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Capítulo 84

As Cerimônias de Sacrifício Executadas por Vasudeva

Entre as mulheres presentes em Kurukṣetra durante o eclipse solar, estavam Kuntī, Gāndhāri, Draupadī, Subhadrā e as rainhas de muitos outros reis, como também as gopīs de Vṛndāvana. Quando as diferentes rainhas do Senhor Kṛṣṇa fizeram suas descrições de como elas tinham se casado e sido aceitas pelo Senhor Kṛṣṇa como Suas esposas, todas as mulheres da dinastia Kuru ficaram maravilhadas. Elas ficaram muito admiradas ao ver como todas as rainhas de Kṛṣṇa eram apegadas a Ele com carinho e afeto. Quando ouviram falar da intensidade do amor e afeição das rainhas para com Kṛṣṇa, elas não puderam evitar que seus olhos se enchessem de lágrimas.

Enquanto as mulheres conversavam entre si e os homens também estavam envolvidos em suas conversas, chegaram de todas as direções quase todos os importantes sábios e ascetas que tinham vindo com o propósito de ver os Senhores Kṛṣṇa e Balarāma. Dentre esses sábios, os principais eram Kṛṣṇa-dvaipāyana Vyāsa, o grande sábio Nārada, Cyavana, Devala, Asita, Viśvāmitra, Śātānanda, Bharadvāja, Gautama, o Senhor Paraśurāma (junto de Seus discípulos), Vasiṣṭha, Gālava, Bhṛgu, Pulastya, Kaśyapa, Atri, Mārkaṇḍeya, Bṛhaspati, Dvita, Trita, Ekata, os quatro filhos Kumāra de Brahmā (Sanaka, Sanandana, Sanātana e Sanat-kumāra), Aṅgirā, Agastya, Yājñavalkya e Vāmadeva.

Assim que os sábios e ascetas chegaram, todos os reis, inclusive Mahārāja Yudhiṣṭhira, os outros Pāṇḍavas e o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma, imediatamente levantaram-se dos seus assentos e ofereceram cumprimentos curvando-se diante dos sábios universalmente respeitados. Em seguida, os sábios receberam as devidas boas-vindas, sendo-lhes oferecidos assentos e água para lavar os pés. Frutas saborosas, guirlandas de flores, incenso e polpa de sândalo foram ofertados, e todos os reis, conduzidos por Kṛṣṇa e Balarāma, adoraram os sábios de acordo com as regras e regulações védicas. Quando todos os sábios estavam confortavelmente sentados, o Senhor Kṛṣṇa, que veio para dar proteção à religião, começou a falar-lhes em nome de todos os reis. Quando Kṛṣṇa iniciou Seu discurso, todos ficaram calados, estando ansiosos por ouvir e entender Suas palavras de boas-vindas aos sábios.

O Senhor Kṛṣṇa falou assim: “Todas as glórias aos sábios e ascetas reunidos! Hoje, todos sentimos que nossas vidas tornaram-se prósperas. Hoje, alcançamos a meta desejada da vida, porque vemos agora, face a face, todos os sábios e ascetas libertos e elevados, quem até mesmo os grandes semideuses nos céus desejam ver. Os que são neófitos no serviço devocional e que simplesmente oferecem suas respeitosas reverências à Deidade no templo, mas não podem perceber que o Senhor está situado no coração de todos, bem como aqueles que simplesmente adoram diferentes semideuses para a realização dos seus próprios desejos luxuriosos, estão impossibilitados de entender a importância destes sábios. Eles não podem tirar proveito da recepção destes sábios, vendo-os com seus próprios olhos, tocando seus pés de lótus, perguntando sobre o seu bem-estar ou por adorá-los com fervor”.

Devotos ou religiosos neófitos não podem entender a importância de grandes mahātmās. Eles vão ao templo por formalidade e prestam suas respeitosas reverências à Deidade. Não obstante, quando a pessoa é promovida à próxima plataforma da consciência transcendental, ela pode entender a importância dos mahātmās e devotos e, nessa fase, tenta agradá-los. Portanto, o Senhor Kṛṣṇa disse que o neófito não pode entender a importância dos grandes sábios, devotos ou ascetas.

