CAPÍTULO DEZOITO
O Senhor Balarāma Mata o Demônio Pralamba
Neste capítulo, descreve-se a morte de Pralambāsura. Enquanto brincava alegremente em Vṛndāvana, o Senhor Baladeva subiu nos ombros do demônio Pralamba e esmurrou sua cabeça, destruindo-o.
Śrī Vṛndāvana, onde Kṛṣṇa e Balarāma encenavam Seus passatempos, era adornada com todas as qualidades da primavera mesmo durante o verão. Nessa época, o Senhor Śrī Kṛṣṇa absorvia-Se em várias brincadeiras, rodeado por Balarāma e todos os vaqueirinhos. Certo dia, enquanto dançavam, cantavam e brincavam em êxtase, um demônio chamado Pralamba entrou no meio deles, disfarçado de vaqueirinho. O onisciente Senhor Kṛṣṇa viu através do disfarce, mas, embora pensasse em uma maneira de matar o demônio, Ele o tratou como um amigo.
Kṛṣṇa, então, sugeriu a Seus jovens amigos e a Baladeva que eles organizassem uma brincadeira em que dois grupos entram em conflito. Fazendo o papel de líderes, Kṛṣṇa e Balarāma dividiram os meninos em dois grupos e determinaram que os perdedores teriam de carregar os vencedores nos ombros. Desse modo, quando Śrīdāmā e Vṛṣabha, membros do grupo de Balarāma, ganharam, Kṛṣṇa e outro menino de Seu grupo carregaram-nos sobre os ombros. Pralambāsura achou que o invencível Senhor Śrī Kṛṣṇa seria um adversário muito forte para se combater, de modo que, em vez disso, ele lutou contra Balarāma e foi derrotado. Levando o Senhor Balarāma nas costas, Pralambāsura afastou-se dali andando muito rápido. Balarāma, no entanto, ficou tão pesado quanto o monte Sumeru, e o demônio, incapaz de carregá-lO, teve de mostrar sua verdadeira forma demoníaca. Ao ver essa forma terrível, Balarāma, com Seu punho, desferiu um golpe violento na cabeça do demônio. Esse golpe despedaçou a cabeça de Pralambāsura assim como raios lançados pelo rei dos semideuses despedaçam montanhas. O demônio vomitou sangue repetidas vezes, após o que caiu ao solo. Quando viram o Senhor Balarāma retornar, os vaqueirinhos, em júbilo, abraçaram e felicitaram Balarāma, enquanto os semideuses lançavam do céu chuvas de guirlandas de flores e O glorificavam.
VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Rodeado por Seus bem-aventurados companheiros, que viviam a cantar Suas glórias, Śrī Kṛṣṇa entrou na vila de Vraja, que era adornada por rebanhos de vacas.
VERSO 2: Enquanto Kṛṣṇa e Balarāma desfrutavam a vida em Vṛndāvana como se fossem vaqueirinhos comuns, o verão pouco a pouco começou a despontar. Esta estação não é muito agradável para as almas corporificadas.
VERSO 3: No entanto, porque a Suprema Personalidade de Deus estava pessoalmente em Vṛndāvana junto com Balarāma, o verão manifestava as qualidades da primavera. Tais são as características da terra de Vṛndāvana.
VERSO 4: Em Vṛndāvana, o som alto das cascatas encobria o barulho dos grilos, e grupos de árvores sempre umedecidas pelas gotículas de água das cachoeiras embelezavam toda a área.
VERSO 5: Soprando as ondas dos lagos e rios fluentes, o vento levava o pólen de muitas variedades de lótus e ninfeias e, então, refrescava toda a área de Vṛndāvana. Desse modo, os residentes dali não sofriam com o calor gerado pelo abrasador sol de verão e pelos incêndios sazonais da floresta. De fato, Vṛndāvana abundava em relva verde e fresca.
VERSO 6: Com suas ondas correntes, os rios profundos encharcam as margens, tornando-as úmidas e barrentas. Dessa forma, os raios do sol, que eram tão ardentes quanto veneno, não podiam evaporar a seiva da terra nem queimar sua relva verde.
VERSO 7: Flores ornavam belamente a floresta de Vṛndāvana, e muitas variedades de animais e aves enchiam-na de ruídos. Os pavões e abelhas cantavam e os cucos e grous gorjeavam.
VERSO 8: Com a intenção de ocupar-Se em passatempos, o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, acompanhado do Senhor Balarāma e rodeado pelos vaqueirinhos e pelas vacas, entrou na floresta de Vṛndāvana tocando Sua flauta.
VERSO 9: Enfeitando-se com folhas recém-brotadas, penas de pavão, guirlandas, feixes de botões de flores e minerais coloridos, Balarāma, Kṛṣṇa e Seus amigos vaqueirinhos dançavam, lutavam e cantavam.
VERSO 10: Enquanto Kṛṣṇa dançava, alguns dos meninos O acompanhavam cantando e outros tocando flautas, címbalos de mão e chifres de búfalo, enquanto ainda outros louvavam Sua dança.
VERSO 11: Ó rei, semideuses disfarçaram-se como membros da comunidade dos vaqueiros e, assim como dançarinos profissionais louvam outro dançarino, eles adoravam Kṛṣṇa e Balarāma, que também Se faziam passar por vaqueirinhos.
