Capítulo Treze
O Senhor Dança em Êxtase no Ratha-yātrā
Em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura faz o seguinte resumo deste capítulo. Após banhar-Se de madrugada, Śrī Caitanya Mahāprabhu viu as Deidades (Jagannātha, Baladeva e Subhadrā) embarcando em Seus três carruagens. Essa cerimônia é chamada de Pāṇḍu-vijaya. Nesse momento, empunhando uma vassoura de cabo dourado, o rei Pratāparudra se colocou a limpar a estrada. Após pedir permissão à deusa da fortuna, o Senhor Jagannātha partiu na carruagem rumo ao templo de Guṇḍicā. A estrada que dava acesso ao templo passava por uma ampla praia arenosa, e havia prédios, casas e jardins em ambos os lados da estrada. Os servos chamados gauḍas passaram a puxar as carruagens ao longo dessa estrada. Śrī Caitanya Mahāprabhu dividiu Seu grupo de saṅkīrtana em sete subgrupos. Com duas mṛdaṅgas em cada subgrupo, havia, ao todo, quatorze mṛdaṅgas. Ao realizar o kīrtana, Śrī Caitanya Mahāprabhu manifestou diversos sintomas de êxtase transcendental e, assim, o Senhor Jagannātha e Śrī Caitanya Mahāprabhu trocaram sentimentos de bem-aventurança. Quando as carruagens chegaram ao local conhecido como Balagaṇḍi, os devotos ofereceram alimentos simples às Deidades. Nesse momento, em um jardim próximo, Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus devotos, interrompendo a dança, descansaram um pouco.
VERSO 1: Que a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa Caitanya, que dançou em frente à carruagem de Śrī Jagannātha, receba todas as glórias! Vendo Sua dança, não apenas o universo inteiro ficou tomado de espanto, senão que o próprio Senhor Jagannātha ficou muito maravilhado.
VERSO 2: Todas as glórias a Śrī Kṛṣṇa Caitanya e a Prabhu Nityānanda! Todas as glórias a Advaitacandra! E todas as glórias aos devotos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu!
VERSO 3: Todas as glórias àqueles que ouvem o Caitanya-caritāmṛta. Por favor, escutai a descrição da dança do Senhor Caitanya Mahāprabhu por ocasião do festival de Ratha-yātrā. Sua dança é muito encantadora. Por favor, escutai sobre ela com muita atenção.
VERSO 4: No dia seguinte, quando Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus associados pessoais Se levantaram, o dia ainda estava escuro. Com toda atenção, tomaram seus banhos matutinos.
VERSO 5: Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus associados pessoais foram, então, ver a cerimônia de Pāṇḍu-vijaya. Durante esta cerimônia, o Senhor Jagannātha sai do trono e sobe na carruagem.
VERSO 6: O rei Pratāparudra em pessoa, bem como o seu séquito, permitiram que todos os associados de Śrī Caitanya Mahāprabhu vissem a cerimônia de Pāṇḍu-vijaya.
VERSO 7: Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus destacados devotos – Advaita Ācārya, Nityānanda Prabhu e outros – ficaram muito felizes ao observarem como o Senhor Jagannātha começou o Ratha-yātrā.
VERSO 8: Os robustos dayitās [carregadores da Deidade de Jagannātha] eram tão poderosos quanto elefantes embriagados. Eles, com suas próprias mãos, levaram o Senhor Jagannātha do trono até a carruagem.
VERSO 9: Ao carregarem a Deidade do Senhor Jagannātha, alguns dos dayitās seguravam os ombros do Senhor, e outros pegavam em Seus pés de lótus.
VERSO 10: Uma corda grossa e forte, feita de seda, cingia a cintura da Deidade do Senhor Jagannātha. Os dayitās agarraram essa corda de um e outro lado e ergueram a Deidade.
VERSO 11: Desde o trono até a carruagem, tulīs, ou almofadas de algodão resistentes e estofadas, foram dispostas como uma pequena estrada, ao longo da qual, uma tulī após outra, a pesada Deidade do Senhor Jagannātha era transportada pelos dayitās.
VERSO 12: Enquanto os dayitās carregavam a pesada Deidade de Jagannātha de uma almofada para a seguinte, algumas delas se rompiam, e os recheios de algodão flutuavam no ar. Ao se romperem, produziam um forte estampido.
VERSO 13: O Senhor Jagannātha é o mantenedor do universo inteiro. Quem pode carregá-lO de um lugar a outro? No entanto, o Senhor Se move por Sua vontade pessoal apenas para realizar Seus passatempos.
VERSO 14: Enquanto o Senhor era transportado do trono até a carruagem, ouviam-se sons tumultuosos emitidos por vários instrumentos musicais. Śrī Caitanya Mahāprabhu cantava “Maṇimā! Maṇimā!”, mas não podia ser ouvido.
VERSO 15: Enquanto o Senhor era levado do trono até a carruagem, o rei Pratāparudra ocupou-se pessoalmente a serviço do Senhor, limpando o caminho com uma vassoura de cabo de ouro.
VERSO 16: O rei borrifou na estrada água aromatizada com sândalo. Mesmo possuindo o trono real, ocupou-se em serviço subalterno ao Senhor Jagannātha.
VERSO 17: Embora o rei fosse a personalidade mais altiva e respeitável, ele aceitou prestar serviço subalterno para agradar o Senhor. Portanto, qualificou-se devidamente para receber a misericórdia do Senhor.
VERSO 18: Ao ver o rei ocupado em um serviço tão subalterno, Caitanya Mahāprabhu ficou muito feliz. Simplesmente por prestar esse serviço, o rei recebeu a misericórdia do Senhor.
VERSO 19: Todos ficaram maravilhados ao verem os enfeites na carruagem Ratha. Parecia que a carruagem havia sido feita de ouro muito recentemente, e ela era tão alta quanto o monte Sumeru.
VERSO 20: Os enfeites incluíam espelhos brilhantes e muitas centenas de cāmaras [abanos brancos feitos de cauda de iaque]. Em cima da carruagem, havia um dossel impecável e limpo e uma linda bandeira.
VERSO 21: A carruagem também estava decorada com panos de seda e diversas gravuras. Muitos sinos de bronze, gongos e guizos de tornozelo faziam seus respectivos sons.
