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Capítulo 3

Como Entender as Atividades do Senhor

Verso 3

yad yad vidhatte bhagavān
svacchandātmātma-māyayā
tāni me śraddadhānasya
kīrtanyāny anukīrtaya

Portanto, por favor, descreve precisamente todas as atividades e os passatempos da Personalidade de Deus, que é pleno de desejo próprio e que assume todas essas atividades através de Sua potência interna.

SIGNIFICADO—A palavra anukīrtaya é muito significativa. Anukīrtaya significa “seguir a descrição”não criar uma descrição mental imaginada, mas sim seguir. Śaunaka Ṛṣi pediu a Sūta Gosvāmī que descrevesse aquilo que ele tinha realmente ouvido de seu mestre espiritual, Śukadeva Gosvāmī, sobre os passatempos transcendentais do Senhor, manifestos por Sua energia interna. Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus, não tem corpo material, mas pode assumir qualquer espécie de corpo por Sua vontade suprema. Isso se torna possível através de Sua energia interna.

Podemos entender os passatempos do Senhor se seguimos um ou alguns dos processos devocionais autorizados.

śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ
smaraṇaṁ pāda-sevanam
arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ
sakhyam ātma-nivedanam

“Ouvir, cantar e lembrar o santo nome, forma, passatempos, qualidades e séquito do Senhor, oferecer serviço de acordo com tempo, lugar e adorador, adorar a Deidade, oferecer preces, sempre considerar-se servo eterno de Kṛṣṇa, fazer amizade com Ele e entregar-Lhe tudoestes são os nove processos do serviço devocional.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.23)

Existem nove processos básicos de serviço devocionalouvir e cantar sobre o Senhor Supremo, lembrar-se dEle, servir Seus pés de lótus, adorá-lO, oferecer preces ao Senhor, agir como Seu servo, tornar-se Seu amigo e entregar-Lhe tudo. O começo do processo é śravaṇaṁ kīrtanam, ouvir e cantar. A pessoa deve estar muito ávida por ouvir e cantar. Como se declara na Bhagavad-gītā (9.14):

satataṁ kīrtayanto māṁ
yatantaś ca dṛḍha-vratāḥ
namasyantaś ca māṁ bhaktyā
nitya-yuktā upāsate

“Sempre cantando Minhas glórias, esforçando-se com muita determinação, prostrando-se diante de Mim, essas grandes almas adoram-Me perpetuamente com devoção.”

Devemos falar ou cantar sobre as santas atividades da Suprema Personalidade de Deus, mas primeiro temos de ouvir sobre elas. Śukadeva Gosvāmī recitou este Śrīmad-Bhāgavatam, e Parīkṣit Mahārāja o ouviu, e nós, da mesma forma, devemos ouvir sobre Kṛṣṇa e, em seguida, cantar sobre Ele (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ). Ao falarmos sobre Viṣṇu, queremos dizer Kṛṣṇa. Kṛṣṇa é a origem do viṣṇu-tattvaisto é, Viṣṇu é uma expansão de Kṛṣṇa. Quando falamos de Viṣṇu, entendemos que a origem de Viṣṇu é Kṛṣṇa. Como Śrī Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (10.2), aham ādir hi devānām: “Sou a origem dos semideuses.”

Os semideuses mais importantes (devas) são Brahmā, Śiva e Viṣṇu. No princípio da criação, só havia o Senhor Viṣṇu, e, a partir do Senhor Viṣṇu, nasce Brahmā. Do senhor Brahmā, nasce o senhor Śiva, e esses três deuses se encarregam dos três modos da natureza material. Viṣṇu cuida de sattva-guṇa (o modo da bondade), o senhor Brahmā cuida de rajo-guṇa (o modo da paixão) e o senhor Śiva cuida de tamo-guṇa (o modo da ignorância). Antes da criação, entretanto, não havia nem Brahmā nem Śiva. Só havia Kṛṣṇa. Kṛṣṇa, portanto, diz que aham ādir hi devānām. Ele é o criador de todos os semideuses e de todas as outras entidades vivas. Depois da criação da manifestação cósmica, as entidades vivas são colocadas nela. Por isso, os Vedas afirmam que, no princípio, não havia nem Brahmā nem Śiva, mas apenas Nārāyaṇa (eko nārāyaṇa āsīt). Nārāyaṇa também é outra expansão plenária de Kṛṣṇa.

