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Capítulo 15

Meditação nas Formas Transcendentais do Senhor

Verso 34

naikātmatāṁ me spṛhayanti kecin
mat-pāda-sevābhiratā mad-īhāḥ
ye ’nyonyato bhāgavatāḥ prasajya
sabhājayante mama pauruṣāṇi

O devoto puro, que está apegado às atividades de serviço devocional e que sempre se ocupa a serviço de Meus pés de lótus, jamais deseja tornar-se uno coMigo. Tal devoto, que está inabalavelmente ocupado, sempre glorifica Meus passatempos e Minhas atividades.

SIGNIFICADO—Há cinco classes de liberação descritas nas escrituras. Uma delas é tornar-se uno com a Suprema Personalidade de Deus, ou seja, abandonar a própria individualidade e fundir-se no Espírito Supremo. Isso se chama ekātmatām. O devoto nunca aceita essa classe de liberação. As outras quatro liberações são: ser promovido ao mesmo planeta que Deus (Vaikuṇṭha), associar-se pessoalmente com o Senhor Supremo, obter a mesma opulência que o Senhor e conseguir as mesmas feições corpóreas que o Senhor Supremo. O devoto puro, como será explicado por Kapila Muni, não aspira a nenhuma das cinco liberações. Ele rejeita especialmente, tendo-a como infernal, a ideia de tornar-se uno com a Suprema Personalidade de Deus. Śrī Prabodhānanda Sarasvatī, grande devoto do Senhor Caitanya, disse que kaivalyaṁ narakāyate: “A felicidade de tornar-se uno com o Senhor Supremo, à qual aspiram os māyāvādīs, é considerada infernal.” Essa unidade não é para devotos puros.

Muitos assim chamados devotos pensam que, no estado condicionado, podemos adorar a Personalidade de Deus, mas que, em última análise, não há personalidade. Eles dizem que, já que a Verdade Absoluta é impessoal, pode-se imaginar uma forma pessoal da Verdade Absoluta impessoal por algum tempo, porém, logo que se alcança a liberação, a adoração é descontinuada. Essa é a teoria apresentada pela filosofia māyāvāda. Na realidade, os impersonalistas não se fundem na existência da Pessoa Suprema, mas sim em Seu brilho corpóreo pessoal, chamado brahmajyoti. Embora esse brahmajyoti não seja diferente de Seu corpo pessoal, essa espécie de unidade (fundir-se no brilho corpóreo da Personalidade de Deus) não é aceita pelo devoto puro, porque os devotos experimentam um prazer maior do que o dito prazer de fundir-se em Sua existência. O maior prazer é servir ao Senhor. Os devotos estão sempre pensando em como servi-lO; estão sempre projetando caminhos e meios para servir ao Senhor Supremo, mesmo em meio aos maiores obstáculos da existência material.

Os māyāvādīs aceitam a descrição dos passatempos do Senhor como histórias, mas, na verdade, não são histórias; são fatos históricos. Os devotos puros aceitam as narrações dos passatempos do Senhor, não como histórias, mas como a Verdade Absoluta. As palavras mama pauruṣāṇi (Minhas atividades gloriosas) são significativas. Os devotos se apegam muito à glorificação das atividades do Senhor, ao passo que os māyāvādīs não podem sequer pensar nessas atividades. Segundo eles, a Verdade Absoluta é impessoal. Sem existência pessoal, como pode haver atividade? Os impersonalistas consideram as atividades mencionadas no Śrīmad-Bhāgavatam, na Bhagavad-gītā e em outros textos védicos como histórias fictícias, daí as interpretarem com muita malícia. Eles não têm ideia da Personalidade de Deus. Desnecessariamente metem o nariz na escritura e interpretam-na de maneira enganadora a fim de desencaminhar o público inocente. As atividades da filosofia māyāvāda são muito perigosas para o público, em razão do que o Senhor Caitanya advertiu Seus discípulos a nunca ouvir nenhum māyāvādī falar sobre qualquer escritura. Eles estragarão todo o processo, e a pessoa que os ouvir não será jamais capaz de chegar ao caminho do serviço devocional para alcançar a perfeição máxima, ou será capaz de fazê-lo somente depois de muitíssimo tempo.

Kapila Muni afirma claramente que as atividades de bhakti, ou atividades de serviço devocional, são transcendentais a mukti. Isso se chama pañcama-puruṣārtha. Geralmente, as pessoas se ocupam em atividades de religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos, e finalmente elas agem com o intuito de se tornarem unas com o Senhor Supremo (mukti). Bhakti, porém, é transcendental a todas essas atividades. O Śrīmad-Bhāgavatam, portanto, começa afirmando que todas as espécies de pretensa religiosidade são completamente reprovadas pelo Bhāgavatam. Atividades ritualísticas visando ao desenvolvimento econômico e ao gozo dos sentidos e, após a frustração no gozo dos sentidos, ao desejo de tornar-se uno com o Senhor Supremotudo isso é inteiramente rejeitado pelo Bhāgavatam. O Bhāgavatam destina-se especialmente aos devotos puros, que sempre se ocupam em consciência de Kṛṣṇa, nas atividades do Senhor, e sempre glorificam essas atividades transcendentais. Os devotos puros adoram as atividades transcendentais do Senhor em Vṛndāvana, Dvārakā e Mathurā, como são narradas no Śrīmad-Bhāgavatam e em outros Purāṇas. Os filósofos māyāvādīs rejeitam-nas por completo, considerando-as mitos, mas, na realidade, são temas grandiosos e adoráveis e, deste modo, só os devotos podem saboreá-las. É essa a diferença entre o māyāvādī e o devoto puro no que se refere à maneira de eles considerarem as escrituras.

