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VERSO 24

ka iha nu veda batāvara-janma-layo ’gra-saraṁ
yata udagād ṛṣir yam anu deva-gaṇā ubhaye
tarhi na san na cāsad ubhayaṁ na ca kāla-javaḥ
kim api na tatra śāstram avakṛṣya śayīta yadā

kaḥ — quem; iha — neste mundo; nu — de fato; veda — conhece; bata — ah; avara — recente; janma — cujo nascimento; layaḥ — e aniquilação; agra-saram — quem veio primeiro; yataḥ — de quem; uda­gāt — surgiu; ṛṣiḥ — o sábio erudito, Brahmā; yam anu — seguindo a quem (Brahmā); deva-gaṇāḥ — os grupos de semideuses; ubhaye — ambos (aqueles que controlam os sentidos e aqueles que vivem nas regiões acima dos planetas celestiais); tarhi — naquele momento; na — não; sat — matéria grosseira; na — não; ca — também; asat — matéria sutil; ubhayam — aquilo que é formado de ambos (a saber, os corpos materiais); na ca — nem; kāla — do tempo; javaḥ — o fluxo; kim api na — nenhum absolutamente; tatra — lá; śāstram — escritura autorizada; avakṛṣya — recolhendo; śayīta — (o Senhor Supremo) deita; yadā — quando.

Todos neste mundo nasceram há pouco tempo e logo morre­rão. Logo, como é que alguém aqui pode conhecer àquele que existia antes de tudo o mais e que deu origem ao primeiro sábio erudito, Brahmā, e a todos os semideuses subsequentes, tanto inferiores quanto superiores? Quando Ele Se deita e recolhe tudo para dentro de Si, nada mais permanece – nem matéria grossei­ra ou sutil, nem corpos compostos destas, nem a força do tempo, nem a escritura revelada.

SIGNIFICADO—Aqui, os śrutis exprimem a dificuldade de conhecer o Supremo. O serviço devocional, ou bhakti-yoga, como se descreve nestas orações dos Vedas personificados, é o caminho mais seguro e fácil que leva ao conhecimento sobre o Senhor e à liberação. Em comparação, a busca filosófica de conhecimento, conhecida como jñāna-yoga, é muito difícil, embora seja estimada por aqueles que estão enojados da vida material, mas ainda não querem render-se ao Senhor. Enquan­to a alma finita continua invejosa da supremacia do Senhor, este não Se revela. Como Ele afirma na Bhagavad-gītā (7.25):

nāhaṁ prakāśaḥ sarvasya
yoga-māyā-samāvṛtaḥ
mūdho ’yaṁ nābhijānāti
loko mām ajam avyayam

“Eu nunca Me manifesto aos tolos e aos não inteligentes. Para eles, Eu estou coberto por Minha potência interna, e, portanto, eles não sabem que Eu sou não nascido e infalível.” E nas palavras do senhor Brahmā:

panthās tu koṭi-śata-vatsara-sampragamyo
vāyor athāpi manaso muni-puṅgavānām
so ’py asti yat-prapada-sīmny avicintya-tattve
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Adoro Govinda, o Senhor primordial, cuja ponta do dedão de Seus pés de lótus é tudo o que é alcançado pelos yogīs, que aspiram à transcendên­cia e dedicam-se ao prāṇāyāma, controlando a respiração; ou pelos jñānīs, que buscam o Brahman não-diferenciado pelo processo de eliminação do mundano durante um período de mais de milhares de milhões de anos.” (Brahma-saṁhitā 5.34)

Brahmā, o primeiro ser vivo a nascer neste universo, é também o principal sábio. Ele nasce do Senhor Nārāyaṇa, e dele aparecem as hostes de semideuses, incluindo tanto os controladores das atividades terrenas quanto os governantes dos céus. Todos esses seres poderosos e inteligentes são produtos relativamente recentes da energia criadora do Senhor. Como o primeiro orador dos Vedas, o senhor Brahmā deve conhecer-lhes o significado pelo menos tão bem quanto qual­quer outra autoridade, mas até mesmo ele conhece a Personalidade de Deus apenas até certo ponto. Conforme declara o Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.35), veda-guhyāni hṛt-pateḥ: “O Senhor do coração esconde-Se no recesso mais recôndito do som védico.” Se Brahmā e os semi­deuses nascidos dele não podem conhecer facilmente o Senhor Su­premo, como, então, meros mortais podem esperar sucesso em sua busca independente pelo conhecimento?

