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Capítulo Quatorze

O Desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa

VERSO 1: Śrī Sūta Gosvāmī disse: Arjuna foi até Dvārakā para ver o Senhor Śrī Kṛṣṇa e outros amigos e também para saber do Senhor sobre Suas próximas atividades.

VERSO 2: Passaram-se alguns meses e Arjuna não retornava. Então, Mahārāja Yudhiṣṭhira começou a observar alguns presságios inauspiciosos, que eram por si só assustadores.

VERSO 3: Ele viu que a direção do tempo eterno havia mudado, e isso era aterrador. Havia distúrbios nas regularidades sazonais. As pessoas em geral tinham se tornado muito cobiçosas, iradas e traiçoeiras. E ele viu que elas estavam adotando meios desonrosos de subsistência.

VERSO 4: Todas as transações e tratos ordinários tornaram-se poluídos com trapaças, mesmo entre amigos. E, nos afazeres familiares, sempre havia desentendimento entre pais, mães e filhos, entre benquerentes e entre irmãos. Mesmo entre esposo e esposa, sempre havia tensão e desavença.

VERSO 5: No decorrer do tempo, ocorreu que as pessoas em geral se acostumaram à cobiça, à ira, ao orgulho etc. Mahārāja Yudhiṣṭhira, observando todos esses presságios, falou com seu irmão mais novo.

VERSO 6: Mahārāja Yudhiṣṭhira disse a seu irmão mais novo, Bhīmasena: Eu enviei Arjuna a Dvārakā para se encontrar com seus amigos e para saber da Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, sobre Seu programa de trabalho.

VERSO 7: Já se passaram sete meses desde que ele partiu, apesar do que ele ainda não retornou. De fato, não sei como vão as coisas por lá.

VERSO 8: Ele estaria abandonando Seus passatempos terrestres, como Devarṣi Nārada indicou? Já teria chegado esse momento?

VERSO 9: É unicamente devido a Ele que toda a nossa opulência real, boas esposas, vidas, progênie, controle sobre nossos súditos, vitória sobre nossos inimigos e acomodações futuras nos planetas superiores têm-se tornado possíveis. Tudo isso se deve à Sua misericórdia sem causa para conosco.

VERSO 10: Vê só, ó possuidor da força de um tigre, quantas misérias decorrentes das influências celestes, reações terrestres e dores corpóreas – todas muito perigosas em si mesmas – estão prenunciando um perigo em um futuro próximo, iludindo nossa inteligência.

VERSO 11: O lado esquerdo do meu corpo, minhas coxas, meus braços e meus olhos estão todos tremendo repetidamente. Estou tendo palpitações cardíacas devido ao medo. Tudo isso indica acontecimentos indesejáveis.

VERSO 12: Vê só, ó Bhīma, como a fêmea do chacal chora ao nascer do Sol e vomita fogo, e como o cão late para mim destemidamente.

VERSO 13: Ó Bhīmasena, tigre entre os homens, agora animais úteis, como as vacas, estão passando por mim pelo meu lado esquerdo, e animais inferiores, como os asnos, estão me circungirando. Meus cavalos parecem chorar ao me verem.

VERSO 14: Vê só! Este pombo é como um mensageiro da morte. Os guinchos das corujas e de seus rivais, os corvos, fazem meu coração tremer. Parece que eles querem fazer de todo o universo um nada.

VERSO 15: Vê só como a fumaça envolve o céu. Parece que a terra e as montanhas estão pulsando. Ouve só o trovão sem nuvens e vê os relâmpagos no céu azul.

VERSO 16: O vento sopra violentamente, esparramando poeira por toda parte e criando escuridão. As nuvens estão chovendo em todo lugar, provocando desastres sangrentos.

VERSO 17: Os raios do Sol estão declinando, e as estrelas parecem estar lutando entre si. Entidades vivas confusas parecem estar ardendo em chamas e chorando.

VERSO 18: Os rios, afluentes, represas, reservatórios e a mente estão todos perturbados. A manteiga já não alimenta o fogo. Que tempo extraordinário é este? O que acontecerá?

VERSO 19: Os bezerros não sugam as tetas das vacas, tampouco as vacas dão leite. Elas estão paradas, chorando, com lágrimas nos olhos, e os touros não sentem prazer nos campos de pastagem.

VERSO 20: As Deidades parecem estar chorando no templo, lamentando-Se e transpirando. Parece que estão a ponto de partir. Todas as cidades, vilas, municípios, jardins, minas e eremitérios agora estão desprovidos de beleza e privados de toda felicidade. Eu não sei que espécies de calamidades nos esperam agora.

VERSO 21: Creio que todos esses distúrbios terrestres indicam uma grande perda para a boa fortuna do mundo. O mundo foi afortunado por ter sido marcado com as impressões dos pés de lótus do Senhor. Esses sinais indicam que isso não mais acontecerá.

VERSO 22: Ó brāhmaṇa Śaunaka, enquanto Mahārāja Yudhiṣṭhira, observando os sinais inauspiciosos sobre a Terra naquela ocasião, pensava assim consigo mesmo, Arjuna voltou da cidade dos Yadus [Dvārakā].