Na realidade, as escrituras védicas são kṛṣṇa-kathā, assuntos relacionados com Kṛṣṇa, e kṛṣṇa-kathā não é um assunto para ser debatido em bares. Ele se destina aos devotos. Os não-devotos simplesmente desperdiçam tempo ao lerem a Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam, e, como já mencionamos várias vezes, os pretensos eruditos, políticos e filósofos só apresentam comentários desencaminhadores quando tentam interpretar a Bhagavad-gītā. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura costumava dizer que eles eram como pessoas que tentam lamber a parte externa de uma garrafa de mel. Se alguém não sabe como saborear o mel, ele começa lambendo a garrafa, mas, para que possa realmente provar o mel, ele precisa abrir a garrafa, e a chave para abrir essa garrafa é o devoto. Portanto, afirma-se:

satāṁ prasaṅgān mama vīrya-saṁvido
bhavanti hṛt-karṇa-rasāyanāḥ kathāḥ
taj joṣaṇād āśv apavarga-vartmani
śraddhā ratir bhaktir anukramiṣyati

“Na companhia dos devotos puros, a conversa sobre os passatempos e as atividades da Suprema Personalidade de Deus é muito agradável e satisfatória ao ouvido e ao coração. Aquele que cultiva tal conhecimento avança gradualmente no caminho da liberação e, em seguida, liberta-se, fixando sua atenção. Então, começam a verdadeira devoção e o serviço devocional.” (Śrīmad-Bhāgavatam 3.25.25)

Deus é eterno, e Suas instruções e seguidores também são eternos. Na Bhagavad-gītā (4.1), Kṛṣṇa diz a Arjuna que, milhões de anos antes, Ele falara a Bhagavad-gītā ao deus do Sol. A Bhagavad-gītā foi falada a Arjuna há cinco mil anos, mas, se a lermos hoje, perceberemos que continua relevante e atual. A Bhagavad-gītā e Kṛṣṇa nunca envelhecem. Embora seja a pessoa mais velha, Kṛṣṇa sempre permanece como um jovem adolescente. Ele nunca parece ter mais de vinte anos. As palavras de Kṛṣṇa são tão absolutas quanto Sua forma, qualidades e atividades. Elas são sempre viçosas e interessantes. Se não o fossem, como os devotos poderiam glorificá-las dia após dia com entusiasmo cada vez maior? Quanto mais glorificamos Kṛṣṇa, mais ficamos entusiasmados em glorificá-lO. Esse é o significado de espiritual. No mundo material, se repetimos algo uma, duas, três ou quatro vezes, isso, por fim, torna-se cansativo e desagradável. Este mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, entretanto, pode ser cantado vinte e quatro horas por dia, e, ainda assim, a pessoa se sentirá rejuvenescida e entusiasmada. Não é um som material como os sons que escutamos na rádio. É um som espiritual, que vem do mundo espiritual. Mesmo no mundo material, podemos emitir um som de determinado lugar, o qual se pode ouvir a milhares de quilômetros de distância. Pode-se emitir um som espiritual de muitos trilhões de quilômetros de distância e ele será ouvido, desde que se tenha o aparelho para captá-lo. Esse aparelho é bhagavat-prema. Aqueles que desenvolveram amor pelo Supremo podem ouvir esse som.

Arjuna não era nem um vedantista nem um sannyāsī, tampouco possuía algum avanço especial quanto à compreensão espiritual. Contudo, ele ouviu a Bhagavad-gītā, pois era um bhakta. Eruditos e políticos ateístas não conseguem compreender a vibração transcendental. Só o que eles podem fazer é lamber a garrafa de mel. Tolos e patifes comem e bebem qualquer coisa, pensando que o estão fazendo em nome de religião. Há muitos pretensos svāmīs e yogīs que dizem a seus discípulos que esses podem fazer qualquer coisa e, ainda assim, avançar espiritualmente, mas isso não é possível. É necessário tornar-se um brāhmaṇa puro, controlar a mente e os sentidos e conversar sobre a Suprema Personalidade de Deus entre sādhus. Isso talvez pareça muito difícil, mas qualquer um pode se tornar um sat, uma pessoa santa, em um segundo. Se alguém está ávido por alcançar essa plataforma, basta render-se a Kṛṣṇa agora mesmo.

