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Capítulo Sete

O Filho de Droṇa É Castigado

VERSO 1: Ṛṣi Śaunaka perguntou: Ó Sūta, aquele grande e transcendentalmente poderoso Vyāsadeva ouviu tudo de Śrī Nārada Muni. Assim, após a partida de Nārada, o que fez Vyāsadeva?

VERSO 2: Śrī Sūta disse: Na margem oeste do rio Sarasvatī, que está intimamente relacionado com os Vedas, há uma cabana para meditação em Śamyāprāsa, que vivifica as atividades transcendentais dos sábios.

VERSO 3: Naquele lugar, Śrīla Vyāsadeva, em seu próprio āśrama, que era rodeado de árvores frutíferas, sentou-se para meditar após tocar a água para purificação.

VERSO 4: Ele, então, fixou sua mente, ocupando-a perfeitamente ao conectá-la ao serviço devocional [bhakti-yoga] sem mácula alguma de materialismo; ele, assim, viu a Absoluta Personalidade de Deus, juntamente com Sua energia externa, mantida sob pleno controle.

VERSO 5: Devido a essa energia externa, a entidade viva, embora transcendental aos três modos da natureza material, pensa que é um produto material e, dessa forma, submete-se às reações das misérias materiais.

VERSO 6: As misérias materiais da entidade viva, que são supérfluas para ela, podem ser diretamente mitigadas pelo processo unitivo de serviço devocional. Contudo, a massa popular não sabe disso, em razão do que o erudito Vyāsadeva compilou esta literatura védica, relativa à Verdade Suprema.

VERSO 7: Pela mera recepção auditiva desta literatura védica, o sentimento para o serviço devocional amoroso ao Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, brota de imediato para extinguir o fogo da lamentação, ilusão e temor.

VERSO 8: Após compilar e revisar o Śrīmad-Bhāgavatam, o grande sábio Vyāsadeva o ensinou a seu próprio filho, Śrī Śukadeva Gosvāmī, que já estava ocupado em autorrealização.

VERSO 9: Śrī Śaunaka perguntou a Sūta Gosvāmī: Śrī Śukadeva Gosvāmī já estava no caminho da autorrealização, de modo que ele estava satisfeito em si mesmo. Então, por que se deu ao trabalho de submeter-se ao estudo de tão vasta literatura?

VERSO 10: Todas as diferentes variedades de ātmārāmas [aqueles que sentem prazer no ātmā, ou o eu espiritual], especialmente os estabelecidos no caminho da autorrealização, apesar de estarem livres de todos os tipos de cativeiro material, desejam prestar serviço devocional imaculado à Personalidade de Deus. Isso significa que o Senhor possui qualidades transcendentais e, devido a isso, pode atrair todos, inclusive as almas liberadas.

VERSO 11: Śrīla Śukadeva Gosvāmī, filho de Śrīla Vyāsadeva, não era apenas transcendentalmente poderoso; ele também era muito querido pelos devotos do Senhor. Assim, ele se submeteu ao estudo desta grande narrativa [o Śrīmad-Bhāgavatam].

VERSO 12: Sūta Gosvāmī se dirigiu da seguinte maneira aos ṛṣis encabeçados por Śaunaka: Agora iniciarei a narrativa transcendental do Senhor Śrī Kṛṣṇa e dos tópicos do nascimento, atividades e liberação do rei Parīkṣit, o sábio entre os reis, bem como dos tópicos da renúncia dos afazeres mundanos por parte dos filhos de Pāṇḍu.

VERSOS 13-14: Quando os respectivos guerreiros de ambos os grupos, a saber, os Kauravas e os Pāṇḍavas, foram mortos no Campo de Batalha de Kurukṣetra e os guerreiros mortos obtiveram seus merecidos destinos, e quando o filho de Dhṛtarāṣṭra caiu a se lamentar, com a espinha quebrada, tendo sido atingido pela maça de Bhīmasena – então, o filho de Droṇācārya [Aśvatthāmā] decapitou os cinco filhos adormecidos de Draupadī e entregou as cabeças como galardão a seu mestre, pensando tolamente que ele ficaria satisfeito. Duryodhana, contudo, desaprovou o abominável ato e não ficou nem um pouco agradado.

VERSO 15: Draupadī, a mãe dos cinco filhos dos Pāṇḍavas, após ouvir sobre o massacre de seus filhos, começou a chorar em aflição, com os olhos cheios de lágrimas. Tentando apaziguá-la diante de sua enorme perda, Arjuna lhe dirigiu assim a palavra.

VERSO 16: Ó amável senhora, quando eu te presentear com a cabeça daquele brāhmaṇa, após decapitá-lo com as flechas do meu arco Gāṇḍīva, enxugarei as lágrimas de teus olhos e te trarei paz. Então, depois de cremar os corpos de teus filhos, poderás tomar teu banho de pé sobre a cabeça dele.

