VERSO 19
śva-viḍ-varāhoṣṭra-kharaiḥ
saṁstutaḥ puruṣaḥ paśuḥ
na yat-karṇa-pathopeto
jātu nāma gadāgrajaḥ
śva — um cão; viṭ-varāha — o porco da vila, que come excremento; uṣṭra — o camelo; kharaiḥ — e pelos anos; saṁstutaḥ — perfeitamente louvada; puruṣaḥ — uma pessoa; paśuḥ — animal; na — nunca; yat — dele; karṇa — ouvido; patha — caminho; upetaḥ — alcançado; jātu — em tempo algum; nāma — o santo nome; gadāgrajaḥ — o Senhor Kṛṣṇa, que elimina todos os males.
Homens que são como cães, porcos, camelos e asnos louvam aqueles homens que nunca ouvem os passatempos transcendentais do Senhor Śrī Kṛṣṇa, aquele que elimina todos os males.
SIGNIFICADO—A massa geral da população, enquanto não for sistematicamente treinada a desenvolver um padrão superior de vida em valores espirituais, não passará de animais, e, neste verso, ela foi especificamente posta no mesmo nível dos cães, porcos, camelos e asnos. A educação universitária moderna praticamente prepara a pessoa para adquirir uma mentalidade de cachorro, com a qual ela se coloca a serviço de um grande amo. Após concluir uma suposta formação, as pessoas aparentemente instruídas andam de porta em porta como cães, pedindo algum tipo de serviço, e a maior parte delas é dispensada, informada de que não há vagas. Assim como os cães são animais desprezíveis que servem ao amo fielmente em troca de algumas migalhas de pão, o indivíduo serve fielmente a seu amo sem receber uma recompensa que lhe seja suficiente.
As pessoas que não selecionam seu alimento e que comem todas as espécies de imundície são comparadas a porcos. Os porcos têm grande interesse em comer excremento. Assim, o excremento é uma classe de alimento para um determinado tipo de animal. E mesmo as pedras servem de comestíveis para um tipo específico de animal ou ave. Mas o ser humano não se destina a comer toda e qualquer coisa; ele se destina a comer cereais, legumes, frutas, leite, açúcar etc. O alimento animal não se destina ao ser humano. Para mastigar o alimento sólido, o ser humano tem um tipo específico de dentes destinados a cortar frutas e legumes. O ser humano é dotado com dois dentes caninos, como uma concessão às pessoas que preferem comer alimento animal a qualquer custo. Todos sabem que o alimento de um homem é veneno para outro. Os seres humanos devem aceitar os restos do alimento oferecido ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, e o Senhor aceita o alimento preparado com folhas, flores, plantas, frutas etc. (Bhagavad-gītā 9.26). Como prescrevem as escrituras védicas, nenhum alimento animal é oferecido ao Senhor. Portanto, o ser humano se destina a comer uma categoria específica de alimento. Ele não deve imitar os animais para obter os supostos valores vitamínicos. Por conseguinte, a pessoa que não faz discriminação no que diz respeito a comer é comparada a um porco.
.
O camelo é um tipo de animal que sente prazer em comer espinhos. A pessoa que quer desfrutar a vida familiar ou a vida mundana com seu suposto gozo é comparada ao camelo. A vida materialista está cheia de espinhos, e, assim, a pessoa deve viver apenas segundo o método prescrito pelas regulações védicas, somente para tirar o melhor proveito de um mau negócio. No mundo material, a pessoa consegue sobreviver sugando o próprio sangue. O ponto central de atração para o gozo material é a vida sexual. Desfrutar a vida sexual é sugar o próprio sangue, e isso, a rigor, não precisa de muitas outras explicações. O camelo também suga seu próprio sangue enquanto mastiga galhos espinhentos. Os espinhos que o camelo come cortam-lhe a língua, de modo que o sangue começa a fluir dentro da boca do camelo. Os espinhos, misturados com sangue fresco, criam um sabor para o camelo tolo e, assim, ele sente falso prazer em comer espinhos. De modo semelhante, os grandes magnatas dos negócios, industriais que trabalham muito arduamente para ganhar dinheiro através de diferentes maneiras e meios questionáveis, comem os resultados espinhentos de suas ações, misturados com seu próprio sangue. Portanto, o Bhāgavatam equipara esses sujeitos doentios aos camelos.
O asno é um animal que é célebre como o maior tolo, mesmo entre os animais. O asno trabalha muito arduamente e carrega cargas de peso máximo sem conseguir nenhum lucro para ele mesmo. De um modo geral, quem utiliza o asno é o lavadeiro, cuja posição social não é muito respeitável. E a qualificação especial do asno é que ele está muito acostumado a ser chutado pelo sexo oposto. Quando procura o contato sexual, o asno é chutado pelo sexo frágil, apesar do que ele continua insistindo que a fêmea lhe conceda o prazer sexual. Portanto, o homem que está sob o domínio da mulher é comparado ao asno. A massa em geral da população trabalha muito arduamente, em especial na era de Kali. Nesta era, o ser humano realmente está ocupado no trabalho de um asno, carregando cargas pesadas e dirigindo ṭhelās e riquixás. O aparente avanço da civilização humana ocupou o ser humano no trabalho de um asno. Os trabalhadores nas grandes fábricas e oficinas também se ocupam nesse trabalho pesado, e, após trabalhar arduamente durante o dia, o pobre trabalhador tem de ser novamente chutado pelo sexo frágil, não apenas por causa do gozo sexual, mas também devido a tantos afazeres domésticos.
Logo, o fato de o Śrīmad-Bhāgavatam colocar o homem comum sem qualquer iluminação espiritual na categoria de cães, porcos, camelos e asnos não é nenhum exagero. Os líderes dessas massas de pessoas ignorantes podem sentir-se muito orgulhosos de serem adorados por esse grande número de cães e porcos, mas isso não é muito lisonjeiro. O Bhāgavatam declara abertamente que, embora a pessoa possa ser um grande líder desses cães e porcos disfarçados de homem, se ela não tiver interesse em iluminar-se na ciência de Kṛṣṇa, semelhante líder também é nada mais do que um animal. Ele pode ser designado como um animal forte e poderoso, ou um grande animal, mas, no cálculo do Śrīmad-Bhāgavatam, ele nunca é colocado na categoria dos homens, devido ao seu temperamento ateísta. Ou, em outras palavras, esses líderes ímpios de homens parecidos com cães e porcos são animais maiores, com as qualidades dos animais em maior proporção.