Ao nos aproximarmos de Kṛṣṇa, devemos dizer: “Meu querido Kṛṣṇa, me esqueci de Ti. Mas agora volto a me render sem reservas a Ti. Se quiseres, podes me matar ou me proteger.” Quando o Senhor Supremo perguntou a Prahlāda Mahārāja que bênção ele desejava, Prahlāda Mahārāja respondeu: “Meu querido Senhor, só porque sofri por Ti, eu deveria pedir alguma bênção? És supremamente poderoso, e tudo o que consegui se deve a Ti. Nasci em uma família de demônios e era propenso ao desfrute material. Vi meu poderoso pai, que era temido até pelos semideuses, ser aniquilado em um segundo. Por que eu deveria pedir alguma coisa? Por favor, me ocupe em servir Teu servo. Isso é tudo o que desejo. Não desejo mais nada.” O devoto, portanto, nunca pede à Suprema Personalidade de Deus nada material. Os devotos contentam-se simplesmente em glorificar o Senhor. Esse é o processo de bhakti-yoga.

Kṛṣṇa faz Seu advento para satisfazer Seus devotos e destruir os demônios. Desde o nascimento de Kṛṣṇa, havia demônios presentes. Kaṁsa aconselhava a seus seguidores: “Logo que Kṛṣṇa nascer, me avisem. Eu O matarei imediatamente.” Ele estava sempre pensando em Kṛṣṇa de maneira desfavorável. De igual modo, encontramos muitos ditos religiosos cujo único propósito é matar Kṛṣṇa. De uma forma ou outra, eles tentam eliminar Kṛṣṇa da Bhagavad-gītā. Eles escrevem a respeito da Bhagavad-gītā, mas nunca se faz menção de Kṛṣṇa em seus comentários. Eles jamais dizem que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus e que Ele deve ser adorado. Isso significa que eles são asuras, demônios, embora possam se apresentar como grandes eruditos. Eles tentam esquivar-se de kṛṣṇa-bhakti, e toda a propaganda deles se destina a esse intento.

Verso 35

paśyanti te me rucirāṇy amba santaḥ
prasanna-vaktrāruṇa-locanāni
rūpāṇi divyāni vara-pradāni
sākaṁ vācaṁ spṛhaṇīyāṁ vadanti

Ó Minha mãe, Meus devotos sempre veem o rosto sorridente de Minha forma, com olhos semelhantes ao Sol que nasce de manhã. Além de conversarem favoravelmente coMigo, eles gostam de ver Minhas diversas formas transcendentais, que são inteiramente benevolentes.

SIGNIFICADO—Os māyāvādīs e ateístas aceitam as formas das Deidades no templo do Senhor como ídolos, mas os devotos não adoram ídolos. Eles adoram diretamente a Personalidade de Deus sob Sua encarnação arcā. Arcā refere-se à forma que podemos adorar em nossa condição atual. Na verdade, em nosso estado atual, não é possível ver Deus em Sua forma espiritual, porque nossos olhos e sentidos materiais não podem conceber uma forma espiritual. Não podemos sequer ver a forma espiritual da alma individual. Quando um homem morre, não podemos ver como a forma espiritual deixa o corpo. Esse é o defeito de nossos sentidos materiais. A fim de podermos vê-lO com nossos sentidos materiais, a Suprema Personalidade de Deus aceita uma forma favorável chamada arcā-vigraha. Esse arcā-vigraha, às vezes chamado de encarnação arcā, não é diferente dEle. Assim como a Suprema Personalidade de Deus aceita diversas encarnações, Ele assume formas feitas de matériabarro, madeira, metal, joias etc.

Há muitos preceitos do śāstra que fornecem instruções sobre como esculpir formas do Senhor. Essas formas não são materiais. Se Deus é onipenetrante, Ele também está nos elementos materiais. Quanto a isso, não há dúvida. Mas os ateístas pensam de maneira oposta. Apesar de pregarem que tudo é Deus, quando vão ao templo e veem a forma do Senhor, eles negam que essa forma é Deus. Conforme sua própria teoria, tudo é Deus. Por que, então, a Deidade não é Deus? Na realidade, eles não têm ideia alguma do que seja Deus. A visão dos devotos, no entanto, é diferente; a visão deles está untada com amor a Deus. Logo que veem o Senhor em Suas diferentes formas, os devotos ficam repletos de amor, pois não encontram nenhuma diferença entre o Senhor e Sua forma no templo, ao contrário dos ateístas. O rosto sorridente da Deidade no templo é tido pelos devotos como transcendental e espiritual, e a decoração do corpo do Senhor é muito apreciada pelos devotos. É dever do mestre espiritual ensinar a decorar a Deidade no templo, limpar o templo e adorar a Deidade. Há diferentes procedimentos, regras e regulações que são seguidas nos templos de Viṣṇu, e os devotos ali vão ver a Deidade, o vigraha, e desfrutam espiritualmente dessa forma, porque todas as Deidades são benevolentes. Os devotos expressam seus pensamentos perante a Deidade, e, em muitos casos, a Deidade também dá respostas. Porém, é preciso ser um devoto muito elevado para ser capaz de falar com o Senhor Supremo. Às vezes, o Senhor comunica-Se com o devoto através de sonhos. Essas trocas de sentimentos entre a Deidade e o devoto, os ateístas não podem compreendê-las, mas, na verdade, o devoto desfruta disso.

