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Capítulo Dois

Divindade e Serviço Divino

VERSO 1: Ugraśravā [Sūta Gosvāmī], o filho de Romaharṣaṇa, estando totalmente satisfeito com as perguntas perfeitas dos brāhmaṇas, agradeceu-lhes e, então, tentou responder.

VERSO 2: Śrīla Sūta Gosvāmī disse: Ofereço minhas respeitosas reverências ao grande sábio [Śukadeva Gosvāmī] que pode penetrar o coração de todos. Quando ele partiu para dedicar-se à ordem de vida renunciada [sannyāsa], deixando o lar sem se submeter à reforma pelo cordão sagrado, ou às cerimônias observadas pelas castas superiores, seu pai, Vyāsadeva, assustado com a separação dele, exclamou: “Ó meu filho!” Na verdade, apenas as árvores, que estavam absortas nos mesmos sentimentos de separação, ecoaram em resposta ao pai aflito.

VERSO 3: Ofereço minhas respeitosas reverências a ele [Śuka], o mestre espiritual de todos os sábios, o filho de Vyāsadeva, o qual, devido a grande compaixão pelos materialistas grosseiros que lutam para atravessar as mais escuras regiões da existência material, falou este confidencialíssimo suplemento à nata do conhecimento védico, após tê-lo assimilado pessoalmente pela experiência.

VERSO 4: Antes de recitar este Śrīmad-Bhāgavatam, que é o verdadeiro meio de conquista, deve-se oferecer respeitosas reverências à Personalidade de Deus, Nārāyaṇa; a Naranārāyaṇa Ṛṣi, o ser humano supremo; à mãe Sarasvatī, a deusa da sabedoria, e a Śrīla Vyāsadeva, o autor.

VERSO 5: Ó sábios, me fizestes adequadamente vossas perguntas, que são válidas porque se relacionam com o Senhor Kṛṣṇa, sendo, por isso, relevantes para o bem-estar do mundo. Apenas perguntas assim são capazes de satisfazer o eu por completo.

VERSO 6: A suprema ocupação [dharma] para toda a humanidade é aquela pela qual os homens possam atingir o serviço devocional amoroso ao Senhor transcendental. Esse serviço devocional tem que ser desinteressado e ininterrupto para satisfazer o eu completamente.

VERSO 7: Aquele que presta serviço devocional à Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, imediatamente adquire conhecimento sem causa e desapego do mundo.

VERSO 8: As atividades ocupacionais executadas por um homem de acordo com sua própria posição não passam de esforços inúteis se não provocam atração pela mensagem da Personalidade de Deus.

VERSO 9: Todos os deveres ocupacionais destinam-se certamente à liberação última. Nunca devem ser executados em troca de ganho material. Além disso, segundo os sábios, alguém que esteja engajado no serviço ocupacional último não deve de forma alguma usar o ganho material para cultivar gozo dos sentidos.

VERSO 10: Os desejos da vida nunca devem estar voltados para o gozo dos sentidos. Deve-se desejar somente uma vida saudável, ou a autopreservação, uma vez que o objetivo do ser humano é indagar acerca da Verdade Absoluta. Nenhuma outra coisa deve ser a meta de nossos trabalhos.

VERSO 11: Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não-dual de Brahman, Paramātmā ou Bhagavān.

VERSO 12: O estudante ou sábio seriamente inquisitivo, bem equipado de conhecimento e desapego, compreende esta Verdade Absoluta prestando serviço devocional de acordo com o que ouviu do Vedānta-śruti.

VERSO 13: Ó melhor entre os duas vezes nascidos! Conclui-se, portanto, que a máxima perfeição que se pode alcançar através do cumprimento dos deveres prescritos para nossa própria ocupação, de acordo com as divisões de castas e ordens de vida, é satisfazer a Personalidade de Deus.

VERSO 14: Portanto, com indesviável atenção, deve-se constantemente ouvir sobre a Personalidade de Deus, glorificá-lO, lembrar-se dEle e adorá-lO, sendo Ele o protetor dos devotos.

VERSO 15: Empunhando suas espadas, os homens inteligentes cortam os nós apertados do trabalho reacionário (karma), lembrando-se da Personalidade de Deus. Quem, portanto, não dará ouvidos à Sua mensagem?

VERSO 16: Ó sábios duas vezes nascidos! Servindo àqueles devotos que estão completamente livres de todos os vícios, presta-se um grande serviço. Através de tal serviço, obtém-se afinidade por ouvir as mensagens de Vāsudeva.

VERSO 17: Śrī Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, que é o Paramātmā [Superalma] no coração de todos e o benfeitor do devoto veraz, purifica do desejo de gozo material o coração do devoto que desenvolve o desejo ardente de ouvir Suas mensagens, que são por si mesmas virtuosas quando adequadamente ouvidas e cantadas.