Devemos aprender através das escrituras que Kṛṣṇa é a origem de tudo. Kṛṣṇas tu bhagavān svayam: todos os viṣṇu-tattvas e encarnações não passam de expansões plenárias ou expansões das expansões plenárias de Kṛṣṇa. Há milhões e milhões de encarnações, que são incontáveis como as ondas do oceano. Existem śaktyāveśa-avatāras, guṇa-avatāras e svayam-avatāras, e todos eles são descritos no Śrīmad-Bhāgavatam. Todos esses avatāras, ou encarnações, são svacchandātmā, livres de preocupações e ansiedades. Se organizamos uma empresa, passamos por muitas ansiedades. Principalmente o diretor administrativo ou proprietário da empresa sofre muitas ansiedades. Embora se sente tranquilo em seu escritório, ele não fica muito feliz, porque está sempre pensando em como fazer isso ou aquilo, em como cuidar desse ou daquele assunto. Eis a natureza material, daí se dizer que sempre há ansiedade no mundo material. Quando Hiraṇyakaśipu, o pai de Prahlāda Mahārāja, perguntou ao filho: “Meu querido filho, qual foi a melhor coisa que você aprendeu com seus professores?”, Prahlāda Mahārāja logo respondeu, tat sādhu manye ’sura-varya dehināṁ sadā samudvigna-dhiyām asad-grahāt: “Aprendi que os materialistas aceitaram o asad-guṇa.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.5) Asat significa “aquilo que não é”. Não devemos permanecer nesta plataforma, senão que devemos ir para a plataforma de sat (oṁ tat sat). Esse é o preceito védico. O mundo material é asad-vastu; é impossível que permaneça. No mundo material, tudo acabará sendo destruído. Tudo que existe no mundo material, existe apenas por algum tempo. É temporário. Os filósofos māyāvādīs costumam dizer que brahma satyaṁ jagan mithyā: “A Verdade Suprema é real, ao passo que o mundo é falso”, mas os vaiṣṇavas não usam a palavra mithyā (falso), porque Deus, o Brahman Supremo, é verdade, e nada falso pode emanar da verdade. Se manufaturamos um brinco a partir do ouro, o brinco também é ouro. Ninguém pode dizer que o brinco é falso. Yato imāni bhūtāni jāyante: a Suprema Verdade Absoluta é aquele de quem tudo emana. Se tudo emana da Verdade Absoluta, de fato nada pode ser falso. Os filósofos vaiṣṇavas aceitam o mundo como temporário, mas não falso, como o fazem os filósofos māyāvādīs.

O mundo (jagat) emanou do Supremo; portanto, ele não é mithyā, mas sim temporário. Na Bhagavad-gītā (8.19), também se explica isso: bhūtvā bhūtvā pralīyate. O mundo material passa a existir, permanece por algum tempo e, em seguida, é aniquilado. Ele não é falso, pois pode-se utilizá-lo para compreender a Verdade Suprema. Essa é a filosofia vaiṣṇava. O mundo é temporário, mas devemos usá-lo para propósitos espirituais. Se algo é utilizado para a verdade última, a Verdade Absoluta, ele se torna parte integrante da Verdade Absoluta. Como Śrīla Rūpa Gosvāmī declara:

anāsaktasya viṣayān
yathārham upayuñjataḥ
nirbandhaḥ kṛṣṇa-sambandhe
yuktaṁ vairāgyam ucyate

prāpañcikatayā buddhyā
hari-sambandhi-vastunaḥ
mumukṣubhiḥ parityāgo
vairāgyaṁ phalgu kathyate

(Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.255–256)