O Senhor Kṛṣṇa continuou: “A pessoa não pode se purificar somente viajando para lugares santos de peregrinação e se banhando ali, ou vendo as formas de semideuses nos templos. Contudo, se a pessoa por acaso conhece um grande devoto, um mahātmā que é representante da Personalidade de Deus, ela se purifica imediatamente. Para se purificar, ordena-se que ela adore o fogo, o Sol, a Lua, a Terra, a água, o ar, o céu e a mente. Através da adoração de todos os elementos e suas deidades predominantes, a pessoa pode gradativamente se libertar da influência da inveja, porém, todos os pecados de uma pessoa invejosa podem ser anulados de imediato simplesmente por servir uma grande alma”.

“Meus queridos e venerados sábios e respeitáveis reis, vocês podem entender coMigo que uma pessoa que aceita este corpo material feito de três elementos – muco, bile e ar – como seu próprio ego, que considera sua família e seus parentes como sendo dela, que aceita coisas materiais como adoráveis, ou que visita lugares santos de peregrinação apenas para tomar um banho, mas nunca se associa com grandes personalidades, sábios e mahātmās – tal pessoa, embora na forma de um ser humano, é nada mais que um asno ou animal semelhante.”

Enquanto a autoridade suprema, o Senhor Kṛṣṇa, assim falava com muita gravidade, todos os sábios e ascetas permaneceram em total silêncio. Eles ficaram pasmos ao ouvi-lO falar a filosofia absoluta da vida de um modo tão conciso. A menos que a pessoa seja muito avançada em conhecimento, ela pensa que seu corpo é seu ego, considera seus membros familiares como sua propriedade e sua terra natal como sendo adorável. Desse conceito de vida, surgiu a moderna ideologia do nacionalismo. O Senhor Kṛṣṇa condenou tais ideias e também condenou pessoas que se esforçam para ir a lugares santos de peregrinação para tomar banho e voltam sem aproveitar a oportunidade de se associar com os grandes devotos e mahātmās que vivem por lá. Tais pessoas são comparadas ao animal mais tolo, o asno. Todos aqueles que ouviram, consideraram o discurso do Senhor Kṛṣṇa durante algum tempo e concluíram que o Senhor Kṛṣṇa era de fato a Suprema Personalidade de Deus representando o papel de um ser humano comum, que é forçado a assumir certo tipo de corpo como resultado das reações das suas ações passadas. Ele estava assumindo esse passatempo como um ser humano comum simplesmente para ensinar às pessoas em geral como elas deveriam viver para a perfeição da missão humana.

Tendo concluído que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, os sábios dirigiram-se a Ele da seguinte maneira: “Querido Senhor, supõe-se que nós, os líderes da sociedade humana, possuímos a filosofia apropriada de vida, mas estamos confusos pelo feitiço de Sua energia externa. Estamos surpresos em ver Seu comportamento, que é exatamente igual àquele de um ser humano comum e que esconde Sua real identidade como a Suprema Personalidade de Deus. Consideramos, portanto, que Seus passatempos são todos maravilhosos”.

“Nosso querido Senhor, por Sua própria energia, Você cria, mantém e aniquila toda a manifestação cósmica de diferentes nomes e formas assim como a Terra cria muitas formas de pedra, árvores e outras variedades de nomes e formas e ainda permanece a mesma. Embora Você crie variedades de manifestações por Sua energia, Você não Se altera por nenhuma dessas ações. Nosso querido Senhor, estamos simplesmente perplexos por ver Seus atos maravilhosos. Embora Você seja transcendental a toda esta criação material e seja o Senhor Supremo e a Superalma de todas as entidades vivas, Você aparece nesta Terra por Sua potência interna para proteger Seus devotos e destruir os perversos. Por tal aparecimento, Você restabelece os princípios da religião eterna, que a sociedade humana esquece devido à longa associação com a energia material. Nosso querido Senhor, Você é o criador das ordens sociais e estágios espirituais da sociedade humana de acordo com qualidade e trabalho e, quando essas ordens são mal interpretadas por pessoas sem escrúpulos, Você aparece e as restabelece”.