Sem dúvida alguma, aqueles que têm olhos para ver Kṛṣṇa O verão. Quando entrou no templo de Jagannātha, Caitanya Mahāprabhu desmaiou logo após ver a Deidade. Ele disse: “Oh! Eis o Meu Senhor! Eis o Meu Senhor!” Quem quer ver, tem de se tornar santaḥ, e, para isso, é preciso cultivo. Quando desenvolvermos amor por Kṛṣṇa, veremos Kṛṣṇa e desmaiaremos de imediato, dizendo: “Oh! Eis aqui o meu Senhor!” Todavia, aqueles que não têm fé, que tentam negar Kṛṣṇa, dirão apenas: “Oh! Isto é um ídolo. Não passa de pedra.”

Temos de estar ávidos por ver Kṛṣṇa e falar com Ele. Na verdade, Ele está esperando para ver se estamos ou não interessados em falar com Ele. Na Bhagavad-gītā (10.10), Śrī Kṛṣṇa diz:

teṣāṁ satata-yuktānāṁ
bhajatāṁ prīti-pūrvakam
dadāmi buddhi-yogaṁ taṁ
yena mām upayānti te

“Àqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim.”

Se queremos falar com algum homem importante, precisamos ter certas qualificações. Não é que possamos falar com presidentes ou mesmo com senadores apenas porque queremos falar com eles. Temos de observar determinadas regras e regulações. Kṛṣṇa está pronto para falar conosco e, com esse propósito, Ele fez Seu advento na arcā-mūrti, a Deidade, para ser visto. Basta nos qualificarmos para falar com Ele. Os não-devotos, os māyāvādīs, que estão interessados em negar Kṛṣṇa, dizem que Deus não tem olhos, nem pernas, nem mãos, nem ouvidos e assim por diante. Indiretamente, eles estão dizendo que Deus é cego e surdo e que não pode fazer isso nem aquilo. Dessa maneira, eles estão insultando a Deus indiretamente. Isso é blasfêmia. Deus não deseja escutar semelhante estupidez. Por isso, este verso diz: sākaṁ vācaṁ spṛhaṇīyāṁ vadanti. Quando dizemos que Kṛṣṇa é cego, que não tem olhos, nem mãos, nem nada, indiretamente estamos dizendo que Kṛṣṇa não existe. Esta decerto não é uma maneira favorável de falar sobre Kṛṣṇa. Se queremos falar sobre Kṛṣṇa, temos de consultar as escrituras védicas. Nós, então, compreenderemos como adorar Kṛṣṇa.

Na Brahma-saṁhitā (5.29), declara-se: “Śrī Kṛṣṇa está tocando Sua flauta, e Seus olhos são belos como as pétalas de uma flor de lótus. Ele usa uma pena de pavão em Seu cabelo, e Sua forma é muito bela.” Os māyāvādīs dizem: “Simplesmente imagine uma forma de Deus.” Mas não se pode imaginar a forma de Deus. A forma de Deus não é imaginária, mas sim verdadeira. Essa informação autêntica nós recebemos dos Vedas. Quando esteve presente nesta Terra, Kṛṣṇa mostrou Sua forma e Suas atividades. Todas elas são divinas e imateriais. O corpo de Kṛṣṇa é sac-cid-ānanda-vigraha. Ele não tem nada a ver com qualquer coisa material. Ele faz Seu advento como um favor para Seus devotos, que estão sempre ansiosos para vê-lO. Sua primeira atividade é dar prazer aos devotos, e Sua segunda atividade é matar os demônios, que estão sempre criando problemas para os devotos. Faz parte da natureza dos demônios criar problemas para os devotos, assim como, no Ocidente, o senhor Jesus Cristo foi crucificado porque estava pregando a consciência de Deus. De modo semelhante, Hiraṇyakaśipu tentou matar Prahlāda Mahārāja, seu filho de cinco anos, porque ele estava falando sobre Kṛṣṇa. Houve muitos demônios que tentaram matar o próprio Kṛṣṇa, grandes demônios como Pūtanā, Aghāsura, Bakāsura e Kaṁsa. Kṛṣṇa, contudo, os destruiu a todos por intermédio de Sua onipotência.

