VERSO 15
namo namas te ’khila-kāraṇāya
niṣkāraṇāyādbhuta-kāraṇāya
sarvāgamāmnāya-mahārṇavāya
namo ’pavargāya parāyaṇāya
namaḥ — ofereço minhas respeitosas reverências; namaḥ — volto a oferecer minhas respeitosas reverências; te — a Vós; akhila-kāraṇāya — à suprema causa de tudo; niṣkāraṇāya — a Vós, que não tendes causa; adbhuta-kāraṇāya — a maravilhosa causa de tudo; sarva — todo; āgama-āmnāya — à fonte do sistema paramparā de todo o conhecimento védico; mahā-arṇavāya — o grande oceano de conhecimento, ou o grande oceano onde todos os rios de conhecimento se deságuam; namaḥ — ofereço minhas respeitosas reverências; apavargāya — a Vós, que podeis conceder a liberação ou liberdade; para-ayaṇāya — o refúgio de todos os transcendentalistas.
Meu Senhor, sois a causa de todas as causas, mas Vós não tendes causa. Portanto, sois a maravilhosa causa de tudo. Ofereço minhas respeitosas reverências a Vós, que sois o refúgio do conhecimento védico contido nos śāstras, tais como os Pañcarātras e o Vedānta-sūtra, que são Vossas representações, e que sois a fonte do sistema paramparā. Porque sois Vós quem pode outorgar a liberação, sois o único refúgio de todos os transcendentalistas. Ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.
SIGNIFICADO—Nesta passagem, descreve-se a Suprema Personalidade de Deus como a causa maravilhosa. Ele é maravilhoso no sentido de que, embora possa haver ilimitadas emanações da Suprema Personalidade de Deus (janmādy asya yataḥ), Ele sempre permanece completo (pūrṇasya pūrṇam ādāya pūrṇam evāvaśiṣyate). Em nossa experiência no mundo material, se temos um saldo bancário de um milhão de dólares, à medida que retiramos o dinheiro do banco, o saldo aos poucos diminui até se tornar nulo. Entretanto, o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, é tão completo que, embora inumeráveis Personalidades de Deus expandam-Se a partir dEle, Ele permanece a mesma Suprema Personalidade de Deus. Pūrṇasya pūrṇam ādāya pūrṇam evāvaśiṣyate. Portanto, Ele é a causa maravilhosa. Govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi.
īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ
sac-cid-ānanda-vigrahaḥ
anādir ādir govindaḥ
sarva-kāraṇa-kāraṇam
“Kṛṣṇa, que é conhecido como Govinda, é o controlador supremo. Ele tem um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo e não tem origem extrínseca, pois Ele é a causa primordial de todas as causas.” (Brahma-saṁhitā 5.1)
Mesmo neste mundo material, podemos entender que o Sol tem existido por milhões de anos, produzindo calor e luz desde a sua criação; mesmo assim, ele ainda conserva esse poder e nunca muda. O que se pode dizer, então, da causa suprema, paraṁ brahma, Kṛṣṇa? Tudo emana perpetuamente dEle; não obstante, Ele mantém Sua forma original (sac-cid-ānanda-vigrahaḥ). Na Bhagavad-gītā (10.8), o próprio Kṛṣṇa diz que mattaḥ sarvaṁ pravartate: “Tudo emana de Mim.” Tudo emana eternamente de Kṛṣṇa, mas Ele é o mesmo Kṛṣṇa e não sofre nenhuma mudança. Portanto, Ele é o refúgio de todos os transcendentalistas ansiosos por se libertarem do cativeiro material.
Todos devem refugiar-se em Kṛṣṇa. Portanto, aconselha-se:
akāmaḥ sarva-kāmo vā
mokṣa-kāma udāra-dhīḥ
tīvreṇa bhakti-yogena
yajeta puruṣaṁ param
“A pessoa de inteligência mais desenvolvida, esteja ela repleta de todos os desejos materiais, não tenha nenhum desejo material ou deseje a liberação, deve, por todos os meios, adorar o todo supremo, a Personalidade de Deus.” (Śrīmad-Bhāgavatam 2.3.10) Paraṁ brahma, o Senhor Supremo, paraṁ dhāma, o repouso supremo, são Kṛṣṇa. Portanto, todo aquele que deseje algo – seja ele um karmī, um jñānī ou um yogī – deve esforçar-se por conhecer a Suprema Personalidade de Deus muito seriamente, e todos os seus desejos serão satisfeitos. O Senhor diz que ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: “Conforme as entidades vivas se rendem a Mim, Eu as recompenso de acordo.” Mesmo o karmī que quer tudo para seu gozo pode obter isso de Kṛṣṇa. Para Kṛṣṇa, não é nada difícil fornecer o que desejamos. Na verdade, porém, todos devem adorar Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, com o propósito de obter a liberação.
Vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ. Ao estudar a literatura védica, a pessoa deve entender Kṛṣṇa. Como se confirma aqui: sarvāgamāmnāya-mahārṇavāya. Ele é o oceano, e todo o conhecimento védico flui em direção a Ele. Portanto, os transcendentalistas inteligentes se refugiam na Suprema Personalidade de Deus (sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja). Essa é a meta última.