“Querido Senhor, o conhecimento védico é a representação de Seu coração puro. Austeridades, estudo dos Vedas e transes meditativos conduzem a diferentes realizações de Seu Ego em Seus aspectos manifesto e imanifesto. Todo o mundo fenomenal é uma manifestação de Sua energia impessoal, mas Você mesmo, como a original Personalidade de Deus, não Se encontra manifestado aqui. Você é a Alma Suprema, o Brahman Supremo. As pessoas que seguem a cultura bramânica podem compreender a verdade sobre Sua forma transcendental. Por conseguinte, Você sempre respeita os brāhmaṇas e é o mais elevado seguidor de toda a cultura bramânica. Por essa razão, Você é conhecido como brahmanya-deva. Nosso querido Senhor, Você é a última palavra em boa fortuna e o abrigo último de todos os santos, em virtude do que todos nós entendemos que alcançamos a perfeição de nossas vidas, da educação, das austeridades e da aquisição de conhecimento transcendental ao encontrarmos Você. Na verdade, Você é a meta última de todas as realizações transcendentais”.

“Nosso querido Senhor, Seu conhecimento é ilimitado. Sua forma é transcendental e existe eternamente em plenitude de felicidade e conhecimento. Você é a Suprema Personalidade Deus, o Brahman Supremo, a Alma Suprema. Estando encoberto pela ilusão da Sua potência interna, yogamāyā, Você está agora temporariamente ocultando Suas potências ilimitadas, apesar do que podemos entender Sua posição elevada, daí todos nós Lhe oferecermos nossas respeitosas reverências. Querido Senhor, Você está desfrutando Seus passatempos no papel de um ser humano, ocultando Seu verdadeiro caráter de opulência transcendental; logo, nenhum dos reis presentes aqui, nem mesmo os membros da dinastia Yadu, que constantemente se associam, comem e se sentam com Você, podem entender que Você é a causa original de todas as causas, a alma do mundo inteiro e a causa original de toda a criação”.

“Quando uma pessoa sonha à noite, figuras fictícias criadas pelo sonho são aceitas como reais e o corpo onírico imaginário é tido como o corpo real. Durante aquele período, a pessoa esquece que, além do corpo criado em sonho, há outro, um corpo real no seu estado desperto. De igual modo, também, a alma condicionada e confusa, considera, no estado desperto, o gozo dos sentidos como verdadeira felicidade”.

“A alma espiritual é encoberta ao desfrutar os sentidos do corpo material, e sua consciência se contamina materialmente. É devido à consciência material que não se pode compreender a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Todos os grandes yogīs místicos esforçam-se para reavivar sua consciência de Kṛṣṇa por meio da prática madura do sistema de yoga unicamente para entender Seus pés de lótus. Eles meditam em Sua forma transcendental para anular as reações pecaminosas que acumularam. É dito que a água do Ganges pode extinguir grandes quantidades de reações pecaminosas de uma pessoa, mas a água do Ganges só é gloriosa devido a Seus pés de lótus. A água do Ganges flui como a transpiração dos pés de lótus de Sua Onipotência. E somos todos tão afortunados que hoje pudemos ver Seus pés de lótus diretamente. Querido Senhor, somos todos almas rendidas, devotos de Sua Onipotência, motivo pelo qual, por favor, seja amável e conceda-nos Sua misericórdia sem causa. Sabemos bem que pessoas que foram libertas devido à constante ocupação em Seu serviço devocional já não estão contaminadas pelos modos materiais da natureza; assim, elas tornaram-se aptas a serem promovidas ao reino de Deus, no mundo espiritual”.

Depois de terem oferecido orações ao Senhor Kṛṣṇa, os sábios reunidos quiseram pedir permissão ao rei Dhṛtarāstra e ao rei Yudhiṣṭhira e, então, partir para seus respectivos āśramas. Porém, naquele momento, Vasudeva, o pai do Senhor Kṛṣṇa e o mais ilustre de todos os homens piedosos, aproximou-se dos sábios e, com grande humildade, ofereceu suas reverências caindo aos seus pés. Vasudeva disse: “Meus queridos grandes sábios, vocês são mais respeitados do que os semideuses. Dessa forma, ofereço-lhes minhas respeitosas reverências. Gostaria que vocês aceitassem meu pedido, se assim desejarem. Considerarei uma grande bênção se vocês, por obséquio, explicarem a atividade fruitiva suprema, através da qual a pessoa pode anular as reações de todas as outras atividades”.

