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Capítulo Trinta e Dois

Conclusão

No dia seguinte, Śrīmān Rāmānanda Rāya foi novamente ver o Senhor à noite, e houve mais discursos sobre assuntos transcendentais.

“Qual é o mais alto padrão de educação?” O Senhor Caitanya iniciou sua indagação, e Rāmānanda Rāya respondeu imediatamente que o mais alto padrão de educação é o conhecimento da ciência de Kṛṣṇa. O padrão da educação material é a gratificação dos sentidos, mas o mais alto padrão de educação espiritual é o conhecimento da ciência de Kṛṣṇa. O Śrīmad-Bhāgavatam (4.29.49) afirma: “Aquela obra que agrada à Suprema Personalidade de Deus é a mais elevada, e aquela ciência ou conhecimento que coloca alguém em plena consciência de Kṛṣṇa é o mais elevado conhecimento.” Da mesma forma, Prahlāda Mahārāja, enquanto instruía seus amigos de infância na escola, afirmou que ouvir sobre o Senhor, cantar sobre Ele, lembrar-se dEle, adorá-lO, rezar para Ele, servi-lO, fazer amizade com Ele e oferecer tudo a Ele constituem o mais elevado conhecimento espiritual.

Então, o Senhor Caitanya perguntou a Rāmānanda Rāya: “Qual é a maior reputação que alguém pode ter?” Rāmānanda respondeu imediatamente que quem é famoso por ser consciente de Kṛṣṇa desfruta de fama eterna. No mundo material, todos estão empenhados em três coisas: querer que seu nome seja perpetuado, querer que sua fama seja difundida por todo o mundo e querer algum lucro de suas atividades materiais. Porém, ninguém sabe que todo o nome, fama e lucro materiais pertencem ao corpo material temporário e tão logo o corpo acabe, todo o nome, fama e lucro também acabam. Devido apenas à ignorância, todos se esforçam para obter nome, fama e lucro relacionados a este corpo. É deplorável ficar famoso com base no corpo ou ficar conhecido como um homem de consciência espiritual desenvolvida sem conhecer o espírito supremo, Viṣṇu. Só pode adquirir verdadeira fama quem alcança a consciência de Kṛṣṇa.

Segundo o Śrīmad-Bhāgavatam, existem doze autoridades, e todas elas são famosas por serem eminentes devotos do Senhor. Estas autoridades são Brahmā, Nārada, o Senhor Śiva, Manu, Kapila, Prahlāda, Janaka, Bhīṣma, Śukadeva Gosvāmī, Bali, Yamarāja e os Kumāras. Estas personalidades ainda são lembradas, pois todos foram resolutos devotos do Senhor. No Garuḍa Purāṇa, declara-se que, na era de Kali, é mais raro ser um devoto famoso do Senhor Supremo do que ser um semideus como Brahmā ou o Senhor Śiva. A respeito das conversas entre Nārada e Puṇḍarīka, Yudhiṣṭhira disse: “Ele é famosíssimo e pode salvar todo aquele que, após muitos e muitos nascimentos, chega a compreender que é um servo de Vāsudeva”. Da mesma forma, na Bhagavad-gītā (7.19), Kṛṣṇa disse a Arjuna:

bahūnāṁ janmanām ante
  jñānavān māṁ prapadyate
vāsudevaḥ sarvam iti
  sa mahātmā su-durlabhaḥ

