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Capítulo Vinte

Bali Mahārāja Entrega o Universo

O resumo deste vigésimo capítulo é o seguinte. Apesar de saber que o Senhor Vāmanadeva o estava enganando, Bali Mahārāja deu tudo ao Senhor em caridade, e, dessa maneira, o Senhor expandiu o Seu corpo e assumiu a gigantesca forma do Senhor Viṣṇu.

Após ouvir o conselho instrutivo de Śukrācārya, Bali Mahārāja se fez introspectivo. Porque é dever do chefe de família manter os princípios da religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sen­tidos, Bali Mahārāja considerou impróprio retirar a promessa que fizera ao brahmacārī. Mentir ou deixar de cumprir a promessa feita a um brahmacārī é sempre algo inconveniente, pois a mentira é a ativida­de mais pecaminosa. Todos devem temer os efeitos pecaminosos da mentira, pois a mãe Terra não consegue suportar nem mesmo o peso de um pecador mentiroso. O crescimento de um reino ou império é temporário; se não houver benefício para o público em geral, tal progresso não tem nenhum valor. Outrora, todos os grandes reis e imperadores expandiam seus reinos com vistas ao bem-estar dos sú­ditos. Na verdade, enquanto se ocupavam nessas atividades para o benefício das pessoas em geral, homens eminentes às vezes até mesmo sacrificavam suas vidas. Afirma-se que aquele que realiza atividades gloriosas vive para sempre, jamais morre. Portanto, a fama deve ser a meta da vida, e mesmo que, a troco de uma boa reputação, alguém fique muito pobre, ele não perde. Bali Mahārāja pen­sava que, embora esse brahmacārī, Vāmanadeva, talvez fosse o Senhor Viṣṇu, se o Senhor aceitasse sua caridade e depois o prendesse, Bali Mahārāja não teria inveja dEle. Considerando todos esses pontos, Bali Mahārāja, por fim, deu em caridade tudo o que possuía.

Então, o Senhor Vāmanadeva imediatamente Se expandiu em um corpo universal. Pela misericórdia do Senhor Vāmanadeva, Bali Mahārāja pôde ver que o Senhor é onipenetrante e que tudo repou­sa em Seu corpo. Bali Mahārāja pôde ver o Senhor Vāmanadeva como o Viṣṇu supremo, usando um elmo, roupas amarelas, a marca de Śrīvatsa, a joia Kaustubha, uma guirlanda de flores e adornos que Lhe decoravam todo o corpo. O Senhor gradualmente cobriu toda a superfície do mundo e, expandindo Seu corpo, cobriu todo o céu. Com Suas mãos, Ele cobriu todas as direções e, com Seu segundo passo, cobriu todo o sistema planetário superior. Portanto, não havia lugar vazio onde Ele pudesse dar Seu terceiro passo.

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei Parīkṣit, após receber este con­selho transmitido por seu mestre espiritual Śukrācārya, o sacerdote de sua família, Bali Mahārāja silenciou-se por algum tempo e, depois, após uma análise completa, respondeu ao seu mestre espi­ritual da seguinte maneira.

VERSO 2: Bali Mahārāja disse: Como já afirmaste, o princípio religioso que não impede o desenvolvimento econômico, o gozo dos sentidos, a fama e os meios de subsistência é o verdadeiro dever ocupacional do chefe de família. Também considero que esse princípio religioso é correto.

VERSO 3: Sou neto de Mahārāja Prahlāda. Como é que eu, movido pela cobiça de obter dinheiro, poderia retirar minha promessa depois de ter dito que daria esta terra? Como posso, diante de um brāhmaṇa, comportar-me como um trapaceiro ordinário?

VERSO 4: Não há nada mais pecaminoso do que faltar com a verdade. Em razão disso, a mãe Terra disse certa vez: “Posso suportar qualquer carga pesada, exceto um mentiroso.”

VERSO 5: Não temo o inferno, a pobreza, um oceano de aflição, cair de minha posição ou mesmo a própria morte tanto quanto temo enganar um brāhmaṇa.

VERSO 6: Meu senhor, também se vê que o proprietário perde todas as opulências ma­teriais deste mundo na hora de sua morte. Portanto, se o brāhmaṇa Vāmanadeva não está satisfeito com as dádivas que Lhe foram oferecidas, por que não agradá-lO com as riquezas que estão destinadas a extinguir-se na hora da morte?

VERSO 7: Dadhīci, Śibi e muitas outras grandiosas personalidades desejavam sacrificar até mesmo suas vidas em benefício das pessoas em geral. Esta é a evidência da história. Então, por que não renunciar esta terra insignificante? Que fortes argumentos haveria contra isso?

VERSO 8: Ó melhor dos brāhmaṇas, certamente os grandes reis demoníacos que nunca se recusavam a lutar desfrutaram deste mundo, mas, no decorrer do tempo, tudo o que tinham lhes foi tirado, exceto sua reputação, pela qual continuam a existir. Em outras palavras, deve-se tentar obter uma boa reputação em vez de qualquer outra coisa.