O grande sábio Nārada era o líder de todos os sábios presentes e, portanto, começou a falar. “Meus queridos sábios”, disse ele, “não é muito difícil de entender que, por causa de sua grande bondade e simplicidade, Vasudeva, que se tornou o pai da Personalidade de Deus, aceitando Kṛṣṇa como seu filho, esteja inclinado a nos perguntar pelo seu bem-estar. É dito que a familiaridade diminui a importância de uma pessoa. Como tal, Vasudeva, tendo Kṛṣṇa como seu filho, não considera Kṛṣṇa com temor e reverência. Ocasionalmente, é visto que pessoas que vivem às margens do Ganges não consideram esse rio muito importante e vão se banhar em um lugar de peregrinação distante. Não há qualquer necessidade de Vasudeva nos pedir instruções quando o Senhor Kṛṣṇa está pessoalmente presente, porque o seu conhecimento nunca pode ser superado em circunstância alguma. O conhecimento do Senhor não é afetado pelo processo de criação, manutenção e aniquilação, nem é jamais influenciado por qualquer razão além dEle mesmo; também não é agitado pelas interações das qualidades materiais ou alterado com o passar do tempo. Sua forma transcendental é plena de conhecimento e nunca se contamina pela ignorância, orgulho, apego, inveja ou gozo dos sentidos. Seu conhecimento nunca está sujeito às leis do karma, no que tange às atividades piedosas ou impiedosas, nem é influenciado pelos três modos da energia material. Ninguém é superior ou igual a Ele, porque Ele é a autoridade suprema, a Personalidade de Deus”.

“O ser humano condicionado comum pode pensar que a alma condicionada, que está encoberta pelos seus sentidos materiais, mente e inteligência, é igual a Kṛṣṇa, mas o Senhor Kṛṣṇa é exatamente como o Sol, que, embora às vezes possa parecer, nunca é encoberto por nuvem, neve ou névoa ou por outros planetas durante um eclipse. Quando os olhos de homens menos inteligentes ficam bloqueados por tais influências, eles pensam que o Sol é invisível. De igual modo, as pessoas influenciadas pelos sentidos, viciadas no prazer material, não podem ter uma visão clara da Suprema Personalidade de Deus”.

Em seguida, os sábios presentes dirigiram-se a Vasudeva na presença do Senhor Kṛṣṇa, Balarāma e muitos outros reis. Como Vasudeva havia pedido, eles deram suas instruções: “Para anular as reações das atividades fruitivas e os desejos que impelem a pessoa para atividades fruitivas, deve-se, com fé e devoção, executar os sacrifícios prescritos destinados a adorar o Senhor Viṣṇu. O Senhor Viṣṇu é o beneficiário dos resultados de todas as cerimônias sacrificiais. Grandes personalidades e sábios, que podem ver tudo claramente com os olhos das escrituras reveladas e possuem a visão das três fases do elemento tempo, a saber, passado, presente e futuro, recomendaram, por unanimidade, que, para purificar a poeira da contaminação material acumulada no coração e para desobstruir o caminho da libertação e, assim, alcançar felicidade transcendental, a pessoa deve agradar o Senhor Viṣṇu. Recomenda-se como o único caminho auspicioso para os que vivem como chefes de família em uma das ordens sociais mais elevadas (brāhmaṇa, kṣatriya e vaiśya) a adoração à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, que é conhecido como Puruṣottama, a pessoa original.

“Todas as almas condicionadas dentro deste mundo material têm desejos muito arraigados de assenhorearem-se dos recursos da natureza material. Todos querem acumular riquezas, desfrutar a vida ao máximo, ter uma esposa, casa e filhos, ficar feliz neste mundo e se elevar aos planetas celestiais na próxima vida. Entretanto, esses desejos são a causa da escravidão material da pessoa. Então, para se libertar dessa escravidão, a pessoa tem que sacrificar, para a satisfação do Senhor Viṣṇu, suas riquezas ganhadas honestamente”.

