VERSO 23
sattvaṁ rajas tama iti prakṛter guṇās tair
yuktaḥ paraḥ puruṣa eka ihāsya dhatte
sthity-ādaye hari-viriñci-hareti saṁjñāḥ
śreyāṁsi tatra khalu sattva-tanor nṛṇāṁ syuḥ
sattvam — bondade; rajaḥ — paixão; tamaḥ — a escuridão da ignorância; iti — assim; prakṛteḥ — da natureza material; guṇāḥ — qualidades; taiḥ — por elas; yuktaḥ — associado a; paraḥ — transcendental; puruṣaḥ — a personalidade; ekaḥ — um; iha asya — deste mundo material; dhatte — aceita; sthiti-ādaye — para a criação, manutenção e destruição etc.; hari — Viṣṇu, a Personalidade de Deus; viriñci — Brahmā; hara — o senhor Śiva; iti — assim; saṁjñāḥ — diferentes aspectos; śreyāṁsi — benefício último; tatra — nisso; khalu — evidentemente; sattva — bondade; tanoḥ — forma; nṛṇām — do ser humano; syuḥ — recebido.
A transcendental Personalidade de Deus está indiretamente associada aos três modos da natureza material, a saber, paixão, bondade e ignorância, e apenas para a criação, manutenção e destruição do mundo material, Ele aceita as três formas qualitativas de Brahmā, Viṣṇu e Śiva. Dessas três, todos os seres humanos podem receber o benefício último de Viṣṇu, a forma da qualidade da bondade.
SIGNIFICADO—Confirma-se nesta declaração que se deve prestar serviço devocional, como se explicou acima, ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, através de Suas partes plenárias. O Senhor Śrī Kṛṣṇa e todas as Suas partes plenárias são viṣṇu-tattva, ou a Onipotência de Deus. De Śrī Kṛṣṇa, a próxima manifestação é Baladeva. De Baladeva, é Saṅkarṣaṇa; de Saṅkarṣaṇa, é Nārāyaṇa; de Nārāyaṇa, é o segundo Saṅkarṣaṇa, e desse Saṅkarṣaṇa, são os Viṣṇu puruṣa-avatāras. O Viṣṇu, ou a Deidade da qualidade da bondade no mundo material, e o puruṣa-avatāra conhecido como Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, ou Paramātmā. Brahmā é a deidade de rajas (paixão), e Śiva, da ignorância. Eles são os três chefes departamentais das três qualidades deste mundo material. A criação torna-se possível pela bondade de Viṣṇu, e, quando é necessário destruí-la, o senhor Śiva o faz através de tāṇḍava-nṛtya. Os materialistas e os seres humanos tolos adoram Brahmā e Śiva respectivamente. Os transcendentalistas puros, todavia, adoram a forma da bondade, Viṣṇu, sob Suas várias formas. Viṣṇu manifesta-Se através de Suas milhões e bilhões de formas integradas e formas separadas. As formas integradas chamam-se Deus, e as formas separadas chamam-se entidades vivas, ou jīvas. Tanto as jīvas quanto Deus têm suas formas espirituais originais. As jīvas ficam às vezes sujeitas ao controle da energia material, mas as formas Viṣṇu são sempre controladoras dessa energia. Quando Viṣṇu, a Personalidade de Deus, aparece no mundo material, Ele vem para salvar os seres vivos condicionados que estão sob a influência da energia material. Tais seres vivos aparecem no mundo material com intenção de serem senhores e, desta maneira, ficam enredados pelos três modos da natureza. Deste modo, as entidades vivas têm de trocar suas coberturas materiais para submeterem-se a diferentes períodos de aprisionamento. A penitenciária do mundo material é criada por Brahmā, sob instruções da Personalidade de Deus, e, ao término de um kalpa, tudo isso é destruído por Śiva. Quanto à manutenção do presídio, ela é feita por Viṣṇu, assim como a prisão estadual é mantida pelo estado. Portanto, qualquer um que deseje escapar da prisão da existência material, que é cheia de misérias, tais como a repetição de nascimento, morte, doença e velhice, tem que satisfazer o Senhor Viṣṇu para obter essa liberação. O Senhor Viṣṇu é adorado apenas através do serviço devocional, e, se alguém tiver de continuar sua vida de prisioneiro neste mundo material, poderá solicitar as respectivas facilidades para alívio temporário a diferentes semideuses, tais como Śiva, Brahmā, Indra e Varuṇa. Nenhum semideus, contudo, pode salvar o ser vivo aprisionado da vida condicionada da existência material: Isso só pode ser feito por Viṣṇu. Portanto, o benefício último pode apenas ser recebido de Viṣṇu, a Personalidade de Deus.