“Após muitos nascimentos e mortes, aquele que realmente tem conhecimento rende-se a Mim, sabendo que sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. Semelhante grande alma é muito rara.” No Ādi Purāṇa, afirma-se que liberação e vida transcendental seguem todos os devotos de Deus. No Bṛhan-nāradīya Purāṇa, afirma-se que mesmo personalidades como Brahmā e outros semideuses não conhecem o valor de um devoto da Suprema Personalidade de Deus. O Garuḍa Purāṇa salienta que dentre muitos milhares de brāhmaṇas, talvez um seja perito em executar sacrifícios, e dentre milhares de tais brāhmaṇas peritos, talvez um seja perito no conhecimento do Vedānta-sūtra, e dentre muitos e muitos milhares de vedantistas, talvez haja um que seja famoso como devoto do Senhor Viṣṇu. Existem muitos devotos de Viṣṇu, e dentre eles, aquele que é inabalável em sua devoção, está qualificado a entrar no reino de Deus. No Śrīmad-Bhāgavatam (3.13.4), também se afirma que existem muitos estudantes dos Vedas, mas aquele que está sempre pensando na Suprema Personalidade de Deus em seu coração, é o melhor estudante de todos. Nas orações Nārāyaṇa-vyūha-stava, afirma-se que, caso o ilustre Brahmā não for devoto do Senhor, será muito insignificante, ao passo que se um micróbio for devoto do Senhor, será o mais famoso.

O Senhor Caitanya, a seguir, perguntou a Rāmānanda Rāya: “Qual é a coisa mais valiosa do mundo?” Rāmānanda Rāya respondeu que quem tem amor por Rādhā-Kṛṣṇa possui a joia mais valiosa e a riqueza suprema. Quem é viciado no gozo dos sentidos materiais ou em riqueza material, não é considerado deveras rico. Ao chegar à plataforma espiritual da consciência de Kṛṣṇa, a pessoa pode entender que não existe riqueza mais valiosa que o amor a Rādhā-Kṛṣṇa. Relata-se no Śrīmad-Bhāgavatam que Mahārāja Dhruva buscou o Senhor Supremo, pois queria obter alguma terra, porém, quando enfim viu Kṛṣṇa, ele disse: “Estou tão satisfeito que não desejo nada”. Na Bhagavad-gītā, também se afirma que se alguém se refugia na Suprema Personalidade de Deus ou se eleva ao supremo estado de amor a Deus, não aspira a mais nada. Embora possa obter do Senhor tudo o que deseje, tal pessoa não pede nada a Ele.

Quando o Senhor Caitanya perguntou a Rāmānanda Rāya qual é o sofrimento mais doloroso, este respondeu que o fato de se separar de um devoto puro constitui o sofrimento mais doloroso. Em outras palavras, quando não há um devoto do Senhor, existe muito sofrimento na sociedade, e a companhia de outras pessoas se torna dolorosa. No Śrīmad-Bhāgavatam (3.30.7), afirma-se que se alguém, que é privado da companhia de um devoto puro, tenta ser feliz mediante sociedade, amizade e amor sem consciência de Kṛṣṇa, deve-se considerar que ele está na condição mais miserável. No Quinto Canto do Bṛhad-bhāgavatāmṛta (5.44), afirma-se que a companhia de um devoto puro é mais desejável que a própria vida, e que, separado dele, ninguém pode ter um segundo sequer de felicidade.

O Senhor Caitanya, então, perguntou a Rāmānanda Rāya: “Dentre muitas ditas almas liberadas, qual de fato é liberada?” Rāmānanda respondeu que quem está deveras saturado de amor devocional por Rādhā e Kṛṣṇa deve ser considerado a melhor de todas as pessoas liberadas. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (6.14.4) que um devoto de Nārāyaṇa é tão raro que só pode ser encontrado entre milhões e milhões de pessoas.

“Dentre todas as canções, qual consideras a melhor?”, perguntou Caitanya Mahāprabhu. Rāmānanda respondeu que qualquer canção que descreva os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa é a melhor canção. Na vida condicionada, a alma é cativada pelo sexo. Todas as ficções – dramas e romances – e canções materiais descrevem o amor entre homem e mulher. Porque as pessoas são tão atraídas a este tipo de literatura, Kṛṣṇa apareceu neste mundo material e exibiu Seus transcendentais casos amorosos com as gopīs. Existem muitos textos que tratam das relações entre as gopīs e Kṛṣṇa, e qualquer um que se refugie nesses textos ou nas histórias sobre Rādhā e Kṛṣṇa, pode desfrutar verdadeira felicidade. No Śrīmad-Bhāgavatam (10.33.36), declara-se que o Senhor exibiu Seus passatempos em Vṛndāvana a fim de revelar Sua verdadeira vida. Qualquer pessoa inteligente que tente compreender os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa é a mais afortunada. As canções que tratam destes passatempos são as melhores canções do mundo.