“O único processo para anular todos os tipos de desejos materiais é ocupar-se no serviço devocional ao Senhor Viṣṇu. Deste modo, uma pessoa autocontrolada, mesmo enquanto permanece na vida de chefe de família, deve suprimir os três tipos de desejos materiais, a saber, o desejo de aquisição de opulências materiais, de desfrute de esposa e filhos e de elevação aos planetas superiores. No final, ela deveria deixar a vida de chefe de família, aceitar a ordem renunciada e ocupar-se completamente no serviço devocional ao Senhor. Todos, até mesmo se nascidos em um estado elevado, como brāhmaṇa, kṣatriya, ou vaiśya, estão certamente endividados com os semideuses, sábios, antepassados e outras entidades vivas, e, para liquidar todas essas dívidas, a pessoa deve executar sacrifícios, estudar a literatura védica e gerar filhos na vida religiosa de chefe de família. Se de alguma maneira a pessoa aceitar a ordem renunciada de vida sem liquidar essas dívidas, ela certamente cairá de sua posição. Hoje, você já liquidou suas dívidas para com seus antepassados e sábios. Agora, por executar sacrifícios, você pode libertar-se da obrigação para com os semideuses e, por conseguinte, tomar pleno abrigo na Suprema Personalidade de Deus. Meu querido Vasudeva, certamente você já executou muitas atividades piedosas em suas vidas passadas. Caso contrário, como poderia ser o pai de Kṛṣṇa e Balarāma, a Suprema Personalidade de Deus?”

O santo Vasudeva, depois de ouvir todos os sábios, ofereceu suas respeitosas reverências aos seus pés de lótus. Consequentemente, ele agradou os sábios e, então, pediu-lhes que executassem os yajñas. Quando os sábios foram selecionados como sacerdotes dos sacrifícios, eles, por sua vez, induziram Vasudeva a coletar a parafernália requerida para a execução dos yajñas naquele lugar de peregrinação. Quando Vasudeva foi assim persuadido a iniciar a execução dos yajñas, todos os membros da dinastia Yadu tomaram seus banhos, vestiram-se muito bem, decoraram-se formosamente e adornaram-se com flores de lótus. As esposas de Vasudeva, vestidas com belas roupas e ornamentos e colares dourados, aproximaram-se da arena de sacrifício carregando em suas mãos os artigos exigidos para as oferendas sacrificiais.

Quando tudo estava completo, ouviu-se a vibração de mṛdaṅgas, búzios, tímbales e outros instrumentos musicais. Dançarinos profissionais, de ambos os sexos, começaram a dançar. Os sūtas e māgadhas, que eram cantores profissionais, começaram a oferecer canções devocionais, e os gandharvas e suas esposas, cujas vozes eram muito doces, começaram a entoar muitas canções auspiciosas. Vasudeva untou seus olhos com cosmético negro, passou manteiga no corpo e, então, junto de suas dezoito esposas, lideradas por Devakī, sentou-se diante dos sacerdotes a fim de se purificar com a cerimônia de abhiṣeka. Enquanto a cerimônia estava sendo estritamente observada de acordo com os princípios das escrituras, Vasudeva assemelhava-se à Lua cercada pelas estrelas. Porque estava sendo iniciado para o sacrifício, ele estava vestido com uma pele de veado, mas todas as suas esposas estavam vestidas com sáris muito belos, braceletes, colares, sinos de tornozelo, brincos e muitos outros ornamentos. Vasudeva parecia muito bonito cercado pelas suas esposas, exatamente como o rei dos céus quando executa tal sacrifício.

