VERSO 53
snātvānusavanaṁ tasmin
hutvā cāgnīn yathā-vidhi
ab-bhakṣa upaśāntātmā
sa āste vigataiṣaṇaḥ
snātvā — tomando banho; anusavanam — três vezes, regularmente (manhã, meio-dia e noite); tasmin — no Ganges dividido em sete; hutvā — executando o sacrifício Agni-hotra; ca — também; agnīn — no fogo; yathā-vidhi — justamente de acordo com os dogmas das escrituras; ap-bhakṣaḥ — jejuando por beber apenas água; upaśānta — completamente controlados; ātmā — os sentidos grosseiros e a mente sutil; saḥ — Dhṛtarāṣṭra; āste — ele se situaria; vigata — desprovido de; eṣaṇaḥ — pensamentos em relação ao bem-estar da família.
Às margens de Saptasrota, Dhṛtarāṣṭra está agora se iniciando em aṣṭāṅga-yoga, banhando-se três vezes por dia – de manhã, ao meio-dia e à noite –, executando o sacrifício de fogo, Agni-hotra, e bebendo apenas água. Isso ajuda a pessoa a controlar a mente e os sentidos, e a liberta completamente de pensamentos de afeição familiar.
SIGNIFICADO—O sistema de yoga é um processo mecânico de controlar os sentidos e a mente e desviá-los da matéria para o espírito. Os processos preliminares são a postura sentada, meditação, pensamentos espirituais, manipulação do ar que circula dentro do corpo e gradual estabelecimento em transe, voltando-se para a Pessoa Absoluta, Paramātmā. Tais maneiras mecânicas de elevação à plataforma espiritual prescrevem alguns tipos de princípios reguladores, como tomar banho três vezes ao dia, jejuar tanto quanto possível, sentar-se e concentrar a mente em temas espirituais e, assim, livrar-se gradualmente de viṣaya, ou objetivos materiais. Existência material significa estar absorto em objetivos materiais, que são simplesmente ilusórios. Lar, país, família, sociedade, filhos, propriedade e negócios são algumas das coberturas materiais do espírito, ātmā, e o sistema de yoga nos ajuda a nos libertarmos de todos esses pensamentos ilusórios e gradualmente nos voltarmos para a Pessoa Absoluta, Paramātmā. Devido à associação e educação materiais, aprendemos simplesmente a nos concentrar em coisas inconsistentes, mas yoga é o processo de esquecê-las por completo. Os ditos yogīs e sistemas de yoga modernos manifestam algumas façanhas mágicas, e as pessoas ignorantes são atraídas por tais coisas falsas, ou aceitam o sistema de yoga como um processo curativo barato para doenças do corpo grosseiro. Mas, de fato, o sistema de yoga é o processo de aprender a esquecer o que adquirimos através da luta pela vida. Dhṛtarāṣṭra estava todo o tempo ocupado em melhorar os afazeres familiares através da elevação do padrão de vida de seus filhos, e através da usurpação da propriedade dos Pāṇḍavas para o benefício de seus próprios filhos. Esses afazeres são habituais no homem grosseiramente materialista e desconhecedor da força espiritual. Ele não vê como isso pode arrastá-lo do céu ao inferno. Pela graça de seu irmão mais novo, Vidura, Dhṛtarāṣṭra foi iluminado e pôde ver suas ocupações grosseiramente ilusórias, e, devido a tal iluminação, foi capaz de deixar o lar para a compreensão espiritual. Śrī Nāradadeva estava justamente predizendo o caminho de seu progresso espiritual em um lugar santificado pelo fluxo do celestial Ganges. Beber apenas água, sem nenhum alimento sólido, também é considerado jejum. Isso é necessário para o avanço no conhecimento espiritual. Um homem tolo quer ser um yogī barato, sem observar os princípios reguladores. Um homem que não tem controle sobre a língua a princípio, não pode tornar-se um yogī. Yogī e bhogī são dois termos opostos. O bhogī, ou o indivíduo que farreia, come e bebe, não pode ser um yogī, pois o yogī nunca tem permissão de comer e beber irrestritamente. Podemos notar, para o nosso proveito, como Dhṛtarāṣṭra começou seu sistema de yoga bebendo apenas água e sentando calmamente em um lugar com uma atmosfera espiritual, profundamente absorto em pensamentos sobre o Senhor Hari, a Personalidade de Deus.