VERSO 22: A fim de realizar os passatempos da cerimônia do Ratha-yātrā, o Senhor Jagannātha embarcou em uma carruagem, e Subhadrā, Sua irmã, e Balarāma, Seu irmão mais velho, instalaram-Se em duas outras carruagens.
VERSO 23: O Senhor permaneceu por quinze dias em um lugar recluso com a suprema deusa da fortuna e realizou Seus passatempos com ela.
VERSO 24: Pedindo permissão à deusa da fortuna, o Senhor saiu então para passear na carruagem Ratha e realizar Seus passatempos para o prazer dos devotos.
VERSO 25: A fina areia branca espalhada por todo o caminho assemelhava-se às margens do Yamunā, e, em ambos os lados, os pequenos jardins pareciam os jardins de Vṛndāvana.
VERSO 26: Enquanto o Senhor Jagannātha passeava em Sua carruagem ao longo do cenário, belo tanto à Sua direita quanto à Sua esquerda, Sua mente se enchia de prazer.
VERSO 27: Os puxadores da carruagem eram conhecidos como gauḍas, e eles a puxavam com muito prazer. Contudo, ora a carruagem ia bem depressa, ora ia bem devagar.
VERSO 28: Outras vezes, a carruagem ficava estancada e não se movia, muito embora fosse puxada com muito vigor. Desta maneira, a carruagem movia-se pela vontade do Senhor, e não pela força de alguma pessoa comum.
VERSO 29: Como a carruagem estava parada, Śrī Caitanya Mahāprabhu reuniu todos os Seus devotos e, com Suas próprias mãos, decorou-os com guirlandas de flores e polpa de sândalo.
VERSO 30: Ao receberem guirlandas e polpa de sândalo diretamente das mãos do próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu, Paramānanda Purī e Brahmānanda Bhāratī sentiram seu prazer transcendental aumentar intensamente.
VERSO 31: De modo semelhante, ao sentirem o toque da mão transcendental de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Advaita Ācārya e Nityānanda Prabhu ficaram muito satisfeitos.
VERSO 32: O Senhor também deu guirlandas e polpa de sândalo àqueles que estavam fazendo saṅkīrtana, dentre os quais se destacavam Svarūpa Dāmodara e Śrīvāsa Ṭhākura.
VERSO 33: Ao todo, havia quatro grupos de kīrtana, perfazendo um total de vinte e quatro cantores. Em cada grupo, havia também dois tocadores de mṛdaṅga, o que acrescentava mais oito pessoas àquele total.
VERSO 34: Uma vez que os quatro grupos estavam formados, Śrī Caitanya Mahāprabhu, após analisar um pouco, dividiu os cantores.
VERSO 35: Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu que Nityānanda Prabhu, Advaita Ācārya, Haridāsa Ṭhākura e Vakreśvara Paṇḍita dançassem, cada um em um dos quatro grupos a que foram designados.
VERSO 36: Svarūpa Dāmodara foi escolhido como líder do primeiro grupo e recebeu cinco assistentes para responderem ao seu canto.
VERSO 37: Os cinco que faziam coro ao canto de Svarūpa Dāmodara eram Dāmodara Paṇḍita, Nārāyaṇa, Govinda Datta, Rāghava Paṇḍita e Śrī Govindānanda.
VERSO 38: Advaita Ācārya Prabhu recebeu a ordem de dançar no primeiro grupo. Então, o Senhor formou outro grupo com Śrīvāsa Ṭhākura como líder.
VERSO 39: Os cinco cantores que responderiam ao canto de Śrīvāsa Ṭhākura eram Gaṅgādāsa, Haridāsa, Śrīmān, Śubhānanda e Śrī Rāma Paṇḍita. Śrī Nityānanda Prabhu foi apontado como o dançarino desse grupo.
VERSO 40: Formou-se outro grupo, para o qual foram designados Vāsudeva, Gopīnātha e Murāri. Todos esses cantavam no coro, e Mukunda seria o cantor principal.
VERSO 41: Duas outras pessoas, Śrīkānta e Vallabha Sena, juntaram-se como cantores do coro. Nesse grupo, o Haridāsa sênior [Haridāsa Ṭhākura] seria o dançarino.
VERSO 42: O Senhor formou outro grupo, no qual colocou Govinda Ghoṣa como o líder. Nesse grupo, Haridāsa, o júnior, Viṣṇudāsa e Rāghava eram os cantores que respondiam em coro.
VERSO 43: Dois irmãos, chamados Mādhava Ghoṣa e Vāsudeva Ghoṣa, também se juntaram a esse grupo como cantores do coro. Vakreśvara Paṇḍita seria o dançarino desse grupo.
VERSO 44: Havia um grupo de saṅkīrtana da vila conhecida como Kulīna-grāma, e Rāmānanda e Satyarāja foram indicados como os dançarinos desse grupo.
VERSO 45: Havia outro grupo, proveniente de Śāntipura, que era formado por Advaita Ācārya. Acyutānanda era o dançarino, e os demais componentes cantavam.
VERSO 46: Formou-se outro grupo com as pessoas de Khaṇḍa. Essas pessoas cantavam em um lugar diferente. Nesse grupo, dançavam Narahari Prabhu e Raghunandana.
VERSO 47: Quatro grupos cantavam e dançavam em frente ao Senhor Jagannātha, e havia mais um grupo de cada lado. Atrás, havia mais um.
VERSO 48: Ao todo, havia sete grupos de saṅkīrtana, e, em cada grupo, dois homens tocavam tambores. Assim, tocavam-se quatorze tambores de uma só vez. O som era tonitruante, e todos os devotos ficaram ensandecidos.
VERSO 49: Todos os vaiṣṇavas reuniram-se, como nuvens agrupadas. Enquanto os devotos cantavam em êxtase os santos nomes, lágrimas caíam de seus olhos tal qual torrentes de chuva.
VERSO 50: Os três mundos foram inundados pela vibração sonora do saṅkīrtana. Com efeito, a não ser pelo som e pelos instrumentos musicais do saṅkīrtana, tudo o mais emudecera.