Na realidade, todos neste mundo material são, de certa forma, asuras, ateístas. Quem prega tem de aprender a tolerar os asuras e falar de tal maneira que eles também se tornem devotos. Devemos sempre falar sobre Kṛṣṇa de forma agradável; assim eles se beneficiarão. Outro nome de Kṛṣṇa é Uttamaśloka, que indica que Ele é adorado com as mais seletas palavras. Não é que devamos usar qualquer palavra que quisermos. Há muitas preces nas escrituras védicas e também na Bíblia e no Alcorão. Embora os cristãos e muçulmanos não adorem a Deidade, eles oferecem orações ao Senhor, e isso também é bhakti. Arcanaṁ vandanam.

Há nove processos diferentes para se adorar o Senhor, e pode-se aceitar um ou todos eles. Devemos usar palavras muito seletas e nos render a Kṛṣṇa, e jamais devemos dizer coisas que não Lhe agradam. Ninguém deve dizer que Deus é amorfo, cego, acéfalo ou qualquer outra coisa. De fato, declara-se nos Vedas que Kṛṣṇa não tem mãos, mas que aceita nossas oferendas. Isso quer dizer que Ele não tem mãos materiais. Se Ele não possuísse mãos, como poderia estendê-las a milhões de quilômetros para aceitar nossas oferendas? Goloka Vṛndāvana se encontra há muitos trilhões e trilhões de quilômetros de distância, mas Kṛṣṇa pode aceitar qualquer coisa que ofereçamos. Quando os Vedas dizem que Deus não tem mãos, isso significa que Ele não tem mãos materiais. Suas mãos são sac-cid-ānanda-vigraha. Se pudermos compreender as atividades, forma, qualidades e passatempos de Kṛṣṇa dessa maneira, estaremos qualificados para voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Verso 36

tair darśanīyāvayavair udāra-
vilāsa-hāsekṣita-vāma-sūktaiḥ
hṛtātmano hṛta-prāṇāṁś ca bhaktir
anicchato me gatim aṇvīṁ prayuṅkte

Ao ver as encantadoras formas do Senhor, sorridentes e atrativas, e ao ouvir Suas palavras tão agradáveis, o devoto puro quase perde todos os demais estados de consciência. Seus sentidos livram-se de todas as demais ocupações, e ele se absorve em serviço devocional. Assim, apesar de não o desejar, ele alcança a liberação sem esforço separado.

SIGNIFICADO—Os devotos dividem-se em três classesa primeira classe, a segunda classe e a terceira classe. Mesmo os devotos de terceira classe são almas liberadas. Neste verso, explica-se que, mesmo que não tenham conhecimento, simplesmente por verem a bela decoração da Deidade no templo, os devotos se absorvem em pensar nEle e perdem todos os outros estados de consciência. Simplesmente fixando-nos em consciência de Kṛṣṇa, ocupando nossos sentidos a serviço do Senhor, somos imperceptivelmente liberados. Isso também se confirma na Bhagavad-gītā. Simplesmente por executarmos serviço devocional impoluto, como se prescreve nas escrituras, tornamo-nos iguais a Brahman. A Bhagavad-gītā afirma que brahma-bhūyāya kalpate. Isso significa que a entidade viva em seu estado original é Brahman, porque é parte integrante do Brahman Supremo. Porém, simplesmente por causa do esquecimento de sua verdadeira natureza como serva eterna do Senhor, ela é dominada e capturada por māyā. Seu esquecimento de sua verdadeira posição constitucional é māyā. Caso contrário, ela é eternamente Brahman.

Quando somos treinados a nos tornar conscientes de nossa posição, entendemos que somos servos do Senhor. “Brahman” refere-se ao estado de autorrealização. Mesmo o devoto de terceira classeque não é avançado em conhecimento da Verdade Absoluta, mas simplesmente presta reverências com muita devoção, pensa no Senhor, contempla o Senhor no templo e traz flores e frutas para oferecer à Deidadetorna-se imperceptivelmente liberado. Śraddhayānvitāḥ: com muita devoção, os devotos oferecem veneráveis respeitos e parafernália à Deidade. As Deidades de Rādhā e Kṛṣṇa, Lakṣmī e Nārāyaṇa e Sītā e Rāma são muito atrativas para os devotos, tanto que, ao verem a Deidade decorada no templo do Senhor, eles se absorvem plenamente em pensar no Senhor. Esse é o estado de liberação. Em outras palavras, confirma-se nesta passagem que mesmo o devoto de terceira classe está na posição transcendental, acima daqueles que se esforçam por alcançar a liberação através da especulação ou de outros métodos. Mesmo grandes impersonalistas como Śukadeva Gosvāmī e os quatro Kumāras sentiram-se atraídos pela beleza das Deidades no templo, pelas decorações e pelo aroma da tulasī oferecida ao Senhor, e assim tornaram-se devotos. Embora estivessem no estado liberado, ao invés de permanecerem impersonalistas, eles se sentiram atraídos pela beleza do Senhor e tornaram-se devotos.