A palavra mumukṣubhiḥ refere-se àqueles que aspiram por mukti, a liberação. Quando alguém fica desgostoso com o envolvimento material, ele deseja destruir tudo o que tenha a ver com o mundo material. O vaiṣṇava, contudo, diz: prāpañcikatayā buddhyā hari-sambandhi-vastunaḥ. Tudo tem alguma relação com a Pessoa Suprema, a Verdade Absoluta. Por exemplo, um microfone é feito de metal, mas o que é o metal? É outro aspecto da terra. Na Bhagavad-gītā (7.4), Śrī Kṛṣṇa diz:

bhūmir āpo ’nalo vāyuḥ
khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā

“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso egojuntos, todos estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas.” Todos eles são energias de Kṛṣṇa, e, como Kṛṣṇa é a fonte deles, como podem ser falsos? Não o são. Um vaiṣṇava jamais dirá que o metal não tem relação alguma com Kṛṣṇa. Ele é produto de uma de Suas energias, assim como o mundo material é produto do Sol. Ninguém pode dizer que o brilho solar é falso e que o Sol é verdadeiro. Se o Sol é verdade, o brilho solar também é verdade. Do mesmo modo, não dizemos que o universo material é falso. Ele pode ser temporário, mas não é falso. Portanto, os Gosvāmīs e o próprio Kṛṣṇa nos dizem que, já que tudo pertence a Kṛṣṇa, tudo deve ser utilizado em Seu benefício.

Esta criação emana de Bhagavān, o Senhor Supremo, que está livre de ansiedade. Kṛṣṇa, com muito prazer, associa-Se com Sua consorte Śrīmatī Rādhārāṇī e Se diverte tocando flauta. Se Deus tivesse alguma ansiedade, que tipo de Deus seria Ele? Até mesmo o senhor Brahmā e outros semideuses passam por ansiedade. O senhor Brahmā está ocupado em meditar; o senhor Śiva, em realizar a dança de aniquilação do universo; a deusa Kālī, em matar com sua espada, e assim por diante. Os semideuses têm muitas atividades, mas Kṛṣṇa está sempre tranquilo. O Kṛṣṇa que Se ocupa em matar demônios é Vāsudeva Kṛṣṇa, e não o Kṛṣṇa original. O Kṛṣṇa original não vai a lugar nenhum; Ele nunca dá um passo para fora de Vṛndāvana. As outras atividades que Kṛṣṇa realiza são levadas a cabo por Suas formas de Vāsudeva, Sānkarṣaṇa, Aniruddha ou Pradyumna. Kṛṣṇa Se expande como Sānkarṣaṇa, Nārāyaṇa, Viṣṇu, Mahā-Viṣṇu, Garbhodakaśāyī Viṣṇu e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Deus pode expandir-Se em muitas e muitas formas.

advaitam acyutam anādim ananta-rūpam
ādyaṁ purāṇa-puruṣaṁ nava-yauvanaṁ ca

(Brahma-saṁhitā 5.33)

Ele é o ādi-puruṣa, a alma original de todos. Govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi: O senhor Brahmā diz que ele próprio não é o ādi-puruṣa, mas que Govinda, Kṛṣṇa, é o ādi-puruṣa. Esse Kṛṣṇa tem muitas expansões (advaitam acyutam anādim). Ele não tem começo, mas é o começo de tudo. Ele Se expande em muitas formas. O viṣṇu-tattva consiste em bhagavat-tattva-svāṁśa, as expansões pessoais. Nós também somos formas de Kṛṣṇa, mas somos vibhinnāṁśa, expansões separadas. Somos expansões das energias. De acordo com Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā (7.5):

apareyam itas tv anyāṁ
prakṛtiṁ viddhi me parām
jīva-bhūtāṁ mahā-bāho
yayedaṁ dhāryate jagat

“Além dessa energia inferior, ó Arjuna de braços poderosos, existe uma energia, Minha energia superior, que consiste nas entidades vivas que exploram os recursos dessa natureza material inferior.”

Logo, existem as jīva-prakṛti, ou expansões parā-prakṛti, que pertencem à energia superior de Kṛṣṇa. De qualquer maneira, Kṛṣṇa é sempre svacchandātmālivre de ansiedade. Mesmo enquanto mata um demônio, Ele não fica experimenta ansiedade. Isso também é confirmado nos Vedas:

na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate
na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate
parāsya śaktir vividhaiva śrūyate
svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca

“O Senhor Supremo não tem nada a fazer, pois tudo é feito automaticamente através de Suas potências. Não há ninguém que se iguale a Ele ou que O supere.” (Śvetāśvatara Upaniṣad 6.8)