VERSO 23: Quando ele se prostrou a seus pés, o rei viu que sua agonia não tinha precedentes. Sua cabeça estava pendida e lágrimas deslizavam de seus olhos de lótus.

VERSO 24: Vendo Arjuna pálido devido às ansiedades de seu coração, o rei, lembrando-se das indicações do sábio Nārada, fez-lhe perguntas em meio aos amigos.

VERSO 25: Mahārāja Yudhiṣṭhira disse: Meu querido irmão, por favor, dize-me se nossos amigos e parentes, tais como Madhu, Bhoja, Daśārha, Ārha, Sātvata, Andhaka e os membros da família Yadu estão todos passando seus dias com alegria.

VERSO 26: Meu respeitável avô Śūrasena está feliz? E meu tio materno Vasudeva e seus irmãos mais novos estão todos passando bem?

VERSO 27: Suas sete esposas, encabeçadas por Devakī, são todas irmãs. Elas e seus filhos e noras estão todos felizes?

VERSOS 28-29: Ugrasena, cujo filho era o perverso Kaṁsa, e seu irmão mais novo ainda vivem? Hṛdīka e seu filho Kṛtavarmā estão felizes? Akrūra, Jayanta, Gada, Sāraṇa e Śatrujit estão todos felizes? Como está Balarāma, a Personalidade de Deus e o protetor dos devotos?

VERSO 30: Como está Pradyumna, o grande general da família Vṛṣṇi? Ele está feliz? E Aniruddha, a expansão plenária da Personalidade de Deus, está passando bem?

VERSO 31: Todos os principais filhos do Senhor Kṛṣṇa, tais como Suṣeṇa; Cārudeṣṇa; Sāmba, o filho de Jāmbavatī, e Ṛṣabha, juntamente com seus filhos, estão todos bem?

VERSOS 32-33: Também Śrutadeva, Uddhava e demais, Nanda, Sunanda e outros líderes das almas liberadas, que são companheiros constantes do Senhor, são protegidos pelo Senhor Balarāma e Kṛṣṇa. Eles estão indo bem em suas respectivas funções? Será que eles, que estão eternamente atados por laços de amizade conosco, lembram-se de nosso bem-estar?

VERSO 34: Acaso o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, que dá prazer às vacas, aos sentidos e aos brāhmaṇas, e que é muito afetuoso com Seus devotos, está desfrutando da piedosa assembleia de Dvārakā Purī, cercado de amigos?

VERSOS 35-36: A original Personalidade de Deus, o desfrutador, e Balarāma, o Senhor Ananta primordial, permanecem no oceano da dinastia Yadu para o bem-estar, proteção e progresso geral de todo o universo. E os membros da dinastia Yadu, sendo protegidos pelos braços do Senhor, desfrutam da vida como os residentes do céu espiritual.

VERSO 37: Simplesmente por administrarem confortos aos pés de lótus do Senhor, que é o mais importante de todos os serviços, as rainhas de Dvārakā, encabeçadas por Satyabhāmā, induziram o Senhor a conquistar os semideuses. Assim, as rainhas desfrutam de coisas que são prerrogativas das esposas do controlador dos relâmpagos.

VERSO 38: Os grandes heróis da dinastia Yadu, sendo protegidos pelos braços do Senhor Śrī Kṛṣṇa, permanecem sempre destemidos sob todos os aspectos. E, portanto, seus pés pisam pesadamente sobre a casa de assembleia Sudharmā, que os melhores semideuses mereciam, mas que foi tomada deles.

VERSO 39: Meu irmão Arjuna, por favor, dize-me se estás bem de saúde. Pareces ter perdido teu lustre corpóreo. Isso se deve a que outros teriam te desrespeitado e negligenciado por causa de tua longa permanência em Dvārakā?

VERSO 40: Alguém se dirigiu a ti com palavras inamistosas ou te ameaçou? Não pudeste dar caridade a alguém que pediu, ou não pudeste manter tua promessa a alguém?

VERSO 41: Tu és sempre o protetor dos seres vivos merecedores, tais como os brāhmaṇas, as crianças, as vacas, as mulheres e os doentes. Não pudeste dar-lhes proteção quando se aproximaram de ti em busca de refúgio?

VERSO 42: Tiveste contato com uma mulher de caráter censurável, ou não trataste adequadamente uma mulher respeitável? Ou foste derrotado no caminho por alguém que é inferior ou igual a ti?

VERSO 43: Não deste atenção a anciãos e meninos que mereciam jantar contigo? Acaso os deixaste e tomaste tuas refeições sozinho? Acaso cometeste algum erro imperdoável que seja considerado abominável?

VERSO 44: Ou será que estás te sentindo vazio por todo o tempo porque poderias ter perdido teu amigo mais íntimo, o Senhor Kṛṣṇa? Ó meu irmão Arjuna, não posso pensar em nenhuma outra razão para teres ficado tão deprimido.

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