VERSO 51: O Senhor Caitanya Mahāprabhu vagueava por todos os sete grupos cantando o santo nome: “Hari, Hari!” Levantando os braços, Ele exclamava: “Todas as glórias ao Senhor Jagannātha!”
VERSO 52: Então, o Senhor Caitanya Mahāprabhu demonstrou outro poder místico, realizando passatempos simultaneamente em todos os sete grupos.
VERSO 53: Todos diziam: “O Senhor Caitanya Mahāprabhu está presente em meu grupo. Na verdade, Ele não está em mais nenhum outro lugar. Ele está mostrando-nos Sua misericórdia.”
VERSO 54: Na realidade, ninguém podia entender a potência inconcebível do Senhor. Apenas os devotos mais íntimos, aqueles imersos em serviço devocional puro, podiam compreender.
VERSO 55: O saṅkīrtana agradou muito o Senhor Jagannātha, e Ele manteve Sua carruagem parada em um determinado local apenas para assistir ao espetáculo.
VERSO 56: O rei Pratāparudra também se admirou ao ver o saṅkīrtana. Paralisado, viu-se transformar pelo amor extático por Kṛṣṇa.
VERSO 57: Quando o rei informou a Kāśī Miśra sobre as glórias do Senhor, Kāśī Miśra respondeu: “Ó rei, tua fortuna não conhece limites!”
VERSO 58: Tanto o rei quanto Sārvabhauma Bhaṭṭācārya estavam a par das atividades do Senhor, mas nenhuma outra pessoa pôde perceber as artimanhas do Senhor Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 59: Apenas alguém que tenha recebido a misericórdia do Senhor pode compreender. Sem a misericórdia do Senhor, nem mesmo os semideuses, encabeçados pelo senhor Brahmā, podem compreender.
VERSO 60: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito vendo o rei aceitar a tarefa subalterna de varrer a rua, e, por essa atitude humilde, o rei recebeu a misericórdia de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Assim, ele pôde observar o mistério das atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 61: Apesar de não ter conseguido uma entrevista com o Senhor, o rei recebeu a misericórdia imotivada do Senhor indiretamente. Quem pode entender a potência interna de Śrī Caitanya Mahāprabhu?
VERSO 62: Quando as duas grandes personalidades Sārvabhauma Bhaṭṭācārya e Kāśī Miśra viram a misericórdia imotivada de Śrī Caitanya Mahāprabhu ser outorgada ao rei, ficaram maravilhados.
VERSO 63: Dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu realizou Seus passatempos por algum tempo. Ele próprio cantava e induzia Seus associados pessoais a dançarem.
VERSO 64: Segundo Lhe convinha, o Senhor ora manifestava uma forma, ora manifestava muitas. Isso era efetuado por Sua potência interna.
VERSO 65: Na verdade, a Personalidade de Deus esquecia-Se de Si no decurso de Seus passatempos transcendentais. Porém, Sua potência interna [līlā-śakti], conhecendo as intenções do Senhor, tomava todas as providências.
VERSO 66: Assim como outrora o Senhor Śrī Kṛṣṇa realizou a dança da rāsa-līlā e outros passatempos em Vṛndāvana, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu realizava passatempos incomuns um instante após o outro.
VERSO 67: Somente os devotos puros puderam perceber a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu perante a carruagem do Ratha-yātrā. Outros não puderam compreender. Pode-se encontrar descrições da dança incomum do Senhor Kṛṣṇa na escritura revelada Śrīmad-Bhāgavatam.
VERSO 68: Dessa maneira, Śrī Caitanya Mahāprabhu dançou com grande alegria e inundou todas as pessoas com ondas de amor extático.
VERSO 69: Assim, o Senhor Jagannātha subiu em Seu carruagem, e o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu inspirou todos os Seus devotos a dançarem em frente à carruagem.
VERSO 70: Agora, por favor, escutai sobre o passeio do Senhor Jagannātha até o templo de Guṇḍicā enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava em frente à carruagem do Ratha.
VERSO 71: O Senhor realizou kīrtana por algum tempo, e, ao verem-nO tão empenhado, todos os devotos sentiram-se inspirados a dançar.
VERSO 72: Quando o próprio Senhor quis dançar, todos os sete grupos juntaram-se.
VERSO 73: Todos os devotos do Senhor – incluindo Śrīvāsa, Rāmāi, Raghu, Govinda, Mukunda, Haridāsa, Govindānanda, Mādhava e Govinda – reuniram-se.
VERSO 74: Ao desejar pular muito alto enquanto dançava, Śrī Caitanya Mahāprabhu deixou essas nove pessoas sob os cuidados de Svarūpa Dāmodara.
VERSO 75: Estes devotos [Svarūpa Dāmodara e os devotos sob seu encargo] cantavam juntamente com o Senhor e corriam lado a lado com Ele. Todos os outros grupos de homens também cantavam.
VERSO 76: Após oferecer reverências ao Senhor, Śrī Caitanya Mahāprabhu, de mãos postas, levantou o rosto em direção a Jagannātha e orou da seguinte maneira.
VERSO 77: “‘Deixai-me prestar minhas respeitosas reverências ao Senhor que é a Deidade adorável de toda a classe bramânica, o benquerente das vacas e dos brāhmaṇas e o benfeitor perpétuo do mundo inteiro. Presto minhas repetidas reverências à Personalidade de Deus, conhecido como Kṛṣṇa e Govinda.’”
VERSO 78: “‘Todas as glórias à Suprema Personalidade de Deus, que é conhecido como o filho de Devakī. Todas as glórias à Suprema Personalidade de Deus, que é conhecido como a luz da dinastia de Vṛṣṇi. Todas as glórias à Suprema Personalidade de Deus, cujo brilho corpóreo lembra aquele de uma nuvem recém-formada e cujo corpo é macio como uma flor de lótus. Todas as glórias à Suprema Personalidade de Deus, que apareceu neste planeta para libertar o mundo da sobrecarga de demônios e que pode conceder a liberação a todos.’”