Enquanto dura esta criação, os seres vivos enfrentam muitos obstá­culos no caminho do conhecimento. Por se identificarem com suas coberturas materiais, que consistem em corpo, mente e ego, eles adquirem toda sorte de preconceitos e concepções erradas. Mesmo que tenham a escritura divina para guiá-los e a oportunidade de executar os métodos prescritos de karma, jñāna e yoga, as almas con­dicionadas têm apenas um pequeno poder para obter conhecimento a respeito do Absoluto. E quando chega a ocasião da aniquilação, as escrituras védicas e seus preceitos reguladores tornam-se imanifestos, deixando as jīvas adormecidas em completa escuridão. Portanto, de­vemos abandonar nossos esforços fúteis para obter conhecimento sem devoção e simplesmente rendermo-nos à misericórdia do Senhor Supremo, atentos ao conselho do senhor Brahmā:

jñāne prayāsam udapāsya namanta eva
jīvanti san-mukharitāṁ bhavadīya-vārtām
sthāne sthitāḥ śruti-gataṁ tanu-vāṅ-manobhiḥ
ye prāyaśo jita jito ’py asi tais tri-lokyām

“Aqueles que, mesmo enquanto situados em suas posições sociais estabelecidas, rejeitam o processo de conhecimento especulativo e, com seu corpo, palavras e mente, oferecem todo o respeito às descri­ções acerca de Vossa personalidade e atividades, dedicando suas vidas a essas narrações, que são vibradas por Vós mesmo e por Vossos devotos puros, com certeza Vos conquistam, embora, de outro modo, sejais inconquistável por qualquer um dentro dos três mundos.” (Śrīmad-Bhāgavatam 10.14.3)

A esse respeito, a Taittirīya Upaniṣad (2.4.1) refere-se ao Supremo como yato vāco nivartante aprāpya manasā saha: “Onde cessam as palavras, e onde a mente não pode alcançar.” A Īśopaniṣad (4) declara:

anejad ekaṁ manaso javīyo
naitad devā āpnuvan pūrvam arśat
tad dhāvato ’nyān atyeti tiṣṭhat
tasmin apo mātariśvā dadhāti

“Embora permanente em Sua morada, a Personalidade de Deus é mais veloz do que a mente e pode ultrapassar a todos que correm. Os poderosos semideuses não podem aproximar-se dEle. Embora esteja em um só lugar, Ele controla aqueles que fornecem o ar e a chuva. Ele supera a todos em excelência.” E no Ṛg Veda (3.54.5), encontramos este mantra:

ko ’ddhā veda ka iha pravocat
kuta āyātāḥ kuta iyaṁ visṛṣṭiḥ
arvāg devā visarjanenā-
thā ko veda yata ā babhūva

“Quem neste mundo sabe de fato, e quem pode explicar, de onde veio esta criação? Os semideuses, afinal, são mais novos do que a criação. Quem, então, pode dizer por que este mundo veio a existir?”

Śrīla Śrīdhara Svāmī assim ora:

kvāhaṁ buddhy-ādi-saṁruddhaḥ
kva ca bhūman mahas tava
dīna-bandho dayā-sindho
bhaktiṁ me nṛ-hare diśa

 “Quem sou eu, um ser preso na armadilha das coberturas materiais, tais como inteligência mundana e assim por diante? E o que são Vossas glórias em comparação, ó Onipotente? Ó amigo dos caídos, ó oceano de misericórdia, Senhor Nṛhari, por favor, abençoai-me com Vosso serviço devocional.”

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