O Senhor Caitanya perguntou a seguir: “Qual é a coisa mais lucrativa no mundo, a essência de todos os eventos auspiciosos?” Rāmānanda Rāya respondeu que não existe nada mais lucrativo do que a companhia de devotos puros.

“Em que recomendas que uma pessoa pense?”, perguntou o Senhor Caitanya. Rāmānanda respondeu que ela deve pensar sempre nos passatempos de Kṛṣṇa. Isto é consciência de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa executa múltiplas atividades, que são descritas em muitas escrituras védicas. Deve-se pensar sempre nestes passatempos; esta é a melhor meditação e o êxtase máximo. No Śrīmad-Bhāgavatam (2.2.36), Śukadeva Gosvāmī confirma que devemos sempre pensar na Suprema Personalidade de Deus – não apenas pensar nEle, mas também ouvir e cantar Seu nome, fama e glórias.

“Qual é a melhor espécie de meditação?”, perguntou o Senhor Caitanya.

“Aquele que sempre medita nos pés de lótus de Rādhā e Kṛṣṇa é o melhor meditador”, respondeu Rāmānanda Rāya. Isto também é confirmado no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.14): “Apenas a Suprema Personalidade de Deus é o amo de todos os devotos, cujo nome devemos sempre cantar e em quem devemos sempre meditar e adorar”.

“Onde se deve viver, abandonando todos os outros prazeres?”, perguntou, então, o Senhor Caitanya. Rāmānanda respondeu que se deve abandonar todos os outros prazeres e viver em Vṛndāvana, onde Kṛṣṇa executou muitos passatempos. No Śrīmad-Bhāgavatam (10.47.61), Uddhava disse que é melhor viver em Vṛndāvana, mesmo que se viva como uma planta ou uma trepadeira. Foi em Vṛndāvana que o Senhor Supremo viveu e foi lá que as gopīs adoraram o Senhor Supremo, a meta última de todo o conhecimento védico.

“Qual é o melhor assunto para se ouvir?”, perguntou Caitanya Mahāprabhu.

“Os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa”, respondeu Rāmānanda Rāya. Na verdade, quando os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa são ouvidos da fonte correta, a pessoa de imediato alcança a liberação. Infelizmente, acontece que, às vezes, as pessoas não ouvem estes passatempos de alguém que é uma alma realizada. Assim, elas são mal orientadas. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (10.33.40) que quem ouve os passatempos de Kṛṣṇa com as gopīs alcançará a plataforma mais elevada de serviço devocional e ficará livre da luxúria material, que, neste mundo material, cobre o coração de todos. Em outras palavras, ouvindo os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa, podemos nos livrar de toda a luxúria material. Se alguém não se livra da luxúria material desta maneira, então não se deve entregar ao hábito de ouvir os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa. A menos que ouça da fonte correta, ele interpretará erroneamente os passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa, considerando-os casos mundanos entre um homem e uma mulher. Deste modo, poderá ser mal orientado.

“E qual é a Deidade mais adorável?”, perguntou Caitanya Mahāprabhu. Rāmānanda Rāya de pronto respondeu que o casal transcendental, Śrī Rādhā e Kṛṣṇa, é o supremo objeto de adoração. Existem muitos objetos adoráveis – os impersonalistas adoram o brahmajyoti, por exemplo – porém, quem adora outros objetos que não Rādhā e Kṛṣṇa, fica privado dos sintomas de vida e torna-se tal qual uma árvore ou qualquer outra entidade imóvel. Aqueles que adoram o suposto vazio também alcançam este resultado. Aqueles que anseiam por desfrute material (bhukti) adoram os semideuses e alcançam os seus planetas e, assim, desfrutam felicidade material. O Senhor Caitanya, em seguida, perguntou sobre as pessoas ansiosas por felicidade material e liberação do enredamento material. “Para onde elas vão enfim?”, perguntou Ele. Rāmānanda Rāya respondeu que por fim algumas tornam-se árvores e outras alcançam os planetas celestiais onde desfrutam felicidade material.