Aqui, a palavra vilāsa é muito importante. Vilāsa refere-se às atividades ou passatempos do Senhor. Um dos deveres prescritos na adoração no templo é que, não apenas deve-se visitar o templo para ver a Deidade belamente decorada, mas também deve-se ouvir a recitação do Śrīmad-Bhāgavatam, da Bhagavad-gītā ou de alguma literatura semelhante, que são regularmente recitadas no templo. O sistema de Vṛndāvana é que há recitação dos śāstras em todo templo. Mesmo devotos de terceira classe que não têm conhecimento literário nem tempo de ler o Śrīmad-Bhāgavatam ou a Bhagavad-gītā têm a oportunidade de ouvir sobre os passatempos do Senhor. Dessa maneira, suas mentes podem permanecer sempre absortas em pensar no SenhorSua forma, Suas atividades e Sua natureza transcendental. Esse estado de consciência de Kṛṣṇa é uma fase liberada. O Senhor Caitanya, portanto, recomendava cinco processos importantes no desempenho do serviço devocional: (1) cantar os santos nomes do SenhorHare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare; (2) associar-se com devotos e servi-los tanto quanto possível; (3) ouvir o Śrīmad-Bhāgavatam; (4) ver o templo decorado e a Deidade, e, se possível, (5) viver em um lugar como Vṛndāvana ou Mathurā. Bastam esses cinco itens para ajudar o devoto a alcançar a fase perfectiva mais elevada. Isso é confirmado na Bhagavad-gītā e aqui no Śrīmad-Bhāgavatam. Em todos os textos védicos, aceita-se que os devotos de terceira classe também podem alcançar imperceptivelmente a liberação.

No que diz respeito à meditação na forma arcā-vigraha do Senhor, devemos olhar para a Deidade a partir de Seus pés de lótus. Não é que devamos olhar de imediato para Seu rosto sorridente. Devemos tentar primeiro ver os pés de lótus de Kṛṣṇa e, quando nos acostumamos com essa prática, podemos olhar para Suas coxas, Sua cintura e Seu peito. Depois, podemos chegar a Seu rosto sorridente. Dessa maneira, devemos meditar na forma de Kṛṣṇa e, assim, nos associar com Kṛṣṇa através da meditação em Seu rosto sorridente, Sua flauta, Suas mãos, Sua roupa, Sua consorte Śrīmatī Rādhārāṇī e as outras gopīs que O rodeiam. Devemos, assim, praticar o processo de contemplar o Senhor Supremo, e, com esse propósito, Ele aparece diante de nós como o arcā-vigraha.

Há três classes de devotos: kaniṣṭha-adhikārī, madhyama-adhikārī e uttama-adhikārī. O uttama-adhikārī é o mais avançado, o madhyama-adhikārī encontra-se no nível intermediário, e o kaniṣṭha-adhikārī é o neófito. Recomenda-se que o neófito medite na Deidade diariamente. Ele deve começar meditando nos pés de lótus e, depois, quando já está hábil nessa prática, deve dirigir seu olhar para o rosto sorridente de Kṛṣṇa. O neófito também deve ler e ouvir a Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam. Se apenas tentarmos ver e não ouvir, os resultados não serão permanentes. Em alguns templos, há Deidades, mas não se fala sobre Kṛṣṇa. As pessoas vão ao templo por algum tempo, mas perdem o interesse em seguida. Por isso, deve haver duas atividades. Devem-se adorar as Deidades, e isso se chama pāñcarātrikī-vidhi. Também deve haver bhāgavata-vidhi, ou seja, leituras do Śrīmad-Bhagavad-gītā e Śrīmad-Bhāgavatam. Pāñcarātrikī-vidhi e bhāgavata-vidhi andam juntos. Mediante a prática desses dois processos, o neófito pode, pouco a pouco, atingir o nível intermediário.

O mestre espiritual deve estar no nível mais avançado, mas, devido a propósitos de pregação, ele desce ao nível intermediário. O uttama-adhikārī, o devoto mais avançado, não discrimina entre devotos e não-devotos. Ele vê a todos, exceto ele mesmo, como devotos. O verdadeiro devoto avançado vê que todos são devotos, menos ele. O kaniṣṭha-adhikārī, o neófito, dedica-se apenas à Deidade, e isso é necessário no começo.

arcāyām eva haraye
pūjāṁ yaḥ śraddhayehate
na tad-bhakteṣu cānyeṣu
sa bhaktaḥ prākṛtaḥ smṛtaḥ

“Quem se dedica fielmente a adorar a Deidade no templo, mas que não sabe como se comportar com os devotos nem com as pessoas em geral, chama-se prākṛta-bhakta, ou kaniṣṭha-adhikārī.” (Śrīmad-Bhāgavatam 11.2.47) De acordo com os deveres prescritos mencionados nas escrituras, o devoto deve cuidar da Deidade, mas, quando está um pouco mais avançado, leva em conta suas relações com os demais. Quando atinge a plataforma madhyama-adhikārī, o devoto desenvolve a seguinte visão:

īśvare tad-adhīneṣu
bāliśeṣu dviṣatsu ca
prema-maitrī-kṛpopekṣā
yaḥ karoti sa madhyamaḥ

“O devoto madhyama-adhikārī adora a Suprema Personalidade de Deus como o mais elevado objeto de amor, faz amizade com os devotos do Senhor, é misericordioso com os ignorantes e evita os que são invejosos por natureza.” (Śrīmad-Bhāgavatam 11.2.46)

O madhyama-adhikārī não se interessa apenas pela Deidade, senão que pode discernir o devoto do não-devoto. Ele também pode entender que este homem é inocente e este outro não. As pessoas inocentes não sabem o que se deve fazer nem sabem nada a respeito de Deus. Eles de fato não são ofensores, mas há outros que o são. Os ofensores, logo que ouvem falar sobre Deus ou Seus devotos, ficam com inveja.