VERSO 17: Arjuna, quem o Senhor infalível guia na forma de amigo e quadrigário, satisfez assim a querida dama com essas declarações. Então, ele vestiu sua armadura, muniu-se de armas mortais e, subindo em sua quadriga, saiu ao encalço de Aśvatthāmā, o filho de seu mestre marcial.

VERSO 18: Aśvatthāmā, o assassino dos príncipes, vendo ao longe que Arjuna vinha em sua direção com grande velocidade, fugiu em sua quadriga, tomado de pânico, simplesmente para salvar sua vida, assim como Brahmā fugiu com medo de Śiva.

VERSO 19: Quando o filho do brāhmaṇa [Aśvatthāmā] viu que seus cavalos estavam cansados, ele considerou que não havia alternativa para sua proteção além de usar sua arma derradeira, o brahmāstra [arma nuclear].

VERSO 20: Uma vez que sua vida estava em perigo, ele tocou a água para santificar-se e concentrou-se no cantar dos hinos para atirar armas nucleares, embora não soubesse como recolher tais armas.

VERSO 21: Logo em seguida, uma luz brilhante espalhou-se por todas as direções. Era tão aterradora que Arjuna pensou que sua própria vida estava em perigo e, assim, ele começou a dirigir-se ao Senhor Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 22: Arjuna disse: Ó meu Senhor Śrī Kṛṣṇa, sois a todo-poderosa Personalidade de Deus! Não há limite para Vossas diferentes energias. Portanto, somente Vós sois competente para instilar destemor no coração de Vossos devotos. Todos que estão nas chamas das misérias materiais podem encontrar o caminho da liberação apenas em Vós.

VERSO 23: Sois a original Personalidade de Deus que Vos expandis pelas criações e sois transcendental à energia material. Vós rechaçais os efeitos da energia material à força de Vossa potência espiritual. Estais sempre situado em bem-aventurança eterna e conhecimento transcendental.

VERSO 24: Além disso, embora estejais além do limite da energia material, Vós executais os quatro princípios da liberação, caracterizados como religião e assim por diante, para o bem supremo das almas condicionadas.

VERSO 25: Assim, desceis como uma encarnação para eliminar o fardo do mundo e beneficiar Vossos amigos, em especial aqueles que são exclusivamente Vossos devotos e estão absortos em meditar em Vós.

VERSO 26: Ó Senhor dos senhores! Como é que esta perigosa refulgência está se espalhando em volta de tudo? De onde ela vem? Não entendo isso.

VERSO 27: A Suprema Personalidade de Deus disse: Informo-te que se trata de um ato do filho de Droṇa. Ele disparou os hinos de energia nuclear [brahmāstra] e não sabe como retrair o fulgor. Ele o fez por sentir-se desamparado, estando temeroso da morte iminente.

VERSO 28: Ó Arjuna, somente outro brahmāstra pode neutralizar essa arma. Uma vez que és hábil na ciência militar, subjuga o fulgor desse armamento com o poder de tua própria arma.

VERSO 29: Śrī Sūta Gosvāmī disse: Ao ouvir isso da Personalidade de Deus, Arjuna tocou na água para se purificar e, após circum-ambular o Senhor Śrī Kṛṣṇa, arremessou sua arma brahmāstra para neutralizar a outra.

VERSO 30: Quando os raios dos dois brahmāstras se combinaram, um grande círculo de fogo, semelhante ao disco do Sol, cobriu todo o espaço exterior e todo o firmamento dos planetas.

VERSO 31: Toda a população dos três mundos foi abrasada pelo calor combinado das duas armas. Todos se lembraram do fogo saṁvartaka que ocorre no momento da aniquilação.

VERSO 32: Vendo assim a perturbação da população em geral e a iminente destruição dos planetas, Arjuna recolheu de imediato as duas armas brahmāstra, conforme o Senhor Śrī Kṛṣṇa havia desejado.

VERSO 33: Arjuna, com seus olhos ardendo de raiva como duas esferas vermelhas de cobre, prendeu habilidosamente o filho de Gautamī e o atou com cordas, como se fosse um animal.

VERSO 34: Após amarrar Aśvatthāmā, Arjuna queria levá-lo para o acampamento militar. A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, observando com Seus olhos de lótus, dirigiu a palavra a Arjuna com uma disposição raivosa.

VERSO 35: O Senhor Śrī Kṛṣṇa disse: Ó Arjuna, não deves mostrar misericórdia soltando este parente de um brāhmaṇa [brahma-bandhu], pois ele matou meninos inocentes enquanto dormiam.

VERSO 36: Uma pessoa que conhece os princípios da religião não mata um inimigo que está desatento, intoxicado, insano, adormecido, amedrontado ou desprovido de sua quadriga. Tampouco ela mata um menino, uma mulher, uma criatura tola ou uma alma rendida.