VERSO 9: Ó melhor dos brāhmaṇas, muitos homens perderam suas vidas no campo de batalha, pois não tinham medo de lutar, mas raramente alguém obteve a oportunidade de doar sua riqueza meticulosamente acumulada a uma pessoa santa que cria lugares sagrados.

VERSO 10: Fazendo caridade, uma pessoa benévola e misericordiosa, sem dú­vida, torna-se ainda mais auspiciosa, especialmente quando faz cari­dade a alguém como tua pessoa. Nessas circunstâncias, devo fazer a esse pequeno brahmacārī toda caridade que Ele acaso deseje de mim.

VERSO 11: Ó grande sábio, pessoas santas, grandiosas como tu, conhecendo na íntegra os princípios védicos que orientam a realização de cerimô­nias ritualísticas e yajñas, adoram o Senhor Viṣṇu em todas as cir­cunstâncias. Portanto, caso esse mesmo Senhor Viṣṇu tenha vindo aqui a fim de conferir-me todas as bênçãos ou a fim de punir-me como um inimi­go, não devo hesitar em cumprir Sua ordem e dar-Lhe a porção de terra solicitada.

VERSO 12: Embora ele seja o próprio Viṣṇu, por temor, Ele Se disfarçou de brāhmaṇa para pedir-me esmolas. Nestas circunstâncias, porque Ele assumiu a forma de brāhmaṇa, mesmo que irreligiosamente me prenda ou até mesmo tire a minha vida, eu não retaliarei, ainda que Ele seja meu inimigo.

VERSO 13: Se este brāhmaṇa é realmente o Senhor Viṣṇu, que é adorado com hinos védicos, Ele jamais abandonaria Sua ampla reputação; ou Ele tombaria após ser morto por mim, ou me mataria em um combate.

VERSO 14: Śrī Śukadeva Gosvāmī continuou: Depois disso, o mestre espiritual, Śukrācārya, sendo inspirado pelo Senhor Supremo, amaldiçoou o seu exímio discípulo Bali Mahārāja, que era tão magnânimo e fixo na verdade que, em vez de respeitar as instruções de seu mestre es­piritual, resolveu desobedecer às suas ordens.

VERSO 15: Embora careças de qualquer conhecimento, falsamente assumes a posição de um erudito e, portanto, ousas ter a insolência de desobedecer à minha ordem. Por desobedeceres a mim, muito em breve perde­rás toda a tua opulência.

VERSO 16: Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Mesmo após ser amaldiçoado dessa maneira pelo seu próprio mestre espiritual, Bali Mahārāja, sendo uma personalidade grandiosa, nunca se deixou desviar de sua determinação. Portanto, de acordo com o costume, primeiramente ofereceu água a Vāmanadeva e, em seguida, presenteou o Senhor com a terra que prometera.

VERSO 17: A esposa de Bali Mahārāja, conhecida como Vindhyāvali, que es­tava decorada com um colar de pérolas, imediatamente se aproximou e mandou que trouxessem um grande cântaro de ouro, o qual deve­ria estar cheio de água para adorar o Senhor la­vando Seus pés.

VERSO 18: Bali Mahārāja, o adorador do Senhor Vāmanadeva, jubilosamente lavou os pés de lótus do Senhor e, então, derramou a água sobre sua cabeça, pois essa água liberta todo o universo.

VERSO 19: Naquele momento, os habitantes do sistema planetário superior, a saber, os semideuses, os Gandharvas, os Vidyādharas, os Siddhas e os Cāraṇas, estando todos muito satisfeitos com o simples e ine­quívoco ato de Bali Mahārāja, louvaram suas qualidades e derrama­ram sobre ele milhões de flores.

VERSO 20: Repetidas vezes, os Gandharvas, os Kimpuruṣas e os Kinnaras to­caram milhares e milhares de timbales e cornetas, e cantaram em grande júbilo, declarando: “Quão excelsa é a pessoa de Bali Mahā­rāja, e quão difícil é a tarefa que ele realizou! Muito embora sou­besse que o Senhor Viṣṇu estava do lado de seus inimigos, ele deu ao Senhor todos os três mundos em caridade.”

VERSO 21: A ilimitada Suprema Personalidade de Deus, que assumira a forma de Vāmana, começou, então, a aumentar de tamanho, agindo em termos da energia material, até que todo o universo ficou dentro de Seu corpo, incluindo a Terra, os sistemas planetários, o céu, as direções, as várias cavidades no universo, os mares, os oceanos, os pássaros, as feras, os seres humanos, os semideuses e as grandes pessoas santas.