Pessoalmente, Śrī Kṛṣṇa nada tem a fazer. É Sua energia que age. Quando um homem importante deseja que algo seja feito, ele simplesmente pede a seu secretário, que se encarregará de fazer tudo. O homem importante tem plena confiança de que, por falar com seu secretário, seus desejos serão concretizados. O secretário é uma pessoa, energia (śakti). Se um homem qualquer neste mundo tem tantas energias sob a forma de secretários, mal podemos imaginar as energias que Śrī Kṛṣṇa possui. Śrī Kṛṣṇa é jagad-īśvara, o controlador de todo o universo, e assim está administrando o universo inteiro. Os tolos dizem que não há inteligência alguma por trás deste universo, mas isso se deve à ignorância. Se aceitamos as instruções dos śāstras, as escrituras, podemos compreender de quem é esta inteligência. De acordo com Śrī Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā (9.10):

mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ
sūyate sa-carācaram
hetunānena kaunteya
jagad viparivartate

“Esta natureza material, que é uma de Minhas energias, funciona sob Minha direção, ó filho de Kuntī, produzindo todos os seres móveis e inertes. Obedecendo-Lhe ao comando, esta manifestação é criada e aniquilada repetidas vezes.” Vemos Suas energias agindo neste mundo material o tempo todo. Primeiro, ocorrem trovão e chuva, após o que, com a chuva, cresce o alimento que nos sustém. A Bhagavad-gītā (3.14) descreve em linhas gerais este processo:

annād bhavanti bhūtāni
parjanyād anna-sambhavaḥ
yajñād bhavati parjanyo
yajñaḥ karma-samudbhavaḥ

“Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que são produzidos das chuvas. As chuvas são produzidas pela execução de yajña [sacrifício], e yajña nasce dos deveres prescritos.” A origem de tudo é a Suprema Personalidade de Deus. Através de yajña, sacrifício, devemos satisfazer a Pessoa Suprema, e só se pode executar yajñas quando a sociedade humana está regulada de acordo com o varṇāśrama-dharma, o sistema de quatro ordens sociais (varṇas) e quatro ordens espirituais (āśramas). Existem quatro varṇas (brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra) e quatro āśramas (brahmacarya, gṛhastha, vānaprastha e sannyāsa). Cada varṇa e cada āśrama têm seus respectivos deveres, e a menos que a sociedade humana seja dividida segundo essas oito divisões científicas e que todos ajam de acordo com suas respectivas posições, não haverá paz no mundo.

varṇāśramācāravatā
puruṣeṇa paraḥ pumān
viṣṇur ārādhyate panthā
nānyat tat-toṣa-kāraṇam

“A Suprema Personalidade de Deus, Senhor Viṣṇu, é adorado mediante o cumprimento adequado dos deveres prescritos no sistema de varṇa e āśrama. Não há outra maneira de satisfazer a Suprema Personalidade de Deus.” (Viṣṇu Purāṇa 3.8.9)

O objetivo final de todas as atividades é a satisfação do Senhor Supremo, Viṣṇu. Na te viduḥ svārtha-gatiṁ hi viṣṇum (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.31). Homens tolos desconhecem que seu verdadeiro interesse é a satisfação de Viṣṇu. Portanto, sempre que ocorre dharmasya glāniḥ, discrepâncias no dharma, Kṛṣṇa ou Sua encarnação vem pessoalmente. Afirma-se, portanto, que yad yad vidhatte bhagavān. Embora venha, Ele não tem ansiedade. Ele vem através de Sua potência interna e não precisa da ajuda de ninguém. Ele possui uma variedade enorme de energias, e todas elas atuam de forma correta e perfeita (parāsya śaktir vividhaiva śrūyate svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca).

Os impersonalistas não conseguem compreender como tudo está sendo executado com tanta perfeição, pois desconhecem a Suprema Personalidade de Deus: mohitaṁ nābhijānāti mām ebhyaḥ param avyayam. Como Kṛṣṇa afirma na Bhagavad-gītā (7.14):

daivī hy eṣā guṇa-mayī
mama māyā duratyayā
mām eva ye prapadyante
māyām etāṁ taranti te

“Esta Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la.” Por estar coberta pelos três modos da natureza material, a pessoa não pode compreender a Suprema Personalidade de Deus. Todavia, o Senhor Supremo Se revela a Seus devotos.