VERSO 79: “‘O Senhor Śrī Kṛṣṇa, conhecido como jana-nivāsa, o último recurso de todas as entidades vivas, também é conhecido como Devakī-nandana ou Yaśodā-nandana, o filho de Devakī e Yaśodā. Ele é o guia da dinastia Yadu e, com Seus poderosos braços, mata todas as coisas inauspiciosas, bem como todos os homens ímpios. Com Sua presença, Ele destrói tudo o que é inauspicioso para as entidades vivas, móveis e inertes. Seu rosto sorridente e bem-aventurado sempre aumenta os desejos luxuriosos das gopīs de Vṛndāvana. Que com Ele sempre esteja toda glória e felicidade!’”
VERSO 80: “‘Não sou brāhmaṇa, não sou kṣatriya, não sou vaiśya nem śūdra. Não sou brahmacārī nem chefe de família nem vānaprastha nem sannyāsī. Eu Me identifico apenas como o servo do servo do servo dos pés de lótus do Senhor Śrī Kṛṣṇa, o mantenedor das gopīs. Ele é como um oceano de néctar e é a causa de bem-aventurança transcendental e universal. Sua existência é sempre brilhante.’”
VERSO 81: Após recitar todos estes versos, que se encontram nas escrituras, o Senhor novamente ofereceu Suas reverências, e todos os devotos, de mãos postas, também ofereceram orações à Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 82: Ao dançar e pular alto, bramindo como um trovão e girando como uma roda, Śrī Caitanya Mahāprabhu parecia um tição a girar.
VERSO 83: Onde quer que Śrī Caitanya Mahāprabhu pisasse enquanto dançava, toda a Terra, com suas colinas e mares, parecia inclinar-se.
VERSO 84: Quando Caitanya Mahāprabhu dançava, manifestava diversas alterações transcendentais de bem-aventurança em Seu corpo. Às vezes, parecia atordoado. Outras vezes, os pelos de Seu corpo arrepiavam-se. Ainda em outras ocasiões, Ele transpirava, chorava, tremia e mudava de cor. Outras vezes, transparecia sintomas de desamparo, orgulho, exuberância e humildade.
VERSO 85: Durante a dança, ouvia-se um baque causado pela queda de Śrī Caitanya Mahāprabhu ao solo, e, a seguir, Ele rolava. Em tais momentos, parecia que uma montanha de ouro rolava pelo chão.
VERSO 86: Nityānanda Prabhu esticava as mãos e tentava agarrar o Senhor quando Ele disparava a correr daqui para ali.
VERSO 87: Advaita Ācārya seguia o Senhor e cantava bem alto: “Haribol! Haribol!”, repetidamente.
VERSO 88: Com o propósito de impedir que a multidão se acercasse muito do Senhor, formaram-Se três círculos. Nityānanda Prabhu, que é o próprio Balarāma, possuidor de grande força, comandava o primeiro círculo.
VERSO 89: Todos os devotos, encabeçados por Kāśīśvara e Govinda, deram-se as mãos e formaram um segundo círculo ao redor do Senhor.
VERSO 90: Mahārāja Pratāparudra e seus assistentes pessoais formaram um terceiro círculo ao redor dos dois círculos internos, apenas para impedir que a multidão se aproximasse demais.
VERSO 91: Com as mãos nos ombros de Haricandana, o rei Pratāparudra pôde ver o Senhor Caitanya Mahāprabhu dançando e sentiu um grande êxtase.
VERSO 92: Enquanto o rei contemplava a dança, Śrīvāsa Ṭhākura, postado à sua frente, ficou em êxtase vendo a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 93: Ao ver Śrīvāsa Ṭhākura de pé na frente do rei, Haricandana tocou Śrīvāsa com sua mão e pediu-lhe que se afastasse.
VERSO 94: Absorto em assistir à dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Śrīvāsa Ṭhākura não pôde entender por que estava sendo tocado e empurrado. Após ser empurrado repetidas vezes, irritou-se.
VERSO 95: Śrīvāsa Ṭhākura esbofeteou Haricandana a fim de que este parasse de empurrá-lo. Isso, contudo, acendeu a ira de Haricandana.
VERSO 96: Quando Haricandana, irado, estava prestes a dirigir a palavra a Śrīvāsa Ṭhākura, Pratāparudra Mahārāja pessoalmente interveio.
VERSO 97: O rei Pratāparudra disse: “És muito afortunado, pois foste agraciado com o toque de Śrīvāsa Ṭhākura. Eu não tenho tanta sorte. Deverias sentir-te agradecido a ele.”
VERSO 98: Todos se maravilharam com a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu, e até o Senhor Jagannātha ficou extremamente feliz ao vê-lO dançar.
VERSO 99: A carruagem ficou completamente parada, permanecendo imóvel enquanto o Senhor Jagannātha, cujos olhos não piscam, assistia à dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 100: Tanto a deusa da fortuna, Subhadrā, quanto o Senhor Balarāma sentiam grande felicidade e êxtase em Seus corações. Na verdade, Eles eram vistos sorrindo para a dança.
VERSO 101: Quando Caitanya Mahāprabhu dançava e pulava alto, viam-se em Seu corpo oito transformações maravilhosas, indicativas do êxtase divino. Observavam-se todos esses sintomas de uma só vez.
VERSO 102: Pústulas irromperam-se por Sua pele, e os pelos de Seu corpo arrepiaram-se. Seu corpo se assemelhava a uma śimulī [árvore de algodão sedoso] toda coberta de espinhos.
VERSO 103: As pessoas foram tomadas de grande pavor simplesmente por verem Seus dentes rangendo, e até pensaram que Seus dentes seriam projetados para fora.
VERSO 104: Todo o corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu transpirava e, ao mesmo tempo, expelia sangue. Ele emitia o som “jaja gaga, jaja gaga” com uma voz sufocada pelo êxtase.
VERSO 105: Lágrimas jorravam dos olhos do Senhor como o líquido que sai impetuosamente ao se forçar o êmbolo de uma seringa e, dessa maneira, molhavam todas as pessoas que estavam à Sua volta.
VERSO 106: Todos viram a tez de Seu corpo, antes branca, ficar cor-de-rosa, de modo que Seu esplendor se assemelhava ao da flor mallikā.
VERSO 107: Às vezes, Ele parecia atordoado, e, outras vezes, rolava no chão. Algumas vezes, em verdade, Suas pernas e mãos ficavam tão duras quanto madeira seca e Ele não Se movia.
VERSO 108: Quando o Senhor caía ao solo, às vezes Sua respiração quase parava. Quando os devotos viam isso, suas vidas também pareciam prestes a findar.
