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VERSO 47

tīrthaṁ cakre nṛponaṁ yad ajani yaduṣu svaḥ-sarit pāda-śaucaṁ
vidviṭ-snigdhāḥ svarūpaṁ yayur ajita-para śrīr yad-arthe ’nya-yatnaḥ
yan-nāmāmaṅgala-ghnaṁ śrutam atha gaditaṁ yat-kṛto gotra-dharmaḥ
kṛṣṇasyaitan na citraṁ kṣiti-bhara-haraṇaṁ kāla-cakrāyudhasya

tīrtham — lugar sagrado de peregrinação; cakre — fez; nṛpa — ó rei (Parīkṣit); ūnam — menor; yat — que (glórias do Senhor Kṛṣṇa); ajani — nasceu; yaduṣu — entre os Yadus; svaḥ — do céu; sarit — o rio; pāda — cujos pés; śaucam — (a água) que lava; vidviṭ — inimigos; snigdhāḥ — e entes queridos; svarūpam — cuja forma pessoal; yayuḥ — alcança­ram; ajita — que é invicto; parā — e sumamente perfeita; śrīḥ — a deusa da fortuna; yat — cuja; arthe — por causa; anya — de outros; yatnaḥ — empenho; yat — cujo; nāma — nome; amaṅgala — inauspiciosidade; ghnam — que destrói; śrutam — ouvido; atha — ou então; gaditam — cantado; yat — por quem; kṛtaḥ — criado; gotra — entre as linhas de descendência (dos vários sábios); dharmaḥ — os princípios religiosos; kṛṣṇasya — para o Senhor Kṛṣṇa; etat — este; na — não; citram — maravilhoso; kṣiti — da Terra; bhara — do fardo; haraṇam — a remoção; kāla — do tempo; cakra — a roda; āyudhasya — cuja arma.

O celestial Ganges é um lugar sagrado de peregrinação porque suas águas lavam os pés do Senhor Kṛṣṇa. Mas quando o Senhor apareceu entre os Yadus, Suas glórias eclipsaram o Ganges como um lugar sagrado. Tanto os que odiavam Kṛṣṇa quanto os que O amavam obtiveram formas eternas como a dEle no mundo espiritual. A inatingível e sumamente autossatisfeita deusa da fortuna, por cujo favor todos lutam, pertence a Ele somente. Seu nome destrói toda a inauspiciosidade quando ouvido ou cantado. Ele sozinho estabeleceu os princípios de várias sucessões discipulares de sábios. O que há de espantoso no fato de Ele, cuja arma pessoal é a roda do tempo, ter aliviado o fardo da Terra?

SIGNIFICADO—Do começo ao fim, o décimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam foi dedicado exclusivamente à recitação dos passatempos do Senhor Kṛṣṇa em Vṛndāvana, Mathurā e Dvārakā. Conforme ressaltou Śrīla Viśvanātha Cakravartī, este verso, ao mencionar cinco glórias espe­ciais de Śrī Kṛṣṇa que nem mesmo Suas expansões, porções plená­rias e encarnações exibem, resume o décimo canto.

Primeira, quando o Senhor Kṛṣṇa apareceu na dinastia Yadu, Sua reputação eclipsou a do sagrado Ganges. Antes disso, mãe Ganges era o mais sagrado de todos os tīrthas, por ser a água que banhara os pés de lótus do Senhor Vāmanadeva. Outro rio, o Yamunā, tornou-­se mais importante que o Ganges em virtude do contato com a poeira dos pés de Śrī Kṛṣṇa nos distritos de Vraja e Mathurā:

gaṅgā-śata-guṇā prāyo
māthure mama maṇḍale
yamunā viśrutā devi
nātra kāryā vicāraṇā

“O célebre Yamunā em Meu domínio de Mathurā é centenas de vezes mais importante do que o Ganges. Sobre isso, não pode haver controvér­sia alguma, ó deusa.” (Varāha Purāṇa)

Segunda, o Senhor Kṛṣṇa concedeu a liberação não apenas a Seus devotos rendidos, mas também àqueles que se consideravam inimigos dEle. Devotos como as vaqueirinhas de Vraja e outros conseguiram Sua associação pessoal entrando em Seus eternos passatempos de prazer no mundo espiritual, enquanto demônios hostis mortos por Ele alcançaram a sāyujya-mukti, ou seja, imersão em Sua forma divina. Quando Ele estava presente nesta Terra, a compaixão do Senhor Kṛṣṇa esten­dia-se a Sua família, amigos e servos, e também a Seus inimigos e às famílias, amigos e servos deles. Eminentes autoridades como o senhor Brahmā mencionaram este fato, sad-veṣād iva pūtanāpi sa-kulā tvām eva devāpitā: “Meu Senhor, já Vos entregastes a Pūtanā e aos membros de sua família apenas porque ela se vestiu como devota.” (Śrīmad-Bhāgavatam 10.14.35)

Terceira, a deusa Lakṣmī, companheira constante do Senhor Nārāyaṇa, a quem grandes semideuses servem com toda a humildade para ganhar o menor favor dela, foi incapaz de obter o privilégio de se juntar à companhia íntima dos devotos do Senhor Kṛṣṇa em Vraja. A despeito de seu anseio por participar da dança da rāsa e outros passatempos encenados por Śrī Kṛṣṇa, e a despeito das severas austeridades a que se submeteu para alcançar esse fim, ela não pôde trans­cender sua atitude natural de reverência. A doçura e intimidade que o Senhor Kṛṣṇa manifestou em Vṛndāvana constituem uma espécie singular de opulência não encontrada em outro lugar, nem mesmo em Vaikuṇṭha. Como diz Śrī Uddhava:

yan martya-līlaupayikaṁ sva-yoga-
māyā-balaṁ darśayatā gṛhītam
vismāpanaṁ svasya ca saubhagarddheḥ
paraṁ padaṁ bhūṣaṇa-bhūṣaṇāṅgam

“Para exibir a força de Sua potência espiritual, o Senhor Kṛṣṇa manifestou uma forma que convinha exatamente a Seus passatempos humanos no mundo material. Essa forma era maravilhosa até mesmo para Ele e era a morada suprema da riqueza da boa fortuna. Seus membros eram tão belos que aumentavam a beleza dos ornamentos usados nas diferentes partes de Seu corpo.” (Śrīmad-Bhāgavatam 3.2.12)

Quarta, o nome “Kṛṣṇa” é superior ao nome Nārāyaṇa e aos nomes de todas as outras expansões do Senhor Kṛṣṇa. Estas duas sílabas – kṛṣ e ṇa – combinam-se para destruir toda a inauspiciosidade e ilusão. Quando recitado, o nome Kṛṣṇa torna-se śruta-matha, quer dizer, a recitação do nome de Kṛṣṇa esmaga (mathnāti) totalmente a excelên­cia de todas as outras práticas espirituais descritas nas escrituras reveladas (śruta). Nas palavras do Brahmāṇḍa Purāṇa:

sahasra-nāmnāṁ puṇyānāṁ
trir āvṛttyā tu yat phalam
ekāvṛttyā tu kṛṣṇasya
nāmaikaṁ tat prayacchati

“Pronunciando o nome único de Kṛṣṇa uma só vez, alcança-se o mesmo benefício obtido mediante a recitação dos mil nomes de Viṣṇu três vezes.”

Quinta, o Senhor Kṛṣṇa restabeleceu solidamente o dharma, o touro da religião, sobre suas quatro pernas, a saber, compaixão, austerida­de, limpeza e verdade. Dessa maneira, o dharma pôde mais uma vez tornar-se go-tra, o protetor da Terra. Śrī Kṛṣṇa também estabeleceu a função religiosa de Govardhana-pūjā para honrar Sua colina favo­rita, as vacas e os brāhmaṇas. Também tornou-Se pessoalmente a colina (gotra), assumindo a forma dela para aceitar as oferendas dos vaqueiros. Além disso, cultivou o dharma, ou natureza amorosa, dos divinos vaqueiros (gotras) de Vraja, cujo amor por Ele jamais foi igualado.

Estas são apenas algumas das maravilhosas características da personalidade incomparável do Senhor Kṛṣṇa.

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