Nosso dever é compreender Kṛṣṇa como Ele é; assim nossas vidas serão bem-sucedidas. Não é que podemos lograr êxito completo mediante uma compreensão superficial sobre Kṛṣṇa. Portanto, aqui se declara que tāni me śraddadhānasya kīrtanyāny anukīrtaya. A palavra anukīrtaya, que enfatizamos no início, significa que não devemos inventar nada. A palavra anu significa “seguir”. Logo, o bhagavat-tattva, ou Bhagavān, só pode ser compreendido através do sistema paramparā, o sistema de sucessão discipular.

evaṁ paramparā-prāptam
imaṁ rājarṣayo viduḥ
sa kāleneha mahatā
yogo naṣṭaḥ paran-tapa

“Esta ciência suprema foi então recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na dessa maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e, portanto, a ciência como ela é parece ter-se perdido.” (Bhagavad-gītā 4.2)

Outrora, os reis (rājās) eram homens muito santos. Não eram pessoas comuns ocupadas em beber e dançar. Até a época de Mahārāja Parīkṣit, todos eles eram ṛṣis (sábios). Eles eram treinados de tal maneira que não se tornavam homens comuns, mas sim nara-devas. Nara-deva se refere a Bhagavān na forma de um ser humano. O rei era adorado por ser um rājarṣi, tanto rei quanto sábio. Śrī Kṛṣṇa diz que se o rei conhece o propósito da vida, ele pode governar bem. Caso contrário, ele pensa que comer, dormir, fazer sexo e defender-se constituem a meta máxima. Em tal situação, seus súditos vivem como animais. Hoje em dia, ninguém conhece o objetivo da vida humana; portanto, embora os homens tolos desta era tentem ser felizes, suas esperanças sempre serão frustradas. Na te viduḥ svārtha-gatiṁ hi viṣṇuṁ durāśayāḥ. Todos tentam ser felizes neste mundo através da aquisição de bens materiais, mas seus planos nunca se concretizarão. Portanto, na história do mundo, conhecemos muitos líderes que morreram trabalhando duro. Eles não conseguiram colocar em ordem a sociedade, a despeito de todo o seu esforço. Houve Napoleão, Hitler, Gandhi, Nehru e muitos outros, mas, por fim, nenhum deles teve êxito. Isso é durāśaya. O objetivo máximo da vida é compreender Viṣṇu, mas os homens continuam, às cegas, tentando satisfazer os sentidos. Se um cego tenta guiar outro cego, qual é o resultado? Se tanto os líderes como os seguidores são cegos, ambos cairão em um buraco, pois estão presos por suas respectivas naturezas.

Śravaṇaṁ kīrtanam, ouvir e cantar, é o começo de bhakti, o serviço devocional. Declara-se, portanto, que tāni me śraddadhānasya kīrtanyāny anukīrtaya. A palavra anukīrtaya significa seguir o sistema paramparā. Em primeiro lugar, é compulsório receber instrução das autoridades, após o que se pode falar a verdade. Deve-se primeiro aprender a como descrever a Verdade Absoluta, BhagavānSuas ações, Sua misericórdia e Sua compaixão por todos os seres vivos. O Senhor Supremo está mais ansioso por nos educar e iluminar do que nós mesmos. Ele nos deu Sua literatura, Seus devotos e o sistema paramparā, mas cabe a nós tirar proveito dessas facilidades. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa destina-se a dar à sociedade a compreensão adequada acerca da Verdade Absoluta. Não estamos apresentando uma filosofia inventada, falsa. Por que desperdiçaríamos nosso tempo inventando alguma filosofia? Há tanto a se aprender daquilo que já foi dado pela autoridade suprema! Só nos resta aceitar essa literatura védica, tentar entendê-la e distribuí-la. Esta é a missão de Caitanya Mahāprabhu.

bhārata-bhūmite haila manuṣya-janma yāra
janma sārthaka kari’ kara para-upakāra

(Caitanya-caritāmṛta, Ādi 9.41)

É dever de todos, sobretudo daqueles que nasceram na terra de Bhāratavarṣa, Índia, tornar a vida bem-sucedida mediante as instruções dadas nesta literatura védica. Infelizmente, todos querem apenas aprender tecnologia, e esse é o nosso infortúnio. Verdadeira educação significa resolver todos os problemas da vida.

Educação transcendental significa aprender a como libertar-se do aprisionamento da vida material. Isso é possível por meio do conhecimento das atividades transcendentais do Senhor.

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