VERSO 109: Água fluía de Seus olhos e, às vezes, de Suas narinas, e caía espuma de Sua boca. Esses líquidos pareciam torrentes de néctar descendo da lua.
VERSO 110: Śubhānanda pegou e bebeu a espuma que caía da boca de Śrī Caitanya Mahāprabhu, pois era muito afortunado e perito em saborear a doçura do amor extático por Kṛṣṇa.
VERSO 111: Após realizar durante algum tempo Sua dança devastadora, a mente de Śrī Caitanya Mahāprabhu entrou em um estado de amor extático.
VERSO 112: Após abandonar a dança, o Senhor ordenou que Svarūpa Dāmodara cantasse. Compreendendo a intenção do Senhor, Svarūpa Dāmodara começou a cantar o seguinte.
VERSO 113: “Agora recuperei o Senhor de Minha vida, em cuja ausência o Cupido queimava-Me e Eu definhava.”
VERSO 114: Tão logo Svarūpa Dāmodara cantou alto este refrão, Śrī Caitanya Mahāprabhu voltou a dançar ritmicamente em bem-aventurança transcendental.
VERSO 115: A carruagem do Senhor Jagannātha começou a mover-se lentamente enquanto o filho de mãe Śacī seguia dançando na frente.
VERSO 116: Enquanto dançavam e cantavam, todos os devotos na frente do Senhor Jagannātha não tiravam seus olhos dEle. Então, Caitanya Mahāprabhu foi para o extremo final da procissão com os executantes de saṅkīrtana.
VERSO 117: Com Seus olhos e mente inteiramente absortos no Senhor Jagannātha, Caitanya Mahāprabhu começou a interpretar a canção com o movimento de Seus dois braços.
VERSO 118: Enquanto representava dramaticamente a canção, Caitanya Mahāprabhu às vezes ficava para trás da procissão. Em tais momentos, o Senhor Jagannātha parava um pouco. Quando Caitanya Mahāprabhu novamente seguia em frente, a carruagem do Senhor Jagannātha partia de novo, bem devagar.
VERSO 119: Asim, houve uma espécie de competição entre Caitanya Mahāprabhu e o Senhor Jagannātha para ver quem lideraria; Caitanya Mahāprabhu, porém, era tão forte que fez o Senhor Jagannātha ficar esperando na carruagem.
VERSO 120: Enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava, sentia novos êxtases. Erguendo os braços, Ele Se colocou a recitar o seguinte verso em voz alta.
VERSO 121: “‘Aquela mesma personalidade que cativou meu coração durante minha juventude é novamente meu amo. Estas são as mesmas noites enluaradas do mês de caitra. Há a mesma fragrância de flores mālatī, e as mesmas brisas doces sopram da floresta de kadamba. Em nossa relação íntima, sou também a mesma amante, mas minha mente não está feliz aqui. Anseio voltar àquele local às margens do Revā, ao pé da árvore Vetasī. É isso o que desejo.’”
VERSO 122: Śrī Caitanya Mahāprabhu recitou este verso repetidas vezes. Com a exceção de Svarūpa Dāmodara, ninguém pôde entender seu significado.
VERSO 123: Já expliquei este verso. Agora simplesmente farei uma sucinta descrição dele.
VERSO 124: Outrora, todas as gopīs de Vṛndāvana ficaram muito satisfeitas ao se encontrarem com Kṛṣṇa no lugar sagrado de Kurukṣetra.
Text 125: De maneira semelhante, após ver o Senhor Jagannātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu despertou com o êxtase das gopīs. Estando absorto nesse êxtase, pediu que Svarūpa Dāmodara cantasse o refrão.
VERSO 126: Śrī Caitanya Mahāprabhu falou assim para o Senhor Jagannātha: “És o mesmo Kṛṣṇa, e Eu sou a mesma Rādhārāṇī. Estamo-Nos encontrando de novo, assim como Nós Nos costumávamos encontrar nos primórdios de Nossa vida.”
VERSO 127: “Embora ambos sejamos os mesmos, Minha mente ainda se sente atraída por Vṛndāvana-dhāma. Desejo que, por favor, pises novamente com Teus pés de lótus em Vṛndāvana.”
VERSO 128: “Kurukṣetra está repleta de pessoas, com seus elefantes e cavalos, e o matraquear das quadrigas. Em Vṛndāvana, contudo, existem jardins floridos, e pode-se ouvir o zumbido das abelhas e o gorjeio dos pássaros.”
VERSO 129: “Aqui em Kurukṣetra, Tu Te vestes como um príncipe, acompanhado de grandes guerreiros; em Vṛndāvana, porém, apareceste como um simples vaqueirinho, munido apenas de Tua bela flauta.”
VERSO 130: “Vejo que aqui não há nem mesmo uma gota do oceano de felicidade transcendental que conTigo desfrutei em Vṛndāvana.”
VERSO 131: “Peço-Te, portanto, que venhas a Vṛndāvana para gozares de passatempos coMigo. Caso faças isso, satisfarei Minha ambição.”
VERSO 132: Já descrevi sucintamente a afirmação de Śrīmatī Rādhārāṇī, afirmação esta encontrada no Śrīmad-Bhāgavatam.
VERSO 133: Neste êxtase, Śrī Caitanya Mahāprabhu recitou muitos outros versos, mas as pessoas em geral não podem entender o significado deles.
VERSO 134: Svarūpa Dāmodara Gosvāmī conhecia o significado desses versos, mas não o revelava. Contudo, Śrī Rūpa Gosvāmī divulgou esse significado.
VERSO 135: Enquanto dançava, Śrī Caitanya Mahāprabhu recomeçou a recitar aquele verso, que saboreou na companhia de Svarūpa Dāmodara Gosvāmī.
VERSO 136: “[Assim falaram as gopīs:] ‘Querido Senhor, cujo umbigo é como uma flor de lótus, Teus pés de lótus são o único refúgio para aqueles que se encontram caídos no poço da existência material. Grandes yogīs místicos e filósofos de extrema erudição adoram Teus pés, nos quais estão sempre meditando. Desejamos que a lembrança desses pés de lótus possa também ser despertada dentro de nossos corações, embora sejamos apenas simples mocinhas ocupadas em afazeres domésticos.’”
