VERSO 53
śrī-gadādhara dāsa śākhā sarvopari
kājī-gaṇera mukhe yeṅha bolāila hari
śrī-gadādhara dāsa — chamado Śrī Gadādhara Dāsa; śākhā — outro galho; sarva-upari — acima de todos; kājī-gaṇera — dos Kazis (magistrados muçulmanos); mukhe — na boca; yeṅha — aquele que; bolāila — fez falarem; hari — o santo nome de Hari.
Śrī Gadādhara Dāsa, o vigésimo terceiro galho, era tido como o mais elevado, pois induziu todos os Kazis muçulmanos a cantar o santo nome do Senhor Hari.
SIGNIFICADO—A cerca de dez ou doze quilômetros de Calcutá, às margens do Ganges, fica uma vila conhecida como Eṅḍiyādaha-grāma. Śrīla Gadādhara Dāsa era conhecido como um habitante dessa vila (eṅḍiyādaha-vāsī gadādhara dāsa). O Bhakti-ratnākara, onda sete, informa-nos que, após o desaparecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, Gadādhara Dāsa foi de Navadvīpa para Katwa. Depois disso, veio para Eṅḍiyādaha, onde passou a residir. Afirma-se que ele é o brilho do corpo de Śrīmatī Rādhārāṇī, assim como Śrīla Gadādhara Paṇḍita Gosvāmī é uma encarnação da própria Śrīmatī Rādhārāṇī. Às vezes, explica-se que Caitanya Mahāprabhu é rādhā-bhāva-dyuti-suvalita, ou seja, caracterizado pelas emoções e pelo brilho do corpo de Śrīmatī Rādhārāṇī. Gadādhara Dāsa é esse dyuti, ou brilho. Descreve-se no Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (154) que ele é uma expansão da potência de Śrīmatī Rādhārāṇī. Ele está incluído entre os associados tanto de Śrīla Gaurahari quanto de Nityānanda Prabhu; como devoto de Śrī Caitanya Mahāprabhu, ele era um dos associados do Senhor Kṛṣṇa em amor conjugal, e, como devoto do Senhor Nityānanda, considera-se que ele era um dos amigos de Kṛṣṇa em serviço devocional puro. Muito embora fosse um dos associados do Senhor Nityānanda Prabhu, ele não estava entre os vaqueirinhos, senão que estava situado na doçura transcendental do amor conjugal. Ele estabeleceu um templo de Śrī Gaurasundara em Katwa.
Em 1434 Śakābda (1512 d.C.), quando o Senhor Nityānanda Prabhu recebeu poderes do Senhor Caitanya para pregar o movimento de saṅkīrtana na Bengala, Śrī Gadādhara Dāsa foi um dos assistentes principais do Senhor Nityānanda. Ele pregava o movimento de saṅkīrtana, pedindo a todos que cantassem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Toda e qualquer pessoa, de qualquer posição na sociedade, pode seguir esse simples método de pregação de Śrīla Gadādhara Dāsa. Basta ser um servo sincero e sério de Nityānanda Prabhu e pregar esse culto de porta em porta.
Quando Śrīla Gadādhara Dāsa Prabhu pregava o culto de hari-kīrtana, havia um magistrado que era muito desfavorável ao seu movimento de saṅkīrtana. Seguindo os passos de Śrī Caitanya Mahāprabhu, certa noite, Śrīla Gadādhara Dāsa foi à casa do Kazi e pediu-lhe que cantasse o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. O Kazi respondeu: “Tudo bem. Cantarei Hare Kṛṣṇa amanhã.” Ao ouvir isso, Śrīla Gadādhara Dāsa Prabhu começou a dançar e disse: “Por que amanhã? Acabas de cantar o mantra Hare Kṛṣṇa; agora só precisas continuar cantando.”
O Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (versos 154 e 155) diz:
rādhā-vibhūti-rūpā yā
candrakāntiḥ purā vraje
sa śrī-gaurāṅga-nikaṭe
dāsa-vaṁśyo gadādharaḥ
pūrṇānandā vraje yāsīd
baladeva-priyāgraṇī
sāpi kārya-vaśād eva
prāviśat taṁ gadādharam
Considera-se que Śrīla Gadādhara Dāsa é uma forma unida de Candrakānti, que é a refulgência de Śrīmatī Rādhārāṇī, e Pūrṇānandā, que é uma expansão da tão querida namorada do Senhor Balarāma. Assim, Śrīla Gadādhara Dāsa Prabhu foi um dos associados tanto de Caitanya Mahāprabhu quanto de Nityānanda Prabhu.
Certa vez, enquanto regressava de Jagannātha Purī para a Bengala com Nityānanda Prabhu, Śrīla Gadādhara Dāsa Prabhu esqueceu-se de si mesmo e começou a falar em voz alta como se fosse uma mocinha de Vrajabhūmi vendendo iogurte, e Śrīla Nityānanda Prabhu observou isso. Em outra ocasião, estando absorto no êxtase das gopīs, ele carregou uma jarra cheia de água do Ganges sobre sua cabeça como se estivesse vendendo leite. Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu apareceu na casa de Rāghava Paṇḍita em Seu caminho para Vṛndāvana, Gadādhara Dāsa foi visitá-lO, e Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou tão contente que colocou Seu pé sobre a cabeça dele. Na época em que esteve em Eṅḍiyādaha, Gadādhara Dāsa Prabhu estabeleceu ali uma mūrti de Bāla Gopāla para adorar. Śrī Mādhava Ghoṣa encenou uma peça conhecida como “Dāna-khaṇḍa” com a ajuda de Śrī Nityānanda Prabhu e Śrī Gadādhara Dāsa. Explica-se isso no Caitanya-bhāgavata (Antya 5.318-394).
A tumba de Gadādhara Dāsa Prabhu, situada na vila de Eṅḍiyādaha, esteve sob o controle dos vaiṣṇavas saṁyogīs e, mais tarde, sob a direção de Siddha Bhagavān Dāsa Bābājī, de Kālnā. Por sua ordem, Śrī Madhusūdana Mullik, um dos membros da aristocrática família Mullik da Nārikelaḍāṅgā em Calcutá, estabeleceu ali um pāṭhabāḍī (monastério), no ano bengali de 1256 (1849 d.C.). Além disso, ele providenciou a adoração de uma Deidade chamada Śrī Rādhākānta. Seu filho, Balāicāṅda Mullik, instalou ali Deidades de Gaura-Nitāi no ano bengali de 1312 (1905 d.C.). Assim, no trono do templo, estão tanto as Deidades de Gaura-Nityānanda quanto as Deidades de Rādhā-Kṛṣṇa. Embaixo do trono, há uma tabuleta com uma gravação escrita em sânscrito. Nesse templo, também existe uma pequena Deidade do Senhor Śiva como Gopeśvara. Tudo isso está descrito numa pedra ao lado da porta de entrada do templo.