Rāmānanda Rāya continuou dizendo que quem não têm nenhum gosto pela consciência de Kṛṣṇa ou pela vida espiritual, é como um corvo que sente prazer em comer a fruta amarga chamada nimba. Quem come as sementes de manga, é o poético cuco. Os desafortunados transcendentalistas apenas especulam baseados em filosofia árida, ao passo que os transcendentalistas amantes de Rādhā e Kṛṣṇa desfrutam assim como o cuco. Deste modo, os devotos de Rādhā e Kṛṣṇa são os mais afortunados. A fruta amarga nimba não é, em absoluto, comestível; ela é apenas repleta de especulação árida apropriada só aos filósofos que são como corvos. Sementes de manga, todavia, são muito saborosas, e quem se ocupa no serviço devocional a Rādhā e Kṛṣṇa, as desfruta.

Assim, Rāmānanda Rāya e Caitanya Mahāprabhu conversaram a noite inteira. Ora dançavam, ora cantavam e ora choravam. Ao amanhecer, após terem passado a noite desta maneira, Rāmānanda Rāya retornou a sua residência. Ao anoitecer do dia seguinte, ele retornou para ver Caitanya Mahāprabhu. Após conversarem sobre Kṛṣṇa por algum tempo, Rāmānanda Rāya prostrou-se aos pés do Senhor e disse: “Meu querido Senhor, és tão bondoso comigo que me falaste sobre a ciência de Kṛṣṇa e Rādhārāṇī e de Seus casos amorosos: a dança da rāsa e Seus passatempos. Nunca pensei que poderia falar sobre estes assuntos. Ensinaste-me tal como outrora ensinaste os Vedas a Brahmā”.

Este é o sistema para receber instruções da Superalma. Externamente Ele não pode ser visto, mas internamente, Ele fala ao devoto. Confirma isto a Bhagavad-gītā – o Senhor comunica-Se internamente com quem está deveras ocupado em Seu serviço, e o Senhor age de tal modo que ele consegue, afinal, alcançar a meta suprema da vida. Quando Brahmā nasceu, não havia ninguém para instruí-lo; por isso, o próprio Senhor Supremo o instruiu sobre o conhecimento védico através de seu coração. No Śrīmad-Bhāgavatam (2.4.22), Śukadeva Gosvāmī confirma que o Senhor Supremo primeiro revelou o mantra gāyatrī no coração de Brahmā. Śukadeva Gosvāmī orou ao Senhor que o ajudasse a falar o Śrīmad-Bhāgavatam perante Mahārāja Parīkṣit.

O primeiro verso do Primeiro Canto do Śrīmad-Bhāgavatam descreve a Suprema Verdade Absoluta como aquele que instruiu Brahmā através de seu coração. Vyāsadeva, o autor do Śrīmad-Bhāgavatam afirma: “Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, que é a causa da manifestação cósmica, e também de sua manutenção e destruição”. Se tentarmos compreender em minúcias a verdade suprema, entenderemos que Ele conhece tudo direta e indiretamente. Ele é a única Personalidade Suprema, e só Ele possui completa independência. Ele, como a Superalma interna, sem o auxílio de ninguém mais, instruiu Brahmā. Mesmo os mais ilustres acadêmicos ficam desorientados ao tentar compreender a verdade suprema, pois toda esta manifestação cósmica perceptível está situada dentro dEle. Embora seja um subproduto de fogo, água, ar e terra, esta manifestação material parece verdadeira. Porém, é apenas nEle que repousam a manifestação material e espiritual, bem como todas as entidades vivas. Portanto, Ele é a verdade suprema.

Rāmānanda Rāya continuou falando ao Senhor Caitanya: “Primeiro Te vi como um sannyāsī, e depois Te vi como um vaqueirinho. Vejo diante de Ti uma figura dourada, e, devido à presença dela, Tua tez tornou-se dourada. Ainda assim, vejo que Tua tez é escura, como a de um vaqueirinho. Por favor, explica-me por que estou Te vendo desta maneira. Por favor, dize-me sem reservas”.

