VERSO 22
barhāyite te nayane narāṇāṁ
liṅgāni viṣṇor na nirīkṣato ye
pādau nṛṇāṁ tau druma-janma-bhājau
kṣetrāṇi nānuvrajato harer yau
barhāyite — como plumas de um pavão; te — aqueles; nayane — olhos; narāṇām — dos homens; liṅgāni — formas; viṣṇoḥ — da Personalidade de Deus; na — não; nirīkṣataḥ — olham para; ye — todas essas; pādau — pernas; nṛṇām — dos homens; tau — aquelas; druma-janma — nascidos da árvore; bhājau — como aqueles; kṣetrāṇi — lugares sagrados; na — nunca; anuvrajataḥ — se dirigem aos; hareḥ — do Senhor; yau — o qual.
Os olhos que não contemplam as representações simbólicas da Personalidade de Deus, Viṣṇu [Suas formas, nome, qualidade etc.], são como os olhos gravados nas plumas do pavão, e as pernas que não se locomovem aos lugares sagrados [onde se medita no Senhor] são consideradas como troncos de árvores.
SIGNIFICADO—Especialmente para os devotos chefes de família, recomenda-se fortemente o caminho da adoração à Deidade. Na medida do possível, todo chefe de família, sob a orientação do mestre espiritual, deve instalar a Deidade de Viṣṇu, em especial formas como Rādhā-Kṛṣṇa, Lakṣmī-Nārāyaṇa ou Sītā-Rāma, ou qualquer outra forma do Senhor, tal como Nṛsiṁha, Varāha, Gaura-Nitāi, Matsya, Kūrma, śālagrāma-śilā e muitas outras formas de Viṣṇu, tais como Trivikrama, Keśava, Acyuta, Vāsudeva, Nārāyaṇa e Dāmodara, como se recomenda nos Tantras vaiṣṇavas ou nos Purāṇas, e a sua família deve observar uma adoração estrita, seguindo as orientações e regulações próprias de arcana-vidhi. Qualquer membro da família que tenha mais de doze anos de idade deve ser iniciado por um mestre espiritual genuíno, e todos os membros da família devem ocupar-se no serviço diário ao Senhor, desde as quatro horas da manhã até as vinte e duas horas da noite, realizando maṅgala-ārātrika, nirañjana, arcana, pūjā, kīrtana, śṛṅgāra, bhoga-vaikāli, sandhyā-ārātrika, pāṭha, bhoga (à noite), śayana-ārātrika etc. Sob a orientação de um mestre espiritual autêntico, a ocupação nessa adoração à Deidade ajudará muito os chefes de família a purificarem sua própria existência e a progredirem bem depressa em conhecimento espiritual. O simples conhecimento teórico livresco não é suficiente para o devoto neófito. O conhecimento livresco é a teoria, ao passo que o processo de arcana é a prática. Deve-se desenvolver o conhecimento espiritual com uma combinação de conhecimento teórico e prático, e esse é o processo que garante a obtenção da perfeição espiritual. Para aprender o serviço devocional, o devoto neófito depende por completo do mestre espiritual competente que sabe como orientar seu discípulo para que ele avance e, pouco a pouco, volte ao lar, volte ao Supremo. Ninguém deve tornar-se um mestre espiritual farsante e fazer negócios só para cobrir suas despesas familiares; é preciso que a pessoa se torne um mestre espiritual competente para libertar o discípulo das garras da morte iminente. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura define as qualidades genuínas do mestre espiritual, e, nessa descrição, um dos versos diz:
śrī-vigrahārādhana-nitya-nānā-
śṛṅgāra-tan-mandira-mārjanādau
yuktasya bhaktāṁś ca niyuñjato ’pi
vande guroḥ śrī-caraṇāravindam
Śrī-vigraha é a arcā, ou a forma apropriada do Senhor que é digna de adoração, e o discípulo deve ocupar-se em adorar a Deidade regularmente através de śṛṅgāra, mediante decoração e roupas adequadas, bem como através de mandira-mārjana, ou a limpeza do templo. O próprio mestre espiritual é gentil em ensinar ao devoto neófito tudo isso para ajudá-lo a compreender pouco a pouco o nome, a qualidade, a forma etc. transcendentais do Senhor.
Apenas ocupando a atenção no serviço ao Senhor, especialmente em vestir a Deidade e decorar o templo, realizando kīrtanas musicais e aprendendo as instruções espirituais das escrituras, pode o homem comum salvar-se das atrações cinematográficas infernais e das imundas canções libidinosas divulgadas em toda parte pelo rádio. Se a pessoa não consegue manter um templo em casa, deve ir a um templo onde se executam com regularidade todas essas práticas. Visitar o templo de um devoto e ver em um templo bem decorado e santificado as formas do Senhor profusamente adornadas e bem vestidas infundem na mente mundana uma inspiração espiritual natural. As pessoas devem visitar lugares sagrados como Vṛndāvana, onde se mantêm especificamente esses templos e a adoração à Deidade. Outrora, todos os homens ricos, tais como reis e mercadores abastados, construíam esses templos sob a orientação de competentes devotos do Senhor, como os seis Gosvāmīs, e é dever do homem comum tirar proveito desses templos e dos festivais observados nos lugares sagrados de peregrinação, seguindo os passos dos grandes devotos (anuvraja). Ninguém deve visitar todos esses templos e lugares santos de peregrinação com mentalidade de turista, mas, quando forem a esses templos e lugares santificados imortalizados pelos passatempos transcendentais do Senhor, todos devem receber orientação de homens qualificados que conheçam a ciência. Isso se chama anuvraja. Anu significa seguir. Portanto, é melhor seguir a instrução do mestre espiritual genuíno, mesmo ao visitar templos e lugares sagrados de peregrinação. A pessoa que não age dessa maneira está em nível de igualdade com uma árvore inerte, condenada pelo Senhor a não se mexer. O ser humano desperdiça sua tendência de locomover-se ao fazer turismo. Pode-se cumprir o melhor propósito dessas tendências locomotoras com a visita aos lugares sagrados estabelecidos pelos grandes ācāryas, e, desse modo, a pessoa não se deixa desencaminhar pela propaganda ateísta de homens cobiçosos que não conhecem assuntos espirituais.