VERSO 137: Assumindo a atitude de Śrīmatī Rādhārāṇī, Caitanya Mahāprabhu disse: “‘Para a maioria das pessoas, o coração e a mente são a mesma coisa, mas, como Minha mente nunca se afasta de Vṛndāvana, considero que Minha mente e Vṛndāvana são a mesma coisa. Minha mente já é Vṛndāvana, e, já que gostas de Vṛndāvana, por favor, poderias colocar Teus pés de lótus lá? Eu tomaria isso como Tua misericórdia completa.’”
VERSO 138: “Meu querido Senhor, por favor, ouve Meu apelo sincero. Vṛndāvana é Meu lar, e Eu desejo associar-Me conTigo lá. Porém, caso Eu não consiga isso, manter a Minha vida será algo muito difícil para Mim.”
VERSO 139: “Meu querido Kṛṣṇa, outrora, quando residias em Mathurā, enviaste Uddhava para ensinar-Me conhecimento especulativo e yoga místico. Agora és Tu mesmo quem Me fala a mesma coisa, mas Minha mente não aceita isso. Em Minha mente, não há lugar para jñāna-yoga ou dhyāna-yoga. Muito mbora Me conheças muito bem, insistes em Me instruir sobre jñāna-yoga e dhyāna-yoga. Não é correto o que estás fazendo.”
VERSO 140: Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Gostaria de afastar Minha consciência de Ti e ocupá-la em atividades materiais; porém, por mais que Eu tente, não consigo fazer isso. Sinto-Me naturalmente inclinada apenas a Ti. Portanto, quando Me instruis para que Eu medite em Ti, isso é simplesmente patético! Dessa maneira, estás Me matando. Não é muito bom que penses em Mim como alguém que aceitará essas Tuas instruções.”
VERSO 141: “As gopīs não são como os yogīs místicos. Elas jamais se satisfarão simplesmente por meditar em Teus pés de lótus e imitar os ditos yogīs. Ensinar às gopīs sobre meditação é mais uma espécie de duplicidade. Quando recebem a instrução de se submeterem à prática de yoga místico, elas não ficam nada satisfeitas. Pelo contrário, ficam mais zangadas conTigo.”
VERSO 142: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “As gopīs estão mergulhadas no grande oceano da saudade, e os peixes timiṅgila, que representam a ambição delas em Te servir, estão devorando-as. As gopīs têm que ser libertas da boca desses peixes timiṅgila, pois elas são devotas puras. Como não têm nenhum conceito material de vida, por que deveriam aspirar à liberação? As gopīs não desejam a liberação, tão ambicionada pelos yogīs e jñānīs, pois já se libertaram do oceano da existência material.”
VERSO 143: “É espantoso que Te tenhas esquecido da terra de Vṛndāvana. E como é que conseguiste Te esquecer de Teu pai, de Tua mãe e de Teus amigos? Como foi que Te esqueceste da colina Govardhana, da margem do Yamunā e da floresta onde desfrutaste da dança da rāsa-līlā?”
VERSO 144: “‘Kṛṣṇa, certamente és um cavalheiro refinado, dotado de todas as boas qualidades. Tens um comportamento exemplar, és afável e misericordioso. Reconheço que nem um vestígio de defeito se encontra em Ti. Não obstante, Tua mente nem mesmo se lembra dos habitantes de Vṛndāvana. Isso, e nenhuma outra coisa, é Minha única desventura.’”
VERSO 145: “A Mim pouco Me importa Minha tristeza pessoal, mas, ao ver o rosto tristonho de Tua mãe Yaśodā e os corações de todos os habitantes de Vṛndāvana despedaçarem-se por Tua causa, fico perguntando-Me se Teu desejo é matar todas essas pessoas. Ou desejas avivá-los indo até lá? Por que insistes em mantê-los vivos nesse estado de sofrimento?”
VERSO 146: “Os habitantes de Vṛndāvana não estão interessados em Te ver trajado como um príncipe, nem em Te ver na companhia de grandes guerreiros de uma terra diferente. Eles não conseguem deixar a terra de Vṛndāvana e, longe de Ti, estão todos morrendo. Que destino os aguarda?”
VERSO 147: “Meu querido Kṛṣṇa, és a vida e alma de Vṛndāvana-dhāma. És especialmente a vida de Nanda Mahārāja. És a única opulência da terra de Vṛndāvana, e és muito misericordioso. Por favor, vem e concede-lhes a oportunidade de continuarem vivendo. Por favor, coloca Teus pés de lótus novamente em Vṛndāvana.”
VERSO 148: Ouvir as afirmações de Śrīmatī Rādhārāṇī provocou no Senhor Kṛṣṇa amor pelos habitantes de Vṛndāvana, fazendo com que Seu corpo e Sua mente ficassem muito perturbados. Após ouvir sobre o amor que sentiam por Ele, considerou-Se eternamente endividado com os habitantes de Vṛndāvana. Foi então que Kṛṣṇa colocou-Se a apaziguar Śrīmatī Rādhārāṇī da seguinte maneira.
VERSO 149: “Minha queridíssima Śrīmatī Rādhārāṇī, por favor, escuta-Me e ouvirás da Minha boca somente a verdade. Passo os dias e as noites chorando só de lembrar-Me de todos vós, habitantes de Vṛndāvana. Ninguém sabe o quanto isso Me entristece!”
VERSO 150: Śrī Kṛṣṇa continuou: “Todos os habitantes de Vṛndāvana-dhāma – Minha mãe, Meu pai, Meus amigos vaqueirinhos e todos os demais – são como Minha vida e alma. E, dentre todos os habitantes de Vṛndāvana, as gopīs são Minha própria vida e alma. Dentre as gopīs, Tu, Śrīmatī Rādhārāṇī, és a principal. Por isso, és a própria vida da Minha vida.”
VERSO 151: “Minha querida Śrīmatī Rādhārāṇī, sou sempre subserviente ao amor de todos vós. Estou apenas sob vosso controle. Meu distanciamento de vós para estabelecer residência em lugares distantes ocorreu devido ao Meu grande infortúnio.”
