VERSO 1
śrī-śuka uvāca
balir evaṁ gṛha-patiḥ
kulācāryeṇa bhāṣitaḥ
tūṣṇīṁ bhūtvā kṣaṇaṁ rājann
uvācāvahito gurum
śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; baliḥ — Bali Mahārāja; evam — assim; gṛha-patiḥ — o mestre dos afazeres domésticos, embora guiado pelos sacerdotes; kula-ācāryeṇa — pelo ācārya ou guia da família; bhāṣitaḥ — sendo assim interpelado; tūṣṇīm — silencioso; bhūtvā — tornando-se; kṣaṇam — por um momento; rājan — ó rei (Mahārāja Parīkṣit); uvāca — disse; avahitaḥ — após uma análise completa; gurum — a seu mestre espiritual.
Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei Parīkṣit, após receber este conselho transmitido por seu mestre espiritual Śukrācārya, o sacerdote de sua família, Bali Mahārāja silenciou-se por algum tempo e, depois, após uma análise completa, respondeu ao seu mestre espiritual da seguinte maneira.
SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura enfatiza que Bali Mahārāja permaneceu silencioso em um momento delicado. Como poderia desobedecer à instrução de Śukrācārya, seu mestre espiritual? É dever de uma pessoa tão sóbria como Bali Mahārāja acatar imediatamente as ordens do seu mestre espiritual, seguindo aquilo que seu mestre espiritual aconselhar. Mas Bali Mahārāja também considerou que Śukrācārya não deveria mais ser aceito como mestre espiritual, pois ele havia se desviado do dever de um mestre espiritual. De acordo com os śāstras, compete ao guru levar o discípulo de volta ao lar, de volta ao Supremo. Se ele é incapaz de concretizar esse feito e, em vez disso, cria dificuldades para o discípulo, impedindo-o de voltar ao Supremo, não deve ser aceito como guru. Gurur na sa syāt (Śrīmad-Bhāgavatam 5.5.18). Não deve tornar-se guru quem não tem condições de propiciar avanço em consciência de Kṛṣṇa ao seu discípulo. A meta da vida é que se tornar devoto do Senhor Kṛṣṇa para poder livrar-se do cativeiro da existência material (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mam eti so ’rjuna). O mestre espiritual ajuda o discípulo a alcançar essa etapa, fazendo esse desenvolver a sua consciência de Kṛṣṇa. Agora, Śukrācārya aconselhou Bali Mahārāja a quebrar a promessa que fizera a Vāmanadeva. Nessas circunstâncias, portanto, Bali Mahārāja julgava não haver nenhum erro em desobedecer à ordem de seu mestre espiritual. Ele se deteve neste ponto: Ele deveria recusar-se a aceitar o conselho de seu mestre espiritual, ou deveria agir independentemente e fazer tudo para satisfazer a Suprema Personalidade de Deus? Ele precisava de um pouco de tempo. Portanto, afirma-se que tūṣṇīṁ bhūtvā kṣaṇaṁ rajann uvācāvahito gurum. Após deliberar sobre esse ponto, ele decidiu que se deve agradar o Senhor Viṣṇu em todas as circunstâncias, mesmo que se corra o risco de ignorar o conselho do guru, contrariando-lhe as ordens.
Todo aquele que se diz guru, mas que contraria os princípios de viṣṇu-bhakti, não pode ser aceito como guru. Se alguém cometeu o erro de aceitar semelhante guru, deve rejeitá-lo. Tal guru é descrito da seguinte maneira (Mahābhārata, Udyoga 179.25):
guror apy avaliptasya
kāryākāryam ajānataḥ
utpatha-pratipannasya
parityāgo vidhīyate
Śrīla Jīva Gosvāmī recomenda que esse guru inútil, um sacerdote da família agindo como guru, deve ser recusado, e que o guru adequado e genuíno deve ser aceito.
ṣaṭ-karma-nipuṇo vipro
mantra-tantra-viśāradaḥ
avaiṣṇavo gurur na syād
vaiṣṇavaḥ śvapaco guruḥ
“Um brāhmaṇa erudito, conhecedor de todos os temas do conhecimento védico, está apto a tornar-se mestre espiritual apenas se for um vaiṣṇava, mas, se uma pessoa nascida em família de casta inferior for um vaiṣṇava, pode tornar-se mestre espiritual.” (Padma Purāṇa)