O madhyama-adhikārī sabe que Kṛṣṇa é Deus: kṛṣṇas tu bhagavān svayam. Ele quer desenvolver seu amor por Kṛṣṇa. Ele também não gosta de desperdiçar nem um momento; quer sempre se ocupar em consciência de Kṛṣṇa. Está sempre atento para não desperdiçar seu valioso tempo de vida. Essa é a primeira qualificação de um madhyama-adhikārī. Temos um período muito curto de vida e nunca sabemos quando morreremos. Os tolos pensam que continuarão a viver para sempre, mas isso é pura tolice. A vida é transitória; o devoto, portanto, deseja utilizar cada momento para avançar em consciência de Kṛṣṇa.

O madhyama-adhikārī manifesta um apreço especial por cantar o mantra Hare Kṛṣṇa. Ele também está muito ansioso por viver em lugares onde Kṛṣṇa viveu, tais como Vṛndāvana, Dvārakā e Mathurā. Evidentemente, Kṛṣṇa, sendo Deus, reside em toda parte. Ele mora até mesmo dentro de cada átomo. Aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham. Ainda assim, Ele tem lugares especiais para residir, tais como Vṛndāvana, Dvārakā e Mathurā, daí o devoto ansiar por viver nesses lugares.

O desenvolvimento do amor de alguém por Deus é um processo gradual, e o primeiro ingrediente é a fé. Sem fé, o progresso em consciência de Kṛṣṇa está fora de cogitação. Essa fé se desenvolve por ler a Bhagavad-gītā com atenção e compreender esse livro como ele realmente é. Sem ler a Bhagavad-gītā, ninguém pode ter fé em Kṛṣṇa. É imprescindível ter fé nas palavras de Kṛṣṇa, sobretudo quando Ele diz: “Abandona todos os dharmas e rende-te a Mim. Eu te darei toda a proteção.” Se estudamos a Bhagavad-gītā como um tratado literário e, em seguida, nós o jogamos fora, isso não é fé. Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī explica o que é fé:

‘śraddhā’-śabde — viśvāsa kahe sudṛḍha niścaya
kṛṣṇe bhakti kaile sarva-karma kṛta haya

“Quem presta transcendental serviço amoroso a Kṛṣṇa automaticamente realiza todas as atividades subsidiárias. Esta fé firme e inabalável, favorável ao desempenho do serviço devocional, chama-se śraddhā.” (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 22.62)

Na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz ser não apenas uma pessoa, mas a Suprema Personalidade de Deus. Diz também não existir ninguém superior a Ele. Se alguém crer nessas palavras, então terá fé. Os impersonalistas leem a Bhagavad-gītā, mas não aceitam Kṛṣṇa como uma pessoa. No décimo segundo capítulo da Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz que o impersonalista se submete a muitas dificuldades para chegar a Ele. O impersonalista também O alcançará, mas levará mais tempo. Isso porque a compreensão impessoal acerca da Verdade Absoluta é uma compreensão parcial. Como Kṛṣṇa declara:

kleśo ’dhika-taras teṣām
avyaktāsakta-cetasām
avyaktā hi gatir duḥkhaṁ
dehavadbhir avāpyate

“Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto impessoal e imanifesto do Supremo, o progresso é muito problemático. Progredir nesta disciplina é sempre difícil para aqueles que estão corporificados.” (Bhagavad-gītā 12.5)

Costumamos dar o exemplo de que compreensão impessoal se assemelha à compreensão do brilho solar. Alguém pode ver os raios do Sol entrando pela janela de seu quarto, mas isso não quer dizer que ele já sabe tudo a respeito do Sol. A compreensão impessoal acerca da Verdade Absoluta é assim. O brilho solar é impessoal (Brahman), o próprio Sol é localizado (Paramātmā) e o deus do Sol, que reside dentro do Sol, é uma pessoa (Bhagavān). Assim como se pode compreender os três aspectos do Solo brilho solar, o próprio Sol e o deus do Sol, pode-se também compreender os três aspectos da Verdade Absoluta: Brahman, Paramātmā e Bhagavān.