VERSO 12: Com Seus amigos vaqueirinhos, Kṛṣṇa e Balarāma brincavam de girar, de saltar, de arremessar, de bater e de lutar. Às vezes, Kṛṣṇa e Balarāma puxavam o cabelo dos meninos.
VERSO 13: Enquanto os outros meninos dançavam, ó rei, Kṛṣṇa e Balarāma às vezes os acompanhavam com cantos e música instrumental, e às vezes os dois Senhores louvavam os meninos, dizendo: “Muito bem! Muito bem!”
VERSO 14: Às vezes, os vaqueirinhos brincavam com frutas bilva ou kumbha; outras vezes, brincavam com punhados de frutas āmalaka. Algumas vezes, brincavam de tocar um no outro ou de tentar identificar alguém enquanto de olhos vendados; outras vezes, imitavam animais e aves.
VERSO 15: Ora saltavam como rãs, ora faziam vários gracejos, ora brincavam em balanços, ora imitavam monarcas.
VERSO 16: Dessa maneira, enquanto vagueavam entre rios, colinas, vales, arbustos, árvores e lagos de Vṛndāvana, Kṛṣṇa e Balarāma brincavam de todas as espécies de jogos bem conhecidos.
VERSO 17: Enquanto Rāma, Kṛṣṇa e Seus amigos vaqueirinhos apascentavam as vacas naquela floresta de Vṛndāvana, o demônio Pralamba entrou no meio deles. Ele assumira a forma de um vaqueirinho com a intenção de raptar Kṛṣṇa e Balarāma.
VERSO 18: Como o Supremo Senhor Kṛṣṇa, que aparecera na dinastia Daśārha, vê tudo, Ele sabia quem era o demônio. Ainda assim, o Senhor fingiu aceitar o demônio como amigo – mas, ao mesmo tempo, considerava seriamente como matá-lo.
VERSO 19: Kṛṣṇa, que conhece todos os esportes e jogos, reuniu então os vaqueirinhos e disse o seguinte: “Ei, vaqueirinhos! Vamos brincar agora! Vamo-nos dividir em dois grupos iguais.”
VERSO 20: Os vaqueirinhos escolheram Kṛṣṇa e Balarāma como líderes dos dois grupos. Alguns dos meninos ficaram do lado de Kṛṣṇa, e outros se juntaram a Balarāma.
VERSO 21: Os meninos brincaram de vários jogos que envolviam carregadores e passageiros. Nesses jogos, os vencedores subiam nas costas dos perdedores, que tinham de transportá-los.
VERSO 22: Desse modo, carregando e sendo carregados uns pelos outros e, ao mesmo tempo, pastoreando as vacas, os meninos seguiram Kṛṣṇa até uma figueira-de-bengala conhecida como Bhāṇḍīraka.
VERSO 23: Meu querido rei Parīkṣit, quando Śrīdāmā, Vṛṣabha e os outros membros do grupo do Senhor Balarāma saíram vitoriosos nesses jogos, Kṛṣṇa e Seus seguidores tiveram de carregá-los.
VERSO 24: Derrotado, o Senhor Supremo, Kṛṣṇa, carregou Śrīdāmā. Bhadrasena carregou Vṛṣabha, e Pralamba carregou Balarāma, o filho de Rohiṇī.
VERSO 25: Considerando o Senhor Kṛṣṇa invencível, aquele terrível demônio [Pralamba] carregou Balarāma bem depressa para muito longe do lugar onde ele devia deixar descer seu passageiro.
VERSO 26: Enquanto o grande demônio carregava Balarāma, o Senhor ficou tão pesado quanto o maciço monte Sumeru, e Pralamba teve de diminuir sua velocidade. Então, ele retomou sua verdadeira forma – um corpo refulgente coberto de ornamentos de ouro e semelhante a uma nuvem que cintilava com relâmpagos e carregava a Lua.
VERSO 27: Quando o Senhor Balarāma, o carregador do arado que serve de arma, viu o corpo gigantesco do demônio que se movia rapidamente no céu – com seus olhos reluzentes, cabelo cor de fogo, dentes terríveis que alcançavam suas sobrancelhas franzidas e uma espantosa refulgência gerada por seus braceletes, coroa e brincos –, o Senhor pareceu ficar um pouco assustado.
VERSO 28: Lembrando a verdadeira situação, o intrépido Balarāma entendeu que o demônio estava tentando raptá-lO e levá-lO para longe de Seus companheiros. O Senhor então ficou furioso e, com Seu punho rijo, golpeou a cabeça do demônio, assim como Indra, o rei dos semideuses, fulmina uma montanha com sua arma raio.
VERSO 29: Assim esmagada pelo punho de Balarāma, a cabeça de Pralamba rachou de imediato. O demônio vomitou sangue e perdeu toda a consciência, após o que, com um grande estrondo, caiu sem vida ao chão, como uma montanha devastada por Indra.
VERSO 30: Os vaqueirinhos ficaram muito espantados ao ver como o poderoso Balarāma matara o demônio Pralamba, e exclamaram: “Excelente! Excelente!”
VERSO 31: Eles ofereceram a Balarāma copiosas bênçãos e, então, glorificaram-nO, aquele digno de toda glória. Com suas mentes dominadas de amor extático, abraçaram-nO como se Ele tivesse renascido dos mortos.
VERSO 32: Quando o pecador Pralamba foi morto, os semideuses sentiram-se extremamente felizes e, em razão disso, lançaram chuvas de guirlandas de flores sobre o Senhor Balarāma e louvaram a excelência de Seu feito.