VERSO 22: Bali Mahārāja, juntamente com todos os sacerdotes, ācāryas e membros da assembleia, observou o corpo universal da Suprema Personalidade de Deus, que era pleno de seis opulências. Esse corpo continha tudo o que existe dentro do universo, incluindo todos os ele­mentos materiais grosseiros, os sentidos, os objetos dos sentidos, a mente, a inteligência e o falso ego, as várias classes de entidades vivas, e as ações e reações dos três modos da natureza material.

VERSO 23: Em seguida, Bali Mahārāja, que ocupava o assento do rei Indra, pôde ver situados nas solas dos pés da forma universal do Senhor, os sistemas planetários inferiores, tais como Rasātala. Ele viu, nos pés do Senhor, a superfície do globo; na extensão de Suas panturri­lhas, todas as montanhas; em Seus joelhos, os vários pássaros; e em Suas coxas, as muitas variedades de ar.

VERSO 24: Bali Mahārāja viu sob as roupas do Senhor, que age maravilhosa­mente, o crepúsculo vespertino. Nas partes privadas do Senhor, ele viu os Prajāpatis e, na parte redonda da cintura, viu a si mesmo, juntamente com seus associados confidenciais. No umbigo do Senhor, viu o céu; na cintura do Senhor, os sete oceanos, e no peito do Senhor, todas as constelações.

VERSOS 25-29: Meu querido rei, no coração do Senhor Murāri, ele viu a religião; no tórax, as palavras agradáveis e a veracidade; na mente, a Lua; no peito, a deusa da fortuna, com uma flor de lótus em sua mão; no pescoço, todos os Vedas e todas as vibrações sonoras; nos braços, todos os semideuses, encabeçados por Indra; em ambos os ouvidos, todas as direções; na cabeça, os sistemas planetários superiores; no cabelo, as nuvens; nas narinas, o vento; nos olhos, o Sol; e na boca, o fogo. De Suas palavras, vieram todos os mantras védicos; sobre Sua língua estava o semideus da água, Varuṇadeva; sobre Suas sobrancelhas, estavam os princípios reguladores; e sobre Suas pálpe­bras, estavam o dia e a noite. [Quando os Seus olhos estavam abertos, era dia, e quando estavam fechados, era noite.] Em Sua fronte, estava a ira; e em Seus lábios, a cobiça. Ó rei, em Seu tato, estavam os de­sejos luxuriosos; em Seu sêmen, todas as águas; em Suas costas, a irreligião; e em Suas maravilhosas atividades ou passos, estava o fogo do sacrifício. Sobre Sua sombra, estava a morte; em Seu sorriso, a energia ilusória; e nos pelos de Seu corpo, todos os medicamentos e ervas. Em Suas veias, estavam todos os rios; em Suas unhas, todas as pedras; em Sua inteligência, estavam o senhor Brahmā, os semi­deuses e as grandes pessoas santas; e em todo o Seu corpo e sentidos, estavam todas as entidades vivas, móveis e inertes. Assim, Bali Mahārāja viu tudo no corpo gigantesco do Senhor.

VERSO 30: Ó rei, quando todos os demônios, os seguidores de Mahārāja Bali, viram a forma universal da Suprema Personalidade de Deus, que continha tudo dentro de Seu corpo, quando viram nas mãos do Senhor o Seu disco, conhecido como Sudarśana-cakra, que gera um calor intolerável, e quando ouviram o som tumultuoso de Seu arco, tudo isso serviu para produzir lamentação dentro de seus corações.

VERSO 31: O búzio do Senhor, chamado Pāñcajanya, que emitia sons semelhantes aos produzidos por uma nuvem; a poderosíssima maça cha­mada Kaumodakī; a espada chamada Vidyādhara, com um escudo decorado com centenas de símbolos em forma de lua;  bem como a Akṣayasāyaka, a melhor das aljavas – todos apareceram juntos para oferecer orações ao Senhor.

VERSOS 32-33: Esses associados, encabeçados por Sunanda e outros associados principais e acompanhados de todas as deidades predominantes dos vários planetas, ofereceram orações ao Senhor, que usava um elmo brilhante, braceletes e brincos reluzentes que se pareciam com peixes. No peito do Senhor, estavam a mecha de cabelo chamada Śrīvatsa e a joia transcendental chamada Kaustubha. Ele usava uma roupa amarela, cingida por um cinto, e estava decorado com uma guirlan­da de flores, cercada de abelhas. Manifestando-se dessa maneira, ó rei, a Suprema Personalidade de Deus, cujas atividades são maravi­lhosas, cobriu toda a superfície da Terra com um passo, o céu com Seu corpo, e todas as direções com Seus braços.

VERSO 34: Quando deu o Seu segundo passo, o Senhor cobriu os planetas ce­lestiais. E não restou lugar algum para o terceiro passo, pois o pé do Senhor estendeu-se a alturas cada vez mais elevadas, que ficavam além de Maharloka, Janaloka, Tapoloka e até mesmo Satyaloka.

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