VERSO 152: “Quando uma mulher se afasta do homem que ela ama, ou o homem se afasta de sua amada, nenhum dos dois consegue viver. É um fato que eles vivem apenas um para o outro, pois, se um deles morrer e o outro tomar conhecimento disso, o outro também morrerá.”
VERSO 153: “Quando distantes, uma esposa casta e amorosa e um esposo amoroso desejam tudo de melhor um para o outro e não se importam com sua felicidade pessoal, desejando apenas o bem-estar do outro. Esse casal por certo reencontra-se sem demora.”
VERSO 154: “Tu és Minha amadíssima, e sei que Te é impossível viver, mesmo que por um momento, longe de Mim. Apenas para manter-Te viva, adoro o Senhor Nārāyaṇa. Pela misericordiosa potência dEle, todos os dias Eu vou a Vṛndāvana e desfruto de passatempos conTigo. Em seguida, regresso a Dvārakā-dhāma. Assim, sempre podes sentir Minha presença em Vṛndāvana.”
VERSO 155: “Nosso amor tem mais força por Eu ter a boa fortuna de ter recebido a graça de Nārāyaṇa. Isso Me permite vir aqui sem que os outros Me vejam. Espero que Eu Me torne visível a todos muito em breve.”
VERSO 156: “Já matei todos os demônios malévolos, inimigos da dinastia Yadu, e também matei Kaṁsa e seus aliados. No entanto, há dois ou quatro demônios ainda vivos. Desejo matá-los e, tão logo o faça, regressarei a Vṛndāvana. Por favor, não tenhas dúvidas quanto a isso.”
VERSO 157: “Desejo proteger os habitantes de Vṛndāvana das investidas de Meus inimigos; tanto é que permaneço em Meu reino, pois, se não fosse por isso, Eu seria indiferente à Minha posição real. Todas as esposas, filhos e fortuna que mantenho no reino são apenas para a satisfação dos Yadus.”
VERSO 158: “Tuas qualidades amorosas sempre Me atraem a Vṛndāvana. Na verdade, elas Me trarão de volta em dez ou vinte dias, e, ao retornar, desfrutarei, tanto de dia quanto de noite, conTigo e com todas as donzelas de Vrajabhūmi.”
VERSO 159: Enquanto falava com Śrīmatī Rādhārāṇī, Kṛṣṇa ficou muito ansioso por voltar a Vṛndāvana. Ele fez com que Ela ouvisse um verso que Lhe afastou todas as dificuldades, assegurando-Lhe que Ela novamente viveria na companhia de Kṛṣṇa.
VERSO 160: O Senhor Śrī Kṛṣṇa disse: “O serviço devocional a Mim é a única maneira de alcançar-Me. Minhas queridas gopīs, todo o amor e a afeição que, por boa fortuna, desenvolvestes por Mim é a única razão que Me impele a voltar para vós.”
VERSO 161: Śrī Caitanya Mahāprabhu, sentado em Seu quarto com Svarūpa Dāmodara, saboreava os tópicos desses versos dia e noite.
VERSO 162: Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava plenamente absorto em emoções extáticas. Enquanto olhava para o rosto do Senhor Jagannātha, Ele dançava e recitava esses versos.
VERSO 163: Ninguém pode descrever a boa fortuna de Svarūpa Dāmodara Gosvāmī, pois ele está sempre absorto no serviço ao Senhor com seu corpo, mente e palavras.
VERSO 164: Os sentidos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu eram idênticos aos sentidos de Svarūpa. Por isso, Caitanya Mahāprabhu costumava absorver-Se plenamente em saborear o cantar de Svarūpa Dāmodara.
VERSO 165: Emocionado e em êxtase, Caitanya Mahāprabhu às vezes sentava-Se no chão e, olhando para baixo, escrevia no chão com Seu dedo.
VERSO 166: Receoso de que o Senhor machucasse Seu dedo ao escrever daquela maneira, Svarūpa Dāmodara detinha-O com suas próprias mãos.
VERSO 167: Svarūpa Dāmodara costumava cantar exatamente de acordo com a emoção extática do Senhor. Sempre que Śrī Caitanya Mahāprabhu saboreava uma determinada doçura, Svarūpa Dāmodara personificava-a pelo canto.
VERSO 168: Śrī Caitanya Mahāprabhu olhou para o belo rosto e belos olhos de lótus do Senhor Jagannātha.
VERSO 169: O Senhor Jagannātha estava enguirlandado, vestido com roupas finas e adornado com belos ornamentos. Seu rosto cintilava ao refletir os raios do Sol, e havia uma fragrância agradável por toda a atmosfera.
VERSO 170: Um oceano de bem-aventurança transcendental expandiu-se no coração do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, e sintomas de loucura imediatamente se intensificaram como um furacão.
VERSO 171: A loucura da bem-aventurança transcendental criou ondas de diversas emoções. As emoções assemelhavam-se a soldados rivais defrontando-se em uma luta.
VERSO 172: Intensificaram-se todos os sintomas naturais das emoções. Assim, houve um despertar de emoções pacíficas, unidas, misturadas, transcendentais, prevalecentes e ímpetos de emoção.
VERSO 173: O corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu parecia uma transcendental montanha dos Himalaias repleta de árvores de flores de emoções extáticas, todas elas desabrochando.
VERSO 174: Ao presenciarem todos esses sintomas, atraíam-se a mente e a consciência de todo. Na verdade, o Senhor borrifou na mente de todos o néctar do transcendental amor por Deus.
VERSO 175: Ele borrifou sobre a mente dos servos do Senhor Jagannātha, dos funcionários do governo, dos peregrinos em visita, da população em geral e de todos os residentes de Jagannātha Purī.
VERSO 176: Após verem a dança e o amor extático de Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos ficaram atônitos e, dentro de seus corações, enlouqueceram de amor por Kṛṣṇa.
VERSO 177: Todos dançavam e cantavam em amor extático, e ecoava um grande barulho. Todos ficaram arrebatados em bem-aventurança transcendental simplesmente por ver a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 178: Sem contar os demais, até mesmo o Senhor Jagannātha e o Senhor Balarāma, com grande alegria, começaram a mover-Se bem devagar ao verem a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 179: Às vezes, o Senhor Jagannātha e o Senhor Balarāma paravam a carruagem e alegremente observavam a dança do Senhor Caitanya. Todos que puderam vê-lOs parar e assistir à dança testemunharam Seus passatempos.
