VERSO 39
sakṛd yad-aṅga-pratimāntar-āhitā
manomayī bhāgavatīṁ dadau gatim
sa eva nityātma-sukhānubhūty-abhi-
vyudasta-māyo ’ntar-gato hi kiṁ punaḥ
sakṛt — apenas uma vez; yat — cuja; aṅga-pratimā — forma do Senhor Supremo (há muitas formas, mas Kṛṣṇa é a forma original); antaḥ-āhitā — colocando no âmago do coração, de uma maneira ou outra; manaḥ-mayī — pensando nEle, mesmo à força; bhāgavatīm — que é competente para oferecer serviço devocional ao Senhor; dadau — Kṛṣṇa deu; gatim — o melhor destino; saḥ — Ele (a Suprema Personalidade de Deus); eva — na verdade; nitya — sempre; ātma — de todas as entidades vivas; sukha-anubhūti — qualquer um que pense nEle imediatamente desfruta de prazer transcendental; abhivyudasta-māyaḥ — porque toda a ilusão é inteiramente removida por Ele; antaḥ-gataḥ — Ele está sempre presente no âmago do coração; hi — na verdade; kim punaḥ — o que dizer.
Se mesmo apenas uma vez ou mesmo à força alguém introduz a forma da Suprema Personalidade de Deus em sua mente, ele pode alcançar a salvação suprema através da misericórdia de Kṛṣṇa, como aconteceu com Aghāsura. O que se pode dizer, então, daqueles em cujo coração a Suprema Personalidade de Deus entra ao aparecer como uma encarnação, ou daqueles que sempre pensam nos pés de lótus do Senhor, que é a fonte da bem-aventurança transcendental de todas as entidades vivas e por quem toda a ilusão é inteiramente removida?
SIGNIFICADO—Descreve-se aqui o processo através do qual se recebe o favor da Suprema Personalidade de Deus. Yat-pāda-paṅkaja-palāśa-vilāsa-bhaktyā. (Śrīmad-Bhāgavatam 4.22.39) Pelo simples fato de pensar em Kṛṣṇa, a pessoa pode alcançá-lO muito facilmente. Também se descreve Kṛṣṇa como aquele que está sempre com Seus pés de lótus no coração de Seus devotos (bhagavān bhakta-hṛdi sthitaḥ). No caso de Aghāsura, pode-se argumentar que ele não era um devoto. A resposta é que, por um momento, ele pensou em Kṛṣṇa com devoção. Bhaktyāham ekayā grāhyaḥ. Sem devoção, ninguém pode pensar em Kṛṣṇa, e, por outro lado, sempre que alguém pensa em Kṛṣṇa, é certo que ele tem devoção. Embora Aghāsura tivesse como objetivo matar Kṛṣṇa, Aghāsura pensou em Kṛṣṇa com devoção por um momento, e Kṛṣṇa e Seus associados quiseram brincar dentro da boca de Aghāsura. Do mesmo modo, Pūtanā quis matar Kṛṣṇa envenenando-O, mas Kṛṣṇa tomou-a por Sua mãe porque Ele aceitara o leite de seu seio. Svalpam apy asya dharmasya trāyate mahato bhayāt. (Bhagavad-gītā 2.40) Em especial quando Kṛṣṇa aparece como um avatāra, alguém que pensa em Kṛṣṇa sob Suas diferentes encarnações (rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan), e em especial sob Sua original forma de Kṛṣṇa, alcança a salvação. Há muitos exemplos disso, entre os quais está Aghāsura, que alcançou a salvação sārūpya-mukti. Portanto, o processo é satataṁ kīrtayanto māṁ yatantaś ca dṛḍha-vratāḥ. (Bhagavad-gītā 9.14) Aqueles que são devotos sempre se ocupam em glorificar Kṛṣṇa. Advaitam acyutam anādim ananta-rūpam: Quando falamos de Kṛṣṇa, referimo-nos a todos os Seus avatāras, tais como Kṛṣṇa, Govinda, Nārāyaṇa, Viṣṇu, Senhor Caitanya, Kṛṣṇa-Balarāma e Śyamasundara. Alguém que sempre pensa em Kṛṣṇa certamente alcança vimukti, a salvação especial como um associado pessoal do Senhor, não necessariamente em Vṛndāvana, mas pelo menos em Vaikuṇṭha. Isso se chama sārūpya-mukti.