“É da natureza de devotos muito elevados ver Kṛṣṇa em tudo”, respondeu o Senhor Caitanya. “Sempre que veem algo, eles não veem a forma deste objeto específico. Veem Kṛṣṇa.” O Śrīmad-Bhāgavatam (11.2.45) confirma isto:

sarva-bhūteṣu yaḥ paśyed
  bhagavad-bhāvam ātmanaḥ
bhūtāni bhagavaty ātmany
  eṣa bhāgavatottamaḥ

“Quem é muitíssimo elevado no serviço devocional, vê a Superalma, Kṛṣṇa, que é a Alma de todas as almas individuais.” Um trecho semelhante encontra-se no Décimo Canto (10.35.9), onde se afirma que todas as trepadeiras, plantas e árvores, carregadas com flores e frutas, curvaram-se em êxtase de amor por Kṛṣṇa, pois Kṛṣṇa é a Alma de suas almas. Depois que Kṛṣṇa as deixou, estas árvores e plantas ficaram espinhosas.

“Tens a concepção máxima dos passatempos de Rādhā e Kṛṣṇa”, continuou o Senhor Caitanya. “Por isso estás vendo Rādhā-Kṛṣṇa em toda parte.”

Rāmānanda Rāya respondeu: “Peço-Te que não Te escondas. Compreendo que aceitaste a tez e o modo de pensar de Śrīmatī Rādhārāṇī e que estás tentando compreender-Te a Ti mesmo do ponto de vista de Rādhārāṇī. Na verdade, desceste para aceitar este ponto de vista. Embora encarnes com o objetivo de compreender Vosso próprio Eu, ao mesmo tempo, estás distribuindo ao mundo amor por Kṛṣṇa. Agora vieste pessoalmente aqui me salvar. Por favor, não tentes me enganar, suplico-Te. Não fica bem para Ti”.

Estando muito satisfeito, o Senhor Caitanya sorriu e mostrou a Rāmānanda Rāya Sua forma verdadeira como uma combinação de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa. Deste modo, o Senhor Caitanya era o próprio Śrī Kṛṣṇa com as características externas de Śrīmatī Rādhārāṇī. Ele revelou a Rāmānanda Rāya Sua habilidade transcendental de Se tornar dois e então novamente um. Aqueles que são bastante afortunados para compreender o Senhor Caitanya, bem como os passatempos executados por Rādhā e Kṛṣṇa em Vṛndāvana, podem, mediante a misericórdia de Śrī Rūpa Gosvāmī, conhecer a verdadeira identidade de Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu.

Após ver esta singular característica do Senhor Caitanya, Rāmānanda Rāya desmaiou e caiu no chão. O Senhor Caitanya então o tocou, e ele recobrou os sentidos. Rāmānanda Rāya ficou surpreso ao ver o Senhor Caitanya outra vez em Seus trajes de mendicante. O Senhor Caitanya abraçou-o e acalmou-o, informando-lhe que ele era o único que tinha visto esta forma. “Porque compreendeste o propósito de Minha encarnação, tiveste o privilégio de ver esta característica específica de Minha personalidade”, disse o Senhor. “Meu querido Rāmānanda, não sou uma pessoa diferente, com a tez clara, conhecida como Gaura-puruṣa. Sou o próprio Kṛṣṇa, o filho de Mahārāja Nanda, e, devido ao contato com o corpo de Śrīmatī Rādhārāṇī, agora assumi esta forma. Śrīmatī Rādhārāṇī não toca em ninguém senão Kṛṣṇa; por isso, Ela Me influenciou com Sua tez, mente e palavras. Deste modo, estou tentando compreender o sabor transcendental de Seu relacionamento com Kṛṣṇa.”