VERSO 180: Dançando e vagueando dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu caiu em frente a Mahārāja Pratāparudra.
VERSO 181: Mahārāja Pratāparudra ergueu o Senhor com grande respeito, mas, ao ver o rei, o Senhor Caitanya Mahāprabhu recuperou Sua consciência externa.
VERSO 182: Após ver o rei, Śrī Caitanya Mahāprabhu condenou a Si próprio, dizendo: “Oh! Como é lastimável ter tocado em uma pessoa interessada em assuntos mundanos!”
VERSO 183: Nem mesmo o Senhor Nityānanda Prabhu, Kāśīśvara ou Govinda se preocuparam com o Senhor Caitanya Mahāprabhu quando Ele caiu, pois Nityānanda estava em grande êxtase, e Kāśīśvara e Govinda estavam em outra parte.
VERSO 184: O comportamento do rei já satisfizera Śrī Caitanya Mahāprabhu, pois o rei servira o Senhor Jagannātha varrendo-Lhe o caminho. O Senhor Caitanya Mahāprabhu, em virtude disso, desejava, sim, ver o rei.
VERSO 185: Entretanto, apenas para alertar Seus associados pessoais, a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Caitanya Mahāprabhu, expressou sentimentos de ira externamente.
VERSO 186: O rei Pratāparudra ficou amedrontado quando o Senhor Caitanya demonstrou a ira externa, mas Sārvabhauma Bhaṭṭācārya disse ao rei: “Não te preocupes.”
VERSO 187: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya informou ao rei: “O Senhor está muito satisfeito contigo. Ao chamar a atenção para ti, Ele ensinava Seus associados pessoais a como comportarem-se com pessoas mundanas.”
VERSO 188: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya prosseguiu: “Apresentarei teu pedido tão logo surja a oportunidade. Então, não terás dificuldade em ires encontrar-te com o Senhor.”
VERSO 189: Após circundar Jagannātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para trás da carruagem e começou a empurrá-la com Sua cabeça.
VERSO 190: Tão logo Ele empurrou, a carruagem, matraqueando, começou a andar. Em todo o arredor, as pessoas puseram-se a cantar o santo nome do Senhor: “Hari! Hari!”
VERSO 191: Enquanto a carruagem começava a mover-se, Śrī Caitanya Mahāprabhu levou Seus associados pessoais para a frente das carruagens ocupadas pelo Senhor Balarāma e Subhadrā, a deusa da fortuna. Cheio de inspiração, Ele Se colocou, então, a dançar na frente dEles.
VERSO 192: Após terminar a dança perante o Senhor Baladeva e Subhadrā, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi perante a carruagem do Senhor Jagannātha. Ao ver o Senhor Jagannātha, recomeçou Sua dança.
VERSO 193: Ao alcançarem o local chamado Balagaṇḍi, o Senhor Jagannātha parou Sua carruagem e começou a olhar para a esquerda e para a direita.
VERSO 194: Do lado esquerdo, o Senhor Jagannātha viu um bairro de brāhmaṇas e um bosque de coqueiros. Do lado direito, viu belos jardins floridos semelhantes àqueles da terra sagrada de Vṛndāvana.
VERSO 195: Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus devotos dançavam na frente da carruagem, e o Senhor Jagannātha, tendo parado a carruagem, admirava a dança.
VERSO 196: Era de costume que se oferecessem alimentos ao Senhor em vipra-śāsana. Na verdade, ofereceram-se inúmeros pratos de comida, e o Senhor Jagannātha saboreou cada um deles.
VERSO 197: Todas as classes de devotos do Senhor Jagannātha – desde os neófitos até os mais avançados – ofereceram as melhores preparações ao Senhor.
VERSO 198: Incluídos estavam o rei, suas rainhas, seus ministros e amigos e todos os demais residentes, importantes ou não, de Jagannātha Purī.
VERSO 199: Todos os visitantes que, vindos de diferentes partes, chegaram a Jagannātha Purī, bem como os devotos locais, ofereceram ao Senhor os alimentos que eles próprios haviam cozinhado.
VERSO 200: Os devotos ofereceram seus alimentos em toda parte, na frente e atrás da carruagem, de ambos os lados e dentro do jardim florido. Sempre que possível, faziam suas oferendas ao Senhor, pois não havia regras rígidas.
VERSO 201: Ao se oferecer o alimento, formou-se uma grande multidão. Nesse momento, parando Sua dança, Śrī Caitanya Mahāprabhu dirigiu-Se a um jardim próximo.
VERSO 202: Śrī Caitanya Mahāprabhu dirigiu-Se ao jardim. Imerso em grande emoção de êxtase, Ele caiu prostrado em uma plataforma elevada que ali se encontrava.
VERSO 203: O Senhor estava cansado do árduo esforço da dança, e todo o Seu corpo transpirava. Por isso, Ele desfrutou da brisa refrescante e aromática do jardim.
VERSO 204: Todos os devotos que realizavam saṅkīrtana foram até ali e descansaram sob as árvores.
VERSO 205: Deste modo, acabo de descrever a magnífica execução do canto congregacional do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu enquanto Ele dançava em frente ao Senhor Jagannātha.
VERSO 206: Em sua oração conhecida como Caitanyāṣṭaka, Śrīla Rūpa Gosvāmī faz uma descrição vívida da dança do Senhor perante a carruagem de Jagannātha.
VERSO 207: “Śrī Caitanya Mahāprabhu dançou ao longo da estrada principal em grande êxtase perante o Senhor Jagannātha, o Senhor de Nīlācala, que estava sentado em Sua carruagem. Arrebatado em bem-aventurança transcendental produzida pela dança e rodeado de vaiṣṇavas que cantavam os santos nomes, Ele manifestou ondas de amor extático por Deus. Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu aparecerá novamente diante de minha visão?”
VERSO 208: Quem quer que ouça esta descrição do festival das carruagens terá acesso a Śrī Caitanya Mahāprabhu. Ele também atingirá o estado elevado em que se ganha firme convicção no serviço devocional e se desenvolve amor por Deus.
VERSO 209: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.