VERSO 5
te tu brāhmaṇa-devasya
vātsalyaṁ vīkṣya saṁstutam
prītāḥ klinna-dhiyas tasmai
pratyarpyedaṁ babhāṣire
te — os sacerdotes hotā, brahmā e outros; tu — mas; brāhmaṇa-devasya — do Senhor Rāmacandra, que tanto amava os brāhmaṇas; vātsalyam — a afeição paterna; vīkṣya — após verem; saṁstutam — adorados com orações; prītāḥ — estando muito satisfeitos; klinnadhiyaḥ — com os corações derretidos; tasmai — a Ele (Senhor Rāmacandra); pratyarpya — devolvendo; idam — isto (toda a terra que lhes fora dada); babhāṣire — falaram.
Todos os brāhmaṇas que se ocuparam nas diversas atividades do sacrifício ficaram muito satisfeitos com o Senhor Rāmacandra, que era muito afeiçoado e favorável aos brāhmaṇas. Assim, com o coração derretido, eles devolveram toda a propriedade recebida dEle e falaram as seguintes palavras.
SIGNIFICADO—No capítulo anterior, mencionou-se que os prajās, os cidadãos, seguiam estritamente o sistema de varṇāśrama-dharma. Os brāhmaṇas agiam exatamente como brāhmaṇas, e os kṣatriyas, exatamente como kṣatriyas, e assim por diante. Portanto, quando o Senhor Rāmacandra deu tudo em caridade aos brāhmaṇas, estes, sendo qualificados, sabiamente ponderaram que brāhmaṇas não devem ter propriedade para obter lucro através dela. As qualificações dos brāhmaṇas são descritas na Bhagavad-gītā (18.42):
śamo damas tapaḥ śaucaṁ
kṣāntir ārjavam eva ca
jñānaṁ vijñānam āstikyaṁ
brahma-karma svabhāvajam
“Tranquilidade, autocontrole, austeridade, pureza, tolerância, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade – são estas as qualidades naturais com as quais os brāhmaṇas agem.” No caráter bramânico, não há escopo para posse de terras e para o governo dos cidadãos; esses deveres são do kṣatriya. Portanto, embora não recusassem o presente do Senhor Rāmacandra, os brāhmaṇas devolveram-no ao rei depois de o aceitarem. Os brāhmaṇas ficaram tão satisfeitos com a afeição que o Senhor Rāmacandra sentia por eles que seus corações derreteram. Eles perceberam que o Senhor Rāmacandra, além do fato de ser a Suprema Personalidade de Deus, era plenamente qualificado como kṣatriya e tinha um caráter exemplar. Uma das qualificações do kṣatriya é fazer caridade. Um kṣatriya, ou governante, cobra impostos dos cidadãos não para o gozo dos seus próprios sentidos, mas para fazer caridade na ocasião oportuna. Dānam īśvara-bhāvaḥ. Por um lado, os kṣatriyas têm a propensão a governar, e, por outro lado, fazem caridade liberalmente. Ao fazer caridade, Mahārāja Yudhiṣṭhira encarregou Karṇa de distribuí-la. Karṇa era muito famoso como Dātā Karṇa. A palavra dātā aplica-se a alguém que faz caridade muito liberalmente. Os reis sempre mantinham estocada uma grande quantidade de grãos alimentícios, e sempre que havia alguma escassez de grãos, eles distribuíam grãos em caridade. É dever do kṣatriya fazer caridade, e é dever do brāhmaṇa aceitar caridade, mas apenas o necessário para a própria manutenção. Portanto, ao receberem tanta terra do Senhor Rāmacandra, os brāhmaṇas restituíram-na a Ele e não ficaram cobiçosos.