O fato é que tanto Kṛṣṇa quanto o Senhor Caitanya são a Personalidade de Deus original. Ninguém deve tentar eliminar o Senhor Caitanya de Śrī Kṛṣṇa. Sob a forma de Śrī Kṛṣṇa, Ele é o supremo desfrutador, e sob a forma do Senhor Caitanya, Ele é o supremo desfrutado. Ninguém possui atração mais sobre-excelente do que Śrī Kṛṣṇa, e, além de Kṛṣṇa, ninguém pode desfrutar a forma suprema da devoção, Śrīmatī Rādhārāṇī. Exceto Śrī Kṛṣṇa, todas as formas Viṣṇu são carentes desta habilidade. O Caitanya-caritāmṛta explica isto ao descrever Govinda. Ali, se diz que Śrīmatī Rādhārāṇī é a única personalidade que pode impregnar Śrī Kṛṣṇa de prazer transcendental. Logo, Śrīmatī Rādhārāṇī é, em Vraja, a principal donzela e amante de Govinda, a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa.

“Por favor, esteja certo que não tenho nada para esconder de ti”, disse o Senhor Caitanya a Rāmānanda. “Mesmo que tente esquivar-Me de ti, és um devoto tão avançado que poderás compreender todos os Meus segredos. Peço-te que, por favor, guardes este segredo e não o reveles a ninguém. Se isso fosse revelado, todos Me considerariam um louco. Os fatos que te revelei não podem ser compreendidos por pessoas materialistas. Ao ouvirem isto, apenas rirão de Mim. Podes compreender tudo isto e guardar para ti. Do ponto de vista materialista, o devoto torna-se louco em seu êxtase de amor por Kṛṣṇa. Nós dois somos exatamente como loucos. Então, por favor, não reveles estes fatos a homens ordinários. Se o fizeres, eles decerto zombarão de Mim.”

O Senhor Caitanya passou então dez noites com Rāmānanda Rāya, desfrutando sua companhia e discutindo os passatempos de Kṛṣṇa e Rādhā. Estas discussões estavam no nível máximo de amor por Kṛṣṇa. Algumas destas conversas foram descritas, mas a maioria delas não pôde ser descrita. No Caitanya-caritāmṛta, isso foi comparado a um exame metalúrgico. Os metais comparados são apresentados na seguinte sequência: primeiro cobre, então bronze, depois prata, ouro, e por último, pedra filosofal. As discussões preliminares entre o Senhor Caitanya e Rāmānanda Rāya comparam-se ao cobre, e as discussões mais elevadas comparam-se ao ouro. Todavia, a quintessência de suas discussões compara-se à pedra filosofal. Se alguém está ansioso de alcançar a compreensão máxima, deve começar perguntando sobre as diferenças entre cobre e bronze, então prata e ouro e assim por diante.

No dia seguinte, o Senhor Caitanya pediu a Rāmānanda Rāya permissão para voltar a Jagannātha Purī. “Podemos permanecer juntos o resto de nossas vidas em Jagannātha Purī e passar nosso tempo conversando sobre Kṛṣṇa.” O Senhor Caitanya então abraçou Rāmānanda Rāya e pediu-lhe que voltasse a sua residência. De manhã, o Senhor iniciou Sua viagem e encontrou Rāmānanda Rāya no templo de Hanumān, às margens do rio. Após visitar o templo de Hanumān, Ele partiu. Enquanto Caitanya Mahāprabhu permaneceu em Karpūra, todas as classes de pessoas se encontraram com Ele, e mediante Sua graça, todos tornaram-se devotos do Senhor Supremo.

Após a partida do Senhor Caitanya, Rāmānanda Rāya, abatido devido à separação do Senhor, logo decidiu retirar-se do trabalho e voltar a encontrar o Senhor em Jagannātha Purī.

As discussões entre Rāmānanda Rāya e o Senhor Caitanya tratavam da mais concentrada forma de serviço devocional. Ouvindo estas discussões, pode-se compreender os passatempos de Śrī Rādhā e Kṛṣṇa, bem como o papel confidencial desempenhado pelo Senhor Caitanya. Se alguém é bastante afortunado para ter fé nestas discussões, poderá partilhar da companhia transcendental de Rādhā e Kṛṣṇa.

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