Os impersonalistas afirmam que o Sol não passa de um globo em chamas, mas, na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz especificamente que Ele falou a Bhagavad-gītā a Vivasvān, o deus do Sol. É claro que nos é muito difícil imaginar como o deus do Sol pode ser uma pessoa. O Sol é um imenso globo flamejante, e julgamos ser impossível que alguém viva lá, mas semelhante espécie de pensamento carece de sensatez. Apenas porque não podemos viver no fogo, isso não quer dizer que ninguém o possa. Não podemos viver na água, apesar do que existem seres aquáticos que vivem ali. Vivemos neste planeta, cujo elemento constituinte básico é a terra, e, para que possamos viver aqui, nossos corpos são compostos basicamente de terra. Os corpos são feitos de tal maneira que possam viver em um ambiente que lhes convém. De modo semelhante, o deus do Sol tem um corpo capaz de viver no fogo.

Kṛṣṇa é sac-cid-ānanda-vigraha, isto é, existência, conhecimento e bem-aventurança, com forma. A compreensão impessoal consiste em entender o aspecto sat. Compreender Kṛṣṇa na íntegra quer dizer conhecer todos os Seus aspectos. O aspecto ānanda está contido em Bhagavān. Kṛṣṇa toca Sua flauta e está acompanhado por Sua potência de prazer, hlādinī śakti, Śrīmatī Rādhārāṇī. Dentre as várias potências de Kṛṣṇa, a hlādinī śakti é a potência que Lhe proporciona prazer. Isso é ānanda. Apesar de ser pleno em Si mesmo, Kṛṣṇa Se expande quando deseja desfrutar. Essa expansão é Sua potência de prazer, Rādhārāṇī. As gopīs são expansões de Rādhārāṇī, e as diferentes formas de Kṛṣṇa se manifestam apenas para saborear a doçura da bem-aventurança transcendental. Ānanda-cinmaya-rasa. A realização acerca do Brahman é, portanto, a compreensão da porção sat, a realização acerca de Paramātmā é a compreensão da porção cit, e a realização acerca de Bhagavān é a compreensão da porção ānanda. No Vedānta-sūtra, afirma-se que a Verdade Absoluta é ānanda-mayo ’bhyāsāt. A līlā de Kṛṣṇa é sempre repleta de bem-aventurança transcendentalsobretudo em Vṛndāvana, Sua residência original. É em Vṛndāvana que Kṛṣṇa brinca com Seus amigos vaqueirinhos e dança com as gopīs. É também em Vṛndāvana que Kṛṣṇa rouba a manteiga de mãe Yaśodā. Todas as atividades que Ele executa ali estão repletas de bem-aventurança transcendental.

Pode começar a experimentar semelhante bem-aventurança quem segue o processo prescrito de serviço devocional. Por vermos a Deidade, podemos compreender aos poucos como é o sorriso de Kṛṣṇa, como Ele toca Sua flauta e como desfruta da companhia de Śrīmatī Rādhārāṇī. Além disso, devemos ouvir sobre Kṛṣṇa. Mediante o incremento desses dois processos, nós nos tornaremos grandes devotos automaticamente. Anicchato me gatim aṇvīṁ prayuṅkte. Esse é realmente um método científico. Não é imaginação. Há quem pense que se trata de idolatria e imaginação, mas todos os śāstras prescrevem este método para quem quer desenvolver a consciência de Deus. É verdadeira ciência.

śrī-bhagavān uvāca

jñānaṁ parama-guhyaṁ me
yad vijñāna-samanvitam
sa-rahasyaṁ tad-aṅgaṁ ca
gṛhāṇa gaditaṁ mayā

“A Personalidade de Deus disse: Nas escrituras, o conhecimento descrito a Meu respeito é muito confidencial, e deve ser assimilado em conexão com o serviço devocional. A parafernália necessária para esse processo está sendo explicada por Mim. Podes aceitá-lo com cuidado.” (Śrīmad-Bhāgavatam 2.9.31)

Na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa diz a Arjuna que Ele lhe revelou esse conhecimento muito confidencial porque Arjuna era Seu amigo muito querido. Esse conhecimento é sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Simplesmente rende-te a Mim.” (Bhagavad-gītā 18.66) A realização acerca de Brahman é certamente confidencial, e a realização acerca de Paramātmā é ainda mais confidencial, mas conhecer Kṛṣṇa de verdade é o conhecimento mais confidencial de todos. Aquele cuja mente e cujos sentidos estão cem por cento absortos em consciência de Kṛṣṇa, está experimentando bhakti. Bhakti não é sentimento, mas uma ciência prática. A pessoa pode se ocupar em muitas atividades, mas, em todos os casos, sua mente deve estar cem por cento absorta em Kṛṣṇa. Apesar de uma dona de casa estar sempre atarefada com os assuntos domésticos, ela sempre se preocupa em manter os cabelos bem penteados. A despeito de seus afazeres, ela nunca se esquece de pentear os cabelos de forma atrativa. Analogamente, o devoto se ocupa em muitas atividades, mas jamais se esquece da forma transcendental de Kṛṣṇa. Esse é o significado de perfeição.

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