VERSOS 18-20
sa vai manaḥ kṛṣṇa-padāravindayor
vacāṁsi vaikuṇṭha-guṇānuvarṇane
karau harer mandira-mārjanādiṣu
śrutiṁ cakārācyuta-sat-kathodaye
mukunda-liṅgālaya-darśane dṛśau
tad-bhṛtya-gātra-sparśe ’ṅga-saṅgamam
ghrāṇaṁ ca tat-pāda-saroja-saurabhe
śrīmat-tulasyā rasanāṁ tad-arpite
pādau hareḥ kṣetra-padānusarpaṇe
śiro hṛṣīkeśa-padābhivandane
kāmaṁ ca dāsye na tu kāma-kāmyayā
yathottamaśloka-janāśrayā ratiḥ
saḥ — ele (Mahārāja Ambarīṣa); vai — na verdade; manaḥ — sua mente; kṛṣṇa-pada-aravindayoḥ — (fixa) nos dois pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa; vacāṁsi — suas palavras; vaikuṇṭha-guṇa-anuvarṇane — descrevendo as glórias de Kṛṣṇa; karau — suas duas mãos; hareḥ mandira-mārjana-ādiṣu — em atividades tais como limpar o templo de Hari, a Suprema Personalidade de Deus; śrutim — seu ouvido; cakāra — ocupava; acyuta — de Kṛṣṇa ou sobre Kṛṣṇa, que jamais cai; sat-kathā-udaye — em ouvir as narrações transcendentais; mukunda-liṅga-ālaya-darśane — em ver a Deidade, templos e dhāmas sagrados de Mukunda; dṛśau — seus dois olhos; tat-bhṛtya — dos servos de Kṛṣṇa; gātra-sparśe — em tocar os corpos; aṅga-saṅgamam — contato com seu corpo; ghrāṇam ca — e seu sentido olfativo; tat-pāda — de Seus pés de lótus; saroja — da flor de lótus; saurabhe — em (cheirar) a fragrância; śrīmat-tulasyāḥ — das folhas de tulasī; rasanām — sua língua; tat-arpite — na prasāda oferecida ao Senhor; pādau — suas duas pernas; hareḥ — da Personalidade de Deus; kṣetra — lugares sagrados, tais como o templo ou Vṛndāvana e Dvārakā; pada-anusarpaṇe — caminhando rumo àqueles lugares; śiraḥ — a cabeça; hṛṣīkeśa — de Kṛṣṇa, o senhor dos sentidos; pada-abhivandane — em oferecer reverências aos pés de lótus; kāmam ca — e seus desejos; dāsye — em ocupar-se como servo; na — não; tu — na verdade; kāma-kāmyayā — com desejos de obter gozo dos sentidos; yathā — como; uttamaśloka jana-āśrayā — alguém que se refugia em um devoto tal como Prahlāda; ratiḥ — apego.
Mahārāja Ambarīṣa sempre ocupava sua mente em meditar nos pés de lótus de Kṛṣṇa, suas palavras em descrever as glórias do Senhor, suas mãos em limpar o templo do Senhor, e seus ouvidos em ouvir as palavras faladas por Kṛṣṇa ou sobre Kṛṣṇa. Ocupava seus olhos em ver a Deidade de Kṛṣṇa, o templo de Kṛṣṇa e as residências de Kṛṣṇa, tais como Mathura e Vṛndāvana. Ocupava seu sentido tátil em tocar os corpos dos devotos do Senhor, seu sentido olfativo em cheirar a fragrância da tulasī oferecida ao Senhor, e sua língua em saborear a prasāda do Senhor. Ele ocupava suas pernas em caminhar aos lugares sagrados e templos do Senhor, sua cabeça em prostrar-se diante do Senhor, e todos os seus desejos em servir ao Senhor, vinte e quatro horas por dia. Na verdade, Mahārāja Ambarīṣa nunca desejava nada para o gozo de seus sentidos, senão que ocupava todos os seus sentidos em serviço devocional ou em várias tarefas relacionadas com o Senhor. É através desse processo que alguém pode aumentar seu apego ao Senhor e se livrar inteiramente de todos os desejos materiais.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (7.1), o Senhor recomenda: mayy āsakta-manāḥ pārtha yogaṁ yuñjan mad-āśrayaḥ. Isso denota que todos devem executar serviço devocional sob a orientação de um devoto ou sob a orientação imediata da Suprema Personalidade de Deus. Não é possível, entretanto, alguém se treinar sem a orientação do mestre espiritual. Portanto, de acordo com as instruções de Śrīla Rūpa Gosvāmī, o primeiro passo de um devoto é aceitar um mestre espiritual genuíno que possa treiná-lo a ocupar seus vários sentidos em prestar transcendental serviço ao Senhor. O Senhor também diz na Bhagavad-gītā (7.1): asaṁśayaṁ samagraṁ māṁ yathā jñāsyasi tac chṛṇu. Em outras palavras, se alguém quer entender perfeitamente a Suprema Personalidade de Deus, deve aceitar as prescrições dadas por Kṛṣṇa, e seguir os passos de Mahārāja Ambarīṣa. Afirma-se que hṛṣīkeṇa hṛṣīkeśa-sevanaṁ bhaktir ucyate: bhakti significa ocupar os sentidos a serviço do senhor dos sentidos, Kṛṣṇa, que Se chama Hṛṣīkeśa ou Acyuta. Essas palavras são usadas nestes versos. Acyuta-sat-kathodaye, hṛṣīkeśa-padābhivandane. As palavras Acyuta e Hṛṣīkeśa também são usadas na Bhagavad-gītā. A Bhagavad-gītā é kṛṣṇa-kathā falado diretamente por Kṛṣṇa, e o Śrīmad-Bhāgavatam também é kṛṣṇa-kathā porque tudo o que se descreve no Bhāgavatam está relacionado com Kṛṣṇa.