Naquele momento, quando o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma, na companhia de Suas esposas, filhos e parentes, sentaram-Se naquela grande arena de sacrifícios, parecia que a Suprema Personalidade de Deus estava presente juntamente com todas as entidades vivas e múltiplas energias, que são Suas partes. Temos informações dos śāstras de que o Senhor Kṛṣṇa tem múltiplas energias e partes integrantes, mas agora, nessa arena de sacrifícios, todos puderam experimentar de fato como a Suprema Personalidade de Deus existe eternamente com Suas diferentes energias. Naquela ocasião, o Senhor Kṛṣṇa assemelhava-Se ao Senhor Nārāyaṇa, e o Senhor Balarāma parecia-Se com Saṅkarṣaṇa, o reservatório de todas as entidades vivas.

Vasudeva agradou o Senhor Viṣṇu executando diversos tipos de sacrifícios, como o Jyotiṣṭoma e o Darśa-pūrṇamāsa. Alguns desses yajñas são chamados prākṛta, e outros são conhecidos como śaurya-satra ou vaikṛta. Depois disso, os outros sacrifícios, conhecidos como agnihotra, também foram executados, e os artigos prescritos foram oferecidos do modo apropriado. Assim, o Senhor Viṣṇu ficou satisfeito. O propósito último do oferecimento de oblações em sacrifício é agradar o Senhor Viṣṇu. Todavia, nesta era de Kali, é muito difícil coletar os diversos artigos requeridos para oferecer sacrifícios. As pessoas não têm nem os meios para reunir a parafernália exigida, nem o conhecimento necessário ou a tendência para oferecer tal sacrifício. Logo, nesta era de Kali, na qual as pessoas são muito desafortunadas, cheias de ansiedades e perturbadas por vários tipos de calamidades, o único sacrifício recomendado é o desempenho de saṅkīrtana-yajña. A adoração do Senhor Caitanya por este saṅkīrtana-yajña é o único processo recomendado nesta era.

Depois da execução dos diferentes sacrifícios, Vasudeva ofereceu amplas riquezas e vestimentas, ornamentos, vacas, terra e criadas para os sacerdotes. Depois disso, todas as esposas de Vasudeva tomaram o banho avabhṛtha e executaram a parte dos deveres sacrificiais conhecida como patnī-saṁyāja. Depois de terminar o oferecimento com toda a parafernália exigida, todos tomaram banho juntos nos lagos construídos por Paraśurāma, que são conhecidos como Rāma-hrada. Depois que Vasudeva e suas esposas se banharam, todas as vestimentas e os ornamentos que eles tinham usado foram distribuídos às pessoas subordinadas ocupadas em cantar, dançar e em atividades semelhantes. Podemos notar que a execução de sacrifício exige profusa distribuição de riquezas. A caridade é oferecida no princípio aos sacerdotes e aos brāhmaṇas, e as roupas e os ornamentos usados são dados em caridade para os auxiliares subordinados depois do desempenho do sacrifício.

Após oferecer os artigos usados aos cantores e recitadores, Vasudeva e suas esposas vestiram-se com novos ornamentos e vestuário e alimentaram todos muito suntuosamente, desde os brāhmaṇas até os cães. Depois disso, todos os amigos, membros familiares, esposas e filhos de Vasudeva reuniram-se em companhia de todos os reis e membros das dinastias Vidarbha, Kośala, Kuru, Kāśī, Kekaya e Sṛñjaya. Os sacerdotes, os semideuses, as pessoas em geral, os antepassados, os fantasmas e os cāraṇas foram todos plenamente recompensados, tendo recebido suficientes presentes e honras respeitosas. Em seguida, todas as pessoas reunidas pediram permissão ao Senhor Kṛṣṇa, o esposo da deusa da fortuna, para irem embora e partiram para suas respectivas casas enquanto glorificavam a perfeição do sacrifício realizado por Vasudeva.

Naquele momento, quando o rei Dhṛtarāṣṭra, Vidura, Yudhiṣṭhira, Bhīma, Arjuna, Bhīṣmadeva, Droṇācārya, Kuntī, Nakula, Sahadeva, Nārada, o Senhor Vyāsadeva e muitos outros parentes e consanguíneos estavam prestes a partir, sentiram a dor da separação e, então, abraçaram cada um dos membros da dinastia Yadu com grande sentimento. Muitos outros, que estavam reunidos naquela arena de sacrifício, também se foram. Logo após, o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma, em companhia do rei Ugrasena, satisfizeram os habitantes de Vṛndāvana, encabeçados por Mahārāja Nanda e os pastores, oferecendo profusamente todos os tipos de presentes para adorá-los e agradá-los. Devido aos seus fortes sentimentos de amizade, os habitantes de Vṛndāvana permaneceram com os membros da dinastia Yadu durante um tempo considerável.