VERSO 18: Assistindo regularmente às aulas sobre o Bhāgavatam e prestando serviço ao devoto puro, tudo que é molesto ao coração é quase que completamente destruído, e o serviço amoroso à Personalidade de Deus, a quem se louva com canções transcendentais, se estabelece como um fato irrevogável.

VERSO 19: Tão logo o irrevogável serviço amoroso seja estabelecido no coração, os efeitos dos modos naturais da paixão e da ignorância, tais como luxúria, desejo e ânsia, desaparecem do coração. Então, o devoto se estabelece na bondade e torna-se completamente feliz.

VERSO 20: Assim estabelecido no modo da bondade pura, o homem cuja mente tem sido vivificada pelo contato com o serviço devocional ao Senhor obtém conhecimento científico e positivo da Personalidade de Deus, no estágio em que se liberta de todo contato com a matéria.

VERSO 21: Assim, rompe-se o nó do coração, e todas as apreensões são cortadas em pedaços. A corrente de ações fruitivas termina quando se vê a predominância do eu.

VERSO 22: Certamente, portanto, desde tempos imemoriais, todos os transcendentalistas têm prestado serviço devocional ao Senhor Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, com grande deleite, porque tal serviço devocional é vivificante para o eu.

VERSO 23: A transcendental Personalidade de Deus está indiretamente associada aos três modos da natureza material, a saber, paixão, bondade e ignorância, e apenas para a criação, manutenção e destruição do mundo material, Ele aceita as três formas qualitativas de Brahmā, Viṣṇu e Śiva. Dessas três, todos os seres humanos podem receber o benefício último de Viṣṇu, a forma da qualidade da bondade.

VERSO 24: A lenha vem de uma transformação da terra, mas a fumaça é melhor do que a madeira bruta. E o fogo é ainda melhor, pois, através do fogo, podemos obter os benefícios de conhecimento superior [através de sacrifícios védicos]. Analogamente, a paixão [rajas] é melhor do que a ignorância [tamas], mas a bondade [sattva] é melhor ainda, porque, pela bondade, pode-se compreender a Verdade Absoluta.

VERSO 25: Anteriormente, todos os grandes sábios prestavam serviço à Personalidade de Deus devido à Sua existência acima dos três modos da natureza material. Eles O adoravam para livrar-se das condições materiais e, destarte, receber o benefício último. Quem quer que siga essas grandes autoridades também está apto para a libertação do mundo material.

VERSO 26: Aqueles que são sérios em querer a liberação com certeza não são invejosos e respeitam a todos. Todavia, rejeitam as horríveis e assombrosas formas dos semideuses e adoram apenas as formas plenamente bem-aventuradas do Senhor Viṣṇu e Suas porções plenárias.

VERSO 27: Aqueles que estão nos modos da paixão e da ignorância adoram os antepassados, outros seres vivos e os semideuses encarregados das atividades cósmicas, pois são motivados por um desejo de ser materialmente beneficiados com mulheres, riquezas, poder e progênie.

VERSOS 28-29: Nas escrituras reveladas, o objetivo último de conhecimento é Śrī Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus. O propósito de executar sacrifícios é comprazê-lO. Yoga é para compreendê-lO. Todas as atividades fruitivas são, em última análise, recompensadas unicamente por Ele. Ele é o conhecimento supremo, e todas as rigorosas austeridades são executadas para conhecê-lO. Religião (dharma) é prestar serviço amoroso a Ele. Ele é o objetivo supremo da vida.

VERSO 30: No começo da criação material, esta Absoluta Personalidade de Deus [Vāsudeva], em Sua posição transcendental, criou as energias de causa e efeito através de Sua própria energia interna.

VERSO 31: Após criar a substância material, o Senhor [Vāsudeva] Se expande e entra nela. E, embora Ele esteja dentro dos modos materiais da natureza e pareça ser um dos seres criados, Ele está sempre e totalmente na luz de Sua posição transcendental.

VERSO 32: O Senhor, como a Superalma, penetra todas as coisas, assim como o fogo penetra a madeira, e, em razão disso, Ele parece ser de muitas variedades, embora seja o absoluto, único e incomparável.

VERSO 33: A Superalma entra nos corpos das criaturas que estão influenciadas pelos modos da natureza material e faz com que elas desfrutem dos efeitos desses modos através da mente sutil.

VERSO 34: Assim, o Senhor dos universos mantém todos os planetas habitados por semideuses, homens e animais inferiores. Assumindo os papéis de encarnações, Ele executa passatempos para redimir aqueles que estão no modo da bondade pura.

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