TEXTO 47
Da Transcendência, que se chama Kṛṣṇaloka, emana uma refulgência deslumbrante que se assemelha à cauda de um cometa. Essa refulgência deslumbrante é ilimitada, imensurável e insondável. Dentro dessa refulgência, existem inumeráveis planetas brilhantes, cada um dos quais é autoiluminado. Em algum lugar, uma parte limitada dessa refulgência deslumbrante é coberta pela energia material, assim como uma parte do céu é coberta por uma nuvem. Dentro dessa energia material, existem inumeráveis universos, em cada universo existem inumeráveis planetas materiais, e a Terra é um desses planetas. Assim, podemos compreender quão insignificante parte do cosmos é este globo em que vivemos.
SIGNIFICADO—Kṛṣṇaloka, como mencionado acima, é a residência da Personalidade de Deus, a Transcendência original. A refulgência deslumbrante que emana de Kṛṣṇaloka é o brilho pessoal do Senhor. O Senhor todo-poderoso, sendo pleno de energias inconcebíveis, expande-Se sob várias formas e energias. Existem formas de Sua energia como também formas de Sua pessoa. Ele tem inúmeras energias; portanto, pode fazer toda e qualquer coisa que deseje, e essas coisas surgem imediatamente com toda a perfeição. Suas energias são como o calor e a luz que se expandem do fogo. Toda a manifestação cósmica nada mais é que uma expansão de Suas energias. Como as energias são emanações dEle, as emanações são simultaneamente iguais a Ele e diferentes dEle.
A Transcendência é comparada ao leite, e as emanações são comparadas ao iogurte. O iogurte nada mais é que leite, mas, ao mesmo tempo, ele é diferente do leite. O iogurte é uma preparação láctea, mas não pode ser usado no lugar do leite. O Senhor, às vezes, também é comparado a uma árvore. A raiz da árvore é a causa do tronco, dos ramos, dos galhos, das folhas e dos frutos. Entretanto, o tronco não é o fruto, o fruto não é a folha, nem a folha é a raiz. Quando se precisa regar, a água tem de ser derramada na raiz, e não nas folhas. Aguar as folhas é algo que não tem nenhum propósito, mas aguar a raiz satisfaz todos os propósitos. É essa a essência da filosofia da cultura espiritual.
Kṛṣṇaloka também é chamado de Goloka Vṛndāvana. Abaixo de Goloka, estão Hari-dhāma, Maheśa-dhāma e Devī-dhāma. Hari (Viṣṇu, Nārāyaṇa) é a expansão formal do Senhor, Maheśa (Śiva) é a expansão energético-formal do Senhor, e Devī é a expansão energética do Senhor. As entidades vivas também são expansões energéticas do Senhor. Há duas classes de entidades vivas, a saber, almas libertas e almas condicionadas.
Os planetas situados dentro da refulgência deslumbrante chamam-se Hari-dhāma. Nesses planetas, a Deidade predominante é Hari, e as deidades subordinadas são as almas libertas. Os aspectos das almas libertas e de Hari são quase os mesmos, mas Hari é predominador, e as almas libertas são predominadas. Os inúmeros planetas de Hari-dhāma são predominados por diferentes expansões formais do Senhor, todas as quais têm diferentes nomes.
Os universos situados dentro da energia material chamam-se Devī-dhāma, e, em Devī-dhāma, a Deidade predominante é Viṣṇu, que é auxiliado por Brahmā e Śiva. Devī-dhāma é controlado pelos três modos, ou seja, bondade, paixão e ignorância. Viṣṇu é a encarnação da bondade; Brahmā, da paixão, e Śiva, da ignorância. Brahmā cria, Viṣṇu mantém e Śiva destrói a criação material. A criação material vem a existir pelo desejo do Senhor, e também é aniquilada por Seu desejo. Porém, embora os universos da energia material sejam dessa forma criados e aniquilados, os planetas em Hari-dhāma existem eternamente.
As entidades vivas condicionadas, que desejam desfrutar e não servir, recebem uma oportunidade, dentro de Devī-dhāma, de buscar a libertação. Algumas delas adentram Hari-dhāma, algumas adentram Maheśa-dhāma e outras permanecem dentro de Devī-dhāma. Maheśa-dhāma é o lugar limítrofe entre Hari-dhāma e Devī-dhāma. Os impersonalistas que desejam fundir-se na existência da Transcendência são colocados dentro de Maheśa-dhāma. Quem deseja permanecer nos sistemas planetários dos universos materiais, tem à sua disposição vários planetas. Todavia, quem deseja sair da energia material, pode entrar em Hari-dhāma e ir ou para os diversos planetas lá situados ou, então, diretamente para Kṛṣṇaloka.
O sistema de bhakti-yoga torna a pessoa apta a entrar em Hari-dhāma, o sistema de jñāna-yoga torna a pessoa apta a entrar em Maheśa-dhāma, enquanto o sistema de karma-yoga obriga a pessoa a permanecer em Devī-dhāma no ciclo de nascimentos e mortes, mudando sua cobertura material de acordo com o padrão de karma que execute.