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya, śūdra, brahmacārī, gṛhastha, vānaprastha ou sannyāsī. Todos devem progredir rumo à perfeição, agindo de maneira tal que Kṛṣṇa fique satisfeito (saṁsiddhir hari-toṣaṇam). Ninguém pode satisfazer Kṛṣṇa permanecendo sentado sem fazer coisa alguma. Se alguém quer realmen­te satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, tem que agir de acordo com as orientações do mestre espiritual. Somente então, pouco a pouco, ele alcançará a fase do serviço devocional puro. Como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.5.12):

naiṣkarmyam apy acyuta-bhāva-varjitaṁ
na śobhate jñānam alaṁ nirañjanam

“O conhecimento da autorrealização, embora livre de toda afinidade material, não parece bom caso desprovido de uma concepção do Infalível [Deus].” Os jñānīs recomen­dam que, nada fazendo, mas simplesmente meditando e pensando no Brahman, a pessoa adote naiṣkarmya, mas isso é impos­sível para quem não compreendeu o Parabrahman, Kṛṣṇa. Se não houver consciência de Kṛṣṇa, toda classe de atividade, seja fi­lantrópica, seja política, seja social, simplesmente causa cativeiro ao tra­balho material, karma-bandhana.

Enquanto alguém estiver enredado em karma-bandhana, terá de aceitar diferentes classes de corpos que carecem da vanta­gem concedida através da forma humana. Portanto, a Bhagavad-gītā (6.3) recomenda karma-yoga:

ārurukṣor muner yogaṁ
karma kāraṇam ucyate
yogārūḍhasya tasyaiva
śamaḥ kāraṇam ucyate

“Afirma-se que para quem é neófito no sistema ióguico óctuplo, o trabalho é o meio; e para quem já está elevado em yoga, a cessação de todas as atividades materiais é considerada o meio.” Todavia:

karmendriyāṇi saṁyamya
ya āste manasā smaran
indriyārthān vimūḍhātmā
mithyācāraḥ sa ucyate

“Aquele que restringe os sentidos da ação, porém, cuja mente continua nos objetos dos sentidos, decerto ilude a si mesmo e é chamado de impostor.” (Bhagavad-gītā 3.6) Quem deseja se tornar plenamente consciente de Kṛṣṇa deve atuar com muita seriedade em favor de Kṛṣṇa, e não ficar apenas sentado, tentando imitar personalidades grandiosas como Haridāsa Ṭhākura. Śrīla Bhaktisiddhānta Saras­vatī Ṭhākura condenava essa imitação. Ele dizia:

duṣṭa mana! tumi kisera vaiṣṇava?
pratiṣṭhāra tare, nirjanera ghare,
tava hari-nāma kevala kaitava

“Minha querida mente, que classe de devoto tu és? Em troca de simples adoração barata, permaneces sentada em um lugar solitário e fazes de conta que estás cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, mas tudo isso é uma farsa.” Recentemente em Māyāpur, um devoto africano quis imitar Haridāsa Ṭhākura, mas, após quinze dias, ficou inquieto e foi embora. Não tentemos inopinadamente imitar Haridāsa Ṭhākura. Você deve se ocupar em atividades conscientes de Kṛṣṇa e, pouco a pouco, chegará à fase de liberação. (muktir hitvānyathā rūpaṁ svarūpeṇa vyavasthitiḥ).

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