VERSO 37: Uma pessoa cruel e ignóbil que mantém sua existência à custa da vida de outras pessoas merece ser morta para seu próprio bem-estar, pois, de outra forma, ela se degradará devido a suas próprias ações.

VERSO 38: Além disso, Eu pessoalmente ouvi quando prometeste a Draupadī que lhe trarias a cabeça do assassino de seus filhos.

VERSO 39: Este homem é um assassino e matador de teus próprios membros familiares. Não apenas isso, mas ele também desagradou seu mestre. Ele não é nada mais que a escória de sua família. Mata-o sem demora!

VERSO 40: Sūta Gosvāmī disse: Embora Kṛṣṇa, que examinava Arjuna no campo da religião, encorajasse Arjuna a matar o filho de Droṇācārya, Arjuna, uma grande alma, não gostou da ideia de matá-lo, apesar de Aśvatthāmā ser o abominável assassino dos familiares de Arjuna.

VERSO 41: Após chegar a seu próprio acampamento, Arjuna, juntamente com o seu querido amigo e quadrigário [Śrī Kṛṣṇa], entregou o assassino à sua querida esposa, que estava se lamentando pelos filhos assassinados.

VERSO 42: Śrī Sūta Gosvāmī disse: Draupadī, então, viu Aśvatthāmā, que estava atado com cordas como um animal e silencioso por ter executado o mais infame assassinato. Devido à sua natureza feminina e devido a ser naturalmente boa e educada, ela lhe mostrou os devidos respeitos que se oferecem a um brāhmaṇa.

VERSO 43: Ela não pôde tolerar que Aśvatthāmā estivesse atado por cordas e, sendo uma dama devotada, disse: Soltai-o, pois ele é um brāhmaṇa, nosso mestre espiritual.

VERSO 44: Foi pela misericórdia de Droṇācārya que aprendeste a arte marcial de atirar flechas e a arte confidencial de controlar armas.

VERSO 45: Ele [Droṇācārya] certamente ainda existe, sendo representado por seu filho. Sua esposa, Kṛpī, não se submeteu ao satī com ele porque tinha um filho.

VERSO 46: Ó pessoa mais afortunada e conhecedora dos princípios da religião! Não é bom para ti que causes pesar a gloriosos familiares que são sempre respeitáveis e dignos de adoração.

VERSO 47: Meu senhor, não faças a esposa de Droṇācārya chorar como eu. Estou aflita pela morte de meus filhos. Ela não precisa chorar constantemente como eu.

VERSO 48: Se a ordem real administrativa, sem restringir nem controlar seus sentidos, ofende a ordem dos brāhmaṇas e os enfurece, então o fogo desse furor queima todo o corpo da família real e traz aflição para todos.

VERSO 49: Sūta Gosvāmī disse: Ó brāhmaṇas, o rei Yudhiṣṭhira apoiou plenamente as afirmações da rainha, que estavam de acordo com os princípios da religião e eram justificadas, gloriosas, cheias de misericórdia e equidade, e sem duplicidade.

VERSO 50: Nakula e Sahadeva [os irmãos caçulas do rei]; bem como Sātyaki; Arjuna; a Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, filho de Devakī; junto com as senhoras e outros – todos concordaram unanimemente com o rei.

VERSO 51: Bhīma, entretanto, discordou deles com raiva e recomendou que se matasse esse réu, o qual, e sem nenhum propósito, assassinara as crianças que dormiam, sem nenhuma vantagem nem para ele, nem para seu mestre.

VERSO 52: Caturbhuja [possuidor de quatro braços], ou a Personalidade de Deus, após ouvir as palavras de Bhīma, Draupadī e outros, olhou para o rosto de Seu querido amigo Arjuna e começou a falar como se sorrisse.

VERSOS 53-54: A Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa disse: O amigo de um brāhmaṇa não deve ser morto, mas, se é um agressor, ele tem de ser morto. Todas essas regras estão nas escrituras, e deves agir de acordo com elas. Tens de cumprir tua promessa à tua esposa, e também deves agir para a satisfação de Bhīmasena e de Mim.

VERSO 55: Somente então Arjuna pôde entender a intenção do Senhor através de Suas ordens ambíguas, e assim, com sua espada, ele cortou tanto o cabelo quanto a joia da cabeça de Aśvatthāmā.

VERSO 56: Ele [Aśvatthāmā] já havia perdido seu lustre corpóreo devido ao infanticídio, e agora, além disso, tendo perdido a joia de sua cabeça, ficou ainda mais fraco. Então, foi desamarrado e expulso do acampamento.

VERSO 57: Cortar o cabelo de sua cabeça, privá-lo de sua riqueza e expulsá-lo de sua residência são as punições prescritas para o parente de um brāhmaṇa. Não há preceito para matar o corpo.

VERSO 58: Depois disso, os filhos de Pāṇḍu, e Draupadī, cheios de pesar, executaram os devidos rituais para os corpos mortos de seus parentes.

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