Depois de executar este sacrifício, Vasudeva sentiu-se tão satisfeito que não havia limites para a sua felicidade. Todos os membros da sua família estavam consigo, e, em sua presença, Vasudeva pegou nas mãos de Nanda Mahārāja e dirigiu-se a ele do seguinte modo: “Meu querido irmão, a Suprema Personalidade de Deus criou um grande motivo de apego, conhecido como ‘elo de amor e afeição’. Eu penso que é um trabalho muito difícil, até mesmo para os grandes sábios e pessoas santas, romper esse elo de amor. Meu querido irmão, você exibiu sentimentos de amor para comigo que eu não fui capaz de retribuir. Portanto, penso que sou ingrato. Você se comportou exatamente como é próprio das pessoas santas, mas eu nunca poderei recompensá-lo. Não tenho meios para retribuir seus procedimentos amigáveis. Não obstante, estou confiante de que nosso elo de amor nunca será quebrado. Nossa amizade deve sempre continuar, apesar da minha incapacidade de recompensá-lo. Espero que você me perdoe por esta incapacidade”.

“Meu querido irmão, no princípio, devido ao meu encarceramento, nunca pude servi-lo como um amigo e, embora no momento presente eu seja muito opulento, fiquei cego por causa de minha prosperidade material. Portanto, não posso satisfazê-lo corretamente, nem mesmo nesta ocasião. Meu querido irmão, você é tão bom e gentil que oferece todos os respeitos aos outros, apesar do que não exige respeito algum para si próprio. Uma pessoa que busca progresso auspicioso na vida deve evitar possuir muita opulência material, de forma que não se torne cega e presunçosa, devendo cuidar de seus amigos e parentes”.

Enquanto Vasudeva falava com Nanda Mahārāja deste modo, ele estava tomado por um grande sentimento de amizade por Nanda Mahārāja e pelas atividades benéficas que este executara em seu favor. Por essa razão, os seus olhos encheram-se de lágrimas e ele começou a chorar. Nanda Mahārāja, desejando agradar seu amigo Vasudeva e sendo afetuosamente apegado com amor aos Senhores Kṛṣṇa e Balarāma, passou três meses em sua associação. Ao término desse tempo, todos os membros da dinastia Yadu tentaram agradar os habitantes de Vṛndāvana para o contentamento de seus corações. Os membros da dinastia Yadu tentaram satisfazer Nanda Mahārāja e seus associados oferecendo-lhes roupas, ornamentos e muitos outros artigos valiosos, e todos ficaram completamente satisfeitos. Vasudeva, Ugrasena, o Senhor Kṛṣṇa, o Senhor Balarāma, Uddhava e todos os outros membros da dinastia Yadu deram seus presentes individuais para Nanda Mahārāja e seus associados. Depois que Nanda Mahārāja recebeu esses presentes de despedida, ele partiu juntamente com seus associados para Vrajabhūmi, Vṛndāvana. A mente dos habitantes de Vṛndāvana permaneceu, porém, com Kṛṣṇa e Balarāma. Portanto, todos voltaram para Vṛndāvana sem suas mentes.

Quando os membros da família Vṛṣṇi viram todos os seus amigos e visitantes partindo, eles observaram que a estação chuvosa estava se aproximando e, assim, decidiram regressar a Dvārakā. Eles estavam completamente satisfeitos, pois consideravam Kṛṣṇa como tudo. Quando voltaram a Dvārakā, descreveram com grande satisfação o sacrifício executado por Vasudeva, seu encontro com vários amigos e benquerentes e vários outros incidentes que tinham acontecido durante as viagens aos lugares de peregrinação.

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo oitenta e quatro de Kṛṣṇa, intitulado “As Cerimônias de Sacrifício Executadas por Vasudeva”.

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