VERSO 18
taravaḥ kiṁ na jīvanti
bhastrāḥ kiṁ na śvasanty uta
na khādanti na mehanti
kiṁ grāme paśavo ’pare
taravaḥ — as árvores; kim — acaso; na — não; jīvanti — vivem; bhastrāḥ — fole; kim — acaso; na — não; śvasanti — respira; uta — também; na — não; khādanti — comem; na — não; mehanti — ejaculam sêmen; kim — acaso; grāme — na localidade; paśavaḥ — ser vivo animalesco; apare — outros.
Acaso as árvores não vivem? Acaso o fole do ferreiro não respira? E, ao redor de todos nós, acaso os animais selvagens não comem e ejaculam sêmen?
SIGNIFICADO—O homem materialista da era moderna alegará que a vida, ou parte dela, nunca se destina à discussão de argumentos teosóficos ou teológicos. A maior parte da duração máxima da vida deve servir para comer, beber, fazer sexo, divertir-se e desfrutar. O homem moderno quer viver para sempre através do avanço da ciência material, e existem muitas teorias tolas para prolongar a vida, dando-lhe a duração máxima. Mas o Śrīmad-Bhāgavatam afirma que a vida não se destina ao suposto desenvolvimento econômico ou avanço da ciência materialista, que estimulam a filosofia hedonista, que se resume a comer, acasalar-se, beber e divertir-se. A vida destina-se unicamente a tapasya, a purificar a existência para que a pessoa possa entrar na vida eterna logo após o término da forma de vida humana.
Os materialistas querem prolongar a vida o máximo possível porque não têm informação sobre a próxima vida. Querem obter todos os confortos nesta vida atual porque pensam definitivamente que não há vida após a morte. Essa ignorância sobre a eternidade do ser vivo e a mudança de corpos a que todos se sujeitam no mundo material tem causado estragos na estrutura da sociedade humana moderna. Consequentemente, existem muitos problemas, multiplicados pelos vários planos do homem modernizado. Os planos para resolver os problemas da sociedade têm apenas agravado os problemas. Mesmo que fosse possível viver mais de cem anos, isso necessariamente não implicaria no avanço da civilização humana. O Bhāgavatam diz que certas árvores vivem centenas e milhares de anos. Em Vṛndāvana, existe uma árvore de tamarindo (o local é conhecido como Imlitala) que, segundo se afirma, existe desde a época do Senhor Kṛṣṇa. No jardim botânico de Calcutá, existe uma figueira-de-bengala que se calcula ter mais de quinhentos anos, e existem muitas dessas árvores no mundo todo. Svāmī Śaṅkarācārya viveu apenas trinta e dois anos, e o Senhor Caitanya viveu quarenta e oito anos. Isso significa que as longas vidas das árvores acima mencionadas são mais importantes que a vida de Śaṅkara ou Caitanya? Vida longa sem valor espiritual não é algo muito importante. Alguém talvez duvide que as árvores tenham vida porque elas não respiram. Mas cientistas modernos, como Bose, já provaram que existe vida nas plantas, de modo que a respiração não é sinal de verdadeira vida. O Bhāgavatam diz que o fole do ferreiro respira bem profundamente, mas isso não significa que o fole tenha vida. O materialista argumentará que a vida na árvore e a vida no homem não podem ser comparadas porque a árvore não pode gozar a vida comendo pratos saborosos ou desfrutando do intercurso sexual. Em resposta a isso, o Bhāgavatam pergunta se outros animais, como os cães e os porcos, que vivem na mesma vila com os seres humanos, não comem e gozam de vida sexual. Ao referir-se especificamente a “outros animais”, o Śrīmad-Bhāgavatam deixa claro que as pessoas que estão simplesmente ocupadas em planejar um melhor tipo de vida animal, consistindo em comer, respirar e acasalar-se, também são animais em forma de seres humanos. Uma sociedade formada desses animais polidos não pode beneficiar a humanidade sofredora, pois um animal pode facilmente ferir outro animal